sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

029. (ESPECIAL OSCAR 2014) WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS, de John Lee Hancock

Tudo poderia ser bem mais belo se a história contada fosse mais real.
Nota: 8,0


Título Original: Saving Mr. Banks
Direção: John Lee Hancock
Elenco: Emma Thompson, Tom Hanks, Annie Rose Buckley, Colin Farrell, Ruth Wilson, Paul Giamatti, Bradley Whitford, B. J. Novak, Jason Schwartzman, Lily Bigham, Kathy Baker, Malanie Paxson, Andy McPhee, Rachel Griffiths, Ronan Vibert, Jerry Hauck, Laura Waddell, Fuschia Summer, David Ross Paterson, Michelle Arthur
Produção: Ian Collie, Alison Owen, Phillip Steuer
Roteiro: Kelly Marcel e Sue Smith
Ano: 2013
Duração: 125 min.
Gênero: Biografia / Drama / Comédia

Em 1964, Walt Disney lançou um de seus maiores filmes no cinema , que teve uma estreia histórica, com toda a pompa que somente a Disney podia oferecer na época: bonecos andando por todos os lados, pessoas famosas vestidas em roupas caras e elegantes, limusines chegando de todos os lados, todos para ver Julie Andrews na adaptação “Mary Poppins”. Era a primeira aparição de Andrews no cinema, e o último filme produzido por Walt Disney a ser indicado ao Oscar de melhor filme. Mas o homem que ganhou 22 Oscars e recebeu outras 29 indicações e que produziu mais de 650 títulos em apenas 45 anos de carreira não conseguiu realizar esse filme tão facilmente. Walt Disney tentou, durante 20 anos, convencer a autora Pamela L. Travers a vender os direitos de sua obra. No final das contas, ela acabou cedendo.

Walt Disney e P. L. Travers, os originais e os atores, Tom Hanks e Emma Thopnson, respectivamente.


No filme, P. L. Travers decide ir aos Estados Unidos para checar algumas coisas antes de vender os direitos de seus livros a Walt Disney. Quando chega à Califórnia, a inglesa (que, na verdade, era australiana) é apresentada a Walt (como ele gostava de ser chamado) e é aí que começa o primeiro problema. Walt chamar a Srta. Travers de Pam é o menor dos males, Disney quer fazer do filme um musical, quer colocar o comediante Dyck Van Dyke como protagonista, está decidido a usar animação para trazer pinguins ao longa e não admite que o Sr. Banks não tenha bigodes (coincidentemente, iguais aos do produtor). Entretanto, Walt não está acostumado a ser contrariado, e uma guerra começará entre esses dois ícones para ver quem acabará com Mary Poppins (por que nunca pode ser apenas Mary).


O filme possui uma singularidade que me desagradou quase que o tempo todo. A história sobre a venda dos direitos e sobre as mudanças que Travers queria fazer no roteiro se mistura à infância da autora. Ou seja, em meio a toda a confusão que a durona Srta. Travers cria para que sua obra seja adaptada, vemos seu passado difícil ao lado de um pai amável (mais que quase todos que conheço), mas que era alcoólatra, e, por isso, sempre acabava com todas as expectativas de vida nova da família. Durante a maior parte do filme não compreendemos por que aquilo está sendo mostrado, até que, finalmente, revelam que o livro escrito por Travers foi praticamente uma auto-biografia. Não há como negar que essa revelação é tocante e que, a partir dali, passamos a entender melhor a personagem quanto a entregar os direitos de seu livro. E talvez seja isso que torne esse filme agradável: o roteiro possui muitas falhas, mas possui momentos bonitos, revela os bastidores de um dos maiores filmes da época, traz a criação das principais canções do longa e mostra como uma mulher podia ser dura, afinal, Travers permaneceu 20 anos sem abrir mão de sua história. Visualmente, o filme também é bonito. A Califórnia e os estúdios Disney são lugares, realmente, inspiradores. John Lee Hancock, de “Um Sonho Possível” (2009), não apresenta nada de novo, mas a sua representação da década de 1960, em contraposição com o início do século XX, é bela e simpática. O mais interessante do filme, talvez também seja o mais interessante do longa “Mary Poppins”, são a protagonista e a trilha sonora. Esta, composta por Thomas Newman e indicada ao Oscar de melhor trilha sonora original, é inspiradora, minuciosa, agradável e emocionante, casando perfeitamente com cada cena e cada diálogo. A utilização de algumas canções do próprio “Mary Poppins” dá o tom nostálgico àqueles que já assistiram ao filme.


