quarta-feira, 5 de novembro de 2014

PRODUT@S DOS MEIOS

Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Estátua!", "Carranca" e "Ventos de Agosto"



O penúltimo dia do X Panorama Internacional Coisa de Cinema na cidade de Cachoeira, sábado (1), foi figurado por dois curtas-metragem e um longa-metragem da Mostra Competitiva Nacional. Os curtas foram o carioca “Estátua!”, de Gabriela Amaral, e o baiano “Carranca”, de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, o longa, foi o pernambucano “Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro. A história de “Estátua!” gira em torno de uma jovem grávida que é contratada para cuidar de uma menina cuja relação com a mãe é uma verdadeira catástrofe. “Carranca” trata sobre uma garotinha que vive em meio a homens que fabricam as esculturas chamadas “carrancas” e sobre a crença de um menino do rio. “Ventos de Agosto” é a história de um jovem alagoano, Jeison, e sua relação com uma jovem e sobre as relações destes com os demais habitantes do vilarejo onde moram e com o próprio vilarejo.
Assim que a menina Joana aparece pela primeira vez em “Estátua!”, vê-se que sua relação com a mãe é catastrófica. Joana é uma menina de 9 anos que não possui nenhum atributo físico que, a julgar pelo perfil da mãe, seriam muito bem vindos. Assim que Isabel fica sozinha com a menina, coisas estranhas começam a acontecer. São vinte e quatro minutos de pura tensão e suspense. A fotografia do filme é assombrosa e a direção de arte casa totalmente com a intenção de apresentar o apartamento onde se passa toda a história como um lugar perigoso e carregado de uma energia negativa inigualável. Para completar o clima, Isabel não sabe se tudo o que vê é real ou não. O que está acontecendo? Isabel está enfrentando alguma espécie de trauma pré-parto? Joana é um monstro como parece? Ou é Isabel quem não sabe enxergar a verdade por trás de suas loucuras? Quem está tomado pela insanidade? Isabel? Joana? Ou o Espectador?

Filme: "Estátua!", de Gabriela Amaral
Segundo alguns historiadores, as carrancas surgiram como forma de os comerciantes que flutuavam sobre o Rio São Francisco para chamar a atenção do povo para seus barcos. Mais tarde, o objeto (já usado por fenícios, assírios, egípcios, gregos e romanos) ganhou um significado espiritual de proteção do caboclo d’agua, uma entidade que assombra os rios. O filme se desenrola do ponto de vista de uma garotinha que vive no meio da fabricação das carrancas (todas com o tamanho, ou maiores, que sua própria cabeça), e que acredita ter encontrado o tal caboclo. Curiosamente, o menino encontrado por ela pegará a carranca e não demonstrará nenhum medo. O filme “Carranca” é como os próprios objetos do título: um filme simples e sutil. Por trás das imagens e da história contada sob uma visão infantil, “Carranca” escancara a importância e a beleza de objetos tão imponentes como as carrancas, tanto comercial, quanto espiritualmente. Por trás de ambas as carrancas (o filme e o objeto), esconde-se uma história belíssima de verdade e imaginação. Encontram-se mundos ainda pouco explorados e compreendidos.

Filme: "Carranca", de Marcelo Matos e Wallace Nogueira
Em “Ventos de Agosto”, Jeison e Shirley vivem em uma pequena vila de pescadores sem quase nenhum contato com o resto do mundo. A vida é tranquila e as pessoas passam o dia cuidando de seus trabalhos e de suas casas. Em agosto, a maré tende a subir e, além do comum, Jeison precisa proteger a casa onde vive com o pai. Além disso, um captor de sons chegará na aldeia para fazer alguns trabalhos e um cadáver encontrado por Jeison mudará o cotidiano daquele lugar. O filme inicia com uma sequência de cenas enorme sem nenhuma fala (o que se repetirá ao longo do filme), e encanta visualmente desde o princípio. A fotografia se mostra um dos maiores trunfos do longa, explorando a luz natural e os efeitos da mesma sobre o mar, a praia e as matas (sobretudo, de cocais). Outro elemento forte, nesse contexto, é a sonorização ambiental magnífica, que revela o som de cada gesto e passo dos personagens. A história, todavia, é um pouco cansativa, repetitiva e com diálogos limitados, apesar de alguns serem bem engraçados. Assim sendo, é constante esperar por uma nova sequência onde apenas as imagens impressionantes tomem conta da tela.

Filme: "Ventos de Agosto", de Gabriel Mascaro
Talvez o que deixe a imagem ainda mais bela e o enredo um pouco mais aceitável, sejam as interpretações maravilhosas de Geová Manoel dos Santos e, principalmente, de Dandara de Morais, respectivamente, Jeison e Shirley. Geová é muito natural e dá conta do fardo de apresentar um jovem confuso perante a sociedade em que vive e os desejos que alimenta. Dandara conquista a todos com seus olhos e sua sensualidade deslumbrante, além de possuir uma presença corporal inimaginável. Algumas cenas do casal são que dão o tom para que o filme seja assistido até o final sem nenhum arrependimento. Nada mal para uma atriz de Malhação que tinha seu trabalho julgado como ruim e para um “não ator”. Geová dos Santos, bem como todos os demais integrantes do filme (salvo Shirley e o captador de som, interpretado por Gabriel Mascaro) são moradores do local, o que confere mais realidade e simplicidade ao filme.
“Estátua!”, “Carranca” e “Ventos de Agosto” são filmes que apresentam diferentes culturas e exploram a influência do meio sobre o ser humano. No primeiro, a cidade, a urbanização, a “concretização” (pelo próprio concreto, como material de alvenaria) de tudo e o enclausuramento (no apartamento apertado e muito limitado) provocado por esses “avanços” expõe a personagem principal a uma desconfiança e a um medo que nem ela sabe se é real ou não. No segundo, a convivência com os mais velhos e com os objetos que dão nome ao filme faz com que a menina esteja propensa a acreditar piamente na existência de uma entidade perigosa que habita os rios, fazendo com que a menina deposite sua confiança nas tais carrancas, como protetoras. No último, a monotonia da pequena vila será agitada pela chegada de coisas novas (tanto Shirley quanto o captador de som), e tudo será intensificado quando o corpo for achado e Jeison começar a cuidar dele como se fosse algo muito importante (e talvez seja). São filmes que optam pela simplicidade, sem fugir de seus propósitos. Sem dúvida, não decepcionam.


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