sábado, 1 de fevereiro de 2014

033. (ESPECIAL OSCAR 2014) OS SUSPEITOS, de Denis Villeneuve

Tensão do começo ao fim em um dos melhores thrillers dos últimos anos.
Nota: 9,5



Título Original: Prisoners
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Hugh jackman, Jake Gyllenhaal, Viola Davis, Maria Bello, Terence Howard, Melissa Leo, Paul Dano, Dylan Minnette, Zoe Borde, Erin Gerasimovich, Kyla Drew Simmons, Wayne Duvall, Len Cariou, David Dastmalchian, Brad James
Produção:  Kira Davis, Broderick Johnson, Adam Kolbrenner, Andrew A. Kosove
Roteiro: Aaron Guzikowski
Ano: 2013
Duração: 153 min.
Gênero: Crime / Drama / Thriller

Os Dover e os Birch são duas famílias amigas que passam os feriados unidos. Enquanto os Dover passam por uma crise financeira, os Birch possuem uma vida mais tranquila. Certo dia, as filhas mais jovens das duas famílias, Anna e Joy, saem para brincar e simplesmente somem. O maior suspeito do crime é o proprietário de um furgão que estava estacionado na vizinhança horas antes do desaparecimento. Juntos, os pais das meninas, Keller e Franklin, passam a procurá-las por conta própria, enquanto o Detetive Loki fará seu trabalho pela polícia.


Denis Villeneuve já estava acostumado com o gênero do suspense quando integrou esse projeto. Seu trabalho, aqui, é fantástico, usando os cenários obscuros e o inverno americano como cartas para tonar o longa ainda mais sombrio e excitante. Cenas fortes como a que o suspeito do crime foi espancado, são muito realistas, e a forma desesperada com a qual os protagonistas descobrem a verdade nos faz estar junto deles dentro da telona. Um ponto interessante do filme é termos duas famílias diferentes: os Dover, uma família branca que sofre com a falta de dinheiro, e os Birch, uma família negra que tem uma vida menos sofrida em relação ao dinheiro. Nesse contexto, além de sermos apresentados a dois opostos, vemos cada família sofrer com alguma coisa em uma América ainda muito preconceituosa: enquanto os Dover sofrem com a falta de dinheiro, os Birch sofrem por sua cor. Por fim, somos postados diante de uma situação óbvia: todos estamos expostos, não importa nosso gênero, nossa cor, nossa classe, nossa sexualidade, nossa nacionalidade.


O maior responsável por essa realidade é o roteirista Aaron Guzikowski. O enredo da trama, em primeiro lugar, já é incrível: duas garotinhas são, supostamente, sequestradas por um louco, e seus pais e um policial saem em busca da verdade. Além disso, o título em língua original é sugestivo: “Prisioneiros” trata sobre homens em cativeiro, homens presos em sua próprias vidas, presos no medo de serem pegos, presos no medo de não resolverem seus problemas, presos na impotência em relação a encontrar suas filhas, presos em suas dúvidas, presos em seus passados. Ou seja, desde o título do filme já podemos ter uma ideia de como tudo o que está por vir será muito pior do que imaginamos. Para piorar toda a situação, sabemos que as meninas sumiram, nada além disso. Elas podem ter sido sequestradas, podem ter se perdido, podem ter fugido, podem estar vivas ou mortas. Os suspeitos do crime não revelam coisa alguma, e quando as revelações começam a serem feitas, não possuem nexo e levam as investigações a lugar nenhum. Aqui, no final das contas, todos são suspeitos, até que se prove o contrário.


Para completar toda a loucura a qual a trama nos propõe a adentrar, a trilha sonora de Jóhann Jóhannsson é pontual e magnífica. As músicas acabam sendo mais um elemento que deixa o espectador na ponta da poltrona louco para saber o que está por vir. Mais que isso: tudo se encaixa de forma tão perfeita que nos sentimos parte integrante da trama. Sofremos com os personagens e temos aquela estranha sensação de algo entalado na garganta. Queremos explodir e ajudar a encontrar Anna e Joy. O tema do filme também é lindo e muito tocante. O longa é indicado ao Oscar de melhor fotografia, outro belo e indispensável componente. Tendo em vista termos “Gravidade” como um dos concorrentes, é muito improvável que “Os Suspeitos” leve o prêmio, ainda sim vale destacar o quanto a fotografia de Roger A. Deakins é importante para o filme, contribuindo para a tensão e a dramatização da trama.


Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, finalmente, tiveram seus grandes papeis para provar ao mundo que deixaram de ser apenas atores em potencial e já estão prontos para construir uma carreira sólida e digna. Com esse filme, deixam de ser garotos bonitos e passam a ser atores competentes. Jackman é Keller, o mais perturbado dos pais das meninas, não o mais preocupado, mas o mais inconformado. A construção do personagem feita pelo roteirista e melhorada por Jackman é forte e muito comovente. As cenas dramáticas do ator nos provocam sentimentos diversos e nos sentimos em seu lugar, sejamos pais ou não. As cenas violentas nos aproximam de Keller por compreendermos seus anseios e por termos vontade de ver os culpados pelo desaparecimento das crianças. Gyllenhaal, por sua vez, traz um Loki mais sensato, um policial que acaba se comovendo com tudo o que está acontecendo, um homem violento que tenta mudar sua personalidade e que começa a enlouquecer pela possibilidade eminente do fracasso em relação a encontrar as meninas. Mais uma vez, volto a apontar a belíssima construção do personagem: Gyllenhaal tem tiques que permanecem em seu corpo o tempo todo, sua postura e seu modo de agir são muito característicos e esse é um excelente exemplo da encarnação do personagem em um ator.


Ademais, entre as interpretações, algumas ainda merecem destaque. Terrence Howard é Franklin Birch, talvez pela conformidade do personagem, o ator está um pouco apagado e apenas algumas cenas nos lembram do grande intérprete que Howard é. Viola Davis é Nancy Birch, a mãe de Joy. O mais incrível da interpretação de Davis fica a cargo do que ela faz de melhor: olhar. O olhas da atriz na cena em que Loki chega pela primeira vez na casa dos Birch é perfeito e mostra todo o desespero que a personagem esconde. Apesar de Davis também estar bem contida, sua personagem é forte e determinada, e é isso o que a sustenta como uma mulher decidida a viver até a filha voltar para casa. Maria Bello é Grace, mãe de Anna, mesmo estando bem no papel, acho as reações da personagem exageradas e Bello acaba ficando “over” demais. É claro que acredito que a dor sentida por Grace seja compatível às reações da atriz, mas acho exagerado. Por fim, Paul Dano e Melissa Leo, respectivamente, Alex Jones, o principal suspeito, e Holly Jones, a tia de Ralph. Dano está melhor do que eu imaginava: obtuso e esquio, fazendo qualquer um acreditar em sua culpa. No caso de Dano, é o silêncio que torna sua interpretação tão bela, interessante e angustiante. Leo tem, aqui, a única interpretação que assisti que me desagradou. Primeiramente, não vi que era ela na primeira aparição de Melissa, em questão de postura e trejeitos, a atriz está fantástica, e fico sem saber se são suas expressões que desagradaram ou se a maquiagem para tornar-lhe mais velha foi tão mal feita que prejudicou a atuação dessa excelente atriz.



“Os Suspeitos” é um filme que não possui muitas morais, não fala sobre amor, compaixão ou traz lições de vida. Ele faz muito mais que isso. O longa expõe a vida de forma nua e crua como ela pode ser para qualquer ser humano. O fato de as famílias serem distintas por uma ser branca e estar em crise financeira e outra ser negra e estar financeiramente tranquila é o que nos diz que qualquer ser humano está exposto às violências e sofrimentos do mundo contemporâneo. Não é a primeira vez que vemos crianças serem sequestradas, não é a primeira vez que vemos a violência sendo tão real, não é a primeira vez que temos vontade de sentar sobre o encosto da poltrona pela tensão proposta por um filme. Mas é a primeira vez que tudo isso é feito em um filme realmente grande. Acredito que “Os Suspeitos” não obteve o merecido sucesso nas grandes premiações de cinema, mas o filme merecia, seja por sua produção, por seu roteiro ou pelas atuações espetaculares, poucas vezes vistas em um thriller.

VENCEDORES DO PRÊMIO DA SOCIEDADE DE CRÍTICOS DE FILME DE DETROIT
Melhor Filme: Ela
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz: Brie Larson, por Short Term 12
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Scarlett Johansson, por Ela
Melhor Elenco: Trapaça
Melhor Revelação: Brie Larson, por Short Term 12
Melhor Roteiro: Spike Jonze, por Ela
Melhor Documentário: Stories We Tell
VENCEDORES DO PRÊMIO DA SOCIEDADE DE CRÍTICOS DE FILME DE HOUSTON
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Sandra Bullock, por Gravidade
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro: 12 Anos de Escravidão
Melhor Filme de Animação: Frazen: Uma Aventura Congelante
Melhor Fotografia: Gravidade
Melhor Documentário: 20 Feet from Stardom
Melhor Filme Estrangeiro: A Caça
Melhor Trilha Sonora: Gravidade
Melhor Canção Original: “Plese Mr. Kennedy”, de Inside Llewyn Davis
ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes
E CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poderá gostar também de: