Tensão do começo
ao fim em um dos melhores thrillers dos últimos anos.
Nota: 9,5
Título Original:
Prisoners
Direção: Denis
Villeneuve
Elenco: Hugh
jackman, Jake Gyllenhaal, Viola Davis, Maria Bello, Terence Howard, Melissa
Leo, Paul Dano, Dylan Minnette, Zoe Borde, Erin Gerasimovich, Kyla Drew
Simmons, Wayne Duvall, Len Cariou, David Dastmalchian, Brad James
Produção: Kira Davis, Broderick Johnson, Adam
Kolbrenner, Andrew A. Kosove
Roteiro: Aaron
Guzikowski
Ano: 2013
Duração: 153
min.
Gênero: Crime /
Drama / Thriller
Os Dover e os
Birch são duas famílias amigas que passam os feriados unidos. Enquanto os Dover
passam por uma crise financeira, os Birch possuem uma vida mais tranquila.
Certo dia, as filhas mais jovens das duas famílias, Anna e Joy, saem para
brincar e simplesmente somem. O maior suspeito do crime é o proprietário de um
furgão que estava estacionado na vizinhança horas antes do desaparecimento.
Juntos, os pais das meninas, Keller e Franklin, passam a procurá-las por conta
própria, enquanto o Detetive Loki fará seu trabalho pela polícia.
Denis Villeneuve
já estava acostumado com o gênero do suspense quando integrou esse projeto. Seu
trabalho, aqui, é fantástico, usando os cenários obscuros e o inverno americano
como cartas para tonar o longa ainda mais sombrio e excitante. Cenas fortes
como a que o suspeito do crime foi espancado, são muito realistas, e a forma
desesperada com a qual os protagonistas descobrem a verdade nos faz estar junto
deles dentro da telona. Um ponto interessante do filme é termos duas famílias
diferentes: os Dover, uma família branca que sofre com a falta de dinheiro, e
os Birch, uma família negra que tem uma vida menos sofrida em relação ao
dinheiro. Nesse contexto, além de sermos apresentados a dois opostos, vemos
cada família sofrer com alguma coisa em uma América ainda muito preconceituosa:
enquanto os Dover sofrem com a falta de dinheiro, os Birch sofrem por sua cor.
Por fim, somos postados diante de uma situação óbvia: todos estamos expostos,
não importa nosso gênero, nossa cor, nossa classe, nossa sexualidade, nossa
nacionalidade.
O maior responsável
por essa realidade é o roteirista Aaron Guzikowski. O enredo da trama, em
primeiro lugar, já é incrível: duas garotinhas são, supostamente, sequestradas
por um louco, e seus pais e um policial saem em busca da verdade. Além disso, o
título em língua original é sugestivo: “Prisioneiros” trata sobre homens em
cativeiro, homens presos em sua próprias vidas, presos no medo de serem pegos,
presos no medo de não resolverem seus problemas, presos na impotência em
relação a encontrar suas filhas, presos em suas dúvidas, presos em seus
passados. Ou seja, desde o título do filme já podemos ter uma ideia de como
tudo o que está por vir será muito pior do que imaginamos. Para piorar toda a
situação, sabemos que as meninas sumiram, nada além disso. Elas podem ter sido
sequestradas, podem ter se perdido, podem ter fugido, podem estar vivas ou
mortas. Os suspeitos do crime não revelam coisa alguma, e quando as revelações
começam a serem feitas, não possuem nexo e levam as investigações a lugar
nenhum. Aqui, no final das contas, todos são suspeitos, até que se prove o
contrário.
Para completar
toda a loucura a qual a trama nos propõe a adentrar, a trilha sonora de Jóhann Jóhannsson
é pontual e magnífica. As músicas acabam sendo mais um elemento que deixa o
espectador na ponta da poltrona louco para saber o que está por vir. Mais que
isso: tudo se encaixa de forma tão perfeita que nos sentimos parte integrante
da trama. Sofremos com os personagens e temos aquela estranha sensação de algo
entalado na garganta. Queremos explodir e ajudar a encontrar Anna e Joy. O tema
do filme também é lindo e muito tocante. O longa é indicado ao Oscar de melhor fotografia, outro belo e indispensável
componente. Tendo em vista termos “Gravidade” como um dos concorrentes, é muito
improvável que “Os Suspeitos” leve o prêmio, ainda sim vale destacar o quanto a
fotografia de Roger A. Deakins é importante para o filme, contribuindo para a
tensão e a dramatização da trama.
