A vida como ela realmente é no melhor do
estilo cinema europeu.
Nota: 9,7
Título Original: Le Concert
Direção: Radu Mihaileanu
Elenco: Aleksey Guskov, Dmitri Nazarov,
Mélanie Laurent, Fronçois Berléand, Miou-Miou, Veleriy Brinov,Lionel Abelanski,
Vlad Ivanov, Laurent Bateau
Produção: Alain Attal
Roteiro: Radu Mihaileanu, Alain-Michel
Blanc, Matthew Robbins, Héctor Cabello Reyes e Tierry Degrandi
Ano: 2009
Duração: 119 min.
Gênero: Comédia / Drama
Andrey Filipov foi, há 30 anos, o
renomado regente da Orquestra do Teatro Bolshoi – uma das mais importantes da
Rússia -, mas acabou demitido por problemas políticos do país e continuou no teatro
trabalhando como auxiliar de limpeza. Hoje, a orquestra é composta por músicos
terríveis, pois àquela, outrora regida por Filipov, dispersou-se e nunca mais
voltou a se encontrar. Quando apenas o faxineiro descobre um convite para a
orquestra tocar no parisiense Châtelet Theater, ele decide reunir seus antigos
companheiros e formar uma orquestra de verdade para tocar ao lado da exímia
solista de violino Anne-Marie Jacque. Agora, só resta convencer os músicos e
enganar uma ou outra pessoa, para que, dessa forma, Filipov possa realizar o
maior desejo de sua vida particular.
Quando falo sobre o cinema europeu,
costumo dizer que os filmes ingleses são aqueles que possuímos de mais
tradicional e histórico, o cinema alemão costuma seguir a linha mais crítica e
reflete sobre ideologias políticas, econômicas e sociais, o italiano faz a vez
das obras de artes mais extravagantes – mas nem por isso menos belas-, os
espanhóis são mais simples e gostam de trazer a vida cotidiana, o cinema
francês, por fim, costuma nos apresentar filmes belos como a vida realmente
deve ser, produções divertidas, mas que tocam lá no fundo de nossas almas, e esse
filme não foge a regra. Tenho que destacar o fato de o filme ser uma produção
francesa e russa, contando ainda com o diretor e roteirista romeno e
roteiristas franceses, americano e chileno, indispensável dizer o quanto o
filme trás uma diferença de culturas totalmente agradável. O diretor Rahu
Mihaileanu dirigiu dois filmes que fizeram sucesso dentro da Europa e em
festivais pelo resto do mundo: “Trem da Vida” (1998) e “Um Heroi do Nosso
Tempo” (2005), em “O Concerto” ele nos proporciona não somente um história, belíssima,
mas também uma técnica original e preciosa em um filme que deveria ser
totalmente simples e se transforma em uma obra.
Aleksey Guskov é Andrey Filipov, logo na
primeira cena simpatizamos com o ator e com a personagem: Filipov, o faxineiro,
está assistindo ao ensaio da nova orquestra Bolshoi, mas ele não assiste
apenas, ele se sente como se ainda fosse o regente do grupo. Guskov é mais
conhecido por seus trabalhos para televisão, o que não significa incompetência
no cinema; muito pelo contrário: o ator é vivo, e consegue expressar de forma
fantástica os anseios e medos de sua personagem. Mélanie Laurent, oriunda de
“Bastardos Inglórios” (2009), é a bela Anne-Marie Jacque, a personagem virá a
se tornar o centro da história, e isso fará com que seja exigido da atriz uma
melodramaticidade bem diferente da conferida em “Bastardos”, mas, igualmente ao
filme de 2009, não há como se decepcionar ou deixar de se apaixonar por
Laurent, não apenas por sua beleza francesa, mas pela qualidade de seu
trabalho. Ao lado da jovem atriz, está a veterana do cinema francês Miou-Miou,
que interpreta a mulher que cuidou, e ainda cuida, de Anne-Marie, Guylène,
apesar de aparecer pouco no filme, a atriz consegue ser maravilhosa em cada uma
de suas pequenas cenas. Dmitri Nazarov, bem como o protagonista e a maior parte
do elenco, é um ator desconhecido, mas que interpreta de forma inigualável o
atrapalhado violoncelista Sasha, o melhor amigo de Filipov. Citar todos os
outros integrantes da orquestra é impossível, portanto, me atenho a dizer que
são todos atores muito talentosos, claramente mais velhos e experientes, que
nos arrancam inúmeras gargalhadas e nos fazem suspirar e arrepiar com a
principal cena do filme.
No final das contas, o que nos é
apresentado aqui não são aquelas comédias enjoativas típicas da TV e do cinema
americano, temos aqui uma história baseada naquilo que a vida pode realmente
ser, ninguém se passa por um palhaço ou tenta ser o mais estranho possível,
cada personagem é única, simples, comum, e, nem por isso deixam de ser
divertidos; mas também não somos abrigados a assistir duas cansáveis horas de
um drama extremamente triste e deprimente, com personagens que apenas vêm seu
mundo desabar e não fazem absolutamente nada para mudar isso. Portanto, o que
nos é apresentado é uma representação perfeita da vida, nada de muito drama,
mas também nenhum senso cômico exagerado, apenas a vida como ela é: uma
deliciosa comédia de acertos e erros.
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