Scorsese jamais será enfadonho enquanto
refletir sobre as realidades de sua terra natal.
Nota: 9,7
Título Original: The Departed
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon,
Mark Wahlberg, Jack Nicholson, Martin Sheen, Ray Winstone, Vera Farmiga,
Anthony Anderson, Alec Baldwin, Kevin Corrigan, James Badge Dale, David O’Hara,
Mark Rolston, Robert Wahlberg
Produção: Brad Grey, Graham King, Brad
Pitt,
Roteiro: William Monahan
Ano: 2006
Duração: 151 min.
Gênero: Drama
Quando criança, Colin foi apadrinhado
pelo chefe do crime de Nova York, Frank Costello. Anos depois, Frank é um dos
homens mais perigosos dos Estados Unidos e um procurado da Polícia Federal.
Dessa forma, a mando de Costello, Colin se infiltra no FBI a fim de burlar os
planos da polícia de pegar seu “pai”. Billy, por outro lado, é um jovem que
deseja entrar para o FBI, mas que vê seu caminho bloqueado por pertencer a uma
família extremamente suspeita. A condição para Billy é simples: ele será preso
e terá de se infiltrar no bando de Costello.
Martin Scorsese é o melhor diretor vivo
da Sétima Arte, e sei que poucas pessoas discordariam dessa afirmação. Em sua
carreira, sua principal característica foi a de realizar produções reveladores.
“Depois de Horas” (1985), “Cabo do Medo” (1991) e “Ilha do Medo” (2010), por
exemplo, abordam as loucuras da psique humana; “Touro Indomável” (1980), “O
Aviador” (2004) e “O Lobo de Wall Street” (2013) são biografias que acompanham
personagens que viveram intensamente; “A Época da Inocência” (1993) é um
romance nada convencional ambientado no século XIX; “A Invenção de Hugo Cabret”
é uma ode ao cinema francês muito bem representado por George Méliès; “Taxi
Driver” (1976), “New York, New York”(1977), “Os Bons Comanheiros” (1990) e
“Gangues de Nova York” (2004) são os responsáveis por revelar o que há de mais
belo e obscuro na cidade de Nova York. “Os Infiltrados” se encaixa nesse último
grupo. O filme parece uma sequência, ou ainda, uma consequência de tudo o que
ocorreu há tempos. Tempos revelados em “Gangues de Nova York”, em “Os Bons
Campanheiros” e em “Cassino”, longas que retratam o passado sujo, medíocre e
indigesto que fez parte do nascimento e do desenvolvimento dos Estados Unidos da
América. Apesar de o longa se passar apenas em Nova York, com o desenrolar da
trama, fica fácil perceber o quanto toda a sujeira afeta o país todo.
Além de ser referência no quesito
“americanidade”, Scorsese é conhecido por manter alguns membros de sua equipe
em seus filmes. Quatro deles são essenciais para transformar “Os Infiltrados”
no único filme do diretor vencer do prêmios de melhor direção e filme no Oscar.
A fotografia do longa é de Michael Ballhaus, diretor de fotografia de Scorsese
em “Os Bons Companheiros”, “Gangues de Nova York”, “A Época da Inocência”,
“Depois de Horas”, “a Cor do Dinheiro” e “A Última Tentação de Cristo”, a
beleza estética desse longa não pode ser discutida, há uma delicada mistura
moderna e uma referência deliciosa aos filmes de policias e bandidos das
décadas de 80 e 90. Além da fotografia, a edição também faz esse resgate dos
filme policiais, assim, Thlema Schoonmaker deixa claro que o filme é, acima de
tudo sobre policias e bandidos. Schoonmaker tralhou com Srcosese desde 1980,
dali por diante, todos os filmes do diretor foram editados por essa vencedora
de 3 Osrcars. Sandy Powell já foi apontada, por alguns críticos, como a nova
Edith Head, Powell e Martin trabalham juntos desde “Gangues de Nova York”, o figurino de “Os Infiltrados” é muito característico
e combina perfeitamente com a personalidade de cada personagem, e é aí onde
acredito estar a perfeição do trabalho de Powell. Por fim, e o que eu mais
admiro no longa, a trilha sonora estupenda de Howard Shore. Scorsese e Shore
começaram juntos em “Depois de Horas” filme que possui uma trilha muito
característica do compositor, depois, foi apenas em 2002, com “Gangues de Nova
York”, que os dois voltaram a trabalhar juntos. Vieram, ainda, “O Aviador” e “A
Invenção de Hugo Cabret”. Aqui, a trilha de Shore é pontual e magnífica ao
contrastar a seriedade e a inexpuginidade da polícia federal, com a boa vida e a
violência que cercam os mafiosos. Recomendo que a trilha seja ouvida após o
filme ser assistido para que a concentração possa ser apenas nela.
Leonardo DiCaprio é um dos melhores
atores de sua geração. Lembro-me de ter assistido a ele, mesmo antes de ver
“Titanic” (1997), em “Diário de Um Adolescente” (1995) e ter me surpreendido
com a maestria de DiCaprio, mesmo tão jovem. O reflexo dos trabalhos do ator
são vistos hoje. A interpretação é intensa e provocante, é aquele tipo de
atuação que nos faz sentir como se fossemos o personagem: quando DiCaprio é
violento, compreendemos sua violência, quando está com raiva, estamos com
raiva, quando ele se acalma, acalmamo-nos também. A Matt Damon, sobra a tarefa
de nos trazer um pouco de sarcasmo e muita naturalidade ao FBI. O ator também
está excelente, e, como DiCaprio, quando está prestes a ser pego pela polícia,
faz com que nos sintamos tão apavorados quanto ele. Jack Nicholson é o veterano
em todos os sentidos, ele e seu personagem possuem a inteligência e a experiência
de vida em comum, são homens inteligente e astutos. Nicholson dispensa elogios,
mesmo assim, decerei alguns: o sarcasmo e a autoconfiança de Costello são
impressionantes, a frieza com a qual o mafioso trata tudo e todos é contagiante
e as particularidades de Frank nos enojam e cativam ao mesmo tempo.
“Os Infiltrados” não é o melhor filme de
Martin Scorsese para ser o único a vencer os Oscars de melhor filme e melhor
direção na carreira do diretor. Talvez tenha sido o momento em que a Academia
se deu conta de como haviam sido injustos com o mestre a vida toda e resolveram
premiá-lo, não pelo longa, e sim por uma carreira inteira. Mesmo assim, o filme
é fantástico e jamais hesitaria em dizer que é o melhor do ano de 2006, com as
atuações mais impressionantes e com uma qualidade técnica incomparável. A
equipe que citei acima que compõe o time de Scorsese não decepciona em momento
algum, o roteiro é claro e os diálogos são impecáveis. Apesar de ter citado
apenas três intérpretes, o elenco todo é fantástico e merecia muito mais
destaque nas premiações do que realmente obteve. De forma objetiva e muito
bonita, Scorsese denuncia as mazelas dos Estados Unidos, mostra que a maior
potência do mundo está longe de ser o lugar mais seguro para se morar. Ainda,
como apenas o mestre consegue fazer, homenageia um estilo de filmes que se
perdeu no tempo, o puro gênero policial de qualidade. Aqui, não existem muitas
reflexões sobre a vida, não estamos falando de um filme espiritual como “A
Invenção de Hugo Cabret”, e sim, de um filme objetivo sobre as realidades
envolvendo corrupção e outras coisas muito mais sérias do que imaginamos.
Realidades as quais os Estados Unidos, e todo o restante do mundo, estão
expostos e sofrerão cedo ou tarde.
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