Uma bela história em meio à Segunda
Guerra Mundial, nada além disso.
Nota: 8,0
Título Original: The Book Thief
Direção: Brian Percival
Elenco: Sophie Nélisse, Geofrey Rush,
Emily Watson,Bem Schnetzer, Roger Allam, Nico Liersch, Oliver Stokowski,
Hildegard Schoroedter, Levin Liam, Sandra Nedeleff, Rafael Gareisen
Produção: Ken Blancato, Karen Rosenfelt
Roteiro: Micael Petroni e Markus Zusak
(romance)
Ano: 2013
Duração: 131 min.
Gênero: Drama
Liesel é uma jovem órfã e analfabeta que
é deixada com Hans e Rosa em plena Segunda Guerra Mundial. Enquanto Hans trata
Liesel como sua verdadeira filha e tenta fazer de tudo para que ela se sinta
bem, Rosa se mostra uma mulher áspera e fria. Com o tempo, descobre-se que a
menina não sabe ler. Com a ajuda de Hans, Liesel começa a devorar todos os
livros que pode em sua ânsia pela leitura, sua nova e melhor amiga. Com a chegada
de Max, um rapaz judeu e filho de um homem que salvou a vida de Hans, toda a
família passará por uma provação muito maior que a própria guerra.
A Segunda Guerra Mundial é, até hoje, o
desastre mais lembrado em todo o mundo. Muitas outras catástrofes foram
causadas pelo ser humano após essa, mas nenhuma foi capaz de atingir os cinco
continentes e espalhar o terror pelo mundo todo. A história de Liesel é
inteligente: revela a Guerra sobre o olhar de uma criança. Em alguns momentos,
isso é um trunfo dramático inigualável, pois o que poderia ser mais cativante e
digno de pena que a inocência de uma criança? Por vezes, entretanto, o longa
cai em uma mesmice insuportável e todos à volta de Liesel parecem mais pessoas
idiotas que tentam realizar algo impossível: esconder das crianças a verdade
sobre a Guerra. Os momentos em que a verdade é mostrada são característicos
demais e não chegam nem perto do horror que as pessoas passaram durante o
período. Em duas cenas, Liesel e seus vizinhos se escondem de um ataque aéreo,
em uma, Hans toca seu acordeom para amenizar o som vindo de cima, em outra,
Liesel conta uma história boba para que todos se acalmem. Além da guerra, um
amor puro e simples é mostrado entre Liesel e seu colega de classe, Rudy. E
talvez seja a simpatia dos personagens e dos pequenos intérpretes que mais
cative e faça da amizade deles o mais belo do longa. Outro grande amor de
Liesel é Max, um amor fraternal, igualmente puro e belo. E é nesse amor que
está a maior mensagem do enredo e, talvez, seu maior erro. Toda a paz
vivenciada pelos personagens, as brincadeiras e os amores trocados parecem bobos
demais frente ao horror da Segunda Guerra.
Brian Percival dirigiu um premiado curta
metragem, “About a Girl” (2001), e uma premiada série inglesa, “Downton Abbey”
(2010 - 2013). O que vemos em “A Menina que Roubava Livros” lembra, em muitos
aspectos, o que vemos em “Downton”. As guerras mundiais fazem parte de ambos os
filmes, e isso é um belo trunfo quando usado com sabedoria, afinal, poucas
coisas podem ser mais tocantes que apresentar os reflexos de uma grande guerra.
Além do enfoque, as semelhanças se estendem para a fotografia e a trilha
sonora, ambas belíssimas. Aliás, é preciso destacar o trabalho sensacional de
John Williams como compositor de uma trilha sonora bela e tocante, que oscila
entre temas felizes e esperançosos e temas tristes e aterradores. O trabalho de
Williams está longe de ser um dos melhores de sua carreira, ainda assim, o
compositor recebe, por ele, sua 35ª indicação ao Oscar, dessa vez, na categoria
de melhor trilha sonora original. A
vitória de Williams é bem improvável considerando o favoritismo de Steven Price
por seu trabalho impecável em “Gravidade”. Esse filme não é a primeira
adaptação realizada por Michael Petroni, ele ainda é o responsável por roteiros
adaptados de “O Ritual” (2011), “As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino
da Alvorada” (2010) e “A Rainha dos Condenados” (2002). Não sei se a história
de “A Menina que Roubava Livros” é essa confusão toda em livro ou se é um
romance bem feito. “Nárnia” é um livro excelente escrito para crianças que foi
adaptado de uma forma péssima. O fato é que, o roteiro aqui não funciona
direito, parece mais uma mistura de histórias, sentimentos, visões de um mesmo
fato. No cinema, portanto, o enredo não funciona da forma esperada. Talvez, a
história deveria ter sido restrita apenas ao mundo da literatura.
