sábado, 25 de maio de 2013

072. SOB O DOMÍNIO DO MAL, de Jonathan Demme

Apesar de bom, se auto-destrói quando resolve dar ao bem uma chance de vencer o mal.
Nota: 8,5


Título Original: The Machurian Candidate
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Denzel Washington, Liev Schreiber, Meryl Streep, Jon Voight Jeffrey Wright, Pablo Schreiber, Anthony Mackie, Darian Missick, Simon McBurney, Vera Farmiga
Produção: Jonathan demme, Ilona Herzberg, Scott Rudin, Tina Sinatra
Roteiro: Daniel Pyne, Dean Georgaris, George Axelrod (roteiro de 1962) e Richard Condon (romance)
Ano: 2004
Duração: 129 min.

Ben Marco e Raymond Shaw são dois homens totalmente diferentes que serviram ao exército americano durante a Guerra do Golfo. Entretanto, suas vidas seguiram caminhos diferentes: Marco dá palestras sobre o exército, as guerras e seus feitos – o que inclui elogiar a forma inacreditável de como Shaw salvou a vida de todos no Golfo -; e Raymond é um aspirante político que está prestes a se tornar o vice-presidente dos Estados Unidos da América. Todavia, Marco começa a ter estranhos pesadelos que o fazem acreditar que ele e todo o grupo que foi para a Guerra do Golfo ao lado de Shaw tenha sofrido uma lavagem cerebral, e todas as pistas apontam para apenas uma pessoa: a inexpugnável mãe de Raymond, Eleanor Shaw.


É bem simples definir o trabalho de Jonathan Demme em três títulos além desse que fizeram o auge de sua carreira e que o fizeram permanecer como um diretor de renome na última década: “O Silêncio dos Inocentes” (1991), vencedor dos principais prêmios do Oscar, filme, direção, roteiro, ator e atriz; “Filadélfia” (1993), protagonizado por Tom Hanks e Denzel Washinton; e o recente e controverso “O Casamento de Rachel” (2008), filme que rendeu a Anne Hathaway sua primeira indicação ao Oscar. Apesar de alguns críticos serem muito negativos quanto a esse filme, acho ele excelente, não apenas por ter Meryl Streep no elenco – aliás, elogiada por todos e indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta por sua interpretação -, mas por ter uma história envolvente e totalmente explicada durante o contexto do longa, é claro que a produção exige concentração e especulações, mas basta ter a mínima atenção para se compreender o sentido de todo o longa. A temática abordada aqui se torna clara desde as primeiras cenas do filme, e vai sendo destrinchada no decorrer da trama: trata-se de um filme sobre poder, cobiça, luxúria e o desejo de se estar por cima de tudo e todos. Trazer a política para ser o plano de fundo dessa história é mais uma idéia ótima do enredo, afinal, quem deseja mais poder no mundo que não os políticos? Quem possui maiores meios para conquistar poder e dinheiro que não políticos? E foi nesse contexto que em 1962 John Frankenheimer adaptou o romance de Richard Condon e trouxe a primeira versão desse filme, que trazia Frank Sinatra como Marco, Laurence Harvey como Raymond, Janet Leigh como a bela detetive Eugine e a indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, Angela Lansbury como Eleanor Shaw. Apesar de todos afirmarem que essa primeira versão é bem superior a segunda, ainda não assisti a primeira, de forma que não farei comparações entre elas. Apesar do roteirista Dean Georgaris ter roteirizado apenas três filmes além desse – nenhum muito louvável -, Daniel Pyne tem meia dúzia de trabalhos que já foram algum destaque, dentre eles: “Miami Vice” (1984 – 1988), “Morando com o Perigo” (1990), “Um Domingo Qualquer” (1999), “Um Crime de Mestre” (2007) e “Alcatraz” (2012), apesar de a maior parte de seus filmes não ser de grande qualidade cinematográfica, são trabalhos conhecidos pelo público. Dentre tantos grandes compositores no cinema, Rachel Portman foi a primeira mulher a vencer um Oscar por uma trilha sonora, compositora desse filme e de mais 87 trabalhos no cinema e na televisão, ela pode ser destacada como uma compositora versátil que já fez dezenas de bons trabalhos, apesar de gostar de vários dos filmes em que trabalhou, um dos meus favoritos é “Chocolate” (2000).


Denzel Washington é, sem dúvida alguma, o melhor ator negro em atividade, a infinidade de gêneros nos quais ele já atuou o fazem um dos artistas mais completos e versáteis do cinema moderno. Aqui ele vive Bennet Marco, um homem normal que começa a ficar perturbado quando um amigo e ex-parceiro que lutou na Guerra do Golfo o faz desconfiar de tudo e todos a sua volta, e é nessa confusão que fica a cabeça do personagem que está a maestria de Washington ao interpretar um homem a beira da loucura, demonstrando claramente o desespero de Marco em descobrir a verdade e convencer outras pessoas, especialmente os envolvidos, de tudo o que pode ter realmente acontecido. O simpático Liev Schreiber vive Raymond Shaw, o futuro vice-presidente dos Estados Unidos, ao contrário de Marco, ele não acredita muito no que possa estar acontecendo logo de cara, mas fica desconfiado, entretanto, é a forma infantil como o personagem reage ao lado da mãe que torna a atuação de Schreiber uma agradável surpresa que dá ao próprio personagem um destaque inimaginável. Meryl Streep, por vezes, pode se tornar cansativa por toda sua habilidade em fazer uma personagem, apesar de essa não ser minha atuação favorita da atriz, ela está ótima no papel, dentre as várias cenas onde ela demonstra o quanto a senadora é convincente e não admite derrotas, a melhor delas é seu discurso para convencer os membros do partido de que o filho é a melhor opção para a vice-presidência, acrescente a isso, as caras e bocas de Streep caem como uma luva nas loucuras de Eleanor Shaw. Jon Voight está, surpreendentemente, ótimo como o Senador Thomas Jordan, outro político sedento por poder que acaba sendo o único a acreditar na história de Marco. Kimberly Elise pega o lugar de Janet Leigh como a detetive que tenta ajudar Marco, Rosie, e , para completar o quadro feminino mais jovem temos Vera Farmiga como a paixão de juventude de Raymond.



