sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

022. (ESPECIAL OSCAR 2014) NEBRASKA, de Alexander Payne

Uma verdadeira lição de vida dada pelos melhores professores do mundo.
Nota: 9,5


Título Original: Nebraska
Direção: Alexander Payne
Elenco: Bruce Dern, June Squibb, Will Forte, Bob Odenkirk, Stacy Keach, Mary Louise Wilson, Rance Howard, Tim Driscoll, Devin Ratray, Agela McEwan, Glendora Stitt, Elizabeth Moore, Kevin Kunkel, Dannis McCoig
Produção: Albert Berger, Ron Yerxa
Roteiro: Bob Nelson
Ano: 2013
Duração: 115 min.
Gênero: Comédia / Drama

Woody Grant recebe uma propaganda de uma editora que diz que ele ganhará um milhão de dólares caso o código escrito no papel seja um dos premiados. Convicto de que acaba de se tornar milionário, o idoso decide que, a qualquer custa, deixará o estado de Montada (EUA) e irá percorrer mais de 1500 quilômetros até Nebraska (também nos EUA) para receber sua fortuna. Para que o pai não vá sozinho, o jovem David decide levá-lo de carro. Entretanto, no meio do caminho, pai e filho terão de fazer uma parada na cidade em que Woddy cresceu, e, mais que lembranças, isso trará a inveja dos moradores do local.


Claro que David tenta explicar que tudo não passa de um engano, que Woody não ficou rico coisa nenhuma, mas quem daria ouvidos a uma coisa dessas depois de ouvir o que um homem está rico? Todos desconfiam que os filhos e a esposa de Woody estão apenas querendo pegar o dinheiro e sumir, sem que ninguém jamais os veja novamente. Assim, todos começam a inventar dívidas eternas que o patriarca dos Grant possuia para tentar arrancar um pouco de dinheiro dele. Para compreender um pouco essa decisão inesperada de Woody, vale a pena contextualizar a vida pessoal do homem. Após um relacionamento com uma jovem na adolescência, Woody optou por casar com Kate, mãe de seus filhos. Após o nascimento de Ross, o primogênito, o casal teve algumas compliacações e quase se separou. David veio depois. Após décadas casado com sua esposa, que já virou uma velha chata e insuportável, que diz o que quer e não se importa se o marido está feliz com aquilo ao não, Woody vê naquele cupom uma esperança que jamais vira sem sua vida. Nesse contexto, vale, também, lembrar que Woody é um homem bom, de índole boa. Um homem que “nunca negou um favor a ninguém”, como todos os seus conhecidos do passado gostam de apontar. O problema é que a vida de Woody se tornou algo chato, uma vida sem graça, restando apenas David e Ross para se viver. Os filhos, falando nisso, são dois opostos: enquanto David é um vendedor em uma loja de departamentos e vive um momento conturbado com sua ex-namorada, Ross é um jornalista bem sucedido que acaba de se tornar âncora de um jornal televisivo. Kate, por sua vez, é uma mulher um pouco agressiva, aquele tipo de idosa que fala o que vem à cabeça sem perceber que pode estar afetando pessoas a sua volta. Por fim, o protagonista, Woody, é um homem de idade avançada que já não tem mais o juízo de antes de ir para a guerra, um homem castigado pelo tempo que precisa apenas de uma boa motivação para viver.


Alexander Payne é diretor de três grandes filmes: “As Confissões de Schimidt” (2002), “Sideways – Entre Umas e Outras” (2004) e “Os Descentendes” (2011), todos indicados ao Oscar, e todos excelentes dramas familiares. Além de lembrarmos um pouco de cada um desses filmes maravilhosos, ao assitir “Nebraska” confesso ter recordado um pouco o longa “Pequena Miss Sunshine”, uma simpática produção independente que mostra a aventura de uma família que decide levar a filha para um concurso de dança. Talvez seja a temática de “pegar a estrada” para descobrir o quanto a família é importante e vale cada minuto (ou quilômetro). Os filmes de Payne, por sua vez, assemelham-se a esse por mais motivos além do enredo: a forma como o diretor gravou é muito parecida. Não me refiro ao preto e branco, e sim ao modo como tudo é mostrado do pelo diretor ao espectador. Somos levados para dentro da família dos Grant. As conversas, o cotidiano, os problemas, as verdades, os defeitos e qualidades dos membros dessa família são revelados. Assim como foi feito em seus filmes anteriores, o diretor expõe famílias que poderiam ser de qualquer outra pessoa no mundo. Quanto ao preto e branco, espere meia hora de filme e confira que, devido a uma edição ótima, uma fotografia fantástica e interpretações memoráveis, o colorido é totalmente dispensável. O roteiro de Bob Nelson pode ser, aparentemente, uma loucura, mas, aos poucos, tudo se encaixa e compreendemos que aquela viagem é muito mais que um capricho de um homem velho, é um pretexto para que as pessoas o notem e para que ele se sinta valorizado. Os diálogos são outro trunfo, pois se encaixam de forma tão agradável e ágil que é impossível não ficar ligado no filme para ver o que vem depois. Isso sem contar a construção dos personagens, um mais particular que o outro e todos muito parecidos.


