sexta-feira, 15 de março de 2013

079. (ESPECIAL 0SCAR 2013) PROMETHEUS, de Ridley Scott


Visualmente é um belo filme, mas peca pela falta de originalidade.
Nota: 8,0


Título Original: Prometheus
Direção: Ridley Scott
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Logan Marshall-Green, Charlize Theron, Idris Elba, Guy Perce, Sean Harris, Rafe Spall, Emun Ellott, Benedict Wong, Kate Dickie, Branwell Donaghey, Vladimir Furdik, C. C. Amiff, Shane Steyn
Produção: David Giler, Ridley Scott, Walter Hill
Roteiro: Jon Spaihts, Damon Lindelof, Dan O’Bannon e Ronald Shusett
Ano: 2012
Duração: 124 min.
Gênero: Aventura / Ficção / Thriller

Elizabeth Shaw e Charlie Holloway são um feliz casal de arqueólogos que acaba de encontrar pistas de que vários povos antigos conheciam a origem do ser humano. Para completar essa felicidade, os dois são convidados por Meredith Vickers, a mando de Peter Weyland, para integrar um grupo que irá atrás dessas origens a bordo na nave espacial Prometheus. Entretanto, ao chegar no dito local, após dois anos, coisas estranhas começam a acontecer e Elizhabeth terá de tomar uma decisão: ou permanece atrás de seus estudos, ou salva sua vida e da tripulação, convencedo-os de ir embora daquele lugar.


Em 1979, Ridley Scott dirigiu Sigourney Weaver no grande filme “Alien, o Oitavo Passageiro”, a história girava em torno dos sete tripulantes de uma nave rebocadora e de um alienígena que invadia o veículo enquanto o grupo voltava para a terra após encontrar uma grande nave desativada em outro planeta. Weaver viveu Ellen Ripley, a única sobrevivente da nave, depois desse longa, a triz ainda protagonizou “Aliens” (1986), “Alien 3” (1992) e “Alien Resurrection” (1997), dirigidos, respectivamente, por James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet. Entre o primeiro filme de Scott e esse não há muitas diferenças: ao chegarem no estranho planeta, os tripulantes são acordados por David, um andróide criado Weyland – segundo o próprio criador: a coisa mais próxima de um filho que ele já teve -, logo depois a tripulação desce da nave e vai em busca de respostas para o que eles estão procurando, David encontra uma nave desativada, com apenas um corpo vivo dentro dela; os demais tripulantes encontram restos de um suposto Alien; o marido de Elizabeth acaba morrendo por motivos misteriosos e David descobre que ela está grávida de um monstrinho; Elizabeth consegue, da forma mais louca possível, tirar o “bebê”, ela o tranca em uma sala, e após a mais complicada cesariana da história, ela sai andando normalmente. Para não contar toda a história lhes dou apenas o desfecho que deveria ser épico: após ser engolido pelo monstrinho que Elizabeth pariu, aquele único Alien vivo que estava dentro da nave, renasce e vemos como os seres se reproduzem – colocando ovos em um hospedeiro. Surge, aí, o primeiro Alien. Para se ter uma idéia de como o longa é produzido de forma semelhante ao filme de 79, não há necessidade de eu esconder tudo o que ocorre na trama, até por que, ele é tão previsível que sabemos tudo o que acontecerá mesmo antes de chegar no metade do filme, mesmo para alguém que nunca assistiu ao “Alien”. Dessa forma, fica claro que “Prometheus” é mais ou menos um “Alien – A Origem”, entretanto, a única mudança, além do elenco, é a de que, no desfecho, temos a criatura nascendo. Apesar de tudo isso, é inegável, a produção tem uma qualidade de imagem e som encontrada em muitas produções, mas que ganha a superioridade pela direção de Scott, e isso se deve ao fato de sermos guiados por esse diretor competente que merece crédito por tentar voltar ao seu grande sucesso e trazer uma nova história.


Se toda a produção é uma imensa refilmagem de “Alien”, o que a salva de uma catástrofe total são duas atuações que merecem destaque: Michael Fassbender como Michael, e Charlize Theron como Meredith Vickers. Fassbender, que se tornou febre no mundo todo após “300” (2006) e “Bastardos Inglórios” (2009), já foi considerado, por muitos críticos, um dos atores mais promissores dos últimos anos, aqui ele vive um andróide, o que já não é algo fácil de ser feito, e é ele que dá a personagem um tom mais humano, mas sem deixar que o público esqueça da verdadeira forma de vida que David é, agindo como um robô em alguns momentos, e como um homem isolado que deseja ser igual a todos os outros. Theron dá um tom mais racional e menos científico no filme, apesar de ter menos destaque que Fassbender, ela é a mulher rica e poderosa que comanda a expedição, sendo assim, não se importa muito com a beleza de tudo o que eles podem descobrir, apenas está cumprindo com seu dever e realizando aquilo que Wayland queria realizar. Como a protagonista Elizabeth temos Noomi Rapace, mais conhecida pela trilogia “Millenium” (2009), apesar de ser uma boa atriz, a interpretação dela se torna fraca e cheia de absurdos por ser uma personagem com pouco a ser explorado, digo, ela já era sem graça antes de o marido morrer, e fica tudo ainda pior quando seu útero é arrancado, ela arrebenta parte dele com as mãos, faz uma máquina fechar o corte em sua barriga com coisas que parecem mais grampos, levanta da cama e sai correndo e fazendo milhares de coisas antes mesmo do efeito da anestesia passar; mesmo que o longa seja futurista, não há nada que possa explicar tal recuperação. Guy Pearce vive Peter Weyland, e, sabe-se Deus por que, resolveram que era mais digno escolher um bom ator, colocar-lhe a pior maquiagem do ano e deixar ele velho os poucos minutos em que aparece, apesar de interpretar bem, a todo momento o rosto do ator parece prestes derreter, o que deixa sua aparição no filme terrível.