Talvez a maior diferença entre o longa original e esse seja a abolição do sarcasmo e da ironia que ouvi dizer que vemos no filme de 1962, talvez a seriedade absurda com que tudo é tratado aqui, deixando de lado o deboche contra a política e o velho humor negro tão delicioso faça com que esse filme não seja tão prestigiado pelo público ou pela crítica quanto o primeiro, afinal, adaptar um clássico já é arriscado, agora, tirar toda sua essência como um filme revolucionário no sentido de comédia inteligente, pode significar uma catástrofe inimaginável em qualquer produção. Apesar disso, para aqueles que, como eu, não viram o original e gostam do estilo filme-sério-político-crítico a que esse faz jus, irão gostar do filme e se divertirão com as ótimas, mas diferentes, sacadas encontradas durante a trama. No final das contas, a única coisa que derruba o filme mesmo pode ser a tentativa de se exterminar com esse domínio do mal, que, na minha opinião estará sempre por cima de tudo e todos, pois, mesmo que defendamos a paz e o bem como algo supremo, no mundo em que vivemos o mal se faz mais presente, e não são as boas e corretas pessoas que vencem, afinal, o triunfo está reservado aos espertos e esforçados, afinal o mundo é deles mesmo.


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segunda-feira, 20 de maio de 2013

073. NOVIDADES NO AMOR, de Bart Freundlich


Uma água com açúcar boa de se tomar.
Nota: 8,0


Título Original: The Rebound
Direção e Roteiro: Bart Freundlich
Elenco: Catherine Zeta-Jones, Justin Bartha, Andrew Cherry, Kelly Gould, Lynn Whitfield, Kate Jennings Grant, Rob Kerkocivh, Sam Robards, John Schneider, Joanna Gleason, Art Garfunkel, Stephanie Szostak, Marcel Simoneau, Alice Yadav, Mitch Greenberg
Produção: Bart Freundlich, Mark Gill, Robert Katz, Tim Perell
Ano: 2009
Duração: 95 min.
Gênero: Comédia / Romance

Sandy tem 40 anos, um casal de filhos pequenos, um marido exemplar, uma bela casa e uma vida aparentemente perfeita, entretanto, quando descobre que o marido a trai, resolve pedir o divórcio e retomar as rédeas da própria vida, mudando-se para Nova York e procurando um emprego. Enquanto isso, o jovem Aram, prestes a completar 25 anos, tenta encontrar algum rumo para sua vida, procurando um emprego no qual consiga se encaixar. Nesse contexto, Aram acaba sendo contratado por Sandy como o babá das crianças, mas o que deveria ser apenas uma relação patrão-empregado se tornará mais que isso.


O diretor Bart Freundlich é marido da atriz Julianne Moore, mas mais que isso: foi escolhido por ela como algum tipo de promessa em 1997, e de seus cinco filmes para cinema, Moore participou de três. Nenhum dos cinco foi um grande sucesso ou chegou a ser o suficiente para trazer a Freundlinch alguma admiração, entretanto, não posso deixar de apontar que seus trabalhos na televisão são muito bem vistos por grande parte do público e da crítica. Confesso que nunca assisti nada do diretor, e confesso, ainda, que simpatizei com seu trabalho nesse filme. Além de liderar a produção, Freundlich também é o roteirista do filme, é bem na história que está a melhor parte do longa. O trabalho na direção também é bom, mas é uma história muito cotidiana, sem muito a ser feito devido às tecnologias disponíveis no mercado atual. Voltando ao roteiro, o assunto de uma mulher pós quarenta anos com um homem com menos de trinta teve um de seus maiores auges no ano de 2005 com o filme “Terapia do Amor” que envolvia, além da relação do casal, o problema de a mãe do jovem ser terapeuta da mulher da relação, aqui não há mais nenhum artifício para se fazer rir ou qualquer coisa do gênero. Sandy simplesmente descobre que está sendo traída pelo marido e, num ato de muita coragem e uma ótima forma de atrair ainda mais o público feminino, resolve pegar os dois filhos, sair de casa e tentar a vida sozinha. Com o passar dos dias e com a tentativa de conciliar a casa e o emprego, ela acaba contratando Aram para cuidar de seus filhos – mais uma ótima sacada do filme, que coloca o sexo feminino em um grau superior ao masculino na relação dos protagonistas. Durante o enredo, é claro que o casal arruma alguns problemas e pretextos para não ficarem juntos e, num final óbvio, os dois amadurecem e resolvem seguir seus caminhos na melhor forma possível. O mais interessante do filme é a forma como Freundlich trabalha com essas idas e vindas do filme, digo, ele não faz como o esperado e prolonga toda a história de forma chata e sem graça, muito pelo contrário: o que deve ser dito é apresentado, os futuros dos protagonistas são revelados e pronto, o filme termina sem cair na rotina e sem deixar tudo insuportável. E somente por isso a produção merece algum mérito, afinal, encontrar comédias românticas que não enrolam o tempo todo é algo muito raro.


O tempo passa e Catherine Zeta-Jones, independente de seus problemas pessoais, continua sendo uma das mulheres mais belas e atraentes da indústria cinematográfica, e, para melhorar, é uma atriz competente. Como a Sandy desse filme, Zeta-Jones deixa a beleza um pouco de lado – se é que isso é possível -, e procura se tornar uma mulher comum, como todas as outras que precisam se virar em meio a casa, filhos e trabalho; provavelmente pela determinação da personagem, sua atuação é muito simpática e excede as expectativas pelo gênero do longa, nos trazendo algo não muito original – pois já vimos muitas personagens como Sandy -, mas algo divertido e muito bem vindo. Desde “A Lenda do Tesouro Perdido” (2004), Justin Bartha caiu no gosto do público americano e participou de quatorze projetos nos últimos nove anos, dentre eles, “Se Beber, Não Case!” (2009) e sua sequência (2011). Aqui ele vive Aram, um jovem bastante perdido que não sabe o que deseja de sua vida, o que fica bem claro pelas feições de desânimo do ator durante a maior parte do filme, e é nas mudanças de ânimo da personagem que está o melhor da atuação de Bartha: quando ele está perto de Sandy, tudo muda, é como se uma luz se acendesse e ele conseguisse pensar um pouco em como melhorar sua vida. Além disso, o personagem é o típico homem antes dos trinta: um indeciso completo – não que depois dos trinta os homens comecem a tomar decisões. Os filhos de Sandy são vividos pelo satisfatório casal formado por Andrew Cherry e Kelly Gould, e o melhor amigo de Aram, pelo sempre muito engraçado Rob Kerkovich; por fim, os pais de Aram são vividos pela veterana da televisão Joanna Gleason e pelo mais que incrível Art Garfunkel – intérprete, o lado de Paul Simon, de mais de cinquênta músicas para o cinema e a televisão, dentre elas a inesquecível “Mrs. Robinson”, do filme “A Primeira Noite de um Homem” (1967).


“Novidades no Amor”, como sugere o título original, trata sobre a recuperação de uma mulher que acaba de se separar do marido, de quem era totalmente dependente, e de um jovem que mal começou a vida e precisa, urgentemente, traçar um rumo em sua existência. Como já disse, o tema de relação entre pessoas mais velhas e mais jovens já não é mais algo original em Hollywood, mas também está longe de deixar de ser um tabu na sociedade atual, e é por esse motivo que um filme que trate desse tipo de relacionamento de forma tão natural merece ser visto. Não que os problemas não sejam explorados, eles são, e é a partir deles que vemos o quanto é ridículo julgar duas pessoas com idades tão diferentes que estão tendo um relacionamento sério, afinal, o maior de todos os problemas não está naquilo que pensam ou falam, e sim, no próprio casal se preocupar com o que pensam e falam deles, resolvendo que será muito complicado levar o relacionamento em frente. E, na realidade, é nessa preocupação que temos com o que os outros irão pensar que mora um dos maiores males da sociedade.


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domingo, 12 de maio de 2013

074. DRÁCULA DE BRAM STOKER, de Francis Ford Coppola


Junte Francis Ford Coppola, a história do Conde Dracula e um elenco de peso e faça uma das fantasias mais loucas, deliciosas e bem feitas de todos os tempos.
Nota: DEZ


Título Original: Dracula
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Gary Oldman, Winona Ryder, Anthony Hopkins, Keanu Reeves, Richard E. Grant, Cary Elwes, Billy Campbell, Sadie Foster, Tom Waits, Monica Belluci
Produção: Francis Ford Coppola, Fred Fuchs, Charles Mulvehill
Roteiro: James V. Hart e Bram Stoker (romance)
Ano: 1992
Duração: 128 min.
Gênero: Drama / Thriller / Romance

O corretor inglês Jonathan Harker vai até a Transilvânia para conversar com um cliente muito rico que deseja fazer aquisições em Londres. Entretanto, o que Harker não sabe é que o tal cliente é ninguém menos, ninguém mais que o Conde Vladmir Dracula, um vampiro indecente que atraiu o corretor para seu castelo para lhe afastar de Mina Murray, noiva de Jonathan e a alma do único amor que Dracula teve em toda a sua vida. No entanto, coisas estranhas começam a acontecer em volta de Mina e para ajudar a espantar o mal, é convocado o caçador de monstros Abraham Van Helsing.


Em 1897 o irlandês Abraham “Bram” Stoker” lançou, sem dúvida o maior sucesso de sua carreira, e um dos maiores sucessos de todos os tempos. O livro “Dracula” relatava a mesma história que podemos assistir aqui – talvez por isso a tradução se refira ao escritor -, apesar de não ter lido o livro na íntegra, acaba me parecendo uma das adaptações mais fieis já vistas no cinema. Mesmo que o livro seja um incontestável sucesso e tenha uma qualidade inquestionável, é importante fazer notar que não foi de imediato que Stoker conquistou seu tão amado público, mas a crítica sempre considerou sua obra um dos melhores livros da história da literatura – recentemente o Daily Mail classificou o escritor como sendo superior a Edgar Allan Poe – contista de dezenas de história, como “O Mistério de Marie Rogêt” e “Os Assassinatos da Rua Morgue” -, Mary Shelley – escritora de “Frankenstein ou o Moderno Prometeu” - e Emily Brontë – a irmã que escreveu “O Morro dos Ventos Uivantes”. Além disso, fontes afirmam que o personagem central da história poderia mesmo ter existido, o que torna interessante verificar nos principais sites de busca de vídeos o documentário “Vampiros – Em Busca da Verdade”, que aborda, de forma inteligente e racional, as possibilidades da existência do tal Conde Vladimir Drácula. Mas, voltemos a produção de Coppola. Aqui, o longa se trata de uma verdadeira adaptação da obra de Bram Stoker, onde tudo acontece, aparentemente, da mesma forma que no livro. Apesar de nunca ter lido “Dracula” na íntegra, baseando-me apenas nas resenhas ou críticas que li a respeito do mesmo, o filme parece ser uma história fiel, além disso, toda a fantasia necessária para se adaptar uma história como essa é explorada de forma magnífica. Aliás, o mínimo que se poderia esperar do diretor da Trilogia “O Poderoso Chefão” é o que vemos aqui, ou melhor, temos algo muito mais sutil e depravado que o esperado. Acrescente a isso, Copolla nos traz um pouco do que vemos na Trilogia que lhe consagrou como um dos maiores diretores da história do cinema: obviamente grande parte do filme ocorre em momentos escuros, afinal, é neles que Dracula concentra seu poder, entretanto, cada tomada, seja em ângulos abertos ou fechados, em ambientes internos ou externos, podemos ver tudo claramente, e quando nossa visão acaba nos enganado percebemos a intenção de confundir nossas ideias e nos transportar de forma inacreditável para a história, prendendo nossa atenção mesmo nos momentos mais monótonos   - que são raros, diga-se de passagem.


Indicado ao Oscar no ano passado por seu papel em “O Espião que Sabia Demais” (2011), Gary Oldman é um dos artistas mais versáteis do atual cenário cinematográfico, conquistando a proeza de estar irreconhecível em diversos dos mais de setenta títulos em que já trabalhou. Aqui ele é, mais uma vez irreconhecível até uma altura do longa, o maior vampiro da história da literatura, ou da humanidade, o Conde Dracula. Incluí “o maior vampiro da humanidade” pois, a brilhante interpretação de Oldman começa logo no início do filme, onde o real Príncipe Vlad é mostrado, em meio a suas guerras e seu único amor, depois vemos Oldman como um velho de pele muito branca, um ser bem assustador que prende Jonathan Harker em seu castelo, por fim, temos o homem apaixonado se digladiando com o vampiro sedento por sangue e louco para se entregar aos prazeres carnais. Além disso, cada cena parece ser única para Oldman e Dracula, e se torna inacreditável como a ator funde suas feições a de seus personagens, criando algo realmente mágico e pavoroso. Harker, por sua vez, é interpretado por Keanu Reeves, quem já leu críticas anteriores de filmes com o ator – “Advogado do Diabo” (1997) e “Alguém Tem Que Ceder” (2003) -, já sabe que não simpatizo totalmente com o ator, mas começo a achar que seja apenas implicância por achar sua atuação na Trilogia Matrix péssima – até por que, os três filmes são terríveis -, todavia, seu trabalho aqui me faz lembrar duas coisas: a primeira é o que já citei nas críticas anteriores, não há meio termo nos trabalhos do ator, ou ele está péssimo ou está ótimo; a outra é uma lembrança, mesmo que mínima de um dos filmes mais inescrupulosos que já tive o prazer de assistir “Ligações Perigosas” (1988), um dos primeiros longas importantes de Reeves, enfim, como Jonathan ele mistura o gênero rapaz romântico e apaixonado, com o homem que está em formação dentro dele e vê o desejo pelo sexo florir ainda mais quando passa a pequena temporada no castelo de Dracula, período em que se vê forçado a se tornar um verdadeiro homem para voltar para os braços da mulher que ama. Para completar o trio masculino de protagonistas está, ninguém mais, ninguém menos, que Anthony Hopkins, interpretando o Professor Abraham Van Helsing, mais um personagem clássico da literatura do gênero, diferente do visto no filme “Van Helsing – Caçador de Vampiros” (2004), onde tínhamos um forte e sensual Hugh Jackman vivendo o protagonista, aqui, Hopkins é um homem sério, mais vivido e com muita história pra contar, alguém que teme ao desconhecido, e mais, que, mesmo sabendo a forma como lutar com qualquer ser que apareça em sua frente, não se deixa levar pela emoção. Para trazer alguma beleza ao filme, temos Winona Rider como Mina Murray, noiva de Jonathan, e Elisabeta, noiva de Dracula no início da história, apesar de achar Ryder uma das atrizes mais belas de sua geração, acho sua atuação fraca e a personagem é inocente demais, mas devo confessar que poucas mulheres poderiam parecer tão sexys e ainda sim desejáveis quanto ela nos momentos em que resolve ceder à tentação do pecado e se entregar aos seus desejos mais insanos, ponto para Ryder que, infelizmente, tem estado um pouco apagada no cinema dos últimos anos.


Como já citei, o resultado desse filme não podia ser algo ruim, todavia, ao saber que e a adaptação da grande obra de Bram Stocker adaptada pelo diretor da Trilogia “O Poderoso Chefão”, confesso que vi nesse trabalho uma realização muito arriscada, e, realmente, o é, afinal, não seria qualquer diretor que poderia tornar essa história tão conhecida e cheia de vertentes algo tão agradável e bem feito. Mas, estamos falando de Francis Ford Copolla o homem que, ao lado de Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Robert Altman e (por que não), Woody Allen, fez parte da geração mais louca de Hollywood na década de 1970 e trouxe inovações surpreendentes em todas as áreas cinematográficas. Sendo assim, nada se torna um desafio tão complicado e, mais uma vez, Copolla nos presenteia com um filme digno de estar entre os maiores da década de 1990. E isso se faz mais verdadeiro hoje, pois, além de trazer grandes inovações ao gênero, dessa vez, contrariando os vampiros dos últimos anos, nosso Dracula não vive sem sangue humano, possui várias formas, tem poderes obviamente anormais, possui olfato e visão muito mais aguçados que nós e, acima de tudo, exala luxúria por todas as extremidades de seu corpo morto-vivo. E é essa luxúria que faz esse filme algo tão inescrupuloso e delicioso.


