quinta-feira, 6 de novembro de 2014

MISTÉRIOS ENTRE O CÉU E A TERRA

Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Nua por Dentro do Couro" e "Sinfonia da Necrópole"



A segunda sessão do último dia do X Panorama Internacional Coisa de Cinema na cidade de Cachoeira, domingo (2), foi composta pelo curta “Nua por Dentro do Couro”, de Lucas Sá, e pelo longa “Sinfonia da Necrópole”, de Juliana Rojas, ambos filmes da Mostra Panorama Brasil. O primeiro, se passa em um prédio onde vivem dezenas de pessoas, duas delas, uma mulher mais velha e uma jovem, acabam cruzando suas vidas para além dos corredores e das escadas. O segundo é uma surpresa pra lá de agradável: um musical inteligente e engraçado sobre um coveiro que se apaixona por uma enviada do serviço funerário que está ali para reorganizar o cemitério em questão.
“Nua por Dentro do Couro” é um curta-metragem dirigido pelo estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Lucas Sá. Segundo ele, o filme tem como objetivo, gerar um longa-metragem no futuro. A história, assim sendo, pode até parecer um pouco vaga e incompleta. Ainda segundo o diretor, é algo proposital para que todas as pontas possam ser amarradas no longa. O curta, dessa forma, mostra uma mulher que faz bolinhos para atrair alguém para seu apartamento. Uma vez lá, não há escapatória: a mulher leva a vítima para o banheiro e começa o sacrifício. E se as vítimas gostam dos bolinhos, algo dentro do banheiro está muito mais interessado na carne humana. Não nos é mostrado o que está dentro da banheira, a única coisa que vemos é o desespero e a devoção da mulher ao limpar o banheiro e alimentar seu “animalzinho”. Ou seria ela o animal desse monstro perverso? O que está escondido atrás da cortina da banheira? Por que a mulher está alimentando essa criatura? Quantas vítimas foram feitas e quantas pessoas ainda morrerão? Por que a mulher adora tanto esse ser que ela esconde? Será que essa “coisa” realmente existe ou é fruto de alguma imaginação? E qual o futuro disso tudo?

Filme: "Nua por Dentro do Couro", de Lucas Sá
Pelo nome e pelos primeiros minutos de filme, “Sinfonia da Necrópole” parece um filme tão denso e impactante quanto “Nua por Dentro do Couro”, mas não é. Pelo contrário, o filme é uma comédia musical debochada e romântica. A primeira canção do longa causa um certo espanto e não sabemos se aquilo é sério ou apenas uma brincadeira sem graça. Depois, um padre faz algumas piadas em relação à hóstia. Na sequência, mais uma cena musical. Pronto, o espectador pode relaxar na poltrona e assistir tranquilamente a um filme engraçado e espirituoso. Vale lembrar que, apesar de letras um pouco chatas, óbvias e com rimas convencionais, as músicas (referente ao instrumental) que foram compostas para o filme são incríveis, expressando cada momento de forma única. Outro ponto interessante são as metáforas usadas por Rojas, que também é a roteirista do longa. Ela usa o cemitério como a sociedade em que vivemos, como uma cidade, um grupo de seres humanos vivendo em um mesmo espaço. Como o resto da cidade de São Paulo, o cemitério esta superlotado. Na capital paulista, já não existem casas para tantos moradores, no cemitério, as covas estão terminando. A forma como Deodato, o coveiro, reage com essa intervenção no mundo dos mortos também é uma forma de dizer que algumas intervenções urbanas na natureza não estão certas.
Deodato é interpretado por Eduardo Gomes de forma muito natural e inteligente. Gomes é divertido e sempre está com aquele ar pastelão de heróis fracassados (facilmente identificados pelos espectadores). O medo, a paixão e os anseios do personagem são demonstrados de forma muito natural pelos olhos e expressões do ator. Jaqueline, a funcionária do serviço funerário, é interpreda por Luciana Paes, conhecida pelos trabalhos na televisão nas novelas globais “Fina Estampa” e “Além do Horizonte”. Paes apresenta a típica personagem feminina independente que não está disposta a largar a vida que escolheu por nada. Nesse contexto, a atriz possui feições muito fortes e concisas. Uma singularidade do elenco de “Sinfonia da Necrópole” diz respeito à voz. Rojas escolheu a dedo os intérpretes, optando por aqueles que, como Luciana, possuem uma voz excepcional, ou aqueles que, como Eduardo, não possuem a voz mais afinada do mundo, mas que possuem vozes perfeitas para seus personagens. O restante do elenco também não deixa a peteca cair e é composto por nomes como: Hugo Villavicenzio, Paulo Jordão, Germano Melo, Luís Mármora, Adriana Mendonça, Antônio Veloso e Augusto Pompeo.

Filme: "Sinfonia  da Necrópole", de Juliana Rojas

“Sinfonia da Necrópole” e “Nua por Dentro do Couro”, de certa forma, tratam, cada um à sua maneira, de elementos referentes à morte. À morte prática, de seres humanos ou outros animais, ou à morte metafórica da natureza, dos espaços, da esperança, da independência, dos amores. Enquanto “Sinfonia da Necrópole” é sucinta ao apresentar uma história sem novidades – claro que o fato de o filme ser um musical ambientado em um cemitério já é muito inovador, mas a história não possui nenhuma novidade narrativa, nada difere de tudo o que estamos acostumados a ver no cinema romântico cômico -, “Nua por Dentro do Couro” causa uma confusão na mente do espectador. O longa é um filme engraçado e divertido, com uma sacada aqui e outra ali. Nada além disso. As curiosidades expostas pelo curta são o maior trunfo da produção. Os questionamentos, quem sabe, só serão respondidos no longa-metragem. Uma ótima forma de convencer o espectador de que vale a pena assistir a essa curiosa sequência. É esperar para ver.

Conversa com Juliana Rojas após a sessão dos filmes.
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