Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Tejo Mar" e "Permanência"
O terceiro dia do X Panorama
Internacional Coisa de Cinema foi finalizado em Cachoeira, onde é apresentando
em parceria do Cineclube Mário Gusmão, com uma sessão da Mostra Panorama
Brasil. O primeiro filme apresentado foi o curta-metragem “Tejo Mar”, filme
carioca dirigido por Bernard Lessa, sobre um rapaz africano negro que vem morar
no Brasil durante alguns anos e sobre seus relacionamentos, focando no momento
em que conhece uma bela jovem brasileira. Depois, foi a vez do longa-metragem
“Permanência”, filme pernambucano do diretor Leonardo Lacca, que narra a
história de um fotógrafo pernambucano que vai a São Paulo para sua primeira
exposição individual e se hospeda na casa da ex-namorada, hoje casada.
“Tejo Mar” possui uma singularidade que
me agrada em muitos filmes e que toma o espectador logo de início: a fotografia
em preto e branco. Em alguns momentos muito específicos, talvez modernos
demais, ela se torna um pouco inapropriada, mas quando ouvimos cada música
escolhida para compor a essência do curta, tudo fica maravilhoso. A história é
muito comum, não ruim, mas comum: um homem que vive há 10 anos no Rio de
Janeiro e está pronto para ir embora. Bem, talvez não tão pronto assim. João
está confuso e não sabe direito o que quer para seu futuro (profissional,
pessoal, amoroso). Assim sendo, o espectador acompanha o personagem em suas
aventuras e indecisões em um filme muito natural e cotidiano. O maior problema
do curta são os planos muito longos que não acrescentam em muito na história, o
que pode acabar distanciando o espectador da tela.
Filme: "Tejo Mar", de Bernad Lessa |
Leonardo Lacca também escolheu realizar
um filme muito cotidiano e natural. A cada diálogo ouvido, os personagens se
tornam mais parecidos com nossos amigos, nossos vizinhos, nossos familiares,
nós mesmos. O sofrimento e os questionamentos de Ivo e de Rita (ele, o fotógrafo,
ela, a ex-namorada) se apresentam como muito comuns para todos os seres humanos
em algum momento da vida. A construção do personagem de Ivo é incrível. O
protagonista é vivido por Irandhir Santos em uma interpretação verdadeira e
muito emocionante, que atinge o espectador em cheio, fazendo-o se identificar
em diversos momentos. Rita Carelli, intérprete da personagem Rita, não fica
para trás. Além de ser sensual (aliás, a química dos atores torna o filme todo
muito sensual), possui um olhar sincero, apesar de estar em dúvida sobre suas
escolhas. Ambos os personagem mostram o quanto a vida pode ser complicada
quando se toma rumos diferentes daqueles outrora preteridos. Além disso tudo,
ainda existem as relações de Ivo e seu pai (o homem foi fruto de uma paixão
rápida quando o pai de Ivo já era casado com outra mulher) e de Rita com o
marido (que, obviamente, já está se desgastando).
Filme: "Permanência", de Leonardo Lacca |
Um dos trunfos de “Permanência” é a
naturalidade com a qual o cotidiano é tratado: os personagens fazem piadinhas
muitas vezes sem graça e se tratam como verdadeiros seres humanos. Não há a
falsidade nem a mecanização de alguns filmes de ficção onde os atores não têm
muitas liberdades para errarem em cena e aquilo ser visto como algo benéfico
para a estrutura do filme. Lacca também opta por planos longos, mas que, com
muitos diálogos, gestos, movimentos ou trocas de olhares compõe uma estrutura
interessante tanto para a fotografia quanto para a dramaturgia do longa.
“Permanência”, entretanto, é um pouco lento e clichê demais. A história sobre
casais como Rita e Ivo já está saturada e a única forma de esta parecer
diferente se dá pelas interpretações dos atores. Por vezes, o filme parece se
arrastar em mostrar o quanto a vida pode ser irônica e desastrosa dependendo de
nossas escolhas. É uma água com açúcar boa de beber, mas nem por isso deixa de
ser uma água um pouco doce demais.
Mais uma vez, temos, aqui, uma sessão de
filmes dedicados às relações humanas e como elas afetam a vida de qualquer um:
os protagonistas são homens que estão confusos em relação, principalmente, às
suas vidas pessoais. João e Ivo são personagens que vivem hoje as escolhas que
fizeram no passado e que acabam compreendendo, de uma forma ou outra, que são
as escolhas de hoje que irão determinar o futuro. Além disso, a importância
dada às mulheres nos dois filmes fica clara: João e Ivo se divertem com uma
mulher aqui e outra ali, afinal, suas “necessidades masculinas” falam mais alto
que os amores que podem nutrir por qualquer mulher. Entretanto, fica claro que,
em algum momento, alguma mulher tomará conta da vida de João, tanto quanto Rita
tomou conta da vida de Ivo. Talvez essa seja a melhor coisa dos dois filmes:
eles saem um pouco do clichê de que apenas mulheres sofrem pelas confusões
amorosas, pelas dúvidas e pelos desejos de encontrarem alguém. Aqui, são os
homens que sofrem e tentam compreender o quanto os sentimentos podem ser
poderosos.
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