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sábado, 11 de maio de 2013

075. LEIS DA ATRAÇÃO, de Peter Howitt


Pode não ser um grande filme, mas é uma excelente comédia romântica.
Nota:8,5


Título Original: Laws of Attraction
Direção: Peter Howitt
Elenco: Julianne Moore, Pierce Brosnan, Michael Sheen, Parker Posey, Frances Fisher, Nora Dunn. Heather Ann Nurgerg, Johnny Myers, Mike Doyle, Allan Houston, Annie Ryan, Vincent Marzello, Sara James, John Discepolo, Annika Pergament
Produção: David Bergstein, Julie Burk, David T. Friendly, Beau St. Clair, Marc Turtletaud
Roteiro: Aline Brosh McKenna e Robert Harling
Ano: 2004
Duração: 90 min.
Gênero: Comédia / Romance

Audrey Woods e Daniel Rafferty são os maiores advogados especializados em divórcio da cidade de Nova York. Enfrentando-se em várias ocasiões, os dois acabam dormindo juntos. Tal ato faz despertar mais ódio de Audrey quando Daniel utiliza essa atitude para se dar bem. Enquanto isso, um dos casais mais badalados do momento, o roqueiro Thorne Jamison e a estilista Serena, vivem uma crise em seu casamento. E é quando os dois decidem se separar que Audrey e Daniel enfrentarão uma de suas maiores aventuras profissionais e pessoais, pois, de uma forma inexplicável, os dois ficarão bêbados e irão se casar enquanto resolvem um pequeno problema de seus clientes na Irlanda.


Peter Howitt não é um grande diretor de cinema, tem poucos filmes no currículo e esse é o melhor deles. Apesar disso, sua direção nesse filme é algo muito bem vindo, sendo seu maior trunfo um elenco de peso que dá conta do recado sem precisar ser guiado o tempo todo. As imagens do longa são bonitas, a fotografia da Irlanda é bem característica, a trilha sonora de Ed Shearmur – que trabalhou em diversos gêneros diferentes – é divertida e as tomadas e ângulos em que o filme foi gravado são bem escolhidas por Howitt. Todavia, apesar de a direção superar expectativas, não é bem ela que mais chama a atenção no campo técnico do filme – até por que, o mais importante, divertido e qualitativo no longa, volto a dizer, são as interpretações maravilhosas -, e sim o roteiro de Aline Brosh McKenna e Robert Harling. Aline iniciou sua carreira no cinema em 1999 com “Um Caso a Três”, cinco anos depois veio “Leis da Atração”, mas foi em 2006 que se destacou ao adaptar o romance “O Diabo Veste Prada” – filme que contou com a presença das vencedoras do Oscar Anne Hathaway e Meryl Streep -, depois vieram bons trabalhos como “Vestida para Casar” (2008), “Uma Manhã Gloriosa” (2010), “Não Sei Como Ela Consegue” (2011) e o excelente “Compramos um Zoológico” (2011), apesar de todos serem comédias e nem todos terem tido um resultado muito bom, todos possuem histórias muito boas e enredos divertidos. Harling, por sua vez, é um destaque na televisão, tendo escrito apenas esse filme e os ótimos “O Clube das Desquitadas” (1996) e “O Entardecer de uma Estrela” (1996). O que interessa em “Leis da Atração” é a forma irreverente como o tema é tratado, abordando os vários lados da vida de duas pessoas bem sucedidas profissionalmente que ainda não encontraram a harmonia pessoal, contraponto o lado que deixa o destino falar por si próprio e se deixa ser levado pela emoção momentânea, e o lado controlado, racional, que não permite que algo sobrenatural – como o destino -, tome conta de sua vida.


Julianne Moore é uma da atrizes de maior sucesso de sua época, e, provavelmente, uma das que manteve a carreira mais estável. A construção e a interpretação vista aqui de Audrey por ela se torna interessante justamente pelo fato de ela negar a paixão que está sentindo, assim sendo, Moore não nos presenteia com uma daquelas atuações emocionantes de dramas como o que fez em “As Horas” (2004) e sim uma performance simples, sobre uma mulher como qualquer outra, que não sabe ao certo o que fazer com sua vida amorosa. Pierce Brosnan, famoso por interpretar James Bond em quatro filmes da franquia do agente 007, é Daniel Rafferty, aproveitando toda a sensualidade acerca do ator advinda dos anos que viveu Bond, Brosnan permanece como um homem sexy, inteligente e que deveria conquistar a todas as mulher com a apenas um olhar, entretanto, encontra dificuldade ao tentar conquistar Woods, mesmo assim, ao contrário do que a personagem de Moore faz, o personagem de Brosnan assume a paixão. Mesmo que eu goste de Moore e Brosnan e goste de suas atuações no longa, ninguém é tão bom nesse filme como Michael Sheen, a ultima vez que havia assistido a esse filme deve ter sido há uns oito anos – o que para mim, hoje com 18, é um tempo considerável – obviamente, quando o assisti há poucos dias não acreditei que era Sheen no papel do roqueiro Thorne Jamison (para já deixar claro quem ele interpreta, selecionei a foto abaixo), Sheen nos traz uma rica construção de Jamison, sendo desprezível em alguns momentos e extremamente engraçado em outros, realmente um homem totalmente diferente do Primeiro Ministro Tony Blair vivido por ele no longa pelo qual comecei a admirar o trabalho do ator, “A Rainha” (2006). Ao lado de Sheen está Perker Posey vivendo Serena, não sei se a interpretação dela é ofuscada pelas dos dois protagonistas ou pela de Sheen, o fato é que Posey está apagada demais, sem graça, sem segurança alguma e parece uma principiante o tempo todo. Para completar o elenco, uma participação bem pequena, mas muito divertida de Frances Fisher, como a coroa bonitona mãe de Audrey.


