Na noite do dia 23 de setembro foram anunciados os vencedores do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Concorrendo pelo Troféu Candango, estavam seis longas e doze curtas-metragens, vencendo “Branco Sai. Preto Fica” e “Sem Coração”, respectivamente. O evento homenageou o cineasta Eduardo Coutinho, morto no início do ano, apresentando a cópia restaurada do filme “Cabra marcado para morrer”.
Nascido pela união dos que falavam de
cinema na UnB e dos estudantes (BAHIA, Berê, 30 Anos de cinema e festival), o
Festival de Brasília de Cinema Brasileiro é o mais antigo e um dos mais respeitados
festivais nacionais. Segundo o professor de audiovisual da UnB, Marcos Mendes,
o curso, criado em 1964 por Paulo Emílio Sales Gomes, que reunia o crítico
Jean-Claude Bernardet e o cineasta Nelson Pereira dos Santos, tinha como
objetivo “pensar o cinema”. Mesmo que o curso tenha perdido seus professores e
tenha se reestabelecido apenas em 1971, Paulo Emilio organizou a Primeira Semana
do Cinema Brasileiro com a finalidade de levar os filmes brasileiros para além
do clube dos cinéfilos. O evento contou com participações dos mais variados
tipos e apresentou filmes como “A Falecida”, de Leo Hirszman, e “O desafio”, de
Paulo Cezar Saraceni.
Em 1967, o evento ganhou o título de
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, tornando-se um evento oficial da
Secretaria da Cultura do Distrito Federal. No ano seguinte, porém, o Ato
Institucional 5 suspendia várias garantias constitucionais e aumentava a censura,
o que ia contra a liberdade de criação e expressão cinematográfica. Assim, o
festival era prejudicado pela Ditadura Militar. Ainda assim, mesmo que
picotados para se enquadrarem nos padrões impostos pelo regime, os filmes
transmitiam os valores opostos aos da ditadura, tornando o festival um ato
político, segundo Marcos Mendes. Devido aos absurdos que ocorreram na época
pelas intervenções da censura do estado, o festival deixou de ser realizado
durante três anos, retornando em 1976.
De lá para cá, aos poucos, o Festival
foi se desvencilhando das medidas impostas pela ditadura. Como todas as artes
no Brasil, o cinema driblava o regime e apresentava sua opinião de forma sutil,
mas convincente. E talvez uma das maiores provas de que o festival está pronto
para se dizer livre de qualquer influência exterior à cinematográfica seja ter
premiado o longa “Branco Sai. Preto Fica” como melhor filme do ano. Isso, por
que o filme de Adirley Queirós simplesmente detona com a cidade Brasília, um
dos maiores símbolos nacionalistas do Brasil. O filme foi feito na Ceilândia
(cidade satélite da capital) e delata as dificuldades e verdades vividas pelos
moradores do entorno de Brasília com uma dose essencial de ficção, que conta,
inclusive, com uma bomba que está pronta para destruir a cidade projetada por
Niemeyer no governo de Kubistchek. Segundo o próprio Queirós, que tem outros
cinco filmes gravados na cidade, sua intenção máxima, desde o começo das
gravações, era destruir Brasília. Em curta-metragem, o destaque foi para “Sem
Coração”, de Nara Normande e Tião, filme vencedor da categoria de melhor filme
em curta-metragem pela mostra competitiva.