Se o roteiro confuso e a produção
técnica sem novidades são um ponto fraco desse longa, o mesmo não pode ser dito
a respeito das interpretações. Sophie Nélisse, que interpreta Liesel, é uma
graça de menina, transparecendo toda a pureza, ingenuidade e esperança da personagem.
Apesar de a protagonista parecer demasiadamente desinteressada pela Guerra, Nélisse
sustenta o longa durante mais de duas horas e nos proporciona uma atuação
simples, sem grandes momentos, mas com grandes lições de vida. Ao lado da
jovem, vivendo seus pais, dois veteranos que adoro: Geoffrey Rush e Emily
Watson. Se existe alguma relação entre o amor e a lei da física em que opostos
se atraem, aqui temos o maior exemplo disso. Enquanto Rush apresenta um Hans
humilde, alegre, descontraído e que faz de tudo para deixar todos felizes ao
seu redor, Watson traz uma Rosa que parece já não ter um coração tão aberto
quando o do marido. Nesse contexto, Rush tem um personagem que já lutou na
guerra, que sabe como isso pode ser terrível, e, provavelmente por isso, tenta
viver com menos tristeza em sua alma. Para Hans, estar vivo já é um lucro
inestimável. Já Watson vive o retrato da mulher que não se conforma com a vida
pequena e insignificante que escolheu. Além disso, notamos desde o início que a
guerra a apavora em todos os sentidos. Mas é na mudança de mulher infeliz para
mãe carinhosa e zelosa que está o mais belo da interpretação da atriz. Para
completar a família, Bem Schnetzer vive Max, um rapaz com sede de vida que está
disposto a tudo para continuar vivo, e reza para que a Alemanha seja derrotada
de uma vez. Como todas as interpretações do longa, Schnetzer é simples, calmo e
sereno, o que o destaca é a forma como apresenta o medo que o personagem tem de
ser pego pelos nazistas. É nesse medo que mora uma das maiores belezas do
longa. Esquecemos qualquer outra coisa quando vemos nos olhos do ator tal
pavor. Por fim, completando o elenco, o simpático Nico Liersch, como o jovem
Rudy, um menino que deseja ter uma vida comum e sem grandes laços com o
exército nazista. Liersch é simples e cativa do começo ao fim, com olhares
românticos e assustados, com atitudes infantis e adultas e com uma facilidade
para encarar o personagem poucas vezes vista em um jovem. Vale destacar a
narração de Roger Allam: com uma voz potente e aterradora, o “Sr. Morte” tem
falas que, devido a sua entonação, chegam a nos provocar calafrios.
Ainda existem muitas história a serem
contadas que envolvam a Segunda Guerra Mundial. Particularmente, prefiro as que
se reservam ao direito de deixar os campos de batalha de lado e revelam os
sentimentos e acontecimentos daqueles que ficaram em suas casas ou apenas
conferir o horror vivenciado pelas vítimas dos campos de concentração. Ainda
assim, “A Menina que Roubava Livros” é pouco convincente e não obtêm êxito em
ser uma revelação sobre a Segunda Guerra Mundial. Em alguns momentos, confesso
que o filme recorda o deprimente “O Menino do Pijama Listrado” (2008), mas são
momentos raros e passageiros. O fato de Liesel roubar livros, ao menos no filme
(não sei como é tratado no livro) é apenas algo para mostrar como a
persistência é algo belo. Acredito que as metáforas sobre isso deveriam ter
sido mais exploradas. Mesmo com uma boa fotografia, uma edição agradável e uma
trilha sonora do mestre John Williams, “A Menina que Roubava Livros” é um filme
sobre amor, esperanças, mudanças e amizade em meio à Segunda Guerra Mundial,
mas não passa disso: uma bela história que nos emociona e cativa.
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