Nos perguntamos o que atraiu Audrey e Daniel, duas almas, aparentemente tão diferentes, uma mulher justa que luta com os artifícios seguindo todas as regras da moral e da boa conduta, e um homem que se vira como pode, não deixando de negar as mentiras e trapaças para conseguir o que deseja profissionalmente e satisfazer seus clientes. Certa amiga, mais precisamente aquela professora Piti de quem falo na descrição de meu perfil, escreveu uma vez sobre a beleza de nos apaixonarmos, em seu texto, refletia sobre o que nos instigava e atraia em outro ser humano, ela, bem como a ciência, constatou que é apenas um detalhe, apenas um que tem a chance de mostrar todas as qualidades do outro e nos dar a alegria de estar ao lado de alguém que amamos. Eu digo mais, concordo com ela, mas me atrevo a dizer que as várias paixões que temos são motivadas pelo mesmo detalhe, seja por uma beleza diferenciada, por uma carreira profissional bem sucedida (não me refiro a parte financeira, me refiro ao sucesso profissional aliado a satisfação pessoal), pela personalidade (seja ela fraca, forte, ou o que for), pela pureza, ou pela sensualidade. Não importa o que seja, a verdadeira lei da atração ainda permanece como uma incógnita, mas não se pode negar toda sua beleza.

076. CLUBE DA LUTA, de David Fincher


David Fincher é uma das mais agradáveis surpresas criadas por Hollywood.
Nota: 9,8

Título Original: Fight Club
Direção: David Fincher
Elenco: Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonham Carter, Meat Laf, Zach Greiner, Richmond Arquette, David Andrews, Geroge Maguire, Eugine Bondurant, Chritina Cabot, Sydney ‘Big Dawg’ Colston, Rachel Singer
Produção: Ross Grayson Bell, Ceán Chaffin, John s. Dorsey, Art Linson, Arnon Milchan
Roteiro: Jim Uhls e Chuck Palahniuk (romance)
Ano: 1999
Duração: 139 min.
Gênero: Drama / Thriller

Jack é um típico homem que vive trabalhando em um escritório, insatisfeito com a vida, não dorme há seis meses. Sentindo-se muito mal, procura um médico que, basicamente, manda ele tomar vergonha na cara e procurar grupos de apoio para os mais diversos problemas – pessoas com câncer em mais variados locais do corpo, dependentes químicos -, para ver o que são problemas reais. Uma vez interagindo com esses grupos, Jack torna-se viciado em ir aos grupos e fingir ser um doente. Em uma das diversas viagens que ele faz a negócio, conhece o excêntrico Tyler Durden. Ao chegar em casa, seu apartamento explodiu e ele fica sem casa. Jack liga para Durden, eles se encontram em um bar, Durden convida Jack para ficar em sua casa, mas antes deles irem até a casa de Durden, o homem pede que Jack lhe dê um soco, e ali inicia-se o “Clube da Luta”.


Precisamos deixar claro uma coisa antes de continuar a falar sobre esse filme: David Fincher não possui nem dez trabalho no cinema, mas me nego a vê-lo como algo inferior ao menos a um semi-Deus da Sétima Arte. Martin Scorsese, Alfred Hitchcok, Steven Spielberg, Charles Chaplin, Francis Ford Coppola, entre outros, são Deuses do cinema; já, Sam Mendes, Christopher Nolan, Tim Burton, Ang Lee, Ethan Coen, Joel Coen e David Fincher são semi-Deuses do cinema americano. É claro que essa lista seria mais longa se me estendesse para filmes Europeus – o que traria nomes como Federico Fellini e Ingmar Bergman -, mas me refiro às grandes produções realizadas na tão sonhada Hollywood. Levando em conta minha admiração por Fincher e o fato desse ser considerado, por muitos cineastas, seu verdadeiro passaporte para ser eternizado na Sétima Arte e seu melhor filme, não posso deixar de expressar o quanto ele me surpreendeu e me deixou maravilhado. Seu primeiro filme que assisti no cinema e, obviamente, me lembro como se fosse ontem, foi “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008), a partir daí procurei seus filmes e tentei assistí-los quantas vezes possível. O que temos aqui é algo bem simples de ser explicado em uma divisão ainda mais simples: no primeiro momento do longa temos um filme sobre homens cansados do dia-a-dia e da rotina triste de seus trabalhos, que encontram no Clube da Luta um local para se divertir e extravasar suas energias; depois temos um filme sobre um espécie de seita que se forma através do Clube, seita, essa, que deseja eliminar todo tipo de materialismo existente na terra. Para compreender um pouco melhor um parecer bem rápido cobre o Clube: é um local frequentado apenas por homens, que querem da forma mais amadora possível, não são homens incrivelmente belos ou fortes, são homens normais que, como disse, precisam encontrar uma válvula de escape para toda a tristeza e frustração que encontram durante seu cotidiano. Para participar do clube da Luta é preciso seguir as oito regras estabelecidas por Tyler e Jack: 1. Nunca fale sobre o Clube da Luta; 2. Nunca fale sobre o Clube da Lua; 3. Somente duas pessoas por luta; 4. Uma luta de cada vez; 5. Sem camisa, sem sapatos; 6. As lutas duram o tempo que for necessário; 7. Quando alguém gritar “pára!”, sinalizar ou desmaiar, a luta acaba; 8. Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar. Percebam que eu disse que as regras foram criadas por Tyler e Jack, entretanto, é preciso deixar claro que há um líder aqui, e obviamente, não é frustrado Jack, e sim o hilário Tyler, um homem misterioso que vive cada dia de sua vida como se fosse o último, ou o primeiro, tanto faz, o que interessa é sua personalidade forte e aterradora, que faz com que Jack se torne cada vez mais submisso e queira ser cada vez mais parecido com Tyler.


