A vida humana e a dualidade entre o cômico e o dramático em um documentário de mil facetas.
Titulo Original: Homem Comum
Direção, Roteiro e Produção: Carlos
Nader
Elenco: Nilson de Paula, Jane e Liciane
Ano: 2013
Duração: 110 min.
Gênero: Documentário / Drama / Comédia
Em 1995, o diretor Carlos Nader iniciou
um documentário despretensioso onde ele mesmo perambulava pelas vidas de
caminhoneiros aleatórios. Nader conversava sobre o cotidiano com os homens e,
sem mais nem menos, fazia perguntas profundas sobre a existência humana.
Entretanto, o cineasta se deparou com uma ótima surpresa chamada Nilson. Um
caminhoneiro como outro qualquer, o gaúcho chamou a atenção de Carlos, que
desistiu da ideia de abordar vários caminhoneiros e passou a seguir a vida de
Nilson, seu homem comum.
Durante os anos de 1995, 1996 e 1999,
Carlos Nader acompanhou o novo amigo em toda sua rotina. Para começar seu
documentário, conheceu a esposa e a filha de Nilson, adentrando na vida íntima
daquela família e se tornando, por vezes, pare dela. Nader também acompanhou os
serviços de Nilson como caminhoneiro, sempre registrando as ideias, preocupações
e até mesmo desabafos de seu protagonista. Após muitos acontecimentos – o que
incluiu perdas importantes, o crescimento da filha que já se tornou mãe e o
conhecimento de novas pessoas – Carlos, entre os anos de 2010 e 2012, voltou a
se tornar parte daquele clã formado, agora, por Nilson, a esposa, a filha e a
neta.
Para apresentar a história de Nilson ao
espectador, Carlos Nader se vale de um artifício que pode parecer um pouco
estranho para algumas pessoas, mas que funciona de forma perfeita nesse longa.
Alterna cenas de seu registro sobre o caminhoneiro com cenas de dois filmes: o
longa dinamarquês da década de 50, Ordet,
de Carl Th Breyer, e um filme realizado pelo próprio diretor para estar no
documentário, Life, The Dream. As
histórias são as mesmas: uma família com uma mulher grávida e um homem louco
que alerta a todos a possibilidade de a morte estar próxima. A diferença é que
o dinamarquês explora uma família mais simples chefiada por um patriarca, o
filme de Nader retrata uma família quase aristocrática inglesa chefiada por uma
mulher. As loucuras, os problemas e os enredos são muito semelhantes. Formas
diferentes de contar a mesma história.
E talvez essa conclusão sobre serem as
mesmas histórias seja o que mais aproxima os filmes de Homem Comum: os homens
são sempre os mesmos, o que os difere são as formas que eles mesmos contam suas
histórias de vida. Ao longo do documentário, Nader compara as vidas dos
personagens das três histórias de forma muito sutil e intimista. Sem respeitar
qualquer linearidade, as histórias, ou estórias, se cruzam em algum momento,
seja pela tensão ou pelo cotidiano vivido pelos personagens. Um ponto
interessante a ser comentado quando falamos sobre a relação entre Life, The Drem e Homem Comum é a forma como Nader se utiliza de animais para
reforçar a banalidade da vida humana. Na ficção, um personagem com distúrbios
mentais, preocupa-se com as formigas que, sem olhar para cima, realizam sua
dança frenética para conseguir alimento. No documentário, os porcos que Nilson
leva em seu caminhão são o alvo para mostrar um pouco de realidade triste e
forte, sem julgar a imagem do protagonista.
Enquanto o filme rodava na telona, não
pude deixar de olhar algumas vezes para trás e conferir a reação da plateia
frente ao longa. Em momentos específicos, Nader fazia suas perguntas sobre a
vida e, sem saber muito por onde ir, os personagens reagiam com surpresa e
davam as respostas mais inusitadas possíveis, arrancando gargalhadas do
público. O mesmo acontecia quando cenas naturais da família eram reveladas. Mas
quando contava-se alguma história triste, ou quando alguma revelação inesperada
era feita, o silêncio na sala era aterrador, a tensão inevitável e as
expressões de espanto, pena ou medo eram certas. Tudo isso por que Nilson e sua
família são pessoas como quaisquer outras, são homens e mulheres comuns que
vivem todos os problemas e todas as felicidades que qualquer um de nós pode
vivenciar. E, mesmo que com uma dose de humor, revelar a vida nua e crua, como
ela realmente é, sempre causará espanto e balançará o mais profundo eu de cada
ser humano.
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