Se esse filme fosse o primeiro longa de todos, com Weaver no papel principal e todo o resto do elenco e da história fossem os mesmos, provavelmente seria um dos filmes de ficção científica mais bem feitos e realizados da história do cinema – isso, é claro, se esquecessem da besteira de engravidar a protagonista, claramente apenas uma forma de enrolar o espectador e dar algum gás na história. Talvez, dessa forma, a monotonia seria quebrada e alguns absurdos relevados. Mesmo assim, não se pode julgar Ridley Scott por voltar a suas origens e querer lembrar ao povo que foi dele uma das mais revolucionárias idéias dos filmes do gênero, até por que, se o filme já decepciona sendo dirigido por um dos melhores diretores do cinema moderno, o que teria acontecido se qualquer outro realizador tentasse filmar essa produção?

sexta-feira, 8 de março de 2013

080. EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, de Marc Forster


A história da imaginação com uma pitada de indecência.
Nota: 9,3


Título Original: Finding Neverland
Direção: Marc Forster
Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Radha Mitchell, Dustin Hoffman, Freddie Highmore, Nick Roud, Luke Spill, Ian Hart, Kelly Macdonald, Mackenzi Crook, Eileen Essell, Jimmy Gardner, Oliver Fox, Angus Barnett, Toby Jones
Produção: Nellie Bellflower, Richard N. Gladstein
Roteiro: David Magee e Allan Knee (peça)
Ano: 2004
Duração: 106 min.
Gênero: Biografia / Drama / Comédia

James Matthew Barrie nasceu em 9 de maio de 1860, nono de dez filhos, desde pequeno, era fascinado pelas histórias de piratas contadas por sua mãe. Após a morte de seu irmão David, a relação de James e sua mãe jamais foi a mesma, o que marcou muito sua infância. Trabalhou como jornalista, depois mudou-se para Londres, onde escrevia trabalhos humorísticos,  em 1888 publicou “Auld Licht Idylls”, começando a fazer sucesso, fundou, ao lado de alguns amigos, um clube de cricket, três anos depois surgiu seu grande sucesso “The Little Minister”, o que o fez começar a escrever apenas peças de teatro. Em 1894, casou-se com a atriz Mary Ansell, e dez anos depois estreou com sua maior obra: “Peter Pan”, que foi escrita baseada em sua experiência com a família Llewelyn Davies. J. M. Barrie morreu em 1937, aos 77 anos, deixando, além de um legado inestimável, uma vida cheia de mistérios acerca de sua controversa personalidade.


No filme, vemos Barrie comemorando o fracasso de uma de suas peças, depois as dúvidas básicas de um escritor ao tentar escrever mais alguma coisa. Em contraponto, temos a estranha relação entre ele e sua esposa, pois nenhum dos dois parecia se importar mais um com o outro como deveriam. Dessa forma, Barrie acaba conhecendo os filhos da viúva Sylvia Llewelyn Davies em uma praça, e inicia, com os quatro meninos e a mãe, uma bela amizade. Dessa amizade, Barrie encontrou forças e inspirações para criar a inesquecível história de Peter, o menino que morava na Terra do Nunca e não crescia, e de Wendy, a jovem por quem o garoto se apaixonava. Apesar de todos os problemas relatados no filme, vemos, por fim, o sucesso de sua peça e os rumos que sua vida tomou após isso tudo.


Ao encontrar os Llewelyn Davies e começar a frequentar a casa da família para encontrar os meninos – Peter, Jack, George e Michael – começaram as desconfianças e críticas advindas da sociedade. Segundo a biógrafa de Barrie, Janet Dunbar, o escritor possuía disfunção erétil, e muitos acreditam que ele era assexuado, o que poderia ser uma explicação para os problemas em seu casamento, no entanto, na época, alguns afirmavam que Barrie, além de manter uma relação mais íntima com a matriarca Sylvia, cometia pedofilia com os garotos, atraindo-os com sua facilidade de esquecer-se do real e penetrar no imaginário de todos. Dessa forma, vemos, ainda no filme, as tentativas racionais de Emma Du Maurier, esposa do escritor George Du Maurier e mãe de Sylvia, de afastar Barrie de sua família. Além disso, somos expostos as tentativas e frustrações do escritor ao tentar realizar mais um bom trabalho para apresentá-lo ao seu produtor, claro que essa particularidade do filme – encontrada em algumas outras produções – faz com que as pessoas que escrevem, sendo escritores de livros ou qualquer outro gênero, se identifiquem, seja pela dificuldade em encontrar uma boa história, ou pela preocupação do que o público achará do que se está escrevendo. Mesmo que Marc Forster tenha dirigido bons filmes, tais como “A Última Ceia” (2001), “Mais Estranho que a Ficção” (2006) e “007 – Quantum of Solace” (2008), nenhum de seus dez filmes pode ser comparado com a qualidade de “Em Busca da Terra do Nunca”, o que faz desse, a sua obra prima. Isso se deva, talvez, por um conjunto de fatores muito importante – elenco, equipe técnica, enredo -, mas também pela forma genial com a qual o diretor apresenta toda a história, levando-nos a mundos desconhecidos e nos convencendo de que “Neverland” realmente existe, se não em algum lugar de nosso planeta, em nossa imaginação, que, de certa forma, nunca deixa de ser infantil. Acrescente a isso, David Magee, que viria a escrever outros dois filme que eu adoro – o vencedor do Oscar “As Aventuras de Pi” (2012) e a comédia independente “A Vida Num só Dia” (2008) -, assina esse roteiro magnífico que, mesmo mostrando a paciência e afeição que Barrie sentia pelos meninos Llewelyn Davies, não deixa escapar as suposições de adultério e pedofilia, contrapondo-as com a beleza da imaginação de Barrie e sua Terra do Nunca. Por fim, antes de falar sobre as atuações estupendas, a trilha sonora vencedora do Oscar é composta por Jan A. P. Kaczmarek, apesar de o compositor ter feito poucos trabalhos notáveis, essa é uma das trilhas que mais gosto compostas na última década, e, para se ter uma idéia de seu grande trabalho, ele concorria com nomes como John Williams, Thomans Newman e James Newton Howard.


