quinta-feira, 30 de julho de 2015

BIOGRAFIA: INGMAR BERGMAN - PARTE I (1918 - 1969)

No dia 14 de julho, o cineasta Ingmar Bergman teria completado 98 anos de vida. Entretanto, o sueco morreu em 2007, completando, hoje, 8 anos desde sua morte. Confira, a biografia de um dos mais enigmáticos cineastas da história do cinema. Ingmar Bergman é um dos maiores cineastas da carreira do cinema, comparado a musicistas como Beethoven ou Dostoyevsky, nada mais justo que essa ser a 500ª postagem do blog!



Em 14 de julho de 1918, a enfermeira Akrin Akerblom deu à luz o segundo filho com o pastor luterano Erik Bergman. Ernest Ingmar Bergman era mais novo que Dag e mais velho que Margareta, que viria quatro anos depois. Dois anos antes dela nascer, a família se mudou para Estocolmo. Durante sua infância, como o próprio diretor relataria, sofreu com o autoritarismo do pai, que chegou a trancá-lo num armário para ensiná-lo a se comportar. Tal fato, foi relembrado pelo protagonista do filme A Hora do Lobo (1968). “Era um tipo de castigo”, disse o pintor Johan, interpretado por Max von Sydow, “Eu estava muito assustado. Eu chutava e batia na porta, porque tinham me dito que havia um anão que vivia naquele armário e que roía os dedos dos pés das crinças travessas”. Em sua biografia, Bergman também conta sobre um episódio, aos dez anos, em que ficou trancado em um necrotério, o que, claro, também estimulou suas ideias mais tarde, inspirando-o para os roteiros de A Hora do Lobo, Persona e Gritos e Sussurros.

Rumo à Felicidade (1950)
Dois anos depois do ocorrido no necrotério, o menino foi, pela primeira vez, a uma peça de teatro: Stor Klas och Lill Klas (Grande Noel e Pequeno Noel). Fascinado, aos 20 anos, Ingmar entrou para a Universida de Estocolmo e, logo em seu primeiro ano, dirigiu sua primeira peça. Daí por diante, o futuro cineasta começou a se dedicar a fundo no teatro, passando a montar cerca de seis peças por ano. Desde as peças, os trabalhos de Bergman já eram notáveis e era surpreendente ver alguém trabalhando tanto em projetos de tanta qualidade. Após ser contratado pela produtora Svensk Filmindustri e escrever o roteiro e atuar como assistente de direção de Hets (1944), de Alf Sjöberg, entre julho e agosto de 1945, Bergman gravou seu primeiro longa. Crise foi lançado em fevereiro do ano seguinte. No mesmo ano, Bergman filmou e lançou Chove sobre nosso Amor (1945), primeiro filme com o ator Gunnar Björnstrand, com quem faria 19 filmes no cinema e na televisão. Entre 1947 e 1950, foram lançados sete longas: Um Barco para a Índia (1947), Música na Noite (1948), Porto (1948), Prisão (1949), Sede de Paixões (1949), Rumo à Felicidade (1950) e Isso Aconteceria Aqui (1950).

Monika e o Desejo (1953)
Em 1951, devido a uma greve na indústria de cinema sueca, Bergman dirigiu comerciais para a marca de sabonetes Bris. O trio realizado na primeira metade da década de 1950 foi que trouxe o reconhecimento internacional a Bergman, então com 33 anos: Juventude (1951), Monika e o Desejo (1953) – concebido especialmente para Harriet Andersson, atriz com quem Bergman voltaria a trabalhar oito vezes - e Sorrisos de uma Noite de Amor (1955) – primeiro longa com Bibi Andersson, com quem realizou dez filmes. Entre eles, ainda foram realizados Quando as Mulheres Esperam (1952), Noites de Circo (1953), Uma Lição de Amor (1954) e Sonhos de Mulheres (1955). Na sequência, dois dos filmes mais importantes do cineasta foram lançados: O Sétimo Selo (1957) – primeira de treze parcerias com o ator Max von Sydow – e Morangos Silvestres (1957) – protagonizado por Victor Sjöström, um dos cineastas precursores do cinema sueco, e com Ingrid Thulin, atriz com quem faria mais sete filmes. Ambos os longas retratam os medos e anseios do cineasta na época: enquanto o primeiro apresenta seu medo da Morte – personificando-a em um personagem e questionando o papel de Deus -, o outro apresenta a conformidade da morte e o medo da vida, apresentando um protagonista idoso frustrado com a vida pessoal, amargurado e solitário. O final da década de 50 e início da década de 60, vieram No Limiar da Vida (1958), O Rosto (1958), A Fonte da Donzela (1960) e O Olho do Diabo (1960). Destacando-se o tema materno abordado no primeiro e a volta do tema religioso como poucas vezes visto em A Fonte da Donzela, dois filmes que, curiosamente, foram escritos pela roteirista Ulla Isaksson, única com quem Bergman trabalhou.

O Sétimo Selo (1957)
A década de 1960 continuou com importantes filmes do cineasta: Através de um Espelho (1961), Luz de Inverno (1936) e O Silêncio (1963) que, juntos, formam o que ficou conhecida como a Trilogia do Silêncio. O conjunto, segundo Mesquita (2006), “possui uma densidade considerável e um aprofundamento  nas questões existenciais. Aqui há a predominância da simplicidade”, são um conjuntos de filmes “desnudos de qualquer metáfora ou outras figuras de linguagem. São filmes diretos. As questões estão realisticamente presentes e não carecem de interpretações.” Questões como sexualidade, crenças religiosas, conflitos internos, medos, dúvidas que, antes, eram representadas por objetos, frases de efeito ou por personagens “reais” – tal qual a Morte em O Sétimo Selo. Na sequência, Bergman continuou seu abandono pela psiqué masculina, dedicando-se às mulheres em Para não Falar de Todas Essas Mulheres (1964) e Persona (1966). Este, tornou-se a obra mas cultuada da carreira do diretor, uma vez que, como apontou Azeredo, é um “filme inovador que já nasceu clássico – no qual o autor se distancia de suas anteriores preocupações metafísicas. É sua obra mais distante dos cânones do cinema narrativo, mais desafiadora pela complexidade formal e aberta a interpretações do espectador.” Persona é, portanto, um dos principais pontos de paradas no qual Bergman chegou no caminho que percorreu durante sua carreira. De uma forma ou outra, tudo apontou para a realização desse filme, o mais instigante de sua carreira. A década terminou com A Hora do Lobo (1968) – onde voltou aos questionamentos do homem sobre passado, presente e futuro -, Vergonha (1968) – relato de como o ser humano se comporta durante uma guerra - e A Paixão de Ana (1969) – sobre o relacionamento de um eremita que vive isolado e uma mulher casada. 

Persona (1966)
Fontes:
MANDELBAUM, Jacques. Ingmar Bergman – Masters of Cinema – Cahiers du Cinéma. 2ª ed. Phaidon, 2011.
CASTAÑEDA, Alessandra; LUCCAS, Giscard; ZACHARIAS, João Cândido (org.). Ingmar Bergman; 1ª ed. Rio de Janeiro: Jurubeba Produções, 2012.
ACHED, Jan. O Cinema Segundo Bergman. p. 72 – 77 Revista Bravo! Ano 6 Ed. D’Avilla, LTDA., 2002. 
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