Especial X Panorama Internacional Coisa de Cinema. Filmes: "Com Fome no Fim do Mundo" e "Brasil S/A"
O X Panorama Internacional coisa de
cinema aconteceu durante os dias 29 de outubro e 5 de novembro contemplando as
cidades de Salvador e de Cachoeira. Na capital baiana, o evento apresentou
filmes no Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha e na Sala Walter da Silveira,
com 129 filmes. Em Cachoeira, o evento durou até o dia 2 de novembro e foi
realizado no auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, em parceria com o Cineclube Mário Gusmão, uma
extensão criada pela professora Cyntia Nogueira com a participação dos alunos
do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB. Em Cachoeira, foram apresentados 34
filmes. Dentre os filmes do festival, estavam curtas e longas-metragens, filmes
de ficção e de documentário, filmes americanos, asiáticos, europeus, filmes de
animação e em live-action. Filmes para todos os gostos e idades, sobre os mais
diversos temas. Durante o festival, foram apresentados alguns filmes do
americano Stanley Kubrick, do russo Sergei Eisenstein e da francesa Mia
Hasen-Love.
Como morador da cidade de Cachoeira e
estudante do referido curso de Cinema e Audiovisual, decidi fazer a cobertura
dos filmes apresentados na cidade. Dos 34 filmes, tive a oportunidade de
assistir e escrever sobre 29 deles (incluindo os dois filmes desta análise).
São os filmes das Mostras da Competitiva Nacional, da Competitiva Baiana e
Panorama Brasil (em Salvador, ainda foram apresentados filmes da Competitiva
Internacional, Panorama Alemão, Panorama Italiano e Animage). Os 29 filmes (na
ordem em que foram assistidos e tiveram suas críticas publicadas) foram: “Camila”,
“A Era de Ouro”, “Ela Volta na Quinta”, “Menino da Gamboa”, “O Filme de
Carlinhos”, “O Velho Rei”, “Materno”, “Antiok”, “10-5-2012”, “My Name is Now,
Elza Soares”, “Castanha”, “O Clube”, “A História da Eternidade”, “Tejo Mar”, “Permanência”,
“Parque Soviético”, “A Doce Flauta da Liberdade”, “Estátua!”, “Carranca”, “Ventos
de Agosto”, “O Completo Estranho”, “Tenho um Dragão que mora Comigo”, “Sem
Coração”, “O Bom Comportamento”, “Quinze”, “Nua por Dentro do Couro”, “Sinfonia
da Necrópole”, “Com Fome no Fim do Mundo” e “Brasil S/A”. No blog ainda pode
ser conferida a análise do filme “Homem Comum”, apresentado, durante o
Panorama, em Salvador e, semanas antes, durante o Festival de Documentários de
Cachoeira, o CachoeiraDoc, nesta cidade.
Equipe do Cineclube Mário Gusmão que realizou o X Panorama Internacional Coisa de Cinema na cidade de Cachoeira |
“Com fome no fim do Mundo”, filme baiano
de Marcus Curvelo e realizado pelo Cual (Coletivo Urgente de Audiovisual), que já
possui mais de duas centenas de produções realizadas, conta a história de um
músico que, enquanto não consegue ganhar a vida como musicista, passa os dias
vendendo imóveis na cidade de Salvador. Raul Seixas, como o próprio “corretor”
se denomina, vai de um lado a outro tentando tirar vantagem das vendas que tenta
realizar, sempre sonhando em poder ter um carro caro, comprar um desses
apartamentos que ele tenta tanto vender e ter uma vida farta. O curta,
contemplado pelo edital “Arte em toda Parte”, da fundação Gregório de Matos,
discute, assim, o desenvolvimento desenfreado da urbanização no contexto social
brasileiro. Além disso, aborda como algumas classes trabalhadoras são mais
beneficiadas que outras, devido a uma demanda social absurda e um desejo
consumista e pelo poder que só cresce. O protagonista, devido a esses
problemas, vagará pela cidade esperando que um milagre aconteça, mesmo sabendo
que suas esperanças para ser o que realmente deseja, sejam praticamente nulas.
Mas o personagem não tem a mínima chance de sobrevier ali por que não é esforçado?
Ou por que o sistema o coloca em uma situação de impotência? E as vendas, por
que elas não dão certo? Qual será o melhor caminho para isso? De quem é a
culpa? Do músico, dos ricos, dos pobres, dos políticos ou de um sistema falho?
Filme: "Com Fome no Fim do Mundo", de Marcus Curvelo |
“Brasil S/A” é um dos filmes mais comentados
e adorados do ano. E não é para menos. O filme aborda a industrialização e a
forma como o país cresceu nos últimos anos, apresentando imagens para que isso
seja evidenciado. Rapidamente, tem-se uma contextualização mostrando os
cortadores de cana e a chegada das máquinas no local onde eles trabalham.