Johnny Depp vive Sir James Matthew Barrie, como já disse, um homem muito misterioso, confuso na época em que se passa a história narrada no filme e, acima de tudo, um grande escritor, talvez o que eu mais goste na atuação de Depp é essa maneira simples com a qual ele não deixa transparecer nada sobre o íntimo do personagem – a não ser em momentos como o em que ele conta a Sylvia a rejeição por parte da mãe, que preferia o irmão David -, nos deixando com dúvidas sobre as reais intenções de Barrie acerca de Sylvia e seus filhos, mas não esquecendo de deixar claro o quanto o homem possuía uma forte imaginação e como podia transformar seus sonhos em realidade. Kate Winslet, uma das melhores atrizes de sua geração, que foi se aprimorando de forma inacreditável a cada filme, é Sylvia Llewelyn Davies, uma viúva um pouco desesperada, que não sabe muito o que fazer agora que não tem mais o marido ao seu lado e vê em Barrie um amigo com o qual pode dividir a carga da preocupação com o futuro dos filhos. Julie Christie vive a mãe de Sylvia, Emma Du Maurier, em uma das melhores interpretações do filme, onde faz a vez da parte racional do longa, mas sem deixar o espírito de mãe se perder em meio ao desejo de que as vidas de sua filha e netos sigam em frente. Freddie Highmore é o único ínterprete dos filhos que vale a pena falar, não que as outras atuações seja ruins, pelo contrário, mas sua personagem, Peter, é quem deu origem ao nome do eterno Peter Pan, o que faz do jovem um dos centros da história e o filho mais relevante de Sylvia. Os outros meninos – Jack, George e Michael – são vividos, respectivamente, por Joe Prospero, Nick Roud e Luke Spill, todos, como citei, ótimos, mas com pequenas participações. Outras duas pequenas paticipações que merem algum destaque, são os irreconhecíveis Dustin Hoffman, como Charles Frogman, o produtor de Barrie, e Kelly Macdonald, intérprete de Peter Pan na peça.


Além de a história de “Peter Pan” nos trazer a lição de que devemos aproveitar nossa infância e de que devemos fazer com que nossos filhos e sobrinhos façam o mesmo, temos lições de amizade, companheirismo, amor, compaixão e, acima de tudo, a lição de que jamais devemos desistir de nossos sonhos, jamais devemos nos dar por vencidos e deixar de sonhar ou deixar de acreditar em nossos desejos mais profundos, afinal, bem como “toda a vez que alguma criança diz que não acredita em fadas, uma fada morre em algum lugar do planeta”, toda a vez que resolvemos não acreditar mais em nossos sonhos, em nossa própria mente eles começam a ser apagados, até, assim como as fadas, restar um mísero fio de luz, que sumirá a qualquer instante. E essa é a magia proposta, não apenas pelo cinema, mas pela história de Peter Pan e pela história contada aqui, deixando de lado todas as suposições acerca do protagonista, nos concentremos apenas na beleza que é assistir a um filme que incentive tanto uma das práticas mais belas do ser humano: sonhar, afinal como apontou algum sábio pensador no decorrer de nossa história, sonhar é lindo e não custa nada.


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quinta-feira, 7 de março de 2013

081. COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO, de Cameron Crowe

Inesperadamente, uma comédia americana de qualidade e muito bom gosto.
Nota: 9,0


Título Original: We Bought a Zoo
Direção: Cameron Crowe
Elenco: Matt Damon, Scarlett Johansson, Colin Ford, Maggie Elizabeth Jones, Thomas Haden Church, Angus Macfadyen, Elle Fannig, Patrick Fugit, John Michael Higgins, Carla Gallo, J. B. Smoove, Stephanie Szostak, Michael Panes, Kym Whitley
Produção: Cameron Crowe, Jullie Yorn, Rick Yorn
Roteiro: Alina Brosh McKenna, Cameron Crowe e Benjamin Mee (livro)
Ano: 2011
Duração: 124 min.
Gênero: Drama / Comédia


Benjamin Mee é um grande aventureiro que vê toda sua vida profissional desabar quando sua esposa morre e ele precisa cuidar de um filho adolescente e de uma menina de sete anos. Transtornado sem saber o que fazer, Benjamin procura por uma nova casa, longe de tudo o que eles conhecem para recomeçar a vida. E é nessa procura que encontra o lugar perfeito, uma casa linda e tudo aquilo o que ele e a filha imaginavam, mas existe um pequeno problema: o lugar é um zoológico abandonado pela maior parte dos humanos, e cheio de animais que precisam de ajuda. Benjamin, portanto, decide ficar com o lugar e reformar tudo para reabrir o Zoo e ver sua família feliz novamente.


