sábado, 15 de fevereiro de 2014

028. (ESPECIAL OSCAR 2014) A CAÇA, de Thomas Vinterberg

Vinterberg e Mikkelsen criam uma atmosfera de incerteza, violência e temor, criando um dos melhores filmes do ano.
Nota: 9,5


Título Original: Jagten
Direção: Thomas Vinterbe
Elenco.. Mads Mikkelsen, Thomas Bo LArsen, Annika Wedderkopp, Lasse Fogelstrom, Susse Wold, Anne Louise Hassing, Lars Ranthe, Alexandra Rapaport, Sebastian Bull Sarning, Steen ORdell Guldbrand Jensen, Daniel Engstrup, Troels Thorsen, Soren Ronholt
Produção: Sisse Graum, MArten Kaufmann, Thomas Vinterberg
Roteiro: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg
Ano: 2012
Duração: 115 min.
Gênero: Drama

Lucas vive em um pequeno vilarejo na Dinamarca. Lá, todos se conhecem, sabem um pouco da vida de cada um e se envolvem nos mesmos eventos e acontecimentos. As comemorações de final de ano, os feriados religiosos, as festas típicas da região são acompanhadas por todos os moradores e são os momentos em que todos passam juntos. Lucas é professor em uma escola primaria e ainda enfrenta os problemas do divorcio recente. Mas é quando a pequena Klara, filha do melhor amigo do professor, o acusa de a ter violentado sexualmente é que o inferno da vida desse homem começa. E para piorar todas as crianças da tal escola resolvem acusa-lo do mesmo crime.


Lucas é um homem comum, de muitas faces: enfrenta as consequências de um divórcio conturbado com a mãe de seu filho, sofre por ter perdido o emprego na escola de ensino médio que acaba de fechar, possui dúvidas quando às atitudes que deve tomar com o filho adolescente, acaba de iniciar um relacionamento sem nenhuma certeza. Para piorar toda a situação, a filha de seu melhor amigo, uma criança que não sabe nada da vida, parece estar tendo uma paixão infantil e pura por ele, e é por ele, obviamente, não corresponder a essa paixão, que ela acaba acusando-o de ter mostrado o pênis a ela. Ou será que essa acusação possui algum fundamento? Com o tempo, não é apenas Klara que confirmará tal história, mais e mais colegas começarão a falar sobre como era o porão para o qual eram levados por Lucas. E é essa dúvida e as sacadas escondidas em cada canto desse pequeno vilarejo que está o que faz desse filme um dos melhores do ano. O título do longa já é uma dica maravilhosa do que esta por vir, e as caçadas tradicionais realizadas pelos personagens nos dizem muito sobre cada detalhe do filme. Somos levados, pelas circunstancias, a crer que Lucas é inocente. Mas e as feições do homem, que ora demonstram medo de ser preso por algo que não cometeu, ora demonstram raiva por estar tão acuado? Lucas, o homem conhecido por todos que cresceu ali mesmo, estaria sofrendo uma falsa acusação ou teria se tornado um homem perverso capaz de tais atos? Deixando o espectador ainda mais confuso, toda a população do vilarejo se volta contra o protagonista: sua cachorra é assassinada, pedras são jogadas em sua casa, Lucas chega a ser preso após as denúncias. Entretanto, o padrinho de Markus, filho de Lucas, ainda está ao lado do amigo e o apoia todos os momentos, afirmando, sem dúvida alguma, que tudo não passa de um mal entendido.


Não conheço o trabalho de Thomas Vinterberg para traçar parâmetros de comparação entre “A Caça” e algum de seus outros filmes. O que posso dizer é que o trabalho do dinamarquês é incrível. As tomadas são intensas e muito precisas. Vinterberg sabe como capturar os movimentos dos personagens, escolhe ângulos que exprimam os sentimentos de todos os personagens envolvidos na trama. Ao lado de Mikkelsen, apresenta-nos a criação de um personagem impecável, totalmente humano. A combinação das feições do ator com as filmagens do diretor nos revelam detalhes que poucos cineastas conseguem expressar em um filme. O ambiente em que o longa foi filmado também ajuda: a pequena cidade é um lugar pacato, silencioso, aparentemente seguro de todos os males que assolam a humanidade. O frio do outono e inverno dinamarquês contribui ainda mais para criar uma atmosfera de dúvida e conflito. O diretor sabe como escolher a forma a utilizar a câmera em cada tomada, ora deixando-a totalmente parada, ora acompanhando os intérpretes com a câmera de mão (que cai como uma luva no filme). Como foi feito no longa “Dúvida” (2009), somos levados a crer em apenas uma verdade durante todo o filme. No caso do longa de 2009, o padre acusado de violência sexual parece ser culpado. No caso de Lucas, ele parece ser inocente de tudo o que as crianças o acusam. Vemos suas boas amizades e como a cidade o admira. Ele é, desde o início do filme, apresentado como uma vítima: Lucas trabalha em uma escola de ensino infantil, um trabalho nada digno para um professor que ensinada adolescentes. Ainda assim, ele está feliz, se diverte com as crianças e tem jeito para tudo. Por fim, a relação com seu filho é tão bonita que o garoto acredita na inocência do pai do começo ao fim.


