domingo, 29 de julho de 2012

236. TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO, de José Padilha

Nenhum filme faz uma crítica tão propícia à bandidagem que os brasileiros são obrigados a presenciar de forma tão inteligente quanto esse.
Nota: 9,6



Título Original: Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora e Outro
Direção: José Padilha
Elenco: Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Milhem Cortaz, Maria Ribeiro, Seu Jorge, Sandro Rocha, Tainá Müller, André Mattos, Pedro Van-Held, Adriano Garib, Julio Adrião, Emílio Orciollo Neto, Rodrigo Candelot, Fabrício Boliveira, Marcello Gonçalves
Produção: José Padilha, Marcos Prado
Roteiro: Bráulio Mantovani, José Padilha e Rodrigo Pimentel
Ano: 2010
Duração: 115 min.
Gênero: Drama / Thriller / Ação


Só pra curiosidade, o pôster da versão americana do filme.
Após alguns incidentes envolvendo bandidos no presido de Bangu, o BOPE e um militante dos direitos humanos, o até então Capitão Nascimento se torna, a partir desse filme, o Tenente-Coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro e Subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Como tal, sua obrigação é a de monitorar todos os grampos telefônicos existentes no estado. No entanto o problema não se concentrará apenas nas descobertas de Nascimento a respeito do sistema, além dos problemas com o filho, o definitivo herói terá de encarar a realidade de que todos que ama e tudo o que preza estão em perigo, e é aí que a coisa se tornará pessoal.



Esse filme não é apenas uma simples denúncia à corrupção que ocorre no estado do Rio de Janeiro, ele abrange o país todo e critica dezenas de problemas de que o povo brasileiro não faz ideia ou tem coragem de confrontar. Durante a trama vemos cenas que, apesar de absurdas, são comuns em nosso país: em diversos momentos, bandidos conversam naturalmente com políticos, cada um exigindo os favores mais inacreditáveis; as favelas são palcos de literais chacinas em verdadeiras guerras travadas entre polícias e bandidos, o difícil é destingir uns dos outros; a falta de escrúpulos dos políticos em tratarem a população apenas como eleitores e se preocuparem apenas com seus futuros em suas carreiras; policiais deixando de ser policiais para virarem apenas bandidos, alguns nem deixando a nobre profissão de lado; a incessante batalha entre políticos e mídia, essa última tendo milhares de cartas nas mangas, mas recusando-se a utilizá-las, por medo, precaução, ou negociação; e ainda um momento muito particular em que dois bandidos queimam corpos de vítimas e retiram seus dentes para garantir que ninguém os identifique. Ainda podemos conferir momentos mais íntimos da vida de Nascimento, como os problemas advindos da relação com seu filho, sua ex-esposa e o atual marido dela que, por sinal, é o tal militante dos direitos humanos que vai totalmente contra as políticas do BOPE.



“Mesmo assim, o sistema continua de pé. O sistema entrega a mão para salvar o braço. O sistema se reorganiza, articula novos interesses. Cria novas lideranças. Enquanto condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai resistir. Agora me responde uma coisa, quem você acha que sustenta tudo isso? É, e custa caro, muito caro. O sistema é muito maior do que eu pensava. Não é a toa que os traficantes, os policiais e os milicianos matam tanta gente nas favelas, não é a toa que existem tantas favelas. Não é a toa que acontece tanto escândalo em Brasília que entra Governo, sai Governo e a corrupção continua. Pra mudar as coisas vai demorar muito tempo, o sistema é foda. Ainda vai morrer muito inocente.”
Palavras do Capitão Nascimento