Benjamin Mee, assim como o próprio zoológico, existe. Trata-se de um jornalista formado em psicologia que escrevia para o jornal inglês “The Guardian” e que, em outubro de 2006, procurava uma casa grande para viver com a esposa, os dois filhos, um irmão e a mãe de mais de setenta anos. Encontraram uma casa nos limites da reserva de Dartmoor, localizada naquela pontinha saliente a oeste da ilha da Inglaterra. A família se mudou e, alguns meses depois, Katherine, a esposa de Benjamin, começou a ter sintomas de um tumor cerebral. Para piorar toda a situação, Katherine morreu e, além de ter o dever de cuidar de todo o zoo, Benjamin precisou ajudar os filhos a superar a perda. Entre um problema e outro, Benjamin e sua família foram superando tudo e reabriram o zoológico em julho de 2007, e confessam o imenso sucesso que tem feito após o lançamento desse filme. Como se pode ver, através da história original, a vida de Benjamin e sua família não foi nada fácil a partir do momento em que resolveram comprar o zoológico, afinal, era preciso alimentar todos os animais – por volta de duzentos indivíduos, dar uma vida decente a eles, cuidar de vacinas e outras necessidades básicas, higienizar cada “jaula”, aprender a lidar com animais perigosos e de grande porte – leões, tigres, ursos -, além disso, não se podia esquecer de uma mãe já idosa, filhos adolescentes, um irmão e a esposa que ficou doente. No filme, foca-se nas preocupações com o zoológico, o que tira um pouco do drama e traz mais a superação mesmo, afinal, Benjamin tem um irmão que não depende dele para nada (mas acaba se rendendo as loucuras do irmão e vai para o zoo), a mãe não existe e a esposa morreu antes de o zoológico ser comprado. Cameron Crowe iniciou sua carreira como roteirista em “Picardias Estudantis” (1982), depois roteirizou e dirigiu meia dúzia de filmes conhecidos e de qualidade: “Digam o que Quiserem” (1989), “Jerry Maguire – A Grande Virada” (19996), “Quase Famosos” (2000), “Vanilla Sky” (2002) e “Tudo Acontece em Elizabethtown” (2005), vencendo o Oscar de melhor roteiro por “Quase Famosos” e sendo indicado a melhor filme e roteiro por “Vanilla Sky”. Ao seu lado, para adaptar a história está Aline Brosh McKenna, uma especialista em comédias: “Leis da Atração” (2004), “O Diabo Veste Prada” (2006), “Vestida Para Casar” (2008), “Uma Manhã Gloriosa” (2010) e “Não Sei Como Ela Consegue”. De forma geral, apesar da simplicidade do longa como um todo, o roteiro é bem escrito e a história segue uma linha real e muito tocante, a fotografia faz jus ao esperado e a edição também é ótima.


Não simpatizo com Matt Damon por ter assistido aos filmes da franquia “Bourne”, entretanto, cada vez que estou assistindo a um filme com ele sendo o protagonista, não posso deixar de admitir o quanto o ator é talentoso, e, desde ter visto “O Talentoso Ripley” (1999), criei certa admiração por seu trabalho no cinema. Apesar de não ter nenhuma semelhança com o verdadeiro Benjamin Mee – fisicamente falando -, o personagem é real, mas não um completo conhecido, o que torna sua atuação mais livre que a de atores que interpretam pessoas famosas, dessa forma, Matt Damon realiza um trabalho muito natural, e é essa naturalidade – o que, na minha opinião, mais define a interpretação de alguém como boa ou ruim – que faz dele o perfeito líder para um elenco tão agradável. Scarlatt Johansson parece ter se dedicado bastante aos seus trabalhos nos últimos dois anos, pois vê-la em “Os Vingadores” (2012), “Hitchcock” (2012) e “Compramos um Zoológico”, tornou-se uma surpresa pra lá de agradável e – para enfatizar ainda mais – inesperada; mesmo não achando os trabalhos da atriz grande coisa, parece que daqui para frente ela está disposta a se entregar mais as suas personagens e atingir essa naturalidade da qual tanto falo, nesse filme, ela é a veterinária que ajuda a cuidar de tudo, Kelly Foster. Colin Ford, pasme, tem apenas 16 anos e já atou em mais de 40 títulos, dentre séries e filmes para televisão e poucos filmes para o cinema, sendo assim, era de se esperar que sua interpretação como o filho adolescente e problemático de Benjamin fosse algo, no mínimo, satisfatório, e, mesmo sem saber da carreira do ator, o achei convincente e ótimo na pele de um jovem que já sofreu mais que o necessário. A jovem Maggie Elizabeth Jones, por sua vez, faz a filha, Rosie Mee, uma menina inocente que não entende muito o que está acontecendo, mas parece ter compreendido que a mãe jamais poderá estar ao seu lado novamente e vive como uma criança normal. Para completar o elenco principal, parece que Elle Fanning está desbancando sua irmã mais velha (Dakota) e apresenta uma performance hilária de uma jovem – irmã da personagem de Johansson – que se apaixona pela primeira vez na vida e precisa escolher se quer seguir o caminho de sua paixão ou não, ela e Ford protagonizam as cenas mais simpáticas do longa, não sabendo como falar sobre seus sentimentos, o perfeito retrato do primeiro amor de adolescentes.


