quinta-feira, 7 de março de 2013

081. COMPRAMOS UM ZOOLÓGICO, de Cameron Crowe

Inesperadamente, uma comédia americana de qualidade e muito bom gosto.
Nota: 9,0


Título Original: We Bought a Zoo
Direção: Cameron Crowe
Elenco: Matt Damon, Scarlett Johansson, Colin Ford, Maggie Elizabeth Jones, Thomas Haden Church, Angus Macfadyen, Elle Fannig, Patrick Fugit, John Michael Higgins, Carla Gallo, J. B. Smoove, Stephanie Szostak, Michael Panes, Kym Whitley
Produção: Cameron Crowe, Jullie Yorn, Rick Yorn
Roteiro: Alina Brosh McKenna, Cameron Crowe e Benjamin Mee (livro)
Ano: 2011
Duração: 124 min.
Gênero: Drama / Comédia


Benjamin Mee é um grande aventureiro que vê toda sua vida profissional desabar quando sua esposa morre e ele precisa cuidar de um filho adolescente e de uma menina de sete anos. Transtornado sem saber o que fazer, Benjamin procura por uma nova casa, longe de tudo o que eles conhecem para recomeçar a vida. E é nessa procura que encontra o lugar perfeito, uma casa linda e tudo aquilo o que ele e a filha imaginavam, mas existe um pequeno problema: o lugar é um zoológico abandonado pela maior parte dos humanos, e cheio de animais que precisam de ajuda. Benjamin, portanto, decide ficar com o lugar e reformar tudo para reabrir o Zoo e ver sua família feliz novamente.


Benjamin Mee, assim como o próprio zoológico, existe. Trata-se de um jornalista formado em psicologia que escrevia para o jornal inglês “The Guardian” e que, em outubro de 2006, procurava uma casa grande para viver com a esposa, os dois filhos, um irmão e a mãe de mais de setenta anos. Encontraram uma casa nos limites da reserva de Dartmoor, localizada naquela pontinha saliente a oeste da ilha da Inglaterra. A família se mudou e, alguns meses depois, Katherine, a esposa de Benjamin, começou a ter sintomas de um tumor cerebral. Para piorar toda a situação, Katherine morreu e, além de ter o dever de cuidar de todo o zoo, Benjamin precisou ajudar os filhos a superar a perda. Entre um problema e outro, Benjamin e sua família foram superando tudo e reabriram o zoológico em julho de 2007, e confessam o imenso sucesso que tem feito após o lançamento desse filme. Como se pode ver, através da história original, a vida de Benjamin e sua família não foi nada fácil a partir do momento em que resolveram comprar o zoológico, afinal, era preciso alimentar todos os animais – por volta de duzentos indivíduos, dar uma vida decente a eles, cuidar de vacinas e outras necessidades básicas, higienizar cada “jaula”, aprender a lidar com animais perigosos e de grande porte – leões, tigres, ursos -, além disso, não se podia esquecer de uma mãe já idosa, filhos adolescentes, um irmão e a esposa que ficou doente. No filme, foca-se nas preocupações com o zoológico, o que tira um pouco do drama e traz mais a superação mesmo, afinal, Benjamin tem um irmão que não depende dele para nada (mas acaba se rendendo as loucuras do irmão e vai para o zoo), a mãe não existe e a esposa morreu antes de o zoológico ser comprado. Cameron Crowe iniciou sua carreira como roteirista em “Picardias Estudantis” (1982), depois roteirizou e dirigiu meia dúzia de filmes conhecidos e de qualidade: “Digam o que Quiserem” (1989), “Jerry Maguire – A Grande Virada” (19996), “Quase Famosos” (2000), “Vanilla Sky” (2002) e “Tudo Acontece em Elizabethtown” (2005), vencendo o Oscar de melhor roteiro por “Quase Famosos” e sendo indicado a melhor filme e roteiro por “Vanilla Sky”. Ao seu lado, para adaptar a história está Aline Brosh McKenna, uma especialista em comédias: “Leis da Atração” (2004), “O Diabo Veste Prada” (2006), “Vestida Para Casar” (2008), “Uma Manhã Gloriosa” (2010) e “Não Sei Como Ela Consegue”. De forma geral, apesar da simplicidade do longa como um todo, o roteiro é bem escrito e a história segue uma linha real e muito tocante, a fotografia faz jus ao esperado e a edição também é ótima.


