quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

032. (ESPECIAL OSCAR 2014) A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, de Brian Percival

Uma bela história em meio à Segunda Guerra Mundial, nada além disso.
Nota: 8,0


Título Original: The Book Thief
Direção: Brian Percival
Elenco: Sophie Nélisse, Geofrey Rush, Emily Watson,Bem Schnetzer, Roger Allam, Nico Liersch, Oliver Stokowski, Hildegard Schoroedter, Levin Liam, Sandra Nedeleff, Rafael Gareisen
Produção: Ken Blancato, Karen Rosenfelt
Roteiro: Micael Petroni e Markus Zusak (romance)
Ano: 2013
Duração: 131 min.
Gênero: Drama

Liesel é uma jovem órfã e analfabeta que é deixada com Hans e Rosa em plena Segunda Guerra Mundial. Enquanto Hans trata Liesel como sua verdadeira filha e tenta fazer de tudo para que ela se sinta bem, Rosa se mostra uma mulher áspera e fria. Com o tempo, descobre-se que a menina não sabe ler. Com a ajuda de Hans, Liesel começa a devorar todos os livros que pode em sua ânsia pela leitura, sua nova e melhor amiga. Com a chegada de Max, um rapaz judeu e filho de um homem que salvou a vida de Hans, toda a família passará por uma provação muito maior que a própria guerra.


A Segunda Guerra Mundial é, até hoje, o desastre mais lembrado em todo o mundo. Muitas outras catástrofes foram causadas pelo ser humano após essa, mas nenhuma foi capaz de atingir os cinco continentes e espalhar o terror pelo mundo todo. A história de Liesel é inteligente: revela a Guerra sobre o olhar de uma criança. Em alguns momentos, isso é um trunfo dramático inigualável, pois o que poderia ser mais cativante e digno de pena que a inocência de uma criança? Por vezes, entretanto, o longa cai em uma mesmice insuportável e todos à volta de Liesel parecem mais pessoas idiotas que tentam realizar algo impossível: esconder das crianças a verdade sobre a Guerra. Os momentos em que a verdade é mostrada são característicos demais e não chegam nem perto do horror que as pessoas passaram durante o período. Em duas cenas, Liesel e seus vizinhos se escondem de um ataque aéreo, em uma, Hans toca seu acordeom para amenizar o som vindo de cima, em outra, Liesel conta uma história boba para que todos se acalmem. Além da guerra, um amor puro e simples é mostrado entre Liesel e seu colega de classe, Rudy. E talvez seja a simpatia dos personagens e dos pequenos intérpretes que mais cative e faça da amizade deles o mais belo do longa. Outro grande amor de Liesel é Max, um amor fraternal, igualmente puro e belo. E é nesse amor que está a maior mensagem do enredo e, talvez, seu maior erro. Toda a paz vivenciada pelos personagens, as brincadeiras e os amores trocados parecem bobos demais frente ao horror da Segunda Guerra.


Brian Percival dirigiu um premiado curta metragem, “About a Girl” (2001), e uma premiada série inglesa, “Downton Abbey” (2010 - 2013). O que vemos em “A Menina que Roubava Livros” lembra, em muitos aspectos, o que vemos em “Downton”. As guerras mundiais fazem parte de ambos os filmes, e isso é um belo trunfo quando usado com sabedoria, afinal, poucas coisas podem ser mais tocantes que apresentar os reflexos de uma grande guerra. Além do enfoque, as semelhanças se estendem para a fotografia e a trilha sonora, ambas belíssimas. Aliás, é preciso destacar o trabalho sensacional de John Williams como compositor de uma trilha sonora bela e tocante, que oscila entre temas felizes e esperançosos e temas tristes e aterradores. O trabalho de Williams está longe de ser um dos melhores de sua carreira, ainda assim, o compositor recebe, por ele, sua 35ª indicação ao Oscar, dessa vez, na categoria de melhor trilha sonora original. A vitória de Williams é bem improvável considerando o favoritismo de Steven Price por seu trabalho impecável em “Gravidade”. Esse filme não é a primeira adaptação realizada por Michael Petroni, ele ainda é o responsável por roteiros adaptados de “O Ritual” (2011), “As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada” (2010) e “A Rainha dos Condenados” (2002). Não sei se a história de “A Menina que Roubava Livros” é essa confusão toda em livro ou se é um romance bem feito. “Nárnia” é um livro excelente escrito para crianças que foi adaptado de uma forma péssima. O fato é que, o roteiro aqui não funciona direito, parece mais uma mistura de histórias, sentimentos, visões de um mesmo fato. No cinema, portanto, o enredo não funciona da forma esperada. Talvez, a história deveria ter sido restrita apenas ao mundo da literatura.


