Um dos melhores e mais eficientes musicais de todos os tempos!
Ruínas em um deserto acolhem um ônibus
abarrotado de homens e mulheres que são cuspidos para as areias. Uma vez fora
do ônibus, começam a vestir roupas coloridas e aparentemente improvisadas, a
tirar objetos estranhos e inesperados do interiror do carro e, finalmente,
dançar ao som de notas de rock que dão o
tom primeiro do longa Jesus Cristo
Superstar. As figuras que descem do ônibus são algumas das lendas do rock:
Ted Neeley, Carl Anderson, Yvonne Elliman, Barry Dennen, Bob Bingham, Larry
Marshall, Josh Mostel e Paul Thomas. Esses, interpretam, por sua vez, nomes bem
conhecidos na história do filho de Deus: Jesus Cristo, Judas, Maria Madalena,
Pilatos, Caifás, Zealotes, Herodes e o apóstolo Pedro.
A história de Jesus Cristo de Nazaré já
foi contada das formas mais diversas: livros, poemas, cartas, cantigas,
canções, peças de teatro – o que incluem desde as famosas representações da Paixão
de Cristo realizadas na Semana Santa, até peças ficcionais baseadas na Bíblia
-, e, claro, produtos audiovisuas para televisão e cinema. Entretanto, poucos
produtos são tão interessantes quanto Jesus
Cristo Superstar, musical – na melhor aplicação da palavra (todos os
diálogos são cantados) - dirigido por Norman Jewison e protagonizado pelas já
citadas figuras muito famosas da rock mundial. O filme é um musical onde Jesus
é um hippie cantando rock. Podia ser uma bela piada ou uma bela crítica a
respeito das interpretações da bílbia. Mas não é. É um filme inteligente que
critica a sociedade da década de 1970, que vivia pelo capitalismo e pelo
narsicismo. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou pelo período da
Guerra Fria, repleto de ameaças e medos e, ao mesmo tempo, de lutas entre o
capitalismo e o socialismo. Uma guerra sem sangue aparente, mas que submetia o
ser humano à busca pelo poder de forma tão voraz quanto o lobo procura por sua
presa.
No filme, a história é contada pelo
ponto de vista de um personagem sempre muito oprimido: Judas, interpretado pelo
cantor Carl Anderson. É Judas quem vê tudo o que está acontecendo com Jesus, e
é ele quem tenta avisá-lo sobre as incertezas do futuro. Tudo por um motivo
simples: Jesus Cristo se tornou popular de forma que já não se pode mais
controlar o que o povo sente e confia a ele. J. C. - como o Messias é chamado
por seus fieis no filme - é uma figura tão popular quanto figuras famosas que
lutaram pelos direitos da minoria antes da década de 1970, quanto as que o
fazem até hoje. Popular, no maior sentido da abreviação POP. J. C. é um homem
que ganhou a admiração e a confiança do povo por sua forma simples e altruísta.
É um homem que não se importa com luxos ou vaidades, e sim com o bem estar da
humanidade. Seu defeito, segundo Judas, foi nascer em uma época onde a
comunicação em massa não existia. Mas isso é assunto para linhas posteriores.
Ainda segundo sua popularidade, homens e mulheres passam a acompanhar o “líder”
por ele representar, para eles, um exemplo de espiritualidade e evolução
inimagináveis.
Entretanto, Jesus não está sozinho nessa
empreitada, Deus está lá o tempo todo. O Pai de Jesus parece observar tudo o
que é feito ao redor de seu filho. Deus é, em boa parte do filme, represenado
pela luz do Sol e, por vezes, da Lua. Também é usado como um artifício
intimador, que relembra o quanto o calor e a luz do sol podem ser incomodativos.
A luz é usada como um elemento narrativo poderoso, mas também é o que dita a
fotografia do filme. Natural ou artificial, a luz a iluminar o ambiente é,
quase que em todo o longa, baseada nas luzes do Sol e reflexo da Lua, seja para
iluminar todo um ambiente, ou para destacar um personagem em particular. Assim,
o Sol brilha nos rostos e nos corpos dos personagens, como se Deus lhes dissesse
alguma coisa, como se o Pai alertasse quanto à necessidade de entenderem os
propósitos da vida na terra. A luz do Sol, todavia, não compõe dramaticamente o
filme apenas como um elemento que lembre Deus ou o desconforto do calor e da
força incontrolável dessa luz. Em momentos muito específicos, Deus parece dar
licença poética ao Sol e ele representa a repressão e o desconforto da Guerra,
como na cena em que Judas é perseguido por tanques.
Mas não é apenas a luz do Sol ou a
popularidade de Cristo que compõe as críticas construídas de forma muito
perspicazes pelo longa. Como qualquer movimento hippie da década de 1970, esses
homens e mulheres caracterizados para representar a vida de Cristo na telona pedem
pela Paz. Pedem pelo fim das guerras. Pedem por um planeta mais igualidatário. Por
um planeta livre de diferenças. Em uma cena já muito conhecida por aqueles que
estão mais habtituados aos escritos bíblicos, Cristo chega ao templo e se
depara com uma feira. Ali, estão presentes os prováveis maiores inimigos da
cultura em questão: o capitalismo e a guerra. Na feira, nesse contexto, são
vendidos, além dos tradicionais mantimentos alimentícios e vestes, armas de
guerra como metralhadoras e granadas. Um Cristo muito revoltado e aos berros,
coloca tudo abaixo e expulsa todos do local. Outra cena conhecida da vida do
filho de Deus é apresentada de forma muito metafórica no longa. Quando os
doentes pedem para que o salvador os ajude, vê-se uma clara referência não
apenas às doenças da população que habita o planeta, mas às enfermidades que o
próprio planeta sofre: o capitalismo, o indivudualismo, a ganância, a corrupção,
a fome, a arrogância, a desigualdade, o descaso, o preconceito.
Jesus
Cristo Superstar
é uma adaptação para o cinema de uma peça da Broadway que fez muito sucesso nos
primeiros anos da década de 1970. A peça, em cartaz até hoje, era dirigida por Mark
Hellinger e protagonizada por Jeff Fenholt, Bem Vereen, Bob Bigham, Barry
Dennen e Yvonne Elliman. A composição das canções da peça, mesmas músicas do
filme, foram feitas por Andrew Lloyd Webber (músicas), mesmo dos filmes O Dossiê de Odessa, Cats,
Evita e O Fantasma da Ópera, e por Tim Rice (letras), de filmes como 007 Contra Octopussy, Aladdin,
O Rei Leão, Toy Story e Evita. No
filme, Ted Neely, Carl Anderson, Yvonne Elliman, Barry Dennen, Bob Bigham e
Josh Mostel emprestam suas poderosas
vozes aos personagens, entoando cada canção de forma impecável. Além das
vozes inquestionáveis, os intérpretes são expressivos facial e corporalmente,
construindo personagens tão ricos quanto a própria construção bíblica. As
músicas, por fim, contribuem para essa construção, já que cada personagem possui
um estilo e uma entonação musical muito própria.
Se Jesus Cristo tivesse nascido no novo
século, teria as letras J. C. entre parênteses ao lado de seu nome em seu
perfil do Facebook, onde faria postagens recorrentes; seria uma das figuras
mais seguidas do Twitter em todo o mundo e foto alguma seria mais twitada que
aquela onde caminha sobre as águas; postaria fotos de seus feitos – desde
transformar água em vinho, até alimentar centenas de pessoas com uma dezena de
peixes – em seu Tumblr; e poderia, facilmente, ter criado a selfie para que
pudesse registrar sua vida via Instagram – talvez até um de seus discípulos
postasse uma foto desse estilo com Cristo ao fundo sendo crucificado. Sua
crucificação seria acompanhada pelos jornais e tablóides de todo o mundo e sua
ressureição seria noticiada em tempo real. Teria de dar entrevistas contando
como era morrer e o que ele esperava para os proximos anos. Em uma coletiva de
imprensa, Ele seria obrigado a revelar seus segredos, falar sobre o futuro da humanidade
e prometer que voltaria se fosse preciso. Até mesmo sua ascenção teria dia,
local e hora marcada. Antes de ir, entretanto, Jesus teria de ouvir milhões de
pessoas fazerem os pedidos mais egosístas imagináveis. Se Jesus Cristo tivesse
nascido neste século e não agisse assim, seria ofuscado por qualquer romano que
o reprimisse nas redes sociais. Ao menos, tudo isso é o que o Judas do filme
parece a alegar no número musical que dá título ao filme.
Ou, simplesmente, Jesus usaria toda a
tecnologia para, finalmente, alcançar o mundo com sua bondade e sabedoria,
concientizando a todos e dando sua vida pela humanidade de forma menos
deprimente. Assim, Cristo deixaria um mundo livre de doenças não biológicas
citadas acima, com pessoas que fazem o bem sem distinguir ninguém ao seu redor.
Ou isso, ou Cristo veio na hora certa, fez o que tinha que ser feito com os
recursos que tinha e deixou os seres humanos sabendo o quão difícil seria a
vida a terra. Jesus Cristo Superstar
apresenta possibilidades, indaga a sociedade sobre como o ser humano tem agido
nos quase dois milênios desde que Cristo foi embora, traz questões pertinentes
a respeito das desnecessárias guerras e disputas, condena o preconceito e a
desigualdade. Tudo, sobre o olhar de quem mais foi julgado nessa história toda:
Judas Iscariotes. Quem foi Jesus Cristo? Seria um real filho de Deus? Um
enviado dos céus? Ou um simples filho de um carpinteiro? Um homem comum que,
como tantos outros, conquistou o povo por sua simpatia e carisma? Se Cristo foi
ou não tudo que se lê na Bíblia, jamais poderemos saber – e o filme nem faz
questão de responder a isso -, mas uma coisa é inquestionável: ninguém no mundo
foi, é ou será tão popular quanto Jesus Cristo de Nazaré.
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