José Padilha, diretor dos documentários “Ônibus 147” (2002), “Brazil’s Vanishing Cowboys” (2003), “ Garapa” (2009) e “Secrets of the Tripe” (2010) e do primeiro “Tropa de Elite” (2007), é roteirista, produtor e diretor desse filme. Particularmente não gostei muito do primeiro, não que ele seja mal feito, apenas não faz parte do estilo de filmes que costumo gostar, como um todo ambos tem qualidade e nos dois Wagner Moura é um assombro como Roberto Nascimento, mas o trabalho realizado por todos nesse segundo filme é maravilhoso. Como diretor, Padilha é perfeito mesmo utilizando câmera de mão em vários momentos, durante o filme temos excelentes escolhas de ângulos e apenas vemos cenas clichês quando realmente necessário, tornando-as sequências muito bem-vindas. Além de Padilha, o roteiro é assinado por Rodrigo Pimentel, que escreveu o primeiro também, e Bráulio Mantovani, de “Cidade de Deus” (2002), “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias” (2006) e “Tropa de Elite”; durante todo o enredo a história permanece eletrizante e nada confusa, além disso, eles optaram pela narração em off da personagem principal, o que enriqueceu e glorificou todo o filme. Pedro Brofman, também do primeiro filme, é o compositor da trilha sonora fantástica que ouvimos o tempo todo, como um bom brasileiro, ele mistura diversos estilos, como rock, pop, funk, MPB, RAP, samba, e até música orquestrada.



Wagner Moura iniciou sua carreira apenas em 1999, mas desde então já demonstrou ser um dos melhores atores da atualidade brasileira, Moura é simples e convence em cada um de seus papéis, provavelmente nenhum trouxe tanto prestígio e admiração quanto sua representação de Roberto Nascimento. Desde o primeiro filme, ele se tornou adorado por público e crítica, pessoalmente, admiro seu trabalho principalmente após a novela “Paraíso Tropical” (2007); seu trabalho como protagonista no segundo filme é fantástico, ele consegue demonstrar de forma perfeita os relacionamentos com o filho, a ex e o atual da ex, se mostra firme e bem resolvido em suas decisões, mas jamais deixa de ser um pai, bem como nunca perde a essência de outrora, quando foi o inigualável Capitão nascimento. Além dele, temos no elenco ainda nomes fortes, como a volta de André Ramiro, como o agora Capitão André Matias; seu personagem se revolta com tudo o que acontece e resolve colocar a boca no mundo, mas nada ocorre como o planejado. Volta também a atriz Maria Ribeiro, que interpreta Rosane, a ex-mulher de Nascimento, a típica ex-mulher que, apesar de respeitar o ex-marido, o julga por tudo o que ele faz e o afasta do filho. Ainda temos Sandro Rocha e Milhem Cortaz, aqui ambos fazem a vez dos policiais corruptos que não ligam para o povo e só se preocupam com o próprio bem e com a conta bancária. De novo, a participação excelente do conhecido cantor Seu Jorge, que vive o bandido Beirada com uma realidade assustadora; Tainá Müller, a jornalista Clara (particularmente, acho essa atriz ótima); Irandhir Santos, o militarista que defende os direitos humanos; e, por fim, André Mattos, como o apresentador Fortunato, e não há outra definição senão dizer que o papel caiu como uma luva no ator; ele é nojento e repugnante, de uma forma inexplicável.


         

Apesar de o filme ter feito sucesso no mundo todo, por um lado foi elogiado por toda a crítica e os sites mais bem conceituados referentes à sétima arte terem dado notas altíssimas para ele, a trama não agradou muitas premiações e, injustamente, ficou fora do Oscar de melhor filme estrangeiro. No entanto, a qualidade dos filmes não é medida por quantos prêmios venceu ou deixou de vencer, claro que se pode ter uma ideia por essa perspectiva, mas o número de injustiçados costuma ser bem maior que os que realmente mereciam. Apesar dessa rejeição de prêmios e de o primeiro filme ser bem menos agradável e de qualidade inferior, o fato é que esse filme é tão foda quanto o sistema que a personagem principal combate incansavelmente, afinal, assim como ocorreu comigo e com milhares de pessoas, “Tropa de Elite, osso duro de roer, pega um, pega geral, também vai pegar você”.

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