Cores demais, rap demais, futurista
demais, intenso demais, decepcionante demais.
Nota: 7,5
Título Original: The Great Gatsby
Direção: Baz Luhrmann
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tobey
Maguire, Carey Mulligan, Isla Fisher, Elizabeth Debicki, Joel Edgerton, Jason
Clarke, Adelaide Clemens, Amitabh Bachchan, Kasia Stelmach, Conor Fogarty, Gus
Murray, Brendan Mclean, Alison Benstead, Elliott Collinson, Stefen Mogel,
Brandon Prince, Henry byalikov
Produção: Lucy Fisher, Catherine
Knapman, Baz Luhrmann, Catherine Martin, Douglas Wick
Roteiro: Baz Luhrmann, Craig Pearce e F.
Scott Fitzgerald (romance)
Ano: 2013
Duração:
Gênero: Drama
Nova York, 1922. Nick Carraway se muda
para a grande cidade e aluga uma casa ao lado da mansão do misterioso Jay
Gatsby. Enquanto Gatsby promove festas alucinantes e fantásticas, que são
frequentadas por toda a cidade, Nick se fascina com o novo vizinho e passa seu
tempo vendendo ações, lendo e visitando a prima que mora no outro lado da baía,
Daisy Buchanan. Casada com o milionário Tom Buchanan, ela vive uma vida triste
e frustrada. Mas quem é Jay Gastby, um assassino, um herdeiro, um parente de
Hitler? Da onde vem todo seu dinheiro, de suas farmácias, do contrabando, de
investimentos de sorte? E por que Gatsby promove todas aquelas festas?
Em 1974, a primeira adaptação para o
cinema da obra de Fitzgerald foi lançada. A direção era de Jack Clayton e o
roteiro de Francis Ford Coppola. O elenco contava com Robert Redford como
Gatsby, Mia Farrow como Daisy, Sam Waterston como Nick e Bruce Dern como Tom. O
longa é puro, as cores são suficientemente convicentes, o jazz impera o tempo
todo, os diálogos são compreensíveis e muito bem escritos e a linearidade é
muito bem montada. Além disso, a fotografia e a composição dos cenários são
perfeitas, a grandiosidade e a solidão de Gatsby são tão reais e palpáveis
quanto seu motivo para realizar as festas. Luhrmann também é intenso, intenso
demais. O figurino é lindo, mas muito futurista. O jazz se mistura com o rap e
nos traz um estilo que seria visto nos EUA apenas anos depois, alguns arranjos
musicais são ótimos, mas, em sua maioria, muito modernos para o contexto
histórico. Tudo acontece rápido demais, com muita euforia e muita pompa, muito
mais do que Gatsby realmente propunha em sua história. Além disso, o roteiro explica muitas coisas que deveriam ficar subentendidas, tornando-o um filme comum demais. Para completar, o filme
é muito colorido, as cores chamam muito a atenção e os personagens e seus intérpretes acabam
ficando em segundo plano em relação ao cenário.
Em resumo, toda a produção parece uma
mistura dos filmes anteriores de Lurhmann. A dança e a festividade já haviam
sido vistas em “Vem Dançar Comigo” (1992), filme onde temos um figurino
exuberante e chamativo. O romance impossível já fora visto em “Romeu+Julieta”
(1996), onde o protagonista é DiCaprio e onde o diretor modernizava o clássico
inglês. As cores e as músicas futuristas também podem ser identificadas em
“Moulin Rouge: Amor em Vermelho” (2001), onde o pano de fundo é a um cabaré que
tem Nicole Kidman como a principal dançarina. O filme é um clássico dos
musicais do novo século, mas é exagerado, assim como “Gatsby”, em seus
figurinos, músicas e cores. Mas é em “Austrália” (2008) que vemos a mesma
acentuação das cores, mesmo que o longa seja um drama sobre os problemas
enfrentados por uma mulher, que luta para manter a fazenda do falecido marido. A
própria Nicole não acreditou que sua atuação possa ter sido tão ruim. As
indicações ao Oscar são poucas, mas são merecidas. A primeira é como melhor figurino, para Catherine Martin,
vencedora do Oscar pelo figurino e pela decoração do set de Moulin Rouge. Os
concorrentes são de peso, mas “Gatsby” é um dos grandes favoritos, e não é
preciso dizer muito tendo em vista as fotos apresentadas na crítica. A outra
indicação é como melhor direção de arte,
para Catherine Martin e Beverly Dunn. Assim como o figurino, as fotos são
suficientes para ver como a arte do longa é rica em detalhes e chama muito a
atenção. É importante lembrar que, no ano passado, o filme “Anna Karenina” era
um dos favoritos nas categorias artísticas, e acabou levando o prêmio pelo
figurino. O mesmo aconteceu com “Alice
no País das Maravilhas” (2010), vencedor nas duas categorias.
Tobey Maguire é quem dá vida a Nick
Carraway. Não sei se é o fato de ter achado a interpretação de Waterston
perfeita como Carraway ou se Maguire está ruim mesmo, mas o fato é que o ator
não convence em momento algum. Maguire lembra demais seu personagem em “O
Homem-Aranha”, possui cenas histéricas chatas e só tem bons momentos enquanto
conversa com o terapeuta. DiCaprio, por outro lado, está ótimo como Jay Gatsby.
Não há motivos para comparar sua interpretação com a de Redford por uma simples
razão: os atores são completamente diferentes, são originais. DiCaprio, durante
todo o longa, mantém a essência do homem apaixonado e rancoroso que compõe
Gasby: da mesma forma que ele ama uma mulher, odeia a sociedade por ter feito
ele deixá-la para se tornar um homem rico e poderoso. Se há uma coisa que
merece ser destacada como superior nesse filme em relação à adaptação de 1974 é
a intérprete de Daisy. Carey Mulligan consegue dosar perfeitamente a menina
apaixonada, com a mulher interesseira, com a doente histérica. As cenas
apaixonadas são cativantes. As cenas em que finge não ligar para as amantes do
marido são desprezíveis. Os momentos de angústia, medo e pavor são intensos e
combinam com a atmosfera criada por Lurhmann.
“O Grande Gatsby” apresenta uma história
rica e muito bonita. A forma como Lurhmann explora tais aspectos se torna pobre
em meio a tanto luxo e riqueza. Mesmo com a beleza estética e a qualidade
sonora, são as interpretações de DiCaprio e Mulligan que sustentam o longa. O
diretor, nesse contexto, acaba explorando mais a vida rica que os personagens
levam, a boemia, as bebidas e as festas sem fim e se esquece da essência da
história do homem por traz do grande Gatsby. “O Grande Gatsby” é, sem dúvida,
um dos maiores romances românticos da história da literatura. Gatsby não é grande
apenas por ser rico. Gatsby é grande por ser gentil, educado, inteligente,
esperto, e amável por ter buscado fortuna para ser merecedor da mão da mulher
que ama. A vida de Gatsby parece grande devido às festas que promove, ao
dinheiro que gasta, aos negócios que realiza. Da mesma forma, as frustrações de
Gatsby são grandes, seus medos, seus pesadelos, suas dúvidas. Seria injustiça
revelar alguns aspectos cruciais e belos que compõe a história de Jay Gatsby,
pois seria impossível expô-los sem fazer revelações importantes para o enredo.
Basta dizer que “O Grande Gatsby” explora os mais variados sentimentos do ser
humano, propõe que indaguemos a nós mesmos questões importantes para a vida e
nos faz visualizar as mais diferentes facetas que o destino pode nos mostrar. Mas
é o romance de Fitzgerald que faz isso, não o filme de Luhrmann.
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