Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Parque Soviético" e "A Doce Flauta da Liberdade"
O final da tarde sábado no X Panorama
Internacional Coisa de Cinema iniciou, em Cachoeira, com a apresentação de um
curta-metragem e um longa, respectivamente, o primeiro, parte da Competitiva
Nacional, o segundo, da Competitiva Baiana. O curta, dirigido por Karen Black,
foi “Parque Soviético”, uma história que mistura o relacionamento conturbado de
um casal em crise com as lembranças de um tempo onde o mundo vivia entre
dezenas de dualidades que mudariam a história da humanidade. O longa, de George
Neri, “A Doce Flauta da Liberdade” é um filme metalinguístico que mistura as
referências cinematográficas com a importância de se falar sobre a liberdade de
expressão, independente da região, da cultura ou da área de que se fala.
“Parque Soviético” foi filmado no parque
em memória dos soldados do Exército Vermelho que tombaram na Segunda Guerra
Mundial. É nesse parque que um homem e uma mulher se encontram e começam a
discutir seu relacionamento. E o que isso tem a ver com uma relação de um
casal? Tudo! Segundo a própria Karen, “amor é guerra fria”. Amor é a luta entre
dois lados. Amor é a disputa ideológica de dois seres humanos. Nesse caso, amor
é o jogo entre um homem e uma mulher. Amor passa tanto pelas dualidades da vida
quanto uma guerra. Enquanto ele defende o capitalismo, ela opta pelo
socialismo. Enquanto ele é um homem, ela é uma mulher, assim como, durante a
Guerra Fria, enquanto de um lado estavam os EUA e seus aliados e de outro
estavam a URSS e seus aliados. Além da história, o filme em preto e branco
possui uma fotografia incrível que se preocupa sempre em mostrar um pouco dos
monumentos e um pouco do casal e uma sonoplastia aparentemente natural que,
ainda segundo a diretora, foi feita de forma absolutamente artificial.
Filme: "Parque Soviético", de Karen Black |
“A Doce Flauta da Liberdade” é uma
alegoria metalinguística que tem por objetivo criticar a censura. A história se
passa na cidade fictícia de Liberdade, no interior da Bahia, onde um homem tem
como função recortar partes obscenas, indecentes, com diálogos que possuam
palavrões e qualquer referência perigosa que possa afastar o povo da
religiosidade dos mais diversos filmes. Em um dado momento, a repressão chega
ao limite e jovens se revoltam. Um deles chega a usar de artifícios místicos
para prejudicar o homem em questão. Inicialmente, o filme é uma confusão de
imagens, do real e do imaginário, uma mistura de diversas cenas e histórias, um
recorte muito diferenciado e, por vezes, estranho. É preciso, assim, tentar
entender a loucura contida na proposta do longa e tentar fazer parte dele para
só então, tentar compreendê-lo. E,
ainda assim, não há garantia de que o filme funcione.
George recebeu um roteiro com uma
história que ele considerou meio quadrada sobre um homem que picotava negativos
de filmes e, devido a uma revolta, acaba sofrendo consequências um tanto
drásticas. George não gostava da forma como o roteiro era proposto, então,
inseriu a improvisação, a aparição de parte da produção (o que tornou o filme
ainda mais metalinguístico do que apenas inserir diálogos e cenas de filmes
muito conhecidos no cinema) e artifícios estilísticos como um pano sobre a
lente da câmera para causar um efeito diferenciado. A equipe do filme é o
próprio elenco, assim, algumas cenas parecem ensaios, outras parecem making
off. Uma proposta arriscada que, aliada a metáforas exageradas e algumas
críticas exploradas de forma excessiva, corroem o filme em alguns aspectos. Algumas
ideias, como a necessidade do fim da repressão e a o cinema como expressão
necessária, acabam se perdendo e o sentido do filme se torna um tanto ambíguo.
Pontas ficam soltas e a sensação é a de que muito mais podia ser falado.
Filme: "A Flauta Doce da Liberdade", de George Neri |
“Parque Soviético” e “A Doce Flauta da
Liberdade” possuem em comum a apresentação das dualidades e de como elas afetam
a vida dos seres humanos. Enquanto no primeiro a dualidade se dá entre as ideologias
e os gêneros, no segundo, ela se apresenta pela liberdade ou pela falta dela,
pela repressão ou pela tolerância. “Amor é guerra fria”, independente de com
quem se relacione, o amor será uma disputa eterna entre duas pessoas e seus
egos, e suas ideias, e seus desejos, e seus sonhos. Assim como a imposição de
ideologias será uma guerra eterna entre os que defendem a permanência de um
estilo de vida e os que buscam por uma vida nova. E, talvez, essas dualidades,
que dizem respeito ao amor e ao convívio social, sejam as que mais afetam o ser
humano, em qualquer lugar do mundo, em qualquer espaço de tempo.
Conversas com os diretores Karen Black, de "Parque Soviético", e George Neri, de "A Doce Flauta da Liberdade", após a apresentação dos filmes. Foto: Wesley Proença. |
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