Assim, já inicia uma seleção de operários: os que aprenderem a mexer nas
máquinas ficam com seus empregos, o que não aprenderem, voltam para casa
desempregados. Depois, é mostrada a dualidade entre o tráfego caótico das
cidades grandes e a tranquilidade utópica de um barquinho navegando em um rio –
utópica, por que o homem que navega, vê ao seu redor a destruição da máquina e
a inserção de uma ponte de concreto. Ainda é mostrada uma “solução” prática e
cômoda para o problema do trânsito na cidade grande: o “Cegonha Drive”, um
daqueles caminhões que carrega carros e que carregam os meios de locomoção com
seus proprietários enquanto estes relaxam. Por fim, o filme, de caráter
documental, apresenta uma sequência de imagens bem diferentes: a busca pela
redenção em um culto, a montagem de carros, a escavação em busca de petróleo e
a destruição da sociedade por sua alienação e comodidade. Nada melhor para
definir o mundo de hoje.
Filme: "Brasil S/A", de Marcelo Pedroso |
No Brasil, a primeira região a ser
industrializada foi o sudeste devido à produção cafeeira e de cana-de-açúcar e
os capitais resultantes delas. Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa estava
destruída e o Brasil acabou aumentando sua produção industrial para
comercializar com aquele continente. De lá até hoje, a industrialização
aumentou a cada ano e trouxe danos sérios para a sociedade. “Brasil S/A” não
expõe isso de forma escancarada e sensacionalista, e sim, de forma sutil e
muito metafórica para que o espectador pense em suas atitudes e no que elas
acarretam apara a sociedade. Além de as imagens serem totalmente representativas
e propícias para o longa, a fotografia do filme é maravilhosa, apresentando
imagens que tomam a tela de forma única. Essa, entretanto, não é a única
maneira encontrada para que o espectador esqueça a singularidade de o filme não
possuir falas – o que gera um estranhamento para grande parte do público. A
sonoplastia da produção também é incrível, intensificando ruídos como o do remo
na água, do caminhar dos homens, do cortar da cana, do canto dos pássaros e os
coloca no mesmo patamar que o som estrondoso dos navios, das serras elétricas,
dos caminhões que cavam a terra. As músicas escolhidas para o filme são que dão
o tom das emoções sentidas.
Marcus Curvelo, Ramon Coutinho e Bianca Muniz |
“Com Fome no Fim do Mundo” e “Brasil S/A”,
obviamente, dialogam a partir do momento que se debruçam sobre os avanços
tecnológicos da sociedade, que acarretaram na construção de mais e mais prédios
– supervalorizados desde a metade da década passada – e na crescente
implantação de indústrias por todo país, bem como o uso de novas tecnologias
para esses dois ramos: o imobiliário e o industrial. Enquanto “Com Fome no Fim
do Mundo” aposta em um enredo narrativo mais clássico, perdendo-se em vários
momentos, “Brasil S/A” aposta em inovar (como as próprias indústrias fazem o
tempo todo) e apresenta uma produção diferenciada e surpreendente. Este, é o
tipo de filme que, sem dúvida, atende a todos os seus propósitos. Na cidade de
Cachoeira, os maiores destaques do festival foram os longas “My name is Now,
Elza Soares”, da Mostra Panorama Brasil, e os longas da Competitiva Nacional “A
História da Eternidade”, “Ventos de Agosto” e “Brasil S/A”. Abaixo, confira os
vencedores da X edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema.
VENCEDORES DO X PANORAMA INTERNACIONAL
COISA DE CINEMA
Competitiva Nacional de Longas:
Melhor Filme: “Ela Volta na Quinta”, de
André Novais
Prêmio Especial: “Casa Grande”, de
Felipe Barbosa
Competitiva Nacional de Curtas:
Melhor Filme: “Sem Coração”, de Nara
Normande e Tião
Prêmio Especial: “Quinze”, de Maurílio
Martins
Prêmio IndieLisboa
Melhor Filme Longa: “Ela Volta na
Quinta”, de André Novais
Melhor Filme Curta: “Quinze”, de
Maurílio Martins
Prêmio Ficunam
“Ela volta na quinta”, de André Novais
O Panorama Internacional Coisa de Cinema é realizado com coordenação do cineasta Claudio Marques e com produção da cineasta Marília Hughes |
Competitiva Baiana
Melhor Filme: “O Menino da Gamboa”, de Rodrigo Luna e Pedro
Perazzo
Menção Honrosa: “10-5-2012”, de Álvaro Andrade.
Prêmio André Setaro – Melhor Filme Baiano (Júri APC-BA)
“Revoada”, de José Umberto Dias
Prêmio João Carlos Sampaio (Júri Jovem)
Longa: “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso
Curta: “Quinze”, de Maurílio Martins
Menção honrosa: “Mater Dolorosa”, de Tamur Aimara e Daniel
Caetano
Competitiva Internacional
Longa: “Nagima”, de Zhanna Issabayeva – Casaquistão
Menção honrosa (longa): “Como desaparecer completamente”, de
Raya Martin – Filipinas
Curta: “Xenos”, de Mahdi Fleifel – Reino Unido/Dinamarca
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