Abaixo, confira os vencedores em todas
as categorias do evento que distribuiu R$ 625 mil em prêmios (vale lembrar que
os diretores dos seis filmes que concorriam na categoria de melhor filme
longa-metragem assinaram, antes de o vencedor ser anunciado, uma declaração
dividindo o prêmio de R$ 250 mil):
Cena do filme "Branco Sai. Preto Fica", de Adirley Queirós |
Mostra Competitiva de Filmes de
Longa-metragem
Melhor filme – “Branco sai. Preto
fica”, de Adirley Queirós
Melhor filme pelo júri popular – “Sem
pena”, de Eugenio Puppo
Melhor direção - Marcelo Pedroso, por
“Brasil S/A”
Melhor ator – Marquim do Tropa, por
“Branco sai. Preto fica”
Melhor atriz – Dandara de
Morais, por “Ventos de agosto”
Melhor ator coadjuvante – Renato
Novais de Oliveira, por “Ela volta na quinta”
Melhor atriz coadjuvante – Élida
Silpe, por “Ela volta na quinta”
Melhor roteiro – Marcelo Pedroso, por
“Brasil S/A”
Melhor fotografia – Gabriel Mascaro,
por “Ventos de agosto”
Melhor direção de arte – Denise
Vieira, por “Branco sai. Preto fica”
Melhor trilha sonora – Mateus Alves,
por “Brasil S/A”
Melhor som – Pablo Lamar, por “Brasil
S/A”
Melhor montagem – Daniel Bandeira,
por “Brasil S/A”
Mostra Competitiva de Filmes de
Curta-metragem
Melhor filme – “Sem coração”, de Nara
Normande e Tião
Melhor filme pelo júri popular –
"Crônicas de uma cidade inventada", de Luísa Caetano
Melhor direção - Nara Normande e
Tião, por "Sem coração"
Melhor ator - Zé Dias, por
"Geru"
Cena do filme "Sem Coração", de Nara Nromande e Tião |
Troféu Câmara Legislativa do DF
- Mostra Brasília
Melhor longa-metragem – “Branco sai.
Preto fica”, de Adirley Queirós
Melhor curta-metragem – “Crônicas de
uma cidade inventada”, de Luísa Caetano
Melhor direção – André Luiz Oliveira,
por “Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos”
Melhor ator – Marquim do Tropa, por
“Branco sai. Preto fica”
Melhor atriz – Klarah Lobato, por
“Querido Capricórnio”
Melhor roteiro – Fáuston da Silva,
por “Ácido Acético”
Melhor fotografia – Dani Azul, por
“Meio Fio”
Melhor montagem – Guille Martins, por
“Branco sai. Preto fica”
Melhor direção de arte – Luiz
Fernando Skopein, por “À Mão Armada”
Melhor edição de som – Guille Martins
e Camila Machado, por “Branco sai. Preto fica”
Melhor captação de som direto –
Francisco Craesmeyer, por “Branco sai. Preto fica”
Melhor trilha sonora – Renato Matos,
por “Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos”
Melhor longa-metragem pelo júri
popular – “Zirig Dum Brasília – A Arte e o Sonho de Renato Matos, de André Luiz
Oliveira”
Melhor curta-metragem pelo júri
popular – “Ácido Acético”, de Fáuston da Silva
Prêmio Marco Antônio Guimarães
“Zirig Dum Brasília – A Arte e o
Sonho de Renato Matos”, de André Luiz Oliveira
Prêmio Canal Brasil
“Sem coração”, de Nara Normande e
Tião
Prêmio Exibição TV Brasil
“Branco sai. Preto fica”, de Adirley
Queirós
Prêmio ABRACCINE
Melhor filme de curta-metragem:
“Estátua!”, de Gabriela Amaral Almeida
Melhor filme de longa-metragem:
“Branco sai. Preto fica”, de Adirley Queirós
Prêmio Saruê
“Branco sai. Preto fica”, de Adirley
Queirós
Prêmio Vagalume
Melhor filme de curta-metragem:
“Crônicas de uma cidade inventada”, de Luísa Caetano
Melhor filme de longa-metragem:
“Ventos de agosto”, de Gabriel Mascaro
Prêmio Conterrâneos
“Zirig Dum Brasília” – A Arte e o Sonho de Renato Matos, de André Luiz Oliveira
“Zirig Dum Brasília” – A Arte e o Sonho de Renato Matos, de André Luiz Oliveira
O documento histórico que dividiu o prêmio de melhor filme. As justificativas foram as mais simples: os seis filmes são fantásticos e a competitividade pela recompensa de R$ 250 mil é desnecessária. |
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