sexta-feira, 8 de março de 2013

080. EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA, de Marc Forster


A história da imaginação com uma pitada de indecência.
Nota: 9,3


Título Original: Finding Neverland
Direção: Marc Forster
Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Radha Mitchell, Dustin Hoffman, Freddie Highmore, Nick Roud, Luke Spill, Ian Hart, Kelly Macdonald, Mackenzi Crook, Eileen Essell, Jimmy Gardner, Oliver Fox, Angus Barnett, Toby Jones
Produção: Nellie Bellflower, Richard N. Gladstein
Roteiro: David Magee e Allan Knee (peça)
Ano: 2004
Duração: 106 min.
Gênero: Biografia / Drama / Comédia

James Matthew Barrie nasceu em 9 de maio de 1860, nono de dez filhos, desde pequeno, era fascinado pelas histórias de piratas contadas por sua mãe. Após a morte de seu irmão David, a relação de James e sua mãe jamais foi a mesma, o que marcou muito sua infância. Trabalhou como jornalista, depois mudou-se para Londres, onde escrevia trabalhos humorísticos,  em 1888 publicou “Auld Licht Idylls”, começando a fazer sucesso, fundou, ao lado de alguns amigos, um clube de cricket, três anos depois surgiu seu grande sucesso “The Little Minister”, o que o fez começar a escrever apenas peças de teatro. Em 1894, casou-se com a atriz Mary Ansell, e dez anos depois estreou com sua maior obra: “Peter Pan”, que foi escrita baseada em sua experiência com a família Llewelyn Davies. J. M. Barrie morreu em 1937, aos 77 anos, deixando, além de um legado inestimável, uma vida cheia de mistérios acerca de sua controversa personalidade.


No filme, vemos Barrie comemorando o fracasso de uma de suas peças, depois as dúvidas básicas de um escritor ao tentar escrever mais alguma coisa. Em contraponto, temos a estranha relação entre ele e sua esposa, pois nenhum dos dois parecia se importar mais um com o outro como deveriam. Dessa forma, Barrie acaba conhecendo os filhos da viúva Sylvia Llewelyn Davies em uma praça, e inicia, com os quatro meninos e a mãe, uma bela amizade. Dessa amizade, Barrie encontrou forças e inspirações para criar a inesquecível história de Peter, o menino que morava na Terra do Nunca e não crescia, e de Wendy, a jovem por quem o garoto se apaixonava. Apesar de todos os problemas relatados no filme, vemos, por fim, o sucesso de sua peça e os rumos que sua vida tomou após isso tudo.


Ao encontrar os Llewelyn Davies e começar a frequentar a casa da família para encontrar os meninos – Peter, Jack, George e Michael – começaram as desconfianças e críticas advindas da sociedade. Segundo a biógrafa de Barrie, Janet Dunbar, o escritor possuía disfunção erétil, e muitos acreditam que ele era assexuado, o que poderia ser uma explicação para os problemas em seu casamento, no entanto, na época, alguns afirmavam que Barrie, além de manter uma relação mais íntima com a matriarca Sylvia, cometia pedofilia com os garotos, atraindo-os com sua facilidade de esquecer-se do real e penetrar no imaginário de todos. Dessa forma, vemos, ainda no filme, as tentativas racionais de Emma Du Maurier, esposa do escritor George Du Maurier e mãe de Sylvia, de afastar Barrie de sua família. Além disso, somos expostos as tentativas e frustrações do escritor ao tentar realizar mais um bom trabalho para apresentá-lo ao seu produtor, claro que essa particularidade do filme – encontrada em algumas outras produções – faz com que as pessoas que escrevem, sendo escritores de livros ou qualquer outro gênero, se identifiquem, seja pela dificuldade em encontrar uma boa história, ou pela preocupação do que o público achará do que se está escrevendo. Mesmo que Marc Forster tenha dirigido bons filmes, tais como “A Última Ceia” (2001), “Mais Estranho que a Ficção” (2006) e “007 – Quantum of Solace” (2008), nenhum de seus dez filmes pode ser comparado com a qualidade de “Em Busca da Terra do Nunca”, o que faz desse, a sua obra prima. Isso se deva, talvez, por um conjunto de fatores muito importante – elenco, equipe técnica, enredo -, mas também pela forma genial com a qual o diretor apresenta toda a história, levando-nos a mundos desconhecidos e nos convencendo de que “Neverland” realmente existe, se não em algum lugar de nosso planeta, em nossa imaginação, que, de certa forma, nunca deixa de ser infantil. Acrescente a isso, David Magee, que viria a escrever outros dois filme que eu adoro – o vencedor do Oscar “As Aventuras de Pi” (2012) e a comédia independente “A Vida Num só Dia” (2008) -, assina esse roteiro magnífico que, mesmo mostrando a paciência e afeição que Barrie sentia pelos meninos Llewelyn Davies, não deixa escapar as suposições de adultério e pedofilia, contrapondo-as com a beleza da imaginação de Barrie e sua Terra do Nunca. Por fim, antes de falar sobre as atuações estupendas, a trilha sonora vencedora do Oscar é composta por Jan A. P. Kaczmarek, apesar de o compositor ter feito poucos trabalhos notáveis, essa é uma das trilhas que mais gosto compostas na última década, e, para se ter uma idéia de seu grande trabalho, ele concorria com nomes como John Williams, Thomans Newman e James Newton Howard.