Mads Mikkelsen é, se dúvida alguma, um dos melhores atores “estrangeiros” da atualidade, ou seja, um dos melhores atores não nascidos na América. Popularizado em todo o mundo após o lançamento do filme “007 Cassino Royale”, o ator se destaca em qualquer filme que aparece. Aqui, ele vive o protagonista Lucas. É sua a façanha de nos surpreender a cada cena e de nos dar a certeza e a dúvida, simultaneamente, de sua culpa ou de sua inocência. Mikkelsen interpreta esse homem de muitas faces, e é a beleza com a qual todas elas são mostradas que está a perfeição de sua interpretação. As feições e a entonação da voz do ator expressam todos os sentimentos que Lucas sente: fúria, medo, dor, indignação. Ainda é responsabilidade dele dar a dúvida em alguns momentos quanto às veracidades dos fatos. Dividindo a tela com Mikkelsen de forma inacreditável está a pequena Annika Wedderkopp, que vive Klara. Sempre que assisto longas onde crianças sofrem com coisas desse tipo me interesso pela forma como será o desenvolvimento dos pequenos. É óbvio que não é uma coisa simples para uma criança tornar verdade tudo o que Klara conta sobre Lucas, e Annika transpira pureza, simplicidade e verdade. Marcus é interpretado por Lasse Fogelstrom, um jovem que dá conta do recado mais que o esperado ao apresentar um garoto que sofre com a acusação de que o pai violentou uma criança. A cena em que a cachorra deles é assassinada e quando ele vai conversar sobre as acusações com o pai de Klara mostram o quanto um jovem pode ficar perturbado na situação na qual Marcus se encontra. Theo é vivido por Thomas Bo Larsen, outro grande presente do longa, pois é dele a responsabilidade de viver o melhor amigo de Lucas, portanto, é ele quem apresenta o homem desconfiado, que deseja, acima de tudo, que toda a história contada por Klara seja mentira. O ator oscila entre cenas alegres, outras tristes e outras de fúria. Theo é o único pai das crianças do colégio que sente alguma compaixão por Lucas, é o único que acredita, ao menos um pouco, nas palavras do amigo.



Por si só, o título, como disse, de “A Caça” já diz muito sobre o longa. A população caça Lucas pelas acuações que foram feitas, a ex-esposa de Lucas o caça por não querer que o filho deles chegue perto dele enquanto tudo não se resolve, as crianças caçam Lucas afirmando que foram levados a um porão e violentados sexualmente pelo professor, os amigos de Lucas o caçam por acharem que foram enganados esses anos todos e que Lucas não passa de um homem desonrado. No interior de Lucas, algo com a mesma violência e fúria de uma caça o assola. Durante o longa, como disse, não nos restam dúvidas: Lucas é inocente. Entretanto, a genialidade de Mikkelsen propõe refletirmos sobre isso. Seus ataques de raiva são por que está sendo julgado ou apanhado? E Lucas? É um bom homem? Foi a sociedade que o corrompeu, ou ele sempre um ser agressivo? Ou tudo isso não passa de um mal entendido e Lucas é a vítima da fértil imaginação de algumas crianças que, sem muito para fazer ou dizer em suas vidinhas na pequena cidade resolveram achar uma forma de chamar a atenção? Todos esses questionamentos, a violência, a realidade, as grandes interpretações, o roteiro ágil e criativo, o ambiente em que os personagens vivem e a preciosa direção de Vinterbe proporcionam, nada mais, nada menos que um dos melhores filmes de 2014. Se não o melhor.

VENCEDORES DO EDA
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Dallas Buyers Club
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Elenco: Trapaça
Melhor Roteiro Adaptado: John Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro Original: Spike Jonze, por Ela
Melhor Documentário: Stories We Tell
Melhor Edição: Alfonso Cuarón e Mark Sanger, por Gravidade
Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezi, por Gravidade
Melhor Trilha Sonora: T-Bene Burnett, por Inside Llewyn Davis
Melhor Filme Estrangeiro: A Caça
PRÊMIO DA SOCIEDADE DE CRÍTICOS DE FILME DE NEVADA
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Matthew McConaughey, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz: Meryl Streep, por Álbum de Família
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Elenco: Álbum de Família
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Direção de Arte: O Hobbit: A Desolação de Smaug
Melhor Fotografia: Gravidade
Melhores Efeitos Visuais: Gravidade
ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poderá gostar também de: