Após dois filmes, Coppola mostra que
ainda pode surpreender e encerra a saga da família Corleone com chave de ouro.
Nota: 9,7
Título Original: The Godfather Part III
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Diane Keaton, Talia
Shire, Andy Garcia, Eli Wallach, Joe Mantegna, George Hamilton, Bridget Fonda,
Sofia Coppola, Raf Vallone, Franc D’Ambrosio, Donal Donnelly, Richard Bright,
Helmut Berger, Don Novello, John Savage, Franco Citti, Mario Donatone, Vittorio
Duse, Enzo Robutti, Richele Russo, Al Martino, Robert Cicchini, Rogerio
Miranda, Carlos Miranda, Vito Antuofermo,
Produção: Francis Ford Coppola, Gray
Frederickson, Fred Fuchs, Nicholas Gage, Marina Gefter, Charles Mulvehill e
Fred Roos
Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario
Puzo
Ano: 1990
Duração: 170 min.
Gênero: Drama / Crime
CONFIRA O TRAILER DO FILME:
Michael Corleone ficou conhecido por ser
filho de Don Vito Corleone, um dos italianos mais poderosos da América. Depois
da morte do pai, mesmo tendo outros dois irmãos, Michael se tornou o novo Don
Corleone e, surpreendentemente, tornou-se muito mais poderoso, rico e influente
que seu pai. Hoje, passaram-se aproximadamente 20 anos desde que Vito morreu.
Os filhos e sobrinhos de Michael são adultos, Kay continua preferindo se manter
distante do pai dos filhos e Connie permanece junto ao irmão em qualquer
ocasião. Mas Michael está ficando velho, e, apesar de os mafiosos terem o poder
de adiantar algumas mortes, nem mesmo eles podem detê-la para sempre.
“O Poderoso Chefão – Parte III” inicia
com uma homenagem que Michael recebe da Santa Igreja Católica, homenagem
ofertada pelo próprio Papa. Após a cerimônia, todos se reúnem em uma festa
muito bonita e agradável, onde Michael doa cem milhões de dólares para a
Igreja. E aí já começamos a ver o quanto os Corleone serão sempre os mesmos,
não importa o que aconteça. Após 14 anos, Francis Ford Coppola lançou o
derradeiro filme de sua trilogia épica. As décadas de 1970 e 1980 foram de
extrema importância para o cinema moderno devido a nova geração de cineastas
que começou a se impor, trazendo técnicas e temas inéditos, inovadores e
inspiradores. Foi devido a essas novidades que os filmes da época conquistaram
o público de forma inacreditável e serviam de modelo para outros cineastas, que
passaram a experimentar e até desenvolver técnicas propostas por nomes como Coppola,
Martin Scorsese, Woody Allen, George Lucas e Steven Spilberg. E se as primeiras
partes daquela trilogia inspiraram as décadas de 70 e 80, podemos afirmar que a
terceira parte da série foi referência para inúmeros filmes da década de 90.
Dentre os exemplos, podemos citar a edição ágil e clássica proposta por Lisa
Fruchtman, Barry Malkin e Walter Murch, a direção de arte e a produção de
design dos irmãos Alex e Dean Tavoularis, e a iluminação e fotografia de Gordon
Willis, proposta que vinha desde a primeira parte da trilogia.
Mario Puzo, que eternizou seu nome na
Sétima Arte através dos filmes baseados em seu romance homônimo, está ao lado
de Coppola para finalizar a série. Aqui, a história se torna mais moderna e um
pouco menos impactante que nos dois primeiros longas. Temos um Michael
diferente do visto nos outros filmes. Já não é mais um menino que cometeu seu
primeiro assassinato. Também não é um homem que está começando a se firmar como
o merecido herdeiro do pai. O Don Michael Corleone do final da década de 70
(quando ocorre a história) é um homem que se arrepende de seu passado, um homem
debilitado que está começando a compreender que não é mais capaz de chefiar
todos os seus negócios pela idade. E se Michael já não possui aquele vigor de
outrora, o mesmo podemos dizer de Connie e Kay. Enquanto a irmã já perdoou
Michael pelo assassinato do marido traíra, Kay ainda se ressente por seu grande
amor ter se tornado uma pessoa tão diferente. E essas novas personalidades,
essa forma de apresentar personagens maduros, se contrasta com os personagens
mais jovens vividos pelos filhos e sobrinhos do protagonista: indivíduos cheios
de vida que buscam por seus amores e sonhos. O próximo Don, por exemplo, e isso
fica claro desde a primeira aparição do personagem, é o filho bastardo de
Sonny. Vincent é o perfeito retrato do pai: temperamental e louco pelo poder.
