quarta-feira, 19 de junho de 2013

067. E AÍ...COMEU?, de Felipe Joffily

Ultrapassando todos os tabus, chegou a vez de os homens falarem de tudo sem preconceito.
Nota: 8,0


Título Original: E Aí... Comeu?
Direção: Felipe Joffily
Elenco: Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Neto, Dira Paes, Juliana Schalch, Laura Neiva, Seu Jorge, Tainá Müller, Murilo Benício, José Abreu,
Produção: Augusto Casé, Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Dira Paes, Seu Jorge, Carlos Eduardo Rodrigues, Alex Sander, Bia Caldas
Roteiro: Marcelo Rubens Paiva e Lusa Silvestre
Ano: 2012
Duração: 105 min.
Gênero: Comédia

Fernando, Honório e Fonsinho são três amigos completamente diferentes que, como todo bom brasileiro, terminam seu dia com um happy hour em um barzinho. É claro que as conversas são as mais variadas, como: amor, futebol, dinheiro, problemas e, principalmente, mulheres e sexo. Nesse contexto, Fernando acaba de se separar de sua esposa e está em completa fossa pós divórcio, Honório é casado há anos com a mesma mulher, tem três filhas e está desconfiado que a mulher está enfeitando sua cabeça e Fonsinho é um rapaz rico que recebeu a herança do pai e não faz nada, além de beber, gastar o dinheiro com prostitutas e tentar escrever um romance.


A história já começa da forma mais correta em minha opinião: somos apresentados aos personagens, como se eles nos contassem a história de suas vidas. E digo que isso é o maior acerto do longa por um motivo simples: começamos a nos identificar com eles desde o início, afinal, quem nunca teve de superar a rejeição, quem nunca caiu em rotina no relacionamento, quem nunca tentou ser o popular “vida louca” e não se preocupar com nada no mundo? E se você está pensando que não viveu nada disso, ou que viveu apenas um ou outra, espere, ainda há tempo na vida para que cada um desses problemas bata à sua porta. Além disso, o longa trata toda a vida com muito humor e poucas vezes vi, tanto em filmes estrangeiros quanto em brasileiros, o povo tão bem representado, e quando digo “povo”, não me refiro apenas a maior parcela da população, refiro-me a cada cidadão brasileiro, rico ou pobre, preto ou branco, velho ou jovem, aqui, todos são representados da forma mais original possível, da forma mais real e, por vezes, mais grotesca. Durante a trama, ainda somos apresentados às mulheres que compõe a vida sexual de Fernando, Honório e Fonsinho, e, em uma ótima sacada e escolha perfeita para o papel, Seu Jorge, o cantor, encena o Garçom do Bar Harmonia, um homem negro que, sem dúvida, já experimentou de tudo um pouco na vida. Toda essa história, foi criada por Marcelo Rubens Paiva, escritor do livro “Feliz Ano Velho” (1987), roteirista de “Malu de Bicicleta” (2010) e “E Aí... Comeu?”, além de ter escrito a peça desse último; Lusa Silvestre, também roteirista do longa, é uma das roteiristas do excelente longa “Estômago” (2007). Por fim, mas não menos importante, Filipe Joffly, o diretor, também liderou “Ôdiquê?” (2004) e “Muita Calma Nessa Hora” (2010, que está ganhando uma continuação, acredito que o mais importante a ressaltar sobre seu trabalho nesse filme, seja a forma simples e natural como tudo é feito, mas sem deixar a qualidade de lado: a fotografia do filme nos remete exatamente ao espaço de um bar normal onde todos se encontram após o trabalho para beber uma cerveja e jogar conversa fora, o restante da cidade é muito característico e não nos esquecemos, em nenhum momento, que estamos diante do mais perfeito cenário brasileiro.


Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio, não nega a raça do pai e é um dos artistas mais versáteis e talentosos que temos hoje no cinema e na televisão brasileiros. Como poucos, Mazzeo me faz ter vontade de ir ao cinema assistir a uma comédia como essa, que, tendo um elenco diferente, jamais me atrairia. No longa, Bruno vive Fernando, um homem que não sabe para que lado ir e está totalmente perdido após o divórcio, entretanto, basta um empurrãozinho para que leve a vida adiante, e é isso o que Mazzeo acaba mostrando: mesmo com suas feições deprimentes no início do longa, aos poucos o ator renova sua personagem, que passa a ver a vida de forma muito melhor. Marcos Palmeira é o típico homem casado que está levando uma vida pacata e rotineira demais com a esposa, Honório é um homem ainda disposto que esqueceu como a vida deve ser mais animada inclusive dentro de casa; Marcos Palmeira nos mostra o homem mais sério e, provavelmente, o mais vivido do trio, aquele típico homem que não cresceu totalmente, mas que ama a mulher a ponto de apenas falar sobre outras. Emílio Orciollo Neto é o típico solteirão cobiçado pro ser rico que poderia ter a mulher que quisesse, mas prefere sair com mulheres compromissadas, Fonsinho, além disso, nos apresenta aquilo que todos estamos expostos a nos tornarmos todos os dias: sua tentativa de escrever é frustrada, sua tentativa de arrumar uma parceira é frustrada, ou seja, tudo o que ele tenta fazer para levar uma vida mais séria acaba deixando-o mais perdido ainda. Para completar o elenco, no lado feminino estão as ótimas Dira Paes, Juliana Schalch, Laura Neiva e Tainá Müller; e do lado masculino uma ponta rápida de Murilo Benício e, como citei a cima, Seu Jorge.



“E aí... Comeu” é a enfadonha pergunta que todo homem faz para um amigo após uma festa da qual ele saiu acompanhado ou depois de um encontro que tinha apenas um objetivo: sexo. Se a resposta for sim, logo vêm as perguntas sobre como foi o tal sexo, quais as posições, se ela fazia um bom sexo oral e se rolará novamente, e, pode-se ter certeza, que se a mulher for realmente algo fenomenal, as perguntas prosseguirão por no mínimo uma semana. Se a resposta for não, ou todos permanecerão calados, ou taxarão o cara de viado ou zuarão dele durante semanas dizendo que ele está apaixonado. Talvez, em meio a tanto humor e tanta realidade, seja aí onde o filme peque um pouco: sempre o mesmo assunto, e pior, camufla-se alguns assuntos mais sérios com o tema básico sobre sexo e, por vezes, não parece haver novidades. Entretanto, tal clichesismo não é o suficiente para tirar a diversão e deixar essa comédia se tornar algo ruim.

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