Algo que me desagrada mais que os flash-backs, é como parecem homenagear Walt Disney de forma pobre e muito, mas muito caricata durante o filme. Tudo bem, o homem foi um gênio e eu, como todas as crianças do planeta que tiveram acesso, fui criado assistindo a seus filmes. Declaradamente, sou um grande fã do trabalho de Disney e de como ele reinventou tudo o que conhecemos como cinema de animação hoje. Mas não posso deixar de reconhecer: ele não era tão bom e simpático como o filme quer transparecer. Aqui, ele odeia que o chamem de Disney, alegando que isso é formal demais e desejando que todos se tratem pelo primeiro nome em sua produtora (não por que ele é legal demais, mas por um passado conturbado e triste ao lado de um pai carrasco), sorri o tempo todo e, a todo custo, parece desejar satisfazer as vontades de Travers, mas está apenas a passando para trás. Travers bateu o pé para os pinguins, para as músicas, para Dick van Dyke, para o bigodinho do Sr. Banks, para que não existisse a cor vermelha e para muitos outros detalhes. Entretanto, os pinguins se tornaram referência por ser o primeiro longa da história a misturar humanos e animação, o filme virou um clássico musical, Van Dike foi indicado ao Globo de Ouro, o Sr. Banks permaneceu com um bigode idêntico ao de Walt Disney, e o vestido de Mary Poppins é de um tom laranja avermelhado (que, sem dúvida, parecerá vermelho em muitas televisões). Para se ter uma ideia, Walt Disney nem convidou Travers para a estreia americana do filme, com medo que ela pudesse colocar tudo a perder. E, até isso, é mostrado de forma cômica e emocionante. Enquanto, no longa, Travers chora de alívio e satisfação ao conferir o resultado da adaptação, na vida real ela chorou de desgosto mesmo, e, quando pediu a Disney que tirasse algumas cenas do filme, ele não a enrolou, não quis dever satisfações, apenas lhe disse secamente: “Pam, o navio navegou”. Além disso, em uma das cenas mais ridículas do ano, Walt vai até Londres para conseguir a autorização de Travers, diz palavras comoventes, revela coisas sobre seu passado, tentando encontrar alguma semelhança entre eles, e promete que salvará o Sr. Banks, pois sabe que ele representa o pai de Travers. Ainda no filme, ela se emociona com tudo aquilo e assina a bendita autorização. Na realidade, Travers já havia assinado antes mesmo de ir para os EUA (o que já prova que toda a desculpa para ela viajar no filme é mais uma invenção), o encontro em Londres é a maior ficção vista no longa, e, de longe, a mais caricata.


Emma Thompson é uma das atrizes inglesas mais queridas em todo o mundo. Recentemente, e não posso fugir de lembrar isso, Meryl Streep entregou um prêmio à amiga e lembrou como Thompson é uma pessoa fantástica, uma santa, mas também observou o quão importante era uma atriz como ela fazer um filme em que interpreta uma mulher decidida que lutou, durante 20 anos, contra o dinheiro e os galanteios de Walt Disney que era, nas palavras de Streep, um preconceituoso machista. Mas Thompson não tem uma interpretação maravilhosa, que merecia uma indicação ao Oscar, apenas por ser carrancuda, briguenta e exigir algumas coisas para a adaptação de seu filme, ela é esplêndida nas cenas dramáticas, mesmo que a maioria seja duvidosa, ela emociona, possui momentos de raiva, dor, angústia, felicidade. Thompson não exagera demais e não é apagada de menos. Até na cena mais emocionante do filme (que também é fictícia), onde Travers canta e dança ao som de “Let’s go Fly a Kite” é majestosa. Tom Hanks vive Disney, e, mesmo que o ator seja um homem respeitado e um excelente ator, não consigo ver sua interpretação sem encontrar um pouco de deboche, pois não acredito que ele seria tão imprudente a ponto de aceitar glorificar um homem que sempre teve intenções duvidosas. Ou Hanks simplesmente fez como Disney: pensou no dinheiro e na oportunidade de encarar esse desafio. Outra dupla que preciso citar é Annie Rose Buckley, que interpreta a jovem Travers de forma simples e bela e Colin Farrel, que vem com uma interpretação igualmente bonita do pai de Travers. O ator mescla os momentos felizes e alegres com as filhas com os momentos de bebedeira e de loucuras por seus fracassos. O problema é que não sabemos quando ele interpreta o personagem e quando está pondo para fora as mágoas da época de seu vício em drogas. Por fim, destaco o trio responsável pelo roteiro e pelas canções de “Mary Poppins”: Bradley Whitford, como o esperançoso Don DaGradi, que tenta agradar a Travers e Disney com o roteiro, mesmo sabendo da impossibilidade de se agradar a gregos e troianos; B. J. Novak, que vive Robert Sherman, um dos compositores da trilha, um rapaz sério e realista que está cansado das exigências absurdas de Travers, e Jason Schwartsman, o outro Sherman, Richard, o boa pinta que está sempre animado e que tenta, a todo custo, animar e convencer Travers de que o musical será lindo.


Walt Disney, de fato, criou um grande filme. Um longa sobre amor, fraternidade, esperança e persistência, mas o fez de forma muito diferente da proposta dos livros de Travers. Enquanto o livro era algo sério e profundo, “Mary Poppins” é um musical alegre, extrovertido e que, sem dúvidas, faria fortunas em bilheterias. Não critico Disney por ter comprado os direitos do filme para fazer algo que lhe rendesse lucros, afinal, levando-se em consideração tudo o que esse homem possuía, nada que ele fizesse era apenas pela arte, sempre houve dinheiro envolvido. É claro também, que “Mary Poppins” pode ser considerada uma referência em alguns sentidos cinematográficos, até por que, dezenas de filmes produzidos pela Walt Disney o são. Mas é um fato, também, que o filme deixa muitos conceitos levantados pelo livro de lado. Porque Travers não queria vender os direitos de seus livros é um mistério. Talvez ela não quisesse, como apontou John Lee Hancock, expor o que, aparentemente, foi um passado conturbado e cheio de altos e baixos. Ou, simplesmente, sabia como Walt Disney estragaria toda a mensagem profunda de sua obra. “Walt nos Bastidores de Mary Poppins” possui um grande elenco e é um filme interessante para aqueles que gostam do musical, chega a ser tocante e emociona em alguns momentos, mas o filme se suicida ao tentar glorificar e canonizar um homem que nunca foi santo, nem aqui, nem na Disneylândia.


PRÊMIO DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DA FLÓRIDA:
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Dallas Buyers Club
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro Adaptado: John Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro Original: Spike Jonze, por Ela
Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezi, por Gravidade
Melhores Efeitos Especiais: Gravidade
Melhor Direção de Arte: O Grande Gatsby
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Documentário: The Act of Killing
VENCEDORES DO PRÊMIO DA ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE UTAH
Melhor Filme: Gravidade
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Adèle Exarchopoulos, Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Ator Coadjuvante: Bill Nighy, por About Time
Melhor Atriz Coadjuvante: Scarlett Johanssan, por Ela
Melhor Roteiro Adaptado: Depois da Meia Noite
Melhor Roteiro Original: The World’s End
Melhor Fotografia: Gravidade
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
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