Jack, portanto, é vivido por um dos melhores atores vivos da geração dos protagonistas, Edward Norton, um dos primeiros filmes que assisti com Norton foi “Cruzada” (2005), aquele tipo de filme que a agente assiste para fazer trabalho da escola sobre as missões Católicas, nele, o ator interpreta o Rei com lebre, Baldwin, e foi ali que me interessei pelo trabalho do ator, e se vários atores me interessam por sua seriedade ao encarar qualquer personagem, Norton desperta a mesma sensação que tenho quando assisto a grande maioria dos filmes de Johnny Depp: não é a seriedade ou a comicidade deles que me atinge, e sim o sarcasmo, a forma debochada como conseguem criticar parcelas da sociedade e fazer, ao mesmo tempo, essas parcelas rirem e concordarem com eles, pelo simples motivo de que eles são tão fantásticos que a sociedade não compreende muito bem o que suas personagens querem dizer, apenas acham digno entrar na onda de seres tão complexos e fingir que compreenderam. E é isso que faz o Jack de Norton algo tão incrível, ele critica, emociona e nos faz rir como poucos atores poderiam fazer. Brad Pitt eu conheci indo ao cinema assistir ao hilário “Doze Homens e Outro Segredo” (2004), o primeiro filme legendado que eu, então com dez anos, assisti – uma verdadeira catástrofe da qual prefiro não me lembrar -, poucos meses depois, com o mesmo intuito educacional com o qual assisti “Cruzada”, conferi a grande produção “Tróia” (2004), apesar de não me pegar muito, gostei do longa, mas foi assistido “Entrevista Com o Vampiro” (1994) e “Seven – Os sete Crimes Capitais” (1995) – o melhor filme de Fincher – que compreendi por que Pitt foi tão aclamado durante a década de 1990: foram no mínimo cinco filmes ótimos que exigiram o seu melhor, em papeis totalmente distintos. Enfim, como Tyler, Pitt não decepciona em momento algum, ao contrário, ele impressiona e nos traz mais uma atuação digna de menção honrosa, pois nos faz odiar e amar o personagem, nos faz vê-lo como heroi e como vilão, nos faz questionar seus atos, sua existência, e nos faz agradecer por suas idéias e seu temperamento e personalidade tão sutis. Lembro-me de assistir a “Planeta dos Macacos” (2001) incansavelmente quando criança, durante minha infância e adolescência conferi vários trabalhos loucos de Helena Bohan Carter, mas foi apenas em 2010 que passei a admirá-la de forma inexplicável ao vê-la interpretando alguém relativamente normal em “O Discurso do Rei”, onde viveu a Rainha Elizabeth (casada com o último rei da Inglaterra antes da Rainha Elizabeth II e mãe da mesma), aqui sua participação é pequena, ela vive Marla Singer, uma mulher totalmente louca que fica no meio da amizade de Tyler e Jack, não é uma personagem totalmente normal nem anormal, e sim uma pessoa comum engolida pelo mundo louco em que vivemos, mais uma grande interpretação da atriz.


Segundo o próprio Edward Norton, quando Fincher, ele e Pitt começaram a se preparar para o filme foi feito com combinado: Norton passaria fome durante as filmagens, já Pitt levantaria pessos e faria bronzeamento, assim, Norton viveria o declínio que sua personagem vive, e Pitt ficaria cada vez mais forte e poderoso, fazendo sua presença ser notada por todos, assim como Tyler faz durante o longa. Obviamente, esse tipo de medida pode parecer loucura, mas não deixa de ser louvável ver o quanto os atores, que funcionam muito bem juntos na telona, resolveram se entregar aos seus personagens e dar o melhor deles mesmos. No começo do filme, acreditei que tudo não passava de uma história sobre luta amadora. Grande ilusão a minha, afinal, estamos falando de um filme de David Fincher, que, convenhamos, não é qualquer diretor. Além disso, voltando ao fato de parecer uma loucura essa tal entrega dos atores, após se assistir a esse longa, nada parecerá loucura por um bom tempo na vida do espectador, por motivos bem simples: o final é mais que surpreendente e esse é um daqueles filmes pirados que não saem de nossa cabeça durante um bom tempo, e fico muito satisfeito em dizer isso!

077. AS FÉRIAS DA MINHA VIDA, de Wayne Wang


“Levamos apenas duas coisas da vida: os lugares que conhecemos e o que comemos”
Nota: 8,0


Título Original: Last Holiday
Direção: Wayne Wang
Elenco: Queen Latifah, Gérard Departieu, LL Cool J, Timothy Hutton, Ricardo Esposito, Alicia Witt, Jane Adams, Michael Estime, Susan Kallermann, Matt Ross, Jascha Washignton, Ranjit Chowdhry, Michael Mouri, Jaqueline Fleming, Kendall Mosby, Chloe Bailey
Produção: Laurence Mark, Jack Rapke
Roteiro: Jeffrey Prince, Peter S. Seaman, J. B. Priestley (roteiro de 1950)
Ano: 2006
Duração: 112 min.
Gênero: Comédia

Georgia Byrd é uma simples vendedora em uma grande loja varejista, apesar de tudo, é uma mulher feliz apaixonada por comida e que sonha em se casar em Sean Matthews, outro vendedor da loja. Entretanto, ao receber a notícia de que tem um tumor, ela decide fazer algumas loucuras e pega todo o dinheiro que tem no banco e parte para Europa em uma das férias mais inesperadas e incríveis que qualquer pessoa poderia sonhar. No entanto, lá ela encontra um dos chefes de cozinha mais prestigiados do continente, um senador, um congressista e sua esposa e o proprietário do império para o qual ela trabalha, com sua amante.


