sábado, 28 de setembro de 2013

063. O QUARTETO, de Dustin Hoffman

Dustin Hoffman e Maggie Smith nos apresentam o filme mais divertido do ano!
Nota: 9,5


Título Original: Quartet
Direção: Dustin Hoffman
Elenco: Maggie Smith, Tom Courtenay, Billy Connolly, Pauline Collins, Michael Gambon, Sheridan Smith, Andrew Sachs, Gwyneth Jones, Trevor Peacock, David Ryall, Michael Byrne, Ronnie Fox, Patricia Loveland, Eline Powell,, Luke Newberry
Produção: Finola Dwyer, Stewart Mackinnon
Roteiro: Ronald Harwood (roteiro e peça teatral)
Ano: 2012
Duração: 98 min.
Gênero: Comédia / Drama

Diversas personalidades da música erudita aposentadas vivem, juntas, em uma casa de repouso, cantando e tocando dia após dia. Nesse contexto, todos os anos, faz-se uma celebração musical em comemoração ao aniversário do compositor italiano Giuseppe Verdi para angariar fundos para o sustento da instituição, que mantêm os idosos em uma vida luxuosa até onde é possível. Porém, a chegada da famosa cantora de ópera Jean Horton, meche com as estruturas do local, pois ela reencontrará com seus antigos colegas: Reginald, Wilf e Cissy, que formaram, ao lado dela, um dos quartetos mais famosos de sua época. Agora, Jean será persuadida a apresentar novamente a peça Rigoletto e salvar o instituto de qualquer problema financeiro.


Dustin Hoffman foi um dos principais atores das décadas de 60, 70 e 80 no cinema americano, estando em longas como “A Primeira Noite de Um Homem” (1967), “Sob o Domínio do Medo” (1971), “Krammer vs. Kramer” (1979), “Tootsie” (1982), “Rain Man” (1988) e “Negócios de Familia” (1989), vencendo o Oscar e o Globo de Ouro de melhor ator pelos longas de 1979 e 1988. “O Quarteto” é o primeiro longa que Hoffman dirige e, mesmo com uma lista pra lá de invejável de diretores com quem trabalhou, podíamos esperar de tudo de seu trabalho. Entretanto, por mais que sua direção seja simples, o filme não decpciona em nenhum momento, e, talvez, seja essa simplicidade que torne o longa algo tão simpático e agradável. Não temos grandes cenas em teatros ou grandes momentos glamurosos como podíamos esperar, mas temos momentos igualmente belos: uma tomada ao por do sol, uma cena sobre uma árvore imensa, um momento dramático em uma pequena capela, um ensaio de todos os velhinhos que estão na casa de repouso, cafés da manhã com todos reunidos em uma sala cheia da claridade matinal e um camarin improvisado tão real quanto se possa imaginar. Não temos, durante a trama, grandes lições de vida ou algo para refletirmos por muito tempo, ao invés dessa esfera pesada, temos piadas quanto a velhice, esquecimentos pela idade – que proprocianam as melhores cenas de Michael Gambon e Pauline Collins -, conversas sobre passado, presente e futuro, muita música para divertir o espectador e piadas de um velho com mulheres mais novas – as cenas mais engraçadas de Billy Connolly. Em meio a tudo isso, todavia, o roteiro não deixa escapar um romance mal resolvido entre dois dos personagens, que já foram casados, mas contratempos fizeram com que eles se separassem. Por fim, a trilha sonora, que mistura canções originais de Dario Marianelli com a música clássica,  é mais um presente dessa produção maravilhosa.

Michael Gambon, uma das feras do longa.
Maggie Smith é a melhor atriz da história do cinema inglês, uma verdadeira dama respeitada por todos e uma das mulheres mais queridas no cinema atual. Quando li que esse filme teria direção de Dustin Hoffman e que Maggie seria a protagonista soube que não teria possibilidade de dar errado. As feições secas de Maggie, interpretando Jean, no início do longa, de uma mulher que já sofreu muito, que tem alguns arrependimentos na vida e vê seu mundo maravilhoso de cantora famosa de ópera  de sabar, contrapõe-se com as feições alegres e descontraídas que são apresentadas ao longo da história. Para completar, a simpatia de Maggie as desenvolturas de suas falas são sempre perfeitas. Pauline Collins foi indicada ao Oscar em 1989 e interpreta Cyssi, uma das personagens mais engraçadas e divertidas do ano no cinema, isso por que, Cyssi está passando por um momento difícil de sua vida e esquece muito das coisas, confunde passado e presente e não tem noção de algumas coisas. Não estou dizendo que é engraçado ver uma pessoa nessa situação, a graça está em como a personagem trata tudo isso: nunca se deixa desanimar e está sempre alegre com tudo, mostrando que o interessante é estar viva e ter amigos por perto. Tom Courtenay foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por “Doutor Jivago” (1965) e aqui nos presenteia com o papel de um homem que se desapontou muito com a esposa e vive uma vida feliz, mas que tem seus pilares abalados com a volta de Jean, a ex-esposa. Sendo assim, temos os contrapontos novamente: o Reginald animado, versus o Reginald nervoso e confusso. Billy Connelly é um dos atores mais engraçados do cinema atual, nesse filme, interpreta Wilf, o homem divertido que culpa sua idade por suas indecências, mas também uma das almas mais vivas do local, aquele que precisa sustentar os problemas de Cyssi e o ajudar Jean e Reginald a rever o passado para garantir o futuro, é o personagem mais humano de todos e Connelly nos mostra como a velhice pode ser agradável. Por fim, não posso deixar de falar sobre Michael Gambon, um dos atores mais importantes do cinema inglês hoje, é o ex-regente Cedric Livingson, um homem mandão que também está perdendo a memória, mas faz questão de não esquecer seus dias de regente, onde fazia o que queria e tratava todos como bem entendia; apesar de parecer um pouco arrogante, compreendemos logo que as pessoas o ovacionaram tanto que é difícil esquecer a época da fama e do glamour.



Somados, os 5 principais atores do filme e o diretor do longa, são quase 450 anos de idade, quase 140 vitórias em prêmios (dentre elas, 4 Oscars), 120 outras indicações (incluindo 12 indicações ao Oscar) e, pasmem, 440 produções já lançadas e mais 9 produções planejadas para os próximos anos. Sendo assim, me nego a aceitar algumas críticas que apontam esse filme como algo quase desnecessário. É claro que não são apenas os números de filmes ou prêmios que esses atores venceram que os fazem como grandes artistas, há muito mais em cada um deles – e em cada um dos outros intérpretes do restante do elenco. “O Quarteto” vem no estilo de “Crepúsculo dos Deuses” (1950), porém, os dramas vividos por Norma Desmond, os relacionados à decadência de sua bela carreira, são passados para trás pelos personagens. Jean acaba se conformando rapidamente que a vida, agora, é outra e que ela deve aproveitar ao máximo seus dias na casa de repouso, afinal, sempre viveu para trabalhar, agora chegou a hora de aproveitar a vida e apenas se divertir cantando e revivendo as memórias, sem pensar nos erros, a não ser que seja para corrigi-los. Nesse contexto, além de mostrar a importância de levar tudo com muito humor, “O Quarteto” pede para que analisemos mais nossa vida, mas jamais esqueçamos que o importante da vida, não importa a idade, é vivê-la intensamente, cada segundo como se fosse único e, principalmente, aceitar a vida como ela é, aceitar a vinda da idade como um presente por se estar na terra mais um ano!

Raramente posto fotos com o diretor do filme, mas aqui estão os 450 anos, os 140 prêmios, as 120 indicações e os quase 450 filmes: Pauline Collins, Tom Courtenay, Maggie Smith, Billy Connolly (dentre os atores faltou Gambon) e, ao centro, o diretor Dustin Hoffman.
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