Johnny Depp vive Sir James Matthew Barrie, como já disse, um homem muito misterioso, confuso na época em que se passa a história narrada no filme e, acima de tudo, um grande escritor, talvez o que eu mais goste na atuação de Depp é essa maneira simples com a qual ele não deixa transparecer nada sobre o íntimo do personagem – a não ser em momentos como o em que ele conta a Sylvia a rejeição por parte da mãe, que preferia o irmão David -, nos deixando com dúvidas sobre as reais intenções de Barrie acerca de Sylvia e seus filhos, mas não esquecendo de deixar claro o quanto o homem possuía uma forte imaginação e como podia transformar seus sonhos em realidade. Kate Winslet, uma das melhores atrizes de sua geração, que foi se aprimorando de forma inacreditável a cada filme, é Sylvia Llewelyn Davies, uma viúva um pouco desesperada, que não sabe muito o que fazer agora que não tem mais o marido ao seu lado e vê em Barrie um amigo com o qual pode dividir a carga da preocupação com o futuro dos filhos. Julie Christie vive a mãe de Sylvia, Emma Du Maurier, em uma das melhores interpretações do filme, onde faz a vez da parte racional do longa, mas sem deixar o espírito de mãe se perder em meio ao desejo de que as vidas de sua filha e netos sigam em frente. Freddie Highmore é o único ínterprete dos filhos que vale a pena falar, não que as outras atuações seja ruins, pelo contrário, mas sua personagem, Peter, é quem deu origem ao nome do eterno Peter Pan, o que faz do jovem um dos centros da história e o filho mais relevante de Sylvia. Os outros meninos – Jack, George e Michael – são vividos, respectivamente, por Joe Prospero, Nick Roud e Luke Spill, todos, como citei, ótimos, mas com pequenas participações. Outras duas pequenas paticipações que merem algum destaque, são os irreconhecíveis Dustin Hoffman, como Charles Frogman, o produtor de Barrie, e Kelly Macdonald, intérprete de Peter Pan na peça.


Além de a história de “Peter Pan” nos trazer a lição de que devemos aproveitar nossa infância e de que devemos fazer com que nossos filhos e sobrinhos façam o mesmo, temos lições de amizade, companheirismo, amor, compaixão e, acima de tudo, a lição de que jamais devemos desistir de nossos sonhos, jamais devemos nos dar por vencidos e deixar de sonhar ou deixar de acreditar em nossos desejos mais profundos, afinal, bem como “toda a vez que alguma criança diz que não acredita em fadas, uma fada morre em algum lugar do planeta”, toda a vez que resolvemos não acreditar mais em nossos sonhos, em nossa própria mente eles começam a ser apagados, até, assim como as fadas, restar um mísero fio de luz, que sumirá a qualquer instante. E essa é a magia proposta, não apenas pelo cinema, mas pela história de Peter Pan e pela história contada aqui, deixando de lado todas as suposições acerca do protagonista, nos concentremos apenas na beleza que é assistir a um filme que incentive tanto uma das práticas mais belas do ser humano: sonhar, afinal como apontou algum sábio pensador no decorrer de nossa história, sonhar é lindo e não custa nada.


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