Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Nua por Dentro do Couro" e "Sinfonia da Necrópole"
A segunda sessão do último dia do X
Panorama Internacional Coisa de Cinema na cidade de Cachoeira, domingo (2), foi
composta pelo curta “Nua por Dentro do Couro”, de Lucas Sá, e pelo longa “Sinfonia
da Necrópole”, de Juliana Rojas, ambos filmes da Mostra Panorama Brasil. O
primeiro, se passa em um prédio onde vivem dezenas de pessoas, duas delas, uma
mulher mais velha e uma jovem, acabam cruzando suas vidas para além dos corredores
e das escadas. O segundo é uma surpresa pra lá de agradável: um musical
inteligente e engraçado sobre um coveiro que se apaixona por uma enviada do
serviço funerário que está ali para reorganizar o cemitério em questão.
“Nua por Dentro do Couro” é um
curta-metragem dirigido pelo estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade
Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Lucas Sá. Segundo ele, o filme tem
como objetivo, gerar um longa-metragem no futuro. A história, assim sendo, pode
até parecer um pouco vaga e incompleta. Ainda segundo o diretor, é algo
proposital para que todas as pontas possam ser amarradas no longa. O curta,
dessa forma, mostra uma mulher que faz bolinhos para atrair alguém para seu
apartamento. Uma vez lá, não há escapatória: a mulher leva a vítima para o
banheiro e começa o sacrifício. E se as vítimas gostam dos bolinhos, algo
dentro do banheiro está muito mais interessado na carne humana. Não nos é
mostrado o que está dentro da banheira, a única coisa que vemos é o desespero e
a devoção da mulher ao limpar o banheiro e alimentar seu “animalzinho”. Ou
seria ela o animal desse monstro perverso? O que está escondido atrás da
cortina da banheira? Por que a mulher está alimentando essa criatura? Quantas
vítimas foram feitas e quantas pessoas ainda morrerão? Por que a mulher adora
tanto esse ser que ela esconde? Será que essa “coisa” realmente existe ou é
fruto de alguma imaginação? E qual o futuro disso tudo?
Filme: "Nua por Dentro do Couro", de Lucas Sá |
Pelo nome e pelos primeiros minutos de
filme, “Sinfonia da Necrópole” parece um filme tão denso e impactante quanto “Nua
por Dentro do Couro”, mas não é. Pelo contrário, o filme é uma comédia musical
debochada e romântica. A primeira canção do longa causa um certo espanto e não
sabemos se aquilo é sério ou apenas uma brincadeira sem graça. Depois, um padre
faz algumas piadas em relação à hóstia. Na sequência, mais uma cena musical.
Pronto, o espectador pode relaxar na poltrona e assistir tranquilamente a um
filme engraçado e espirituoso. Vale lembrar que, apesar de letras um pouco
chatas, óbvias e com rimas convencionais, as músicas (referente ao
instrumental) que foram compostas para o filme são incríveis, expressando cada
momento de forma única. Outro ponto interessante são as metáforas usadas por
Rojas, que também é a roteirista do longa. Ela usa o cemitério como a sociedade
em que vivemos, como uma cidade, um grupo de seres humanos vivendo em um mesmo
espaço. Como o resto da cidade de São Paulo, o cemitério esta superlotado. Na capital
paulista, já não existem casas para tantos moradores, no cemitério, as covas
estão terminando. A forma como Deodato, o coveiro, reage com essa intervenção
no mundo dos mortos também é uma forma de dizer que algumas intervenções
urbanas na natureza não estão certas.
Deodato é interpretado por Eduardo Gomes
de forma muito natural e inteligente. Gomes é divertido e sempre está com aquele
ar pastelão de heróis fracassados (facilmente identificados pelos
espectadores). O medo, a paixão e os anseios do personagem são demonstrados de
forma muito natural pelos olhos e expressões do ator. Jaqueline, a funcionária
do serviço funerário, é interpreda por Luciana Paes, conhecida pelos trabalhos
na televisão nas novelas globais “Fina Estampa” e “Além do Horizonte”. Paes apresenta
a típica personagem feminina independente que não está disposta a largar a vida
que escolheu por nada. Nesse contexto, a atriz possui feições muito fortes e
concisas. Uma singularidade do elenco de “Sinfonia da Necrópole” diz respeito à
voz. Rojas escolheu a dedo os intérpretes, optando por aqueles que, como Luciana,
possuem uma voz excepcional, ou aqueles que, como Eduardo, não possuem a voz
mais afinada do mundo, mas que possuem vozes perfeitas para seus personagens. O
restante do elenco também não deixa a peteca cair e é composto por nomes como:
Hugo Villavicenzio, Paulo Jordão, Germano Melo, Luís Mármora, Adriana Mendonça,
Antônio Veloso e Augusto Pompeo.
Filme: "Sinfonia da Necrópole", de Juliana Rojas |
“Sinfonia da Necrópole” e “Nua por
Dentro do Couro”, de certa forma, tratam, cada um à sua maneira, de elementos
referentes à morte. À morte prática, de seres humanos ou outros animais, ou à
morte metafórica da natureza, dos espaços, da esperança, da independência, dos
amores. Enquanto “Sinfonia da Necrópole” é sucinta ao apresentar uma história
sem novidades – claro que o fato de o filme ser um musical ambientado em um
cemitério já é muito inovador, mas a história não possui nenhuma novidade
narrativa, nada difere de tudo o que estamos acostumados a ver no cinema romântico
cômico -, “Nua por Dentro do Couro” causa uma confusão na mente do espectador.
O longa é um filme engraçado e divertido, com uma sacada aqui e outra ali. Nada
além disso. As curiosidades expostas pelo curta são o maior trunfo da produção.
Os questionamentos, quem sabe, só serão respondidos no longa-metragem. Uma
ótima forma de convencer o espectador de que vale a pena assistir a essa
curiosa sequência. É esperar para ver.
Conversa com Juliana Rojas após a sessão dos filmes. |
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