Woody Grant é um idoso comum, um homem de idade avançada como qualquer outro, que tem suas manias e loucuras, mas que já passou por muitas coisas na vida. Viver um homem tão simples assim, sem muitas façanhas, sem dinheiro e sem histórias que o próprio julga não serem interessantes não é para qualquer um. Nossa sorte é que Bruce Dern não é qualquer um. Com uma atuação viva, real e tocante, Dern nos arranca lágrimas e suspiros por ser um homem tão bom, nos arranca, também, o medo de nos tornarmos como seu personagem: um homem que se sente fracassado e que não sabe mais se estar vivo ou morto fará diferença. June Squibb é outro presente que o longa nos traz. Vivendo a esposa Kate, é verdadeira e representa aquelas mulheres idosas que cansaram de ser tão perfeitas e decidiram levar sua vida com mais autonomia, sem se importar com o que os outros pensam. Squibb tem o dom de nos fazer odiar e amar Kate a cada cena que passa: ao mesmo tempo em que ela é uma mulher estúpida que debocha de Woody sempre que possível, ela é uma esposa amável que defende o marido a cima de tudo. Prova disso é a cena em que manda todos que querem o dinheiro que o marido ainda nem ganhou se f***, sabendo que não existe essa loucura de prêmio. Will Forte, por fim, completa a família de Woody. Forte é um homem com muitas frustrações, mas que não deixa de viver por causa disso, e o mais importante: um homem que ainda vive pelo pai e pela mãe. Diferente de Ross, David se importa mais com os pais que com ele mesmo. E Forte nos mostra isso e muito mais: mostra um filho corajoso que está disposta a passar por cima do que for para realizar o desejo do pai. Há anos, não víamos atuações masculinas tão boas no cinema, tanto que, apenas cinco indicados em cada categoria de atuações no Oscar foi pouco. Se fosse possível, assim como teria feito com a categoria de melhor ator, faria com a de melhor ator coadjuvante, atribuindo indicações a mais cinco feras: Chris Cooper (“Álbum de Família”), George Clooney (“Gravidade”), John Goodman (“Inside Llewyn Davis”), Thomas Bo Larsen (“A Caça”) e, sem dúvidas, Will Forte.


Apesar de poucos indicações ao Oscar, “Nebraska” conquistou espaço em algumas das mais importante. Para começar, como melhor filme. Ao lado de “12 Anos de Escravidão”, “Trapaça”, “Gravidade” e “O Lobo de Wall Street”, é um dos mais importantes por também estar na categoria de direção. Apesar de ser um filme bonito, inteligente, simples e muito simpático (e ainda”inovar” utilizando o preto e branco), o prêmio já está entre “12 Anos de Escravidão” e “Gravidade”. Payne, nesse contexto, é indicado em melhor direção, surpreendendo ao tomar o lugar de nomes importantes, como Woody Allen, Paul Greengrass e Spike Jonze. Apesar de gostar muito desses outros três diretores, confesso que sou conquistado por cada filme que assisto de Payne, e isso se deve à veracidade e à simplicidade de seus longas, que retratam nada mais que a vida nua e crua. E essa exposição se deve, também, o trabalho de Bob Nelson, indicado em melhor roteiro original, apesar de o favoritos serem “Trapaça” e “Ela”, “Nebraska” tem um dos melhores roteiros do ano. Bruce Dern é indicado como melhor ator por sua interpretação maravilhosa. Talvez por representar um homem tão decadente e depressivo que o ator tenha sido esnobado em muitas premiações, mas devo ressaltar que estar entre esses cinco já é uma honra imensa entre tantas grandes atuações masculinas no ano. June Squibb concorre como melhor atriz coadjuvante em uma categoria disputada por duas atrizes que poderiam ser duas netas, quiçá bisnetas: Jeniffer Lawrence (23 anos) e Lupita Nyong’o (30 anos). Apesar de fazer e acontecer no filme, chegando a levantar as saias em frente a um túmulo, a veterana, provavelmente, terá de se contentar apenas com a indicação. Por fim, Phedon Papamichael recebe a indicação de melhor fotografia, prêmio certo para Emmanuel Lubezki por “Gravidade”. De forma simples, afirmo que o longa, possivelmente, não levará nenhuma estatueta.



“Nebraska” não é apenas um filme bobo sobre um homem de idade avançada que envolve dezenas de pessoas em suas loucuras. É um longo sobre a velhice e sobre como chegar lá sem a preocupação de se tornar um fracasso e, por consequência, um fardo para os que o cercam. E não é apenas Woody que se tornou essa figura, seus amigos da juventude também o são, seus irmão também, seus sobrinhos parecem estar dispostos a isso, e até seus filhos parecem estar indo pelo mesmo caminho. E é por amá-los tanto e desejar que o ouçam que Woody inferniza a vida de todos para ir atrás desse prêmio. É como se, no final da vida, o homem quisesse recuperar o tempo perdido, a palavra não dita e flecha não lançada. Woody quer mostrar aos filhos que sempre é tempo para se tornar alguém e viver sua vida de forma real, sem se importar com os outros, apenas valorizando o melhor que Deus pode nos dar: os filhos. E se um homem como Woody Grant não pode fazê-lo, quem poderá?


VENCEDORES DA ASSOCIAÇÃO DE CRÍTICOS DE FILME DE IOWA
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Michael Fassbender, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Documentário: 20 Feet From Stardom
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
VENCEDORES DO PRÊMIO DA SOCIEDADE NACIONAL (EUA) DE CRÍTICOS DE FILME:
Melhor Filme: Inside Llewyn Davis
Melhor Direção: Joel e Ethan Coen, por Inside Llewyn Davis
Melhor Ator: Oscar Isaac, por Inside Llewyn Davis
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: James Franco, por Spring Breakers
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Roteiro: Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy, por Antes da Meia-Noite
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Documentário: The Act of  Killing
Melhor Fotografia: Bruno Delbonnel, por Inside Llewyn Davis
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