A Faixa de Gaza recebe o primeiro Festival de cinema ao ar livre do mundo e alerta para as violações dos diretios humanos que seu povo vem sofrendo.
Confira o vídeo sobre o evento.
Território importante no Oriente Médio
desde a era Mesopotâmica, a Faixa de Gaza foi dominada pelo Império Otomano até
a Primeira Guerra Mundial. Em 1948, a ONU declarou o Estado de Israel e
refugiados – que se identificavam como palestinos – passaram a habitar a
região. Em 1950, entretanto, passou a ser controlada pelo Egito, que
representava os interesses palestinos. Sete anos depois, com a Guerra dos Seis
Dias, Israel tomou a Faixa de Gaza e se recusou a devolver o território aos
palestinos. Desde então, as guerras na região não cessam e aumentam a cada ano.
No ano passado, por exemplo, Hamas e Israel aceitaram um acordo de trégua, findando uma guerra de 50 dias que teve cerca
de 2.230 mortes, sendo 2.157 do lado palestino.
Durante os últimos meses, apesar de a
guerra ter acabado, ainda existem bombas espalhadas por toda a região e muitas
pessoas continuam desabrigadas, uma vez que os custos para a recuperção são
muito altos. Em meio a tantas tragédias e escombros, nos últimos dias, enquanto
acontecia o prestigiado Festival de Cannes na França, um grupo também chamou a
atenção ao realizar um Festival de Cinema no distrito de Shujaiyeh, na Faixa de
Gaza. Devastado pelos conflitos, o distrito recebeu um tapete vermelho
simbólico e uma tela foi instalada ao ar livre para que espectadores pudessem
conferir as 28 produções apresentadas. O evento durou três dias – sábado (16),
domingo (17) e segunda (18) - e, segundo
os organizadores, recebeu milhares de pessoas.
Segundo Khalil Al-Muzayan, cineasta
palestino, “Deixar que o povo, especialmente o que perderam seus lares, caminhe
pelo tapete vermelho é um símbolo. Queríamos enviar a mensagem para dizer que
os reis e presidentes e as estrelas do cinema não são mais importantes que os
pobres residentes que ainda sofrem por estarem deslocados”. Mais que isso, o
Festival de Cinema Karama Gaza, como foi denominado, levou ao povo 28 filmes
que tinham os direitos humanos como temática e que foram selecionados entre 160
filmes do mundo todo, a maioria de países árabes. Com essa curadoria, o festival
lembra que existem pessoas lutando pelos direitos de todos e estimula os
palestinos a não desistirem da terra em que vivem.
Além disso, o festival lembra aos
palestinos a necessidade de se cobrar as ajudas prometidas por países de todo o
globo. Para Al-Muzayan, a importância de se começar o festival em Shujaiyeh, o
distrito mais afetado pela guerra, serve “para enviar uma mensagem ao mundo de
que chegou o momento de começar o processo de reconstrução prometido pelos
doadores internacionais e ajudar dezenas de milhares de mulheres e crianças
deslocadas a retornar a seus lares.” O evento foi realizado em paralelo ao
Festival Karama de Direitos Humanos de Amã (Jordânia) e pretende “lançar uma
mensagem de paz e uma chamada ao fim das violações de direitos humanos na
Palestina”, apontou Fayek Jarada, organizador do evento e cineasta.
Para Efe Salah Abdulati, diretor da ONG
palestina Corporação Independente pelos Diretos Humanos, “Este festival é o
primeiro deste tipo feito em território palestino e representa um laço entre a
arte e a realidade”. O evento foi realizado ao ar livre, em meio aos escombros
das casas da população e foi elogiado por Abdulati por colocar “um foco sobre o
sofrimento do povo de Gaza, especialmente durante a última agressão
israelense”. Aproximando a população do evento, Essam al-Hilu foi o encarregado
de abrir a cerimônia. Ele perdeu sua casa no distrito e 11 irmãos durante o
conflito. O povo palestino recebeu o festival de braços abertos para mostrar ao
mundo que permanecem em pé e fortes.
Para realizar o evento, além de ter
cuidado com as bombas, os organizadores tiveram que carregar um arsenal de
cabos de energia. O tapete pelo qual cada espectador passou foi estendido ao ar
livre. Foi ao ar livre, também, que o festival foi realizado, sendo um
estreante nesse tipo de evento. Ainda segundo Jarada, “Fazer um festival assim
na Faixa de Gaza, que vive sob o bloqueio e a destruição há tantos anos, mostra
a parte humana e cultural de Gaza e cria um estado de comunicação com o mundo
através da janela do cinema.” Assim, no último final de semana, uma região que
já sofreu inúmeras violações dos diretios humanos assiste, novamente, a uma
sessão de cinema. A sétima arte volta a uma região que teve seu último cinema
fechado na década de 1980 para alertar o mundo das doenças que o planeta
sofre.
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