Ainda nessa geração, temos os filhos de Michael. Mary é uma jovem sonhadora que
se apaixona por Vincent e está decidida a viver esse amor, não importa o que
qualquer pessoa pense a respeito. Anthony também tem sua paixão e luta por ela,
mas o amor deste é a música e, mesmo que Michael queira obrigá-lo a ser seu
sucessor, o jovem está pronto para ir até o fim em se dedicar à sua arte.
Mas nem tudo nesse roteiro é tão novo
quanto as personalidades dos personagens ou essa relação com a Igreja: existem
dezenas de semelhanças entre esse filme e a primeira parte da trilogia. A
primeira já é vista logo no início. Quando Michael é homenageado e depois
oferece uma festa aos seus “afilhados” vemos uma clara referência ao casamento
de Connie. Depois, temos o tiroteio que tem como objetivo aniquilar alguns Dons,
o que inclui Michael. Esteticamente, a cena lembra o assassinato de Sonny, mas também
pode ser uma referência à tentativa de assassinato de Vito. Enquanto no
primeiro filme os tiros atingem Vito e o levam para o hospital, aqui, Michael,
que é diabético, tem um ataque devido ao susto e vai para o hospital. A reação
dos Corleone diante desses eventos, entretanto, é a mesma: Michael, na primeira
parte, comete seu primeiro assassinato para vingar o pai, e aqui, Vincent
assassina o homem que ordenou o ataque contra o tio. De qualquer forma, Vito e Michael,
mesmo vingados, ficam à beira da morte. E quando percebem que está na hora de
passar seu poder adiante, eles o fazem. Vito deixa claro que o próximo Don
Corleone será Michael, ao passo que este nomeia Vincent seu sucessor. No
desfecho da trama, Michael revive o primeiro filme: enquanto ele assistia a
missa após se tornar Don, dezenas de inimigos eram assassinados por sua ordem,
aqui, os assassinatos são coordenados por Vincent enquanto Michael assiste à
ópera do filho. Como aconteceu com Vito, por fim, Michael também morre de forma
pacífica, estando velho e sem sentir dores. Apesar de viverem momentos
distintos, ambos estavam sentados sobre o sol da manhã.
Apontei como os Corleone são os melhores
anti-heróis já criados quando disse, na crítica do primeiro filme da saga dessa
família, que eles são o que há de mais podre na face da terra e, mesmo sabendo
disso, os amamos. E Michael é um dos grandes responsáveis por isso. Ou melhor,
Al Pacino é um dos grandes responsáveis por qualquer afeição que nutrimos pelo
personagem e por sua família. No início, ele é o filho que não deseja seguir os
passos do pai, por isso o amamos. Depois, vinga sua família com sangue e, por
isso, ganha nossa admiração. Mais tarde, ordena que o irmão seja assassinado,
mas justifica o ato alegando que Fredo estaria comprometendo a família. E mesmo
com este fratricídio, continuamos amando Michael. E o personagem passa a ser mais
amado ainda pelos estadunidenses após suas palavras ensaiadas sobre ser um americano
cumpridor dos deveres no discurso que o livra da cadeia. Mas Al Pacino não é
apenas o responsável por viver o maior anti-herói da história do cinema, ele é
um assombro ainda maior que nos primeiros filmes da série, pois está ainda mais
expressivo. Tanto Michael, quanto Al, são mais experientes, portanto, já
viveram mais e estão mais aptos para enfrentar as dificuldades da velhice.
Desta vez, Pacino não repetiu a dose de ser indicado ao Oscar (havia sido indicado
como melhor ator coadjuvante pelo primeiro filme e como melhor ator pelo
segundo), mas, talvez, seja essa sua interpretação mais dramática e verdadeira
em toda a trilogia. O trabalho que, sem dúvidas, merecia o prêmio da Academia.
Todavia Al Pacino não é o único
intérprete que volta ao longa com mais experiência e sagacidade. Diane Keaton,
a ex esposa Kay Adams, e Talia Shire, a irmã Connie, repetem suas personagens.
Keaton demora a aparecer, mas quando surge em cena se mostra a mesma mulher dos
outros filmes: mãe zelosa e mulher apaixonada. As duas cenas que definem isso
são explícitas: em uma, deixa claro a Michael que estará ao lado de Anthony na
ideia de largar o direito e se tornar músico, na outra, passeia ao lado do ex
marido pela cidade onde o falecido sogro nasceu, e acaba confessando a Michael
que sempre o amou. Shire, por outro lado, não possui nenhuma grande cena, mas
aparece em vários momentos demonstrando que a Connie submissa ao marido morreu
e deu lugar a uma mulher de fibra que, finalmente, compreendeu o que significa
fazer parte da família Corleone. Ambas as atrizes fazem tudo demonstrando como
suas personagens cresceram e aprenderam com o que viveram. São duas atrizes que
voltam às suas personagens depois de 14 anos, mas não que interpretam mulheres
completamente distintas daquelas que largaram no passado. Diferente disso: a
Kay doce e romântica e a Connie fiel à família estão lá mais do que nunca.
O elenco, entretanto, não pode ser
resumido a duas atrizes e um ator como se isso fosse uma comédia romântica.
Longe disso. Longe de ser um elenco de três pessoas e mais longe ainda de ser
uma comédia romântica. Andy Garcia, indicado ao Oscar por seu Vincent, lembra
muito (a nós e aos personagens) o pai que morreu de forma trágica (assassinado
com a ajuda do marido de Connie). E talvez esse seja o ponto alto do ator, uma
vez que Sonny representava um personagem tão particular e expressivo, até por
que, Garcia apenas lembra o pai do personagem, mas não se tornar uma caricatura
ou cópia. Sofia Coppola vem para provar que a década de 90 foi uma das mais românticas
do cinema moderno. Ela vive uma Mary boba, inocente e apaixonada por Vincent,
uma menina mimada e sem graça. Coppola não possui nada de muito interessante e
chega a ser chata em algumas cenas. Ainda bem que a atriz passou para o outro
lado da câmera e se tornou uma diretora competente e admirável. Franc
D’Ambrosio fecha o elenco principal da família como Anthony Vito Corleone,
apesar de ser um ótimo ator, esse foi o único filme da carreira de D’Ambrosio,
que se mostra um verdadeiro cantor ao interpretar a canção “Brucia La Luna”. Só
para não deixar de citar os demais personagens importante, aqui vai uma pequena
lista: Eli Wallach dá vida ao vira-casacas Don Altobello, Joe Mantegna, vive o
desafeto Zoey Zasa, Raf Vallone, o Cardeal Lamberto, Donal Donnelly, o Arcebispo
Gilday e John Savage, interpreta o filho de Tom Hagen, Padre Andrew Hagen.
Sequências de qualquer tipo de série de
filmes sempre dão aquele frio na barriga. Com a trilogia de Coppola não foi
diferente. Entretanto, poucas vezes vimos sequências tão satisfatórias como
essas. O segundo filme da série mescla as histórias de Michael e Vito e se
torna o filme mais violento dos três. A terceira parte, todavia, se mostra um
filme mais psicológico, um longa que está disposto a abordar as consequências
de tudo o que Michael fez. Consequências sofridas por ele e por toda sua
família. Consequências que afetam a consciência do protagonista do início ao
fim. O filme, definitivamente, não é o melhor da trilogia, até por que, nenhum
filme feito até hoje no cinema supera a primeira parte, mas não podemos negar a
qualidade e a importância do desfecho da história. Assim sendo, não foi apenas
por ter homenageado a trilogia na centésima e na ducentésima críticas do blog
que escolhi a terceira parte da saga dos Corleone para finalizar as 399
críticas. Após 398 análises, acho justo que termine este trabalho da mesma
forma que Francis Ford Coppola finalizou a melhor trilogia da história do
cinema: com dignidade e muita qualidade. Com chave de ouro.
Como fiz com os outros dois filmes da
série, abaixo segue a lista dos dez melhores momentos do longa (as informações
abaixo contém SPOILER):
10. Homenagem e festa: o início do filme,
como citei, já lembra quem é a família Corleone e do que eles estão dispostos
para subirem ainda mais na sociedade. Essa cena mistura a alegria do povo
italiano com a malandragem dos mafiosos como se tudo fosse uma coisa só;
09. Michael revela seu interesse pela
International Immobiliare: pode não ser uma cena impactante, mas é uma cena
de grande valor para o contexto e é muito bom ver o Don Michael Corleone
fazendo negócios, ou melhor, fazendo suas propostas irrecusáveis;
08.
Tarde de Michael e Kay passeando pela cidade: apesar de ser uma cena simples,
evoca os outros filmes, o passado dos Corleone e a relação bonita que o casal
tinha quando Kay ainda achava que políticos eram honestos;
07. Volta de Michael para a Itália:
aliando-se ao fato de Michael reunir a família para prestigiar o sucesso do
filho, é o momento em que o protagonista sai do hospital e mostra a todos que o
Don Corleone está vivo e bem de saúde, capaz de tomar as rédeas da própria
vida;
06. Michael aceita Vincent como seu herdeiro:
após Vincent provar ao tio que é digno de sua confiança, Michael o reconhece
como seu sobrinho, chamando-o de Vincent Corleone, e declarando que ele será
seu sucessor. Como foi feito com Michael no final do primeiro filme da
trilogia, os homens se aproximam de Vincent e beijam a mão do novo Don;
05.
Massacre:
em uma cena épica, os “aliados” de Michael sofrem um homicídio em massa
orquestrado por Altobello e Zasa. A cena é perfeita e não poupa em mostram os
homens morrendo. Além disso, a sequência, onde Michael tem seu ataque devido a
glicemia e a pressão, é uma das cenas mais forte do longa;
04.
Confissão de Michael Corleone: após 30 anos sem se confessar,
finalmente, Michael, em sua passagem pela Itália, encontra com um pároco e,
como um bom católico que realmente é, resolve se acertar com Deus. Michael
confessa seus crimes, o que inclui a morte do irmão, Fredo. A cena é impactante
e memorável justamente por isso: friamente, Michael fala que já matou e ordenou
que matassem, e, com todo o sentimentalismo do mundo, revela, chorando, que
mandou matarem seu próprio irmão;
03.
Anthony entoa a canção “Brucia la Terra”: a letra de Giuseppe Rinaldi acompanha
a música tema criada por Nino Rota, um dos temas mais inesquecíveis do cinema.
D’Ambrosio tem a voz perfeita para a canção e a emoção gerada por ela (e por Al
Pacino) é inexplicável;
02.
Noite na ópera:
desde o momento em que os personagens chegam ao local da apresentação, passando
pelas mortes de vários personagens (o que inclui o Papa), até o momento final
em que Michael e Kay choram pela morte da filha. A cena tem a mesma tensão
proposta pela cena principal do filme “O Homem que Sabia Demais” de Alfred
Hitchcock e é o momento mais expressivo dos protagonistas: indo de alegria pelo
sucesso do filho, ao desespero pela morte da filha;
01.
Morte de Michael Corleone: se esse fosse um filme isolado, provavelmente
teria escolhido a cena da ópera como a melhor do filme, mas estamos falando de
uma trilogia. Uma trilogia que mostra a passagem de poder de um pai para seu
filho, assim, quando Michael resolve passar seus poderes como Don para seu
sobrinho, ele fecha um ciclo. Outras pessoas veem essa trilogia como sendo o
relato da vida de Michael. De qualquer forma, a morte de Michael é o final
definitivo deste ciclo.
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