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Durante
os dias 20, 21 e 22, realiza-se, no Anfiteatro do Complexo Multiuso Dercir
Pedro Oliveira do Campus de Campo Grande da Universidade do Mato Grosso do Sul,
o II Simpósio de Gênero e Sexualidade (Sigesex) – Corpos Vigiados e a Laicidade
do Estado. O Sigesex é realizado pelo Laboratório de Estudos de Violência e Sexualidade
da UFMS e neste ano conta com as seguintes atividades: conferência de abertura,
mesas redondas, grupos de trabalhos, mostra de curtas, atividades culturias e
festa de encerramento. O blog, portanto, faz uma análise dos filmes
apresentados na mostra de curtas na tarde dessa quinta-feira , relacionando-os
com as outras atividades do Simpósio acompanhadas por mim.
O
primeiro filme foi Nem te conto,
realizado de forma coletiva na cidade de Campinas (SP) e que se apresenta como
um vídeo-documentário sobre a criação, produção e divulgação de um material
educativo (Zine Nem te Conto) destinado a adolescentes gays e travestis que
aborda o uso da camisinha – a proteção sexual contra DST’s – de forma criativa
e muito próxima desse público alvo. O filme é mais um informativo, algo que se
aproxima de vídeos educacionais apresentados na escola. A diferença – o que faz
o filme se destacar – é a forma como esse informativo é abordado: são mostrados
os próprios gays e travestis deixando suas criatividades fluirem para a criação
desse material educativo feito, dessa vez, por pessoas que compreendem muito
bem a cabeça desse público alvo, e não por homens, cis, héteros, brancos que
ocupam o congresso de forma absurda, por exemplo.
Nesse
contexto, com uma câmera na mão curiosa e ágil, mas, ao mesmo tempo, atenta aos
detalhes das criações dos jovens, somos levados ao espaço onde estão esses jovens
a fim de compreender a necessidade desse tipo de informação. De forma descontraída,
gays e travestis relatam o que já viveram e admitem como o uso da camisinha é
necessário. Segundo o professor Tiago Duque, que acompanhou a produção do curta
em 2008 e que hoje dá aulas na UFMS, a ideia era descontruir o fascimo acerca
do uso da camisinha provocado por entidades governamentais. Para ele, não se
deve estrapolar e qualificar o não uso do preservativo como um crime, e sim, mostrar,
de forma descontraída, que isso é necessário para que a saúde do jovem seja
garatida. O filme é uma ótima pedida para substituir aqueles panfletos
repetitivos e sem graça destribuídos pelos orgãos governamentais responsáveis
pela saúde da população brasileira.
A
apresentação de filmes seguiu com um curta que mais se aproxima de uma coletânea
de informações para denunciar o preconceito no Brasil, comparando-o ao preconceito
extremista que a Rússia mantem até hoje. Para isso, Ramiro Rodrigues, retoma,
em Clareira, a história de duas competidoras
russas de atletismo que se beijaram na boca após ganherem um campeonato. O
governo logo reagiu dizendo que aquilo era apenas uma forma de comemoração. As
atletas tiveram de se manifestar e esclarecer que o governo estava certo, e que
as duas não eram companheiras. Paralelamente a esse relato, o filme mostra
cenas desgastantes recorrentes nos últimos anos em que políticos como Silas Malafaia
e Jair Bolsonaro eram protagonistas e deixavam claro que sua homofobia não tem
limites. Clareira é um filme simples, mas uma coletânea importante para alertar
ao Brasil que se os ideias não forem repensados, em um futuro próximo seremos
tão extremistas e hipócritas quanto a Rússia. No final do curta, um manifesto
contra o calar social, onde um ser humano costura a própria boca alertando como
a comunidade LGBT vem sendo agredida verbalmente e como ela é forçada a se
calar. Quem deveria ficar calado afinal?
O
último filme da sessão foi Ana, curta
de Breno Benetti Correa, sobre uma jovem que se liberta de suas prisões muito
pessoais. Lembrando o cineasta Ingmar Bergman, Ana está vestindo uma máscara –
sua persona – durante toda a vida.
Como nos filmes do sueco, entretnato, a alma da jovem vem à tona e ela começa a
descobrir os prazeres e as verdades sobre seu próprio corpo. Assim, Ana se liberta
e se deixa levar pela natureza e pela dança. O filme é construído de forma
muito delicada: essas três fases (perturbação, descoberta e libertação) possuem
fotografias e sons muito distintos. O filme inicia preto e branco, com uma
música simples e que se destaca pouco em comparação aos planos detalhe do corpo
desesperado de Ana; com as descobertas, vê-se o inferno particular da protagonista
em um espaço interno pouco iluminado e o fogo, em primeiro plano, traz cor e
vida ao filme, a música é impactante e muito presente; por fim, durante a
libertação, a fotografia é muito bem iluminda, externa e com músicas batucadas
que lembram um pouco o Candomblé – que também parece ser referenciado com a
presença da água, da terra, do fogo e do ar, os elementos naturais.
Apesar
de uma narração em off da
protagonista desnecessária – o filme se resolvia apenas com imagens e efeitos
sonoros – a narrativa clássica é trabalhada por Breno de forma surrealista e
muito lúdica. A câmera, apesar de não se mover e não trazer nenhum tipo de
artificio como o zoom in/out ou travelling, apresenta enquadramentos
muito estéticos, bem pensados. Críticas aos preconceitos e ao conservadorismo,
negação dos padrões, defesa da expressão e da liberdade em qualquer instância,
a busca por respostas a recorrentes perguntas do ser humano estão nesse filme,
escrachadas ou apresentadas de forma sutil, singela, com cuidado. Ao contrário
dos filmes clássicos, onde as expressões faciais diziam tudo sobre o que o
personagem sentia, aqui segue-se a proposta de alguns fimes independentes das
décadas de 1960 a 1980, onde o corpo ganha grande importância frente à câmera,
com seus movimentos e formas.
Defendendo
e enaltecendo as lutas e a importância dos direitos humanos e da diversidade –
de genero, de cor, de raça, de sexo e qualquer outra – os filmes apresentados
pelo II Simpósio de Gênero e Sexualidade são ricos em recursos estilíticos
audiovisuais ao passo que atendem às espectativas na tentativa de atingir um
certo público alvo com um determinado produto. Um utiliza o recurso de um certo
amadorismo, mas de quem sabe como ser um “amador profissional”; outro seleciona
produtos já vinculados para comparar dois países; e o último usa da ficção e de
uma estética muito bem elaborada para explorar os temas anteriormente citados Socialmente, os filmes se destacam pela
importância dada ao ser humano e, sobretudo, pela importância dada às escolhas
de todxs. É a sétima arte servindo, mais uma vez, de meio de expressão de seres
humanos muitas vezes calados pela sociedade, mas que insistem em gritar e serem
ouvidos.
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