Falar sobre as reflexões e sobre tudo o que “Compramos Um Zoológico” aborda é algo muito difícil, mas se torna simples se eu apenas resumir afirmando que ele fala sobre tudo em uma vida normal e cotidiana. Sem apaziguar nada e tratando tudo de forma muito real, como a dor e o sofrimento, de morte, tristeza e a falta que seres humanos e animais fazem; todavia, ao mesmo tempo, fala, de forma tão real quanto a dor, sobre o amor e a superação, sobre como a união (famílias e amigos) pode fazer com que obstáculos sejam superados e todos possam voltar a ser felizes, ou ao menos que todos possam ter mais momentos felizes que tristes. Claro que a perda de uma mãe em qualquer família é algo difícil, portanto, como se era de se esperar, toda a família Mee fica arrasada, tão arrasada quando o Zoológico para o qual eles resolvem se mudar. Nesse contexto, o local se torna uma fuga, uma forma de por toda a angústia para fora. Sim, pois, ao mesmo tempo em que se reúne a recuperação de um espaço físico (aqui um zoológico), a família tenta se recuperar da morte da mãe; em contraponto, ao mesmo tempo em que o filho odeia e teme pelo fato da mãe estar morta, ele resolve odiar o zoo também, pois a forma como o pai tenta recuperar a felicidade agride seu sentimento como filho, afinal, a mãe dele acaba de morrer, onde está o respeito e o luto? Para quebrar o gelo, a filha de Benjamin aceita a mudança e, como é uma criança muito pequena, tenta superar tudo o que está acontecendo ao lado do pai. No final das contas, assim como o amor da mãe unia a família, as lembranças do quanto ela poderia gostar de estar ali, ao lado deles, faz com que esse filme seja o exato tipo de auto-ajuda que estamos dispostos a ler, pois não há apenas o drama da superação o tempo todo, pouco a pouco, enxergamos, de forma nítida e bela, o resultado da superação.


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082. JOÃO E MARIA: CAÇADORES DE BRUXAS, de Tommy Wirkola


Apenas um conselho: arrume a melhor companhia possível e assista em 3D no cinema, pois não vale a pena assistir sozinho e em casa na televisão, pois perderá o único ponto positivo.
Nota: 6,5


Título Original: Hansel & Gretel: Witch Hunters
Direção e Roteiro; Tommy Wirkola
Elenco: Jeremy Renner, Gemma Arterton, Famke Janssen, Pihla Viitala, Derek Mears, Robin Atkin Downes, Ingrid Bolso Berdal, Joanna Kuling, Thomas Mann, Peter Stormare, Bjorn Sundquist, Rainer Bock, Thomas Scharff, Kathrin Kühnel
Produção: Will Ferrell, Beau Flynn, Chris HEnchy, Adam McKay, Kevin J. Messick
Ano: 2013
Duração: 88 min.
Gênero: Ação / Fantasia / Thriller

Quando crianças, João e Maria foram levados por seu pai para a floresta no meio da madrugada. Sem saber o porquê daquela atitude, os dois correram pedindo por ajuda, foi quando encontraram uma linda casa de doces e adentraram o recinto. Lá dentro, esperando por eles, estava uma terrível bruxa, que os aprisionou e os engordava para serem comidos para servirem de alimento. Entretanto, os dois escaparam e mataram a criatura. Agora, João e Maria são os caçadores de bruxas mais famosos do mundo, e terão de enfrentar poderosas criaturas que planejam vingança.


Na história original, João e Maria chamam-se Hänsel e Gretel, nomes alemães – origem dos personagens -, são largados na floresta por a família não ter dinheiro para alimentá-los, para não se perderem, eles espalham pedaços de pão pelo caminho, que são comidos por pássaros, assim, bem como ocorre no longa, eles se perdem e encontram uma casa cheia de doces, comem os doces e a bruxa acaba os prendendo, com o mesmo intuito: alimentá-los, engordá-los, assá-los e comê-los. Ainda na história dos Irmãos Grimm, as crianças matam a bruxa e fogem, levando comida para o resto de suas vidas, encontram o pai – a mãe está morta -, e vivem felizes para o resto de seus dias. Nesse contexto, as bruxas representam, de forma filosófica, a fome e o desespero dos pais, além disso, a bruxa e a mãe, em algumas análises, representam a mesma pessoa, pois é a mãe quem convence o pai a deixar as crianças no bosque – depois, ao invés da mãe, passou a ser uma madrasta, mesma mudança que ocorreu em “A Branca de Neve”. Assim sendo, não demora muito para que compreendamos que a grande bruxa malvada desse filme, também é uma representação da mãe de João e Maria, pois a mãe deles também é uma bruxa, no entanto, para amenizar a situação, a mãe da dupla é uma bruxa branca – uma bruxa do bem -, eu já acho que seria bem mais interessante se ela fosse a grande vilã da história. Não posso fugir do comentário de que, durante a trama, Maria encontra um ogro chamado Edward e, devido as circunstâncias atuais em que o cinema moderno se encontra, não há como ver isso como algo além de um claro deboche a franquia “A Saga Crepúsculo”. Apesar de termos boas jogadas e bons efeitos, o filme é modernizado demais, a tradução para o português é um fiasco que começa com o título e vai até o desfecho da trama, os rumos que o filme toma em seu desfecho são ridículos e o roteiro é fraco, e só ganha pontos por enrolar menos que o esperado e nos apresentar um filme com menos de um hora e meia de duração.