Não simpatizo com Matt Damon por ter assistido aos filmes da franquia “Bourne”, entretanto, cada vez que estou assistindo a um filme com ele sendo o protagonista, não posso deixar de admitir o quanto o ator é talentoso, e, desde ter visto “O Talentoso Ripley” (1999), criei certa admiração por seu trabalho no cinema. Apesar de não ter nenhuma semelhança com o verdadeiro Benjamin Mee – fisicamente falando -, o personagem é real, mas não um completo conhecido, o que torna sua atuação mais livre que a de atores que interpretam pessoas famosas, dessa forma, Matt Damon realiza um trabalho muito natural, e é essa naturalidade – o que, na minha opinião, mais define a interpretação de alguém como boa ou ruim – que faz dele o perfeito líder para um elenco tão agradável. Scarlatt Johansson parece ter se dedicado bastante aos seus trabalhos nos últimos dois anos, pois vê-la em “Os Vingadores” (2012), “Hitchcock” (2012) e “Compramos um Zoológico”, tornou-se uma surpresa pra lá de agradável e – para enfatizar ainda mais – inesperada; mesmo não achando os trabalhos da atriz grande coisa, parece que daqui para frente ela está disposta a se entregar mais as suas personagens e atingir essa naturalidade da qual tanto falo, nesse filme, ela é a veterinária que ajuda a cuidar de tudo, Kelly Foster. Colin Ford, pasme, tem apenas 16 anos e já atou em mais de 40 títulos, dentre séries e filmes para televisão e poucos filmes para o cinema, sendo assim, era de se esperar que sua interpretação como o filho adolescente e problemático de Benjamin fosse algo, no mínimo, satisfatório, e, mesmo sem saber da carreira do ator, o achei convincente e ótimo na pele de um jovem que já sofreu mais que o necessário. A jovem Maggie Elizabeth Jones, por sua vez, faz a filha, Rosie Mee, uma menina inocente que não entende muito o que está acontecendo, mas parece ter compreendido que a mãe jamais poderá estar ao seu lado novamente e vive como uma criança normal. Para completar o elenco principal, parece que Elle Fanning está desbancando sua irmã mais velha (Dakota) e apresenta uma performance hilária de uma jovem – irmã da personagem de Johansson – que se apaixona pela primeira vez na vida e precisa escolher se quer seguir o caminho de sua paixão ou não, ela e Ford protagonizam as cenas mais simpáticas do longa, não sabendo como falar sobre seus sentimentos, o perfeito retrato do primeiro amor de adolescentes.


Falar sobre as reflexões e sobre tudo o que “Compramos Um Zoológico” aborda é algo muito difícil, mas se torna simples se eu apenas resumir afirmando que ele fala sobre tudo em uma vida normal e cotidiana. Sem apaziguar nada e tratando tudo de forma muito real, como a dor e o sofrimento, de morte, tristeza e a falta que seres humanos e animais fazem; todavia, ao mesmo tempo, fala, de forma tão real quanto a dor, sobre o amor e a superação, sobre como a união (famílias e amigos) pode fazer com que obstáculos sejam superados e todos possam voltar a ser felizes, ou ao menos que todos possam ter mais momentos felizes que tristes. Claro que a perda de uma mãe em qualquer família é algo difícil, portanto, como se era de se esperar, toda a família Mee fica arrasada, tão arrasada quando o Zoológico para o qual eles resolvem se mudar. Nesse contexto, o local se torna uma fuga, uma forma de por toda a angústia para fora. Sim, pois, ao mesmo tempo em que se reúne a recuperação de um espaço físico (aqui um zoológico), a família tenta se recuperar da morte da mãe; em contraponto, ao mesmo tempo em que o filho odeia e teme pelo fato da mãe estar morta, ele resolve odiar o zoo também, pois a forma como o pai tenta recuperar a felicidade agride seu sentimento como filho, afinal, a mãe dele acaba de morrer, onde está o respeito e o luto? Para quebrar o gelo, a filha de Benjamin aceita a mudança e, como é uma criança muito pequena, tenta superar tudo o que está acontecendo ao lado do pai. No final das contas, assim como o amor da mãe unia a família, as lembranças do quanto ela poderia gostar de estar ali, ao lado deles, faz com que esse filme seja o exato tipo de auto-ajuda que estamos dispostos a ler, pois não há apenas o drama da superação o tempo todo, pouco a pouco, enxergamos, de forma nítida e bela, o resultado da superação.


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