Existem dois tipos de comédias no cinema: as comédias e os besteiróis que conseguem se passar por comédias por serem engraçados na cabeça da maior parte dos jovens modernos, que estão tão alienados e condicionados a terem vontade de rir de qualquer coisa idiota que não enxergam a essência das verdadeiras comédias. “As Férias da Minha Vida” se encaixa, definitivamente, no primeiro estilo, justamente por não nos trazer apenas um roteiro divertido que nos faz rir, mas por nos proporcionar uma reflexão única acerca da vida e da morte. Para dirigir esse filme nada melhor que Wayne Wang, um chinês pouco conhecido no mundo todo, mas que tem experiência suficiente no cinema com esse gênero de filmes para nos trazer algo digno de risadas e emoções diversas. Dentre seus filmes temos: “Um Amor em Chinatown” (1989), “O Clube da Felicidade e da Sorte” (1993), “Cortina de Fumaça” (1995), “O Último Entardecer” (1997), “Em Qualquer Outro Lugar” (1999) e o ótimo “Encontro de Amor” (2002). Obviamente, a fotografia do filme, que tem como maior trunfo o lugar onde Georgia passa suas férias, é uma personagem a parte que faz de sua interpretação algo único. Mas, como de costume em filmes desse estilo, o que mais interessa é a singularidade com a qual o roteiro é escrito e a forma incrível como tudo se encaixa de forma perfeita. De início, o fato de a protagonista encontrar com o dono do local onde trabalha acompanhado da amante parece apenas uma forma tosca de se enrolar um pouco e fazer o filme passar das duas horas, mas percebemos que isso serve para mostrar como existem coisas mais importantes do que dinheiro, e como a vida pode ser mais interessante se tivermos amigos. Em contraponto, Georgia também é a responsável por deixar claro que a beleza de se ter dinheiro é usá-lo para ser feliz, e que mais que ganhar dinheiro, o bom mesmo é saber usá-lo, usá-lo sem medo, sem vergonha de conhecer coisas novas, ser feliz mesmo, afinal, se o dinheiro não traz toda a felicidade, ao menos compra boa parte dela. Por fim, e talvez o mais importante de tudo: a comida. Em uma das cenas mais naturais do longa, a protagonista vai ao restaurante do hotel onde está hospedada e pede todos os pratos do menu, de quebra começa uma amizade linda com o chefe de cozinha do local, um ídolo da culinária.


Queen Latifah é uma das atrizes americanas mais queridas em todo o mundo, simples, natural e muito simpática, não há nenhum filme seu que não conquiste a todos, bastam alguns minutos na telona pra mostrar o quanto pode ser competente em qualquer gênero. Como Georgia, ela é algo inexplicável. Latifah e a personagem tem muitas coisas em comum: não tem vergonha de seu tamanho, se acham lindas de sua forma – e, realmente, o são -, são simpáticas com todos, são naturais e são aquele tipo clássico de negras americanas que sabe o quanto sua gente sofreu no passado e não está na vida para ser menos que feliz. Apesar de essas semelhanças serem sempre um ponto muito negativo para uma atriz, Latifah consegue levar tudo muito bem, dando conta do recado tanto em cenas cômicas – sua especialidade -, quanto em cenas dramáticas. Mesmo que todo o elenco seja bom, tendo atuações satisfatórias, como as de LL Cool J e Susan Kellerman, e outras um pouco forçadas, como as de Alicia Witt e Timothy Hutton, me atenho a falar apenas sobre Latifah e sobre apenas mais um ator do longa: Gérand Depardieu. O ator já é um símbolo nacional e amado pela França, sua terra natal, e, assim como a protagonista, tem ao seu encargo um personagem de alma muito limpa e iluminada: o tal chefe de cozinha, que se torna amigo de Georgia rapidamente, e faz questão de dizer que é por sua simplicidade e pela forma bela como vê a vida que prefere estar ao seu lado a estar com grandes empresários ou políticos, pessoas famosas que deixaram os reais prazeres simples da vida de lado, pois precisam se esconder atrás de máscaras bonitas e bem apessoadas.


Certa vez, uma professora me disse ouvira de uma senhora algumas das palavras mais sábias da vida: “Levamos apenas duas coisas da vida: os lugares que conhecemos e o que comemos”. Tal pessoa se referia a tudo na vida: lugares que conhecemos podem significar pessoas, animais, lugares, línguas, aquilo que conhecemos na vida real e o que conhecemos quando lemos um livro ou assistimos a um filme, novela, série; as coisas que comemos são as coisas que experimentamos para nosso bel-prazer , seja referindo-se a comidas diferentes, novas opiniões, novos sentimentos, cheiros ou sabores. Nada poderia definir melhor a essência e a beleza desse filme que tais palavras, pois ao descobrir que irá morrer em breve, a protagonista resolve jogar tudo para o alto, exorcizar sua mente de tudo aquilo que a incomoda, tudo o que a pressiona para deixar sua vida para baixo e se atira de cabeça em uma aventura que a leva para novos lugares e novas comidas, novos amigos, novos amores, uma nova vida que mostrará que, como diria Fernando Pessoa (e me permitam o tão odiado “clichessismo”), “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

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