Jeremy Renner ficou conhecido no mundo todo após ser indicado ao Oscar de melhor ator pelo filme vencedor de melhor longa de 2009, “Guerra ao Terror”, dirigido por Katherine Bigelow (primeira mulher a vencer o prêmio máximo do cinema em direção), depois disso, e um pouco antes, viveram alguns bons filmes, bons papéis e interpretações medianas, mas nenhuma foi mais triste que essa; não que sua interpretação seja de todo ruim, como disse, ela é triste, pois é deprimente ver um bom ator como Renner interpretando um personagem tão sem sentido e ridículo como João, é claro que o ator parece se divertir em uma boa história sobre dois irmãos matando bruxas malvadas que assolam as cidades das redondezas, mas não há nada nesse João que valha a pena. Gemma Arterton, de “007 – Quantum of Solace” (2008), vive Maria, uma bela jovem que, além de matar bruxas, conquista os corações masculinos das vilas onde passa, apesar de momentos tão deprimentes quanto os do irmão, essa personagem é um pouco – eu disse, um pouco, apenas – menos irritante, talvez pelo fato de ser uma mulher que fuja dos padrões da época, mas mesmo assim, não há nada que possa trazer a Arterton qualquer expectativa de nos apresentar uma atuação decente em um papel que coloca a clássica Maria em uma posição tão desvantajosa. Por fim, a grande bruxa má Muriel, é interpretada pela boa Famke Janssen, famosa pela trilogia “X – Men” (2000, 2003 e 2006), e conhecida pela sensualidade de sua personagem em “007 Contra GoldenEye” (1995), apesar de tudo, talvez seja a única interpretação que tente, em alguns momentos, salvar o elenco, mas põe tudo a perder pela forma imbecil como a personagem acaba sendo tratada pelo próprio roteiro.


“João e Maria” – ou “Hänsel und Gretel”, não importa o título – é uma das histórias mais populares do mundo, e trata, acima de tudo, do problema que as famílias encontraram durante a Idade Média: falta de alimento e recorrente sacrifício de crianças que estavam passando fome. A representação aqui, entretanto, perde um pouco de seu foco e acaba mostrando apenas João e Maria como duas personagens que venceram as bruxas e estão vivos. Apesar disso, duvido muito que quem vá ao cinema, ou espere pelo DVD do filme – sugiro ver em 3D logo e perder o tempo da melhor maneira possível -, vai raciocinar a ponto de lembrar a real crítica da história. Sendo assim, o filme será apenas uma adaptação esdrúxula e desnecessária de uma história que já estava boa e não precisava de nada além de ser lida e passada de geração em geração.

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083. CAPITÃO AMÉRICA: O PRIMEIRO VINGADOR, de Joe Johnston


Apesar dos defeitos, não podia imaginar nada melhor para o Capitão América.
Nota: 8,8


Título Original: Captain America: The First Avenger
Direção: Joe Johnston
Elenco: Chris Evans, Hugo Weaving, Hayley Atwell, Sebastian Stan, Tommy Lee Jones, Dominic Cooper, Richard Armitage, Stanley Tucci, Samuel L. Jackson, Toby Jones, Bruno Ricci, Neal McDonough, Derek Luke, Kenneth Choi, Lex Shrapnel, JJ Feild
Produção: Kevin Feige, Stan Lee, David Maisel, Richard Whelan
Roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely, Joe Simon, Jack Kirby
Ano: 2011
Duração: 124 min.
Gênero: Ação / Aventura / Ficção

UMA DAS CAPAS MAIS FAMOSAS DOS QUADRINHOS DO HEROI,
ONDE ELE "DERROTA" HITLER.
1942, Nova York, EUA. Steve Rogers tem como maior desejo entrar para o exército norte-americano e lutar na Segunda Guerra Mundial, entretanto, é rejeitado por sua saúde frágil e problemas físicos. Ao ouvir Rogers comentando com um amigo sobre o tal desejo, o Doutor Abraham Erskine permite que o jovem se aliste e o garoto é recrutado para um experimento de supersoldados sob o comando do Coronel Chester Phillips, Dr Erskine e da agente britânica Peggy Carter. Após alguns treinamentos, Erskine escolhe Rogers para ser a primeira cobaia do tal experimento. Enquanto Johann Shimidt, chefe da organização conhecida como H.I.D.R.A., constrói uma máquina capaz de dizimar grandes cidades, Rogers se torna o único ser na Terra capaz de deter Shimidt: O Capitão América.


