segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

136. PRISCILLA, A RAINHA DO DESERTO, de Stephen Elliott


O precursor ao não preconceito sexual!
Nota: 8, 7



Título Original: The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert
Direção e Roteiro: Stephen Elliott
Elenco: Hugo Weaving, Guy Pearce, Terence Stamp, Bill Hunter, June Marie Bennett, Murray Davies, John Casey, Frank Cornelius, Bob Boyce
Produção: Al Clark, Michael Hamlyn
Ano: 2004
Duração: 104 min.
Gênero: Comédia / Drama

Mitzi e Felicia são dois travestis que não se importam em serem chamadas de qualquer insulto preconceituoso “anti-homessexuais”. Quando Mitzi (o nome de guerra para Anthony Belrose) recebe um convite para se apresentar no meio do nada na Autrália, ele(a) sente a obrigação de fazê-lo. Dessa forma chama Felicia (nome de guerra de Adam Whitely) e Bernadette Bassenger (antiga Ralph Waite), uma transexual que acaba de perder o parceiro. Para tal aventura ser concretizada e os/as três se meterem nas mais loucas confusões, Felicia consegue, como meio de transporte, um ônibus caindo aos pedaços, ao qual batiza de Priscilla, A Rainha do Deserto.


Sempre que assistimos a um filme como esse, a dúvida a respeito da sexualidade do diretor da produção paira no ar. Pois, a fim de que essa dúvida não persista, sim Stephen Elliott é gay, o que, talvez, seja o maior trunfo para o filme, é bem simples: nenhum hetero seria capaz de compreender tão bem o mundo construído por Drag Queens e homens e mulheres que jamais sabemos se são homens ou mulheres, mundo esse, até hoje muito marginalizado. Alem disso, permanecendo nos problemas envolvendo a temática do longa, não preciso dizer que, se hoje a aceitação já é difícil, imaginam em 1994 quando o filme foi lançado. Mas é bem aí que o roteiro se torna tão bem feito: Felicia e Mitzi não vêem problema algum em saírem de seu charmoso ônibus usando suas roupas de trabalho (e sim, o trabalho de ambas as personagens é tão digno quanto de qualquer outro ser humano), muito menos Bernadette faz questão de esconder suas opções (Bernadette é a mais velha dos três, sendo a mais racional e menos escandalosa). Nesse contexto, durante a trama, vemos apenas duas cenas em que há o preconceito com as diferenças: a primeira é esquecida rapidamente por ser muito bem levada por Bernadette; já a segunda envolve uma soco aqui e outro ali, mas acaba sendo resolvida por um amigo que as viajantes conhecem durante sua jornada. É dispensável dizer que o figurino de um filme sobre Drags seja uma coisa escandalosa, mas ao mesmo tempo é tão surpreendente e colorido e chama tanto a atenção que chegou a receber o Oscar de melhor figurino; quanto a trilha sonora, bem, nada poderia ser mais propício que canções do ABBA – incluindo “Dancing Queen” – e a clássica “I Will Survive”, música destinada ao sofrimento das mulheres negras na América, mas que foi eternizada como o maior símbolo musical gay de todos os tempos graças a este filme.


Existem poucas coisas que pagam ver o sério Elrond da Terra Média – dos filmes do “Senhor dos Anéis” e de “O Hobbit – como um travesti que tem dúvidas quanto a algumas relações que deve fazer ou não, não que ele não tenha certeza, de fato Anthony/Mitzi é bem resolvido quanto sua sexualidade, mas outros problemas, que serão mostrados mais para frente, assolam sua mente fértil. Weaving está ótimo no papel, e nos passa as dúvidas de um homem que tem um passado, no qual talvez não seja uma grande idéia remexer. E se poucas coisas podem pagar ver Weaving nessa situação, a interpretação de Guy Pearce é impagável. É uma pena que o filme tenha sido feito em uma época em que poucas pessoas tinham a cabeça aberta a novas coisas (é bom lembrar que a Sétima Arte só começou a se livrar dos preconceitos quando Ang Lee surgiu com “O Segredo de Brokback Moutain”, filme que seria o preferido de Felicia, sem dúvida alguma), e foi por esse motivo que a interpretação de Adam/Felicia de Pearce passou tão despercebida pelas premiações mundo a fora, enfim, o ator está simplesmente incrível, talvez por sua personagem ser o gay mais “espalhafatoso” dos três, ou pelo simples fato de que ele deixa a naturalidade da personagem transparecer de forma tão simples que tudo o que Felicia faz se torna um escândalo. O veterano Terence Stamp dá vida a Bernadette, uma mulher segura de si, de seus desejos e suas escolhas, feitas no passado ou no presente. Stamp está sóbrio de forma inacreditável, sem se importar com as fofocas ou os mexericos das cidades onde eles vão, e, quando se importa, o faz de forma tão calma que quase se torna uma verdadeira dama.


“Priscilla” abriu caminhos para que a temática da homossexualidade como algo normal fosse se tornando mais fácil e aceitável para o público, como disse, foi apenas em 2005, com o longa de Lee que a abordagem do tema se tornou algo realmente normal, sendo visto mais e mais vezes, de forma singela e tratando o assunto como ele realmente deve ser tratado: não somente para falar do preconceito, mas para mostrar que esse segmento da sociedade – tão marginalizado e excluído – merece tanto quanto qualquer outro ser humano uma chance de ser feliz. Mais que isso, o filme é essencial para qualquer homossexual que se preza. Dizer não ao preconceito pode até ser algo difícil, mas ficará muito mais fácil viver em um mundo cheio de diferenças após conferir toda a originalidade que só pode ser proporcionada por Mitzi, Felicia, Bernadette, o Deserto e, é claro, Priscilla, a Rainha do Deserto.


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