A tarde de quinta-feira (04) terminou com filmes que expõe histórias de diferente cidades do nordeste brasileiro. Enquanto Caixa d’água: qui-lombo é esse? ressalta o passado do negro e revela a beleza da negritude de hoje, Luíses – Solrealismo Maranhense retrata a situação complicada vivida pelos moradores da capital, São Luis.
Caixa d’água: qui-lombo é esse?, de
Everlene Moraes, sintetiza, em 15 minutos, a história do negro no Brasil e as
dificuldades pelas quais os mesmos passaram durante o tempo em que foram
escravos e pelas quais passam até hoje. A diretora acerta em optar por
apresentar imagens na tela enquanto ouvem-se vozes em off de negros que revelam
suas histórias. Algumas imagens, muito minimalistas, mostram os detalhes dos
corpos e da pele dos negros, outras focam apenas nos rostos, nas expressões que
velam mais que palavras. Outro acerto de Everlene, dessa vez muito curioso, foi
optar por apresentar, também, negros com imagens projetadas em seus corpos,
como fotografias e outras exclusividades que revelam a cultura negra. Ainda
sobre essa cultura apresentada no filme, é importante ressaltar a citação do
candomblé, do samba de roda e outras movimentações culturais. Filmado em um
bairro de Aracajú, estado do Sergipe, conhecido como Morro dos Quilombos, Caixa
d’água é um filme intimista, emocionante e muito inteligente que, acima de tudo,
reverencia a cultura negra, apresentando negros de sangue africano que se
orgulham de sua negritude de forma pra lá de respeitosa.
Luíses – Solrealismo Maranhense, de
Lucian Rosa, também reverencia a cultura e o povo de sua cidade, mas pretende
mais que isso: denuncia as mazelas da capital utilizando metáforas inesperadas.
De início, o longa surpreende ao apresentar um ex-ator que enlouqueceu frente à
cidade de São Luis – o que nos é revelado por uma voz em off – e passou a
entoar palavras nas praças da cidade. Mais personagens fictícios, que
representarão os Luíses do título, ou seja, o povo maranhense, surgirão. Logo
começamos a perceber as denúncias ao sistema público de saúde que não cumpre
com seus deverem em atender a população, depois virão críticas ao transporte
público, à educação, às condições de moradia (incluindo saneamento básico) e,
por fim, as críticas políticas à família Sarney, culpada, segundo o filme, por
todos esses problemas. Revelam-se, também, algumas manifestações muito
particulares e agradáveis para que tais problemas sejam sanados, entretanto,
isso não é suficiente para dar coesão ao longa. Separadas, as cenas funcionam
muito bem. Cada discurso sobre as mazelas da sociedade e as denúncias feitas
aos Sarney e aos governos aliados são muito realistas. Todavia, a apelação e a
não resolução do que, segundo o filme, acontece em São Luis, não conectam as
partes para formar um filme único.
Caixa d’água e Luíses são filmes
nordestinos que revelam realidades sobre diferentes locais dessa região tão
vasta e diversificada do Brasil. Enquanto um aposta em planos minimalistas e em
histórias vivenciadas por negros do mundo todo, o outro prefere se ater aos
problemas locais. Ambos os filmes são felizes em suas intenções primárias: um
homenageia um povo que muito sofreu (e ainda sofre), o outro denuncia mazelas
locais e clama por mudanças. O primeiro emociona e conquista o espectador aos
poucos, levando-o, voluntariamente, ao belo mundo da negritude e o convence de
toda essa beleza. O segundo simplesmente joga os problemas na cara do
espectador, procura culpados e termina sem coesão. Ambos são filmes com
pretensões louváveis, porém, com diferentes resultados.
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