Entre 1939 e 1945, oficialmente, o mundo viveu o caos provocado por Adolf Hitler chamado de Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, um dos países não europeus que mais encontrou problemas foi os Estados Unidos da América, pois enviou grandes tropas para o Velho Continente na tentativa de conter a Guerra. Apesar de ter sido beneficiado com o seu término, durante os seis anos o povo norte-americano sentiu-se inseguro e pedia, urgentemente, por um heroi que salvasse os filhos da pátria. É claro que nenhum heroi chegou, todavia, em março de 1941, Joe Simon e Jack Kirby deram ao mundo os quadrinhos do tão aclamado Capitão América. Logo o homem vestido de azul e vermelho, com um escudo da mesma cor e com uma estrela no meio e munido de força e coragem tomou o gosto do público, que se sentiu, de forma inexplicável, mais seguro e confiante. Era como se, para os estadunidenses, saber que os soldados da guerra também leriam os quadrinhos do super heroi entre uma batalha e outra fosse dar mais gás e mostrar a eles que nem tudo estava perdido, que, ao voltarem para casa, vivos, eles seriam os novos Capitães América e desfrutariam de tudo o que o próprio heroi desfrutou. É claro que o governo americano deixou que tudo isso fosse vinculado e, a exemplo de Tio Sam – usado desde 1812 na Guerra Anglo-Americana como a personificação nacional dos Estados Unidos e como um senhor de barba branca que pode lembrar o presidente Abraham Lincoln, vestido de azul e vermelho, com uma cartola branca com estrelas brancas em fundo azul desde a Primeira Grande Guerra– usou o Capitão América como um novo símbolo de esperança. No filme, a Segunda Guerra Mundial já está acontecendo e o Capitão América surge como o tal símbolo de força e esperança, entretanto, as demasiadas apresentações em que ele, com seu uniforme e várias belas garotas, chama a atenção para a guerra e pede ajuda ao povo, tornaram o heroi motivo de chacota para os soldados. A fim de acabar com as piadinhas, Rogers decide enfrentar, finalmente, os inimigos e destruir o líder da H.I.D.R.A., salvando dezenas de soldados e deixando que eles voltem para casa. Mesmo que o filme não seja um dos melhores filmes de super heroi já vistos durante a história do cinema, acredito que a adaptação tenha sido fiel em mostrar toda essa história do Capitão, deixando claro o propósito de sua criação. É óbvio que temos alguns problemas aqui e outros ali, pois a história é de um homenzinho franzino que se torna um homem forte e praticamente indestrutível, mas nada que não possa ser relevado, afinal, estamos diante de um filme de super heroi.


Para viver um dos maiores super herois da história dos quadrinhos, foi escolhido Chris Evans, popular entre as mulheres por comédias românticas e conhecido no mundo todo por viver Johnny Storm/Tocha Humana nas péssimas adaptações de “Quarteto Fantástico” (2005 e 2007) – que fique claro, dentre os quatro, ele é o que melhor representa a personalidade esperada do personagem. Confesso que não consigo pensar em ninguém melhor para encarar o Capitão América que não Evans, não por seu tipo físico ou por ser bem aceito pelo público americano, mas por ele se encaixar perfeitamente no papel e trazer as fases de Steve Rogers bem definidas: antes de virar o Capitão, enquanto é o Capitão “corista” e quando vira o Capitão América, um soldado a serviço do Exército dos Estados Unidos da América. Hayley Atwell, a ótima Bess Foster de “A Duquesa” (2008), interpreta Peggy Carter, o grande amor de Rogers no longa e a única parte feminina do filme, sua atuação é boa e possui algo que merece destaque: a forma como consegue ser diferente nos momentos em que está ao lado do protagonista – o homem que ama – e quando precisa ser a durona Agente Peggy Carter. Evans, entretanto, não está sozinho no elenco masculino, ao seu lado está, com uma participação rápida, mas muito especial e bem vinda Stanley Tucci, como o inteligente, sensível e sensato Doutor Abraham Erskine, o único que acredita em Rogers, por quem acaba se afeiçoando de uma forma ou outra, a simplicidade do ator é o que o torna tão bom para o papel. Se é a simplicidade que dá o tom para deixar Tucci tão convincente, é o exagero que torna Hugo Weaving – um exemplo de intrérprete -, um ator mediano vivendo Johann Schimidt, pois tudo o que ele faz parece tão over que nada parece funcionar da forma como deveria, uma pena ver um ator tão bom se encaixando tão pouco em um papel. Para salvar tudo, entretanto, mais uma grande interpretação do veterano Tommy Lee Jones, como o Choronel Phillips, um homem durão que não perde a linha em nenhum momento, que zela por seus homens e não pretende se deixar encantar pelo Capitão América tão facilmente. Em uma pontinha que merece ser lembrada, temos Dominic Cooper vivendo Howard Stark jovem, não é a atuação de Cooper que interessa, no entanto, e sim o fato de o Capitão encontrar com o pai de outro futuro Vingador, Tony Stark, O Homem de Ferro.


Não se pode deixar de apontar a ótima trilha sonora do duplamente indicado ao Oscar Alan Silvestri, compositor de mais de cem trabalhos, dentre comédias, animações, dramas, aventuras e outros tantos gêneros distintos. A figurinista do longa, Anna B. Sheppard, também indicada duas vezes ao Oscar, já participou de inúmeros diferentes gêneros, dentre eles “A Lista de Schindler” (1993), “O Pianista” (2002) e “Bastardos Inglórios” (2009). Com uma direção bem habituada a filmes de ação, um compositor acostumado a encarar qualquer tipo de trilha sonora, os roteiristas da trilogia de “As Crônicas de Nárnia” (2005, 2008 e 2010), uma figurinista experiente e um elenco popular no mundo todo, a adaptação de uma história tão querida não somente nos Estados Unidos, como no mundo todo, não poderia ser nada menos que satisfatória. O fato é que, para os que não gostam muito do gênero, o longa será apenas mais um entre tantos outros filmes sobre super herois, no entanto, para os que gostam dessas produções e admiram o trabalho feito pelos criadores do Capitão América – e é esse público que realmente interessa -, não haverá nada do que reclamar.