Se o roteiro confuso e a produção técnica sem novidades são um ponto fraco desse longa, o mesmo não pode ser dito a respeito das interpretações. Sophie Nélisse, que interpreta Liesel, é uma graça de menina, transparecendo toda a pureza, ingenuidade e esperança da personagem. Apesar de a protagonista parecer demasiadamente desinteressada pela Guerra, Nélisse sustenta o longa durante mais de duas horas e nos proporciona uma atuação simples, sem grandes momentos, mas com grandes lições de vida. Ao lado da jovem, vivendo seus pais, dois veteranos que adoro: Geoffrey Rush e Emily Watson. Se existe alguma relação entre o amor e a lei da física em que opostos se atraem, aqui temos o maior exemplo disso. Enquanto Rush apresenta um Hans humilde, alegre, descontraído e que faz de tudo para deixar todos felizes ao seu redor, Watson traz uma Rosa que parece já não ter um coração tão aberto quando o do marido. Nesse contexto, Rush tem um personagem que já lutou na guerra, que sabe como isso pode ser terrível, e, provavelmente por isso, tenta viver com menos tristeza em sua alma. Para Hans, estar vivo já é um lucro inestimável. Já Watson vive o retrato da mulher que não se conforma com a vida pequena e insignificante que escolheu. Além disso, notamos desde o início que a guerra a apavora em todos os sentidos. Mas é na mudança de mulher infeliz para mãe carinhosa e zelosa que está o mais belo da interpretação da atriz. Para completar a família, Bem Schnetzer vive Max, um rapaz com sede de vida que está disposto a tudo para continuar vivo, e reza para que a Alemanha seja derrotada de uma vez. Como todas as interpretações do longa, Schnetzer é simples, calmo e sereno, o que o destaca é a forma como apresenta o medo que o personagem tem de ser pego pelos nazistas. É nesse medo que mora uma das maiores belezas do longa. Esquecemos qualquer outra coisa quando vemos nos olhos do ator tal pavor. Por fim, completando o elenco, o simpático Nico Liersch, como o jovem Rudy, um menino que deseja ter uma vida comum e sem grandes laços com o exército nazista. Liersch é simples e cativa do começo ao fim, com olhares românticos e assustados, com atitudes infantis e adultas e com uma facilidade para encarar o personagem poucas vezes vista em um jovem. Vale destacar a narração de Roger Allam: com uma voz potente e aterradora, o “Sr. Morte” tem falas que, devido a sua entonação, chegam a nos provocar calafrios.



Ainda existem muitas história a serem contadas que envolvam a Segunda Guerra Mundial. Particularmente, prefiro as que se reservam ao direito de deixar os campos de batalha de lado e revelam os sentimentos e acontecimentos daqueles que ficaram em suas casas ou apenas conferir o horror vivenciado pelas vítimas dos campos de concentração. Ainda assim, “A Menina que Roubava Livros” é pouco convincente e não obtêm êxito em ser uma revelação sobre a Segunda Guerra Mundial. Em alguns momentos, confesso que o filme recorda o deprimente “O Menino do Pijama Listrado” (2008), mas são momentos raros e passageiros. O fato de Liesel roubar livros, ao menos no filme (não sei como é tratado no livro) é apenas algo para mostrar como a persistência é algo belo. Acredito que as metáforas sobre isso deveriam ter sido mais exploradas. Mesmo com uma boa fotografia, uma edição agradável e uma trilha sonora do mestre John Williams, “A Menina que Roubava Livros” é um filme sobre amor, esperanças, mudanças e amizade em meio à Segunda Guerra Mundial, mas não passa disso: uma bela história que nos emociona e cativa. 

VENCEDORES DO PRÊMIO DO CIRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DE SAN FRANCISCO
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: James Franco, por Spring Breakers
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Roteiro Original: Eric Singer e David O. Russell, por Trapaça
Melhor Roteiro Adaptado: John Ridley, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Fotografia: Gravidade
Melhor Direção de Arte: Gravidade
Melhor Edição: Gravidade
Melhor Filme de Animação: Frozen: uma Aventura Congelante
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor mais Escura
Melhor Documentário: The Act of Killig

VENCEDORES DO PRÊMIO DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DA CIDADE DO KANSAS
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade e Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Sandra Bullock, por Gravidade
Melhor Ator Coadjuvante: Michael Fassbender, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro Adaptado: John Ridley12 Anos de Escravidão
Melhor Roteiro Original: Spike Jonze, por Ela
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante e Meu Malvado Favorito 2
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Documentário: The Act Of Killing
ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes
E CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poderá gostar também de: