Uma ótima diversão como somente Russel
poderia proporcionar.
Nota: 9,2
Título Original: American Rustle
Direção: David O. Russel
Elenco: Christian Bale, Amy Adams,
Bradley Cooper, Jeniffer Lawrence, Jeremy Renner, Robert DeNiro, Louis C. K. ,
Jack Huston, Michael Peña, Shea Whigham, Alessandro Nivola, Elisabeth Rohm,
Paul Herman, Said Taghmaoui, Matthel Russell, Thomas Matthews, Adrian Martinez,
Anthony Zerbe
Produção: Megan Ellison, Jonatha Gordon, Charles Roven, Richard Suckle
Roteiro: David O. Russel e Eric Warren
Singer
Ano: 2013
Duração: 138 min.
Gênero: Comédia / Crime
Irving Rosenfeld, casado com a jovem
Rosalyn, é um trapaceiro de mão cheia que acaba de conhecer a sonhadora Sydney.
Juntos, eles armam um plano para arrancar dinheiro de pessoas indefesas: ela
finge ser uma Lady inglesa com contatos nos bancos britânicos e ele representa
um investidor. Quando o casal é descoberto pelo agente federal Richard DiMaso,
tornam-se peças importantes de um jogo que pretende relevar a corrupção em Nova
Jersey. Entretanto, a natureza de Irving, o amor de Sydney, a ganância de
Richard e a loucura de Rosalyn são fatores que podem lançar todo esse plano
improvável pelos ares.
Como mostrado em “O Lobo de Wall Street”,
film de Martin Scorsese, Irving e Sydney são duas pessoas sem escrúpulos que só
se importam em ganhar dinheiro e em gastar o que ganham com uma vida
confortável. Bem como o agente federal do longa de Scorsese, aqui, Richard
deseja pegar todos de uma vez: quer peixes grandes e pequenos, quer tubarões e
baleias, quanto mais criminosos do colarinho branco, melhor. E, assim, esses
dois filmes estão aí para provar o quanto a criminalidade, a trapaça, o suborno
e a mentira fizeram e fazem parte da construção dos Estados Unidos da América. Além
disso, não podemos deixar de verificar semelhanças entre o filme de David. O.
Russel e os filmes ao longo da carreira de Scorsese, e acabamos verificando que
“Trapaça” acaba sendo uma grande homenagem ao mestre da sétima arte. Quando
Richard propõe a Irving e Sydney que eles o ajudem a capturar outros quatro
criminosos, ele oferece liberdade em troca. Todavia, Richard começa a enxergar
que toda a corrupção não passa de uma enorme bola de neve: quando se corrompe
um, logo, este irá corromper mais dois e, de repente, como num piscar de olhos,
toda uma nação poderá ser corrompida. Nesse contexto, é curioso lembrar que
Irving não se tornou um trapaceiro por acaso. Desde criança ele já era um
cirminoso: sue pai tinha uma vidraçaria e, para que os negócios do pai
prosperassem, ele saia pelo bairro quebrando vidros alheios. Ademais, vemos um
reflexo de toda essa loucura: Rosalyn Rosenfeld. A esposa de Irving é
completamente perturbada, uma mulher sem noção de nada o que acontece a sua
volta de forma real. Ela sabe tudo o que está acontecendo, tem os ouvidos bem
abertos, mas não compreende nada, não sabe da gravidade do que seu marido faz,
muito menos da gravidade que as palavras saídas de sua boca podem gerar.
Rosalyn foi “resgatada” por Irving quando ela se tornou mãe solteira, e ele
acabou adotando seu filho, uma vida que mantêm o casal unido.
David O. Russel conquistou público, crítica e prêmios por seu ótimo trabalho em “O Lutador” (2010), filme que contava com Christian Bale e Amy Adams no elenco e que venceu dois Oscar, incluindo um pela interpretação de Bale, e foi indicado em outras cinco categorias, incluindo a de melhor atriz coadjuvante para Adams. Depois, foi a vez de Russel voltar com toda a força liderando o melhor filme do ano de 2012: “O Lado Bom da Vida”, protagonizado por Jennifer Lawrence e Bradley Cooper, ambos indicados ao Oscar, ela, vencedora do prêmio de melhor atriz. “Trapaça” reúne os dois elencos, invertendo os papeis: aqui, Bale e Adams são os protagonistas, e Cooper e Lawrence os coadjuvantes. Arriscando um pouco, ainda diria que a própria trapaça divide a tela com esse time ótimo, sendo o principal componente, o principal personagem do longa. O problema aqui, é que Russel imaginou que, reunindo seus astros de filmes anteriores, ele teria um filme ainda melhor que outros. Erro do diretor. “Trapaça” é tão bom quanto “O Lutador”, mas não chega perto de “O Lado Bom da Vida”. O filme é bom, com fotografia ótima, edição precisa e ágil, trilha sonora característica, figurino belíssimo e atuações impressionantes de astros em alta no mercado. No entanto, o roteiro é confuso, forçado e chato em alguns momentos, os personagens são exagerados e o desenrolar da trama não possui aquele tom agradável, sutil e interessante de “O Lado Bom da Vida”. Por fim, é preciso dizer que o diretor homenageia os grandes filmes de Scorsese, como “Os Bons Compnaheiros” (1990) , mas está longe de se igualar à obra da década de 90.
Christian Bale é conhecido por sua
habilidade incomparável de mudar fisicamente para viver personagens. Irving é o
único personagem criado na medida certa pelos roteiristas e desenvolvido da
mesma forma por Bale. Talvez por isso, em meio a tantos personagens exóticos e
exagerados, a interpretação do ator esteja um pouco apagada, mas é a melhor do
longa. Bale é natural vivendo um trapaceiro que está enlouquecendo por ter de
deixar seus ideias de lado e enganar pessoas que ele considera corretas. Também
não é do agrado do personagem servir ao FBI, e isso fica claro com as feições
de Bale mais que qualquer coisa. Amy Adams está sexy, bela e inteligente como
Sydney, entretanto, está over demais. Suas cenas iniciais são ótimas, pois a
atriz se mostra natural e muito animada com a vida que Sydney tem levado.
Quando ela e o parceiro são pegos, a atriz está igualmente boa, porém, com o
passar da trama, Adams não consegue segurar as pontas de viver uma mulher
desesperada que está tentando superar os problemas, restando apenas alguns
poucos momentos para que possamos ver o quanto a atriz é competente. Bradley
Cooper vive Richard DiMaso, da mesma forma que Adams passa um pouco dos
limites, Cooper se torna obsessivo e louco demais, exagerando em cenas onde
devia ser mais contido. Mesmo assim, restam alguns momentos onde lembramos por
que Cooper chegou a ser citado como um dos favoritos ao Oscar no ano passado.
Jennifer Lawrence é uma Rosalyn completamente desequilibrada. A personagem
lembra um pouco a que rendeu à Lawrence o Oscar por “O Lado Bom da Vida”:
existem momentos de paz e tranquilidade, até que ela se descontrola e vira uma
completa maluca. Sua melhor cena é sua interpretação memorável de “Live and Let
Die”. Para completar o time, está Jeremy Renner, interpretando o Prefeito
Carmine Polito, um bom homem que foi corrompido pela política. A interpretação
de Renner, como a de Bale, vem na medida certa: é simples, natural e ótima.
O filme é o recordista de indicações ao
Oscar esse ano, ao lado de “Gravidade”, concorre em dez categorias. De forma
curiosa, segue os passos de “O Lado Bom da Vida”, arrebatando indicações como
na direção, nas atuações e no roteiro. Como melhor filme do ano, “Trapaça” está entre os três favoritos,
concorrendo com “Gravidade” e “12 Anos de Escravidão”, longas poderosos que vem
lutando praticamente sozinhos durante toda a temporada. David O. Russel recebe
sua terceira indicação à premiação como melhor
diretor. Apesar de seu trabalho ser excelente, o prêmio já está,
praticamente, nas mãos de Alfonso Cuarón, que criou novos sistemas e formas de
utilizar as câmeras para a perfeição técnica vista em “Gravidade”. Russel, ao
lado de Eric Warren Singer, também é indicado como melhor roteiro original, o prêmio, ao que tudo indica, será
consquistado por “Ela”, o melhor roteiro do ano sem dúvidas. Christian Bale é
indicado como melhor ator, apesar de
sua interpretação ser ótima, a briga está entre Chiwetel Ejiofor, por “12 Anos
de Escravidão”, e “Matthew McConaughey, por “Clube de Compras Dallas”. Amy
Adams surpreendeu ao desbancar Emma Thompson e ser indicada como melhor atriz, apesar de ser querida
pela Academia, o prêmio já está, certamente, nas mãos de Cate Blanchett por seu
trabalho impecável em “Blue Jamsine”. Cooper recebe sua primeira indicação ao
prêmio como melhor ator coadjuvante,
apesar de ser um dos melhores atores no páreo, é tão certo que o prêmio irá
para Jared Leto, por “Clube de Compras Dallas”, quanto um mais um são dois.
Lawrence também recebe sua primeira indicação como melhor atriz coadjuvante, apesar de está muito bem no longa, a
atriz não supera a magnitude encontrada em Lupita Nyong’o, indicada por “12
Anos de Escravidão”. A categoria é a uma das mais incertas do ano. O figurino
de Michael Wilkinson é indicado como melhor
figurino do ano, e a equipe artística como
melhor direção de arte, apesar de trabalhos impressinantes, os prêmios
parecem estar entre os filmes de época: “O Grande Gatsby” e “12 Anos de
Escravidão”. “Trapaça”, apesar de estar sendo visto como o provável maior
perdedor do ano, ganhou força na categoria de melhor edição ao sair como um dos vencedores do Sindicato dos
Roteiristas. Jay Cassidy, Crispian Struthers e Alan Baumgarten trazem uma
edição deliciosa e muito bem feita, um a das melhores do ano.
Esse ano, concluí que podemos dividir os
filmes indicados ao Oscar entre aqueles que passam mensagens belas sobre a vida
e aqueles que são, puramente, o excercício da Sétima Arte. “Trapaça” é um
grande exercício da sétima arte, diga-se de passagem. Com interpretações
bonitas, figurino, maquiagem e cabelos estonteantes, trilha sonora divertida,
direção agradável, roteiro interessante e edição ágil e inteligente, o filme é
uma excelente desculpa para ir ao cinema. Para finalizar, o filme ainda possui
personagens interessantes e que chamam a atenção, personagens com os quais até
poderemos no sidentificar em algum momento. Seres humanos de verdade que possuem
sua natureza e não parecem dispostos a mudá-las. A natureza de Irving é ser um
trapaceiro, a de Sydney é se entregar para o amor, a de Richard é de querer
sempre mais, e a de Rosalyn é de ser uma completa descontrolada. Esse é o tipo
de filme que vale a pena ir ao cinema conferir, pois possui tantos detalhes
artísticos que somente a telona do cinema poderá proporcionar uma diversão
completa. Aliás, é bem disso que esse filme trata: “Trapaça”, como sugere o
nome, é uma boa diversão, nada além disso.
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