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terça-feira, 5 de março de 2013

084. A FERA, de Daniel Barnz

E permanece a pergunta: por que mudar o que já está perfeito?
Nota: 6,5


Título Original: Beastly
Direção: Daniel Barnz
Elenco: Alex Pettyfer, Vanessa Hudgens, Mary-Kate Olsen, Dakota Johnson, Erik Knudsen, Peter Krause, LisaGay Hamilton, Neil Patrick Harris, Steve Godin, Gio Perez, Roc LaFortune, Jonathan Dubsky, David Francis, Rhinnon Moller-Trotter, Miguel Mendoza, Julie Dretzin
Produção: Susan Cartsonis
Roteiro: Daniel Barnz e Alex Flinn (romance)
Ano: 2011
Duração: 86 min.
Gênero: Drama / Romance / Fantasia

Kyle Kingson é um jovem do colegial, filho de um cara famoso, é bonito, sexy, simpático, rico e idolatrado por mais da metade da escola (incluindo alunos, professores e demais funcionários). Como se não bastasse todo seu ego, ele é eleito o presidente do grêmio estudantil da escola. Entretanto, após zombar com Kendra, uma garota um tanto excêntrica, Kyle acaba sendo amaldiçoado: Kendra o faz ficar feio, muito feio, e lhe dá uma tarefa para receber sua beleza de volta, no prazo de um ano, terá de convencer alguém que, mesmo feio daquele jeito, ele pode ser amado. Agora, Kyle correrá contra o tempo para convencer a bonitinha Lindy de que merece seu amor.



Durante a trama toda a mensagem é muito inteligente e chega a ser louvável o que o escritor do livro fez: mostrar que a beleza exterior não deve ser super favorecida, em detrimento da beleza interior, que é mais vantajoso ter inteligência e real simpatia que ser bonito e sexy. Todavia, é aí que já começam os clichês que nos acompanharão pelo resto do filme. Kendra é dita como uma pessoa feia, mas há tempos não via Mary-Kate Olsen tão bela e carismática no cinema; Lindy, obviamente, é uma menina excluída, que já dá mais valor ao exterior que o interior, nunca foi vista por Kyle, é apaixonada pelo babaca riquinho da escola e tem uma vida problemática (o pai é dependente químico); Kyle, por sua vez, tem a vida perfeita, ignorando todos a sua volta, e sendo o mais imbecil possível, é claro que isso se deve a um problema do passado: a mãe abandonou ele e o pai e o pai não dá a mínima para o garoto, apenas se interessando pelo fato de o filho ser desejado por todos; para contrapor essa relação triste entre pai e filho, a empregada da casa (uma negra), e o professor contratado pelo pai de Kyle depois que o rapaz fica feio (um cego) acreditam no potencial de que o menino poderá compreender e convencer Lindy de que ele a ama e de que ela está apaixonada por ele; para completar, a namorada e o melhor amigo do protagonista são amantes e acham Kyle uma pessoa insuportável. Como se tudo isso não bastasse, o desfecho não poderia ser mais corriqueiro e parece que cada cena do filme já foi vista em um ou outro longa, inclusive a cena ridícula em que Kyle conta sobre sua mãe, trazendo o sentimentalismo clássico necessário para Lindy ter pena do rapaz feio.



Alex Pettyfer começou sua carreira no cinema em 2006 com o juvenil “Alex Rider Contra o Tempo” (2006), tornou-se famoso com “Eu Sou o Número Quatro” (2011) e destacou-se como o striper de “Magic Mike” (2012). Apesar de ser um ator mediano, os personagens parecem se encaixar em seu perfil perfeitamente, e as características fazem sua atuação algo quase natural, sendo assim, mesmo que o filme seja péssimo, o ator convence que a personagem é mesmo insuportável, mas peca ao tentar mostrar que Kyle mudou em algum sentido depois de tudo o que passou, ele parece mais um cachorrinho pedindo por piedade. Vanessa Hudgens, sabe-se Deus o porquê, foi dita, por sei lá eu por quem, ser uma atriz sexy e convincente, não gosto dela, em primeiro lugar por sua personagem nos filmes da Disney “High School Musical”, mas tenho que admitir que chega a dar pena vendo a menina – tão sem graça, apesar de carismática nesse filme – tentando ser uma atriz decente e fazer alguma coisa que preste no cinema, nesse filme, ao contrário de Pettyfer, ela não convence em nenhum sentido. Lembro-me de quando criança, assistir aos filmes com as irmãs Olsen e achar que elas seriam grandes atrizes um dia, grande ilusão a minha, aliás, parece que está cada vez mais difícil encontrar atores e atriz que são bons quando crianças e permanecem no mesmo nível depois de mais velhos, apesar de bonita no filme – o que já é um problema, pois sua personagem deve ser feia e sem graça -, Mary-Kate já esta chegando na casa dos trinta, e não me parece nada plausível tentar continuar usando-a como uma adolescente ressentida.



Assim como não sei dizer quais os motivos para essa modernizada que foi feita com o clássico “A Bela e a Fera” - e quero deixar claro que é sobre essa mudança que se trata a primeira linha da crítica -, não sei dizer por que bons atores como Peter Krause e LisaGay Hamilton e o ótimo comediante Neil Patrick Harris resolveram assumir, respectivamente, os papeis do pai de Kyle – tão presunçoso e detestável quanto o filho -, Zola – a empregada de Kyle que não liga para o gênio estúpido do menino, e que só quer vê-lo feliz (a parte maternal do longa) – e Will – o tutor cego que é ordenado a ensinar Kyle depois que ele fica feio e o pai e ele resolvem que não há a necessidade de se frequentar a escola. Além disso tudo, o um ano, no qual o rapaz deveria convencer alguém que é digno de amor – aliás, definido pela tatuagem de uma árvore de rosa (sim, uma imensa árvore de rosas brancas) que não pode florir duas vezes –, passa muito rápido e tudo perde o nexo de forma inexplicável. Por fim, como eu disse, a mensagem do filme é maravilhosa, mas vale mais a pena assistir, pela trigésima vez que seja, “A Bela e a Fera” (1992) e ver algo de qualidade.




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