O primeiro destaque de Fincher no cinema
não podia ser menos que excelente.
Nota: 9,3
Título Original: Se7en
Direção: David Fincher
Elenco: Morgan Freeman, Brad Pitt, Gwyneth Paltrow, Kevin Spacey, R. Lee
Ermey, Daniel Zacapa, John Cassini, Bob Mack, Peter Crombie, Reg E. Cathey
Produção:
Roteiro: Andrew Kevin Walker
Ano: 1995
Duração: 127 min.
Gênero: Drama / Thriller
Enquanto o detetive William Somerset
está se aposentando e deixará o ofício, o jovem David Mills chega na cidade
para ficar em seu lugar. Somerset é um homem velho e sozinho, nunca teve
família e vive sua vida de forma pacata e tranquila; Mills, no entanto, está
casado e planeja formar uma família no futuro. O que nenhum deles esperava é
que o gênio calmo de Somerset e o gênio impetuoso de Mills teriam de se unir
para desvendar o caso de um homem que parece fazer suas vítimas procurando
nelas algum dos sete pecados capitais: gula, luxúria, ira, inveja, avareza,
vaidade e preguiça.
Desde o início do século XIV a Santa
Igreja Católica definiu que o ser humano pecava de sete formas horrendas que o
fariam jamais atravessar os portões do céu, e sim, fazer com que fossemos
recebidos de braços abertos no inferno. São eles: gula (o desejo insaciável por
tudo), avareza (apego descontrolado pelo que é material), luxúria (apego ao prazer
material e sensual), ira (raiva e ódio descontrolados), inveja (priorizar o que
é alheio, ignorando a si próprio), preguiça (vadiagem, negligência, desgosto
pelo trabalho e pela servidão) e, por fim, vaidade (orgulho, arrogância,
soberba). Durante os anos cada pecado foi sendo associado a uma ou outra
atitude, e é nessa associação que o
filme se centra, só para dar um exemplo: o pecador guloso, logo no início da
trama, morre comendo demais, literalmente até seu corpo explodir. Esse é só o
começo, a criatividade do roteirista Andrew Kevin Walker vai muito além disso
e, para cada pecado, temos uma morte original, diferenciada e tipicamente
atribuída a algum assassino daqueles que acreditam estar cometendo tais
atrocidades em prol de melhorar o mundo, ou seja, fazendo tudo em nome de Deus.
Fincher, como diretor, tem o papel de representar cada morte perfeitamente, e é
nessas representações que o filme se torna tão bom e atinge seu auge, pois,
muito além de proporcionar o melhor do gênero thriller, nos faz refletir sobre
nossa existência e nossas escolhas. Esse foi o primeiro grande filme de David
Fincher e foi a partir daqui que ele traçou sua carreira para deixar um pouco
de lado os clipes musicais (foi um dos preferidos de Madonna e de George
Michael) para dedicar-se mais ao cinema e dirigir três dos melhores filmes dos
últimos anos: “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008), “A Rede Social”
(2010) e “Millenium – Os Homens que não Amavam as Mulheres” (2013). Com “Seven”,
portanto, o diretor mostra a que veio e nos presenteia com uma produção
tipicamente sua: sem nada de terror imaginário, mas que mexe com nossa alma e
nos traz um misto inacreditável de sensações.
Morgan Freeman é o tipo de ator que
dispensa apresentações, completando cem títulos em seu currículo como ator em
2014, ele iniciou sua carreira há 48 anos e, desde então esteve em produções de
drama, ação, policial, comédia, terror, thriller, romance e documentário e
conquistou a fama de ser um dos melhores atores da indústria moderna do cinema.
Aqui ele é o velho Somerset, um homem cansado que se vê um pouco perdido quando
precisa decidir o que quer fazer de sua vida, mas é também por competência de
Freeman que sabemos pouco sobre tal personagem, por, em vários momentos, as
feições do ator denotam que Somerset possui um passado que ninguém conhece,
talvez um que ele prefira não lembrar, ou, simplesmente, um passado triste que
não é da conta de ninguém além dele. Brad Pitt, por motivos diferentes de
Freeman, não precisa de tantas apresentações, ator há 25 anos, parece-me que
apenas ao lado de Fincher ele consegue chegar aos pontos máximos de suas
atuações e ser um ator realmente agradável de se assistir no cinema, que não se
torna repetitivo ou clichê demais. Como o detetive Mills, ele é perfeitamente
nervoso e traz o típico homem que não sabe o que fazer ao certo de sua vida,
mas que procura pela felicidade como qualquer outro. Digo apenas uma palavra
sobre a atuação de Kevin Spacey, e a digo com muito pesar por achá-lo um
excelente ator: decepcionante.
Por fim, Freeman e Pitt acabam formando
uma bela dupla no cinema, não por estarem tão bem em seus respectivos papeis,
mas por darem vida tão perfeitamente a duas pessoas totalmente diferentes que
possuem desejos em comum. Com esse filme, estamos diante de uma crítica imensa
que mostra como o mundo seria mais perverso ainda se todos acreditássemos em
tudo o que nos é pregado pelas igrejas, afinal, se apenas nós podemos nos
arrepender daquilo que fazemos, somente nós podemos refletir e decidir
realmente o que é, e o que não é pecado, ou será que Deus está tão acima de nós
para Ele decidir o que podemos ou não fazer? E se Ele pode tomar essas
decisões, quem deve ter o direito de interpretá-las? Nós ou a Igreja?
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