Hugh Jackman e
Jake Gyllenhaal, finalmente, tiveram seus grandes papeis para provar ao mundo
que deixaram de ser apenas atores em potencial e já estão prontos para construir
uma carreira sólida e digna. Com esse filme, deixam de ser garotos bonitos e
passam a ser atores competentes. Jackman é Keller, o mais perturbado dos pais
das meninas, não o mais preocupado, mas o mais inconformado. A construção do
personagem feita pelo roteirista e melhorada por Jackman é forte e muito
comovente. As cenas dramáticas do ator nos provocam sentimentos diversos e nos
sentimos em seu lugar, sejamos pais ou não. As cenas violentas nos aproximam de
Keller por compreendermos seus anseios e por termos vontade de ver os culpados
pelo desaparecimento das crianças. Gyllenhaal, por sua vez, traz um Loki mais
sensato, um policial que acaba se comovendo com tudo o que está acontecendo, um
homem violento que tenta mudar sua personalidade e que começa a enlouquecer
pela possibilidade eminente do fracasso em relação a encontrar as meninas. Mais
uma vez, volto a apontar a belíssima construção do personagem: Gyllenhaal tem
tiques que permanecem em seu corpo o tempo todo, sua postura e seu modo de agir
são muito característicos e esse é um excelente exemplo da encarnação do
personagem em um ator.
Ademais, entre
as interpretações, algumas ainda merecem destaque. Terrence Howard é Franklin
Birch, talvez pela conformidade do personagem, o ator está um pouco apagado e
apenas algumas cenas nos lembram do grande intérprete que Howard é. Viola Davis
é Nancy Birch, a mãe de Joy. O mais incrível da interpretação de Davis fica a
cargo do que ela faz de melhor: olhar. O olhas da atriz na cena em que Loki
chega pela primeira vez na casa dos Birch é perfeito e mostra todo o desespero
que a personagem esconde. Apesar de Davis também estar bem contida, sua
personagem é forte e determinada, e é isso o que a sustenta como uma mulher
decidida a viver até a filha voltar para casa. Maria Bello é Grace, mãe de
Anna, mesmo estando bem no papel, acho as reações da personagem exageradas e
Bello acaba ficando “over” demais. É claro que acredito que a dor sentida por
Grace seja compatível às reações da atriz, mas acho exagerado. Por fim, Paul
Dano e Melissa Leo, respectivamente, Alex Jones, o principal suspeito, e Holly
Jones, a tia de Ralph. Dano está melhor do que eu imaginava: obtuso e esquio,
fazendo qualquer um acreditar em sua culpa. No caso de Dano, é o silêncio que
torna sua interpretação tão bela, interessante e angustiante. Leo tem, aqui, a
única interpretação que assisti que me desagradou. Primeiramente, não vi que
era ela na primeira aparição de Melissa, em questão de postura e trejeitos, a
atriz está fantástica, e fico sem saber se são suas expressões que desagradaram
ou se a maquiagem para tornar-lhe mais velha foi tão mal feita que prejudicou a
atuação dessa excelente atriz.
“Os Suspeitos” é
um filme que não possui muitas morais, não fala sobre amor, compaixão ou traz
lições de vida. Ele faz muito mais que isso. O longa expõe a vida de forma nua
e crua como ela pode ser para qualquer ser humano. O fato de as famílias serem
distintas por uma ser branca e estar em crise financeira e outra ser negra e
estar financeiramente tranquila é o que nos diz que qualquer ser humano está
exposto às violências e sofrimentos do mundo contemporâneo. Não é a primeira
vez que vemos crianças serem sequestradas, não é a primeira vez que vemos a
violência sendo tão real, não é a primeira vez que temos vontade de sentar
sobre o encosto da poltrona pela tensão proposta por um filme. Mas é a primeira
vez que tudo isso é feito em um filme realmente grande. Acredito que “Os
Suspeitos” não obteve o merecido sucesso nas grandes premiações de cinema, mas
o filme merecia, seja por sua produção, por seu roteiro ou pelas atuações
espetaculares, poucas vezes vistas em um thriller.
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