A última obra do mestre do cinema foi um
dos melhores filmes de seu ano.
Nota: 9,6
Título Original: Marnie
Direção e Produção: Alfred Hitchcock
Elenco: Tippi Hedren, Sean Connery, Diana Baker, Martin Gabel, Louse
Latham, Bob Sweeney, Milton Selzer, Alan Napier, Hanry Beckman, Edith Evanson,
Mariette Harltey, Bruce Dern, S. John Launer, Meg Wyllie
Roteiro: Jay Presson Allen e Wiston Graham (romance)
Ano: 1965
Duração: 130 min.
Gênero: Thriller / Drama
Marnie é uma bela jovem que possui uma
estranha mania: ela rouba, e o faz de forma perfeita. Entretanto, após passar a
perna em seu patrão e fugir, Marnie começa a trabalhar para Mark Rutland, um
rico empresário. É claro que Marnie está decidida a roubar o novo patrão, mas
Mark acaba descobrindo as intenções da bela e, para tentar descobrir o que
aconteceu em sua vida, a convence a se casar com ele. Após o casamento, Marnie
apresenta estranhos quadros de saúde mental, e Mark decide descobrir o que
aconteceu com essa ladra que se tornou o amor de sua vida.
Alfred Hitchcock foi um dos diretores de
maior destaque na história do cinema. Poucos mestres da Sétima Arte foram tão
perfeitos em representar os medos na telona. Famoso por uma das cenas mais
interessantes o cinema, aquela em que Marion Crane é assassinada no chuveiro
do enigmático Motel Bates, em sua fase americana, Hitch explorou diversos
temas, dois dos principais foram os medos e traumas e confusão da identidade.
Em “Marnie”, a protagonista junta tudo isso. É, claramente, perturbada por
algum episódio que lhe ocorreu na infância, algum trauma inimaginável que nos
será revelado com o passar do tempo. Além disso, a protagonista mescla seu lado
ladra com seu lado apaixonada; ela está louca de amores pelo homem que virá a
ser seu marido, porém, ao mesmo tempo, não consegue deixar seu vício de lado e
insiste em roubá-lo. Existem poucos diretores que conseguem contrastar cores em
cenas improváveis e fazer com que o efeito seja positivo para o propósito
pretendido. Hitchcock é um deles. Em uma cena inesquecível, Marnie relembra o
que ocorreu, e o diretor nos mostra, mais uma vez, como se faz uma cena de
revelação que deixe o espectador na ponta da poltrona e que não o deixe
esquecer jamais do que viu.
Por fim, a trilha sonora é do fantástico
Bernard Herrmann, mesmo compositor de “Psicose” (1960), “Um Corpo que Cai”
(1958) e “O Homem que Sabia Demais” (1956), ambos de Hitchcoock. Herrmann
trabalhou em cinema e televisão e em nenhum de seus trabalhos decepicinou, aqui
não é diferente: cada composição é perfeita e parece caber na cena como uma mão
em sua luva. É, também, a trilha sonora da cena das revelações do passado de
Marnie que constrói a cena e a torna tão bela, enigmática, inesperada e
antológica. Vale destacar a primeira cena do longa: a câmera foca em um objeto
amarelo que para uns tem aspecto de uma boca, para outros de uma vagina, a
câmera vai se afastando a medida que a personagem segue em frente. Marnie está
em uma estação, segurando apenas a controvérsia bolsa e uma mala e está morena,
não loira. A cena se tornou um marco no cinema e chega a ser citada como uma
das mais importantes na carreira do diretor, e, sem dúvida, diz muito sobre o
que veremos durante todo o filme.
A primeira escolha do diretor para viver
a protagonista foi a atriz Grace Kelly, que recusou pois o principado de Mônaco
não achava digno ver sua princesa interpretando uma ladra, a Paramount sugeriu
a Hitch que ele chamasse a americana Lee Remick, Eva Marie Saint e Susan
Hampshire perseguiram o papel, mas não obtiveram sucesso. Foi escolhida, então,
a estrela do longa “Os Pássaros” (1962), também de Hitchcock, para viver o
papel. Tippi Hedren ficou, dessa forma, eternizada no cinema por esse dois
trabalhos com o mestre do suspense. Como Marnie, Tippi está fantástica, uma
verdadeira diva da era de ouro de Hollywood: classuda, sexy, inteligente e
bela. A personagem construída e apresentada pela atriz condiz com os atributos
físicos da diva, mas ocorre algo ainda mais belo: sentimos pena de Marnie e
torcemos por ela. O clássico anti herói vivido por personagens como Macunaíma
no Brasil e outros ladrões no restante do mundo é transferido para uma mulher,
Hedren nos faz torcer por ela o tempo todo, queremos que ocorra tudo bem com
ela em qualquer situação. Por fim, Tippi atinge a perfeição ao fazer o que
Alfred Hitchcock fez toda a vida: nos deixa curiosos, atentos e loucos por
saber quais são os segredos de sua personagem. Sean Connery foi um dos atores
mais sexys e belos de sua época no cinema, além disso foi um dos grandes atores
de seu tempo. Como Mark Rutland ele é firme e não deixa que a moça por quem se
apaixona vá embora apenas por ser misteriosa e ter seus defeitos. Talvez essa
seja, em meio a tanto terror dos filmes de Hitchcock, a maior representação do
amor no cinema. Connery nos traz um homem apaixonado que não se torna cego:
Mark quer saber por que Marnie se tornou tão traumatizada, e a beleza está
exatamente nisto, ele vai até o fundo para que sua amada esposa vença seus
medos.
“Marnie” é, como a maioria dos filmes do
mestre Alfred Hitchcock, uma lição para qualquer cineasta e um louvor a
qualquer crítico. Além disso, é um longa que, mais uma vez, inova o cinema da
época. Marnie, a protagonista, quebra tabus trazendo uma mulher como ladra e trazendo
um homem que corre atrás do passado da eposa para resolver seus traumas e
problemas psicológicos. A direção de Hitch, a perfeição do roteiro (escrito com
grandes diálogos e grandes cenas), a trilha de Herrmann, as interpretações e os
experimentos técnicos do diretor são os ingredientes dos principais longas de
Alfred Hitchcock. “Marnie” foi, sem dúvida, a última grande obra do mestre do
suspense e não é apenas por isso que merece ser assistido, merece ser visto
pois, em uma arte como o cinema, que possui pouco mais de cem anos, é, sem
dúvida, um dos melhores filmes do ano de 1964.
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