segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

025. (ESPECIAL OSCAR 2014) ANTES DA MEIA-NOITE, de Richard Linklater

Roteiro poderoso, interpretações realistas, direção verdadeira. Um dos filmes mais inteligentes do ano.
Nota: 9,2


Título Original: Before Midnight
Direção: Richard Linklater
Elenco: Etahn Hawke, Julie Dely, Seamus Davey-Fitzpatrick, Jennifer Prior, Charlotte Prior, Xenia Kalogeropoulou, Walter Lassally, Ariane Labed, Yannis Papadopoulos, Athia Rachel Tsangari, Panos Koronis, Enrico Focardi, Manolis Goussias, Anouk Servera, Yota Argyropoulou, Serafim Radis, Tety Kalafati e John Sloss
Produção: Christos V. Konstantakopoulos, Richard Linklater, Sara Woodhatch
Roteiro: Richard Linklater, Kim Krizan, Julie Delpy e Ethan Hawke
Ano: 2013
Duração: 109 min.
Gênero: Comédia / Drama / Romance

Após 18 anos desde seu primeiro encontro, Jesse e Celine finalmente estão casados. Há 9 anos, o casal se reencontrou e começou a viver junto. Dessa união, vieram duas filhas, muitas conquistas, muitas frustrações e todas as dádivas e problemas que apenas um casamento pode trazer. Celine está indecisa sobre sua carreira e começa a cogitar a possibilidade de trabalhar para o governo da França, onde eles vivem. Jesse está confuso sobre qual deve ser o tema abordado em seu próximo livro e ainda tenta manter um bom relacionamento com seu filho, Hank, que vive nos Estados Unidos com a mãe. Para sair um pouco da rotina, Jesse e Celine decidem passar o verão com as filhas em uma ilha na Grécia.


Foi em “Antes do Amanhecer” (1995) que a história de amor entre Jesse e Celine começou. Eles se conheceram em um trem de Budapeste à Viena. Encantado com Celine, Jesse a convida para permanecer em Viena até o amanhecer, quando ela voltará para Paris e ele para os Estados Unidos. Assim, o casal apaixonado decide que aproveitará ao máximo o tempo juntos. Em “Antes do Pôr-do-Sol” (2004), o segundo filme da trilogia, narra o que acontece nove anos depois, quando Jesse lança um livro em Paris onde relata os acontecimentos daquela viagem. Celine, percebendo que a história contada é a deles, vai até o escritor e os dois passam algumas horas discutindo o que aconteceu em suas vidas durante todos esse anos. Em “Antes da Meia-Noite”, o passado é evocado dezenas de vezes. Lembramo-nos de histórias vividas pelo casal enquanto estavam juntos ou separados e descobrimos novas informações. Após nove anos de casamento, é claro que nem tudo mais são flores, e isso é provado durante cada minuto desse longa. Problemas vêm à tona em discussões memoráveis e tão realistas que é impossível não se identificar com o casal. Jesse já está com quarenta anos e Celine está quase lá, já não são mais um casal jovem e apaixonado perdidamente, são pais de duas crianças que devem ser conscientes e sábios em alguns momentos. Mas com isso, também veio a rotina. Celine, inclusive, reclama que o sexo é sempre do mesmo jeito, isso quando ele acontece. A relação de Celine com Hank também é abordada por ser algo tão pacífico, o que chega a deixar Jesse irritado. E a falta de humor de Celine e o humor exagerado de Jesse é mais um motivo para discussão, isso sem falar no fato de eles já estarem envelhecendo e estarem sentindo que isso não é fácil.


O roteiro de Linklater, Krizan, Delpy e Hawke, indicado ao Oscar de melhor roteiro original, é maravilhoso. Aliás, os roteiros originais do Oscar esse ano são magníficos, mas nenhum deles possui uma história tão realista, cotidiana e com diálogos tão pontuais e inteligentes. Eu dividiria o filme em alguns “atos”: a introdução é a despedida de Jesse e Hank no aeroporto, o primeiro “ato” é a viagem até a casa dos amigos na grécia, o segundo é o almoço na casa desses amigos, o terceiro é o passeio que o casal protagonista dá até chegar em um hotel onde passarão a noite como presente dos amigos, e o quarto e último é a noite no hotel. Na introdução, vemos a relação de pai e filho que Jesse e Hank tentam manter mesmo de longe. Esse medo de Jesse em perder o filho pela distância será abordado e citado durante todo o longa. No primeiro “ato” a história nos é apresentada, os personagens lembram naturalmente do passado, Jesse nos informa que é um escritor e Celine apresenta seus problemas com o emprego. É ali, também, que a crise do casal inicia. Diga-se de passagem, apenas por uma falta de diálogo, por uma interpretação errada, por uma colocação mal feita. O segundo “ato” é o mais agradável: na casa dos amigos, Jesse e Celine comentam detalhes de suas vidas. Jesse fala sobre suas ideias para um novo livro. Na mesa do almoço, o casal se junta a mais três casais de três gerações: dois jovens que acabaram de se conhecer e confessam ter passado parte do relacionamento conversando apenas por telefone, os amigos de Jesse e Celine que passam ou passaram por momentos difíceis como o casal, e o pai de um deles e a viúva de um amigo, um casal de amigos idosos. É nesse almoço que inúmeros assuntos são abordados: amor, sexo, dinheiro, carreira profissional, idade, tecnologia, paixão. No terceiro “ato” são as reflexões sobre Jesse e Celine que tomam a tela. Um provoca o outro em todos os sentidos, não são expostos apenas os problemas, e sim tudo o que o casal já passou. O último “ato” dá espaço às discussões do casal: tudo desaba em volta deles e percebemos que isso apenas acontece por dúvidas que ambos possuem em suas vidas particulares. Enquanto Celine vive a dúvida do que deve fazer com seu emprego, Jesse vive a dúvida por estar longe de seu filho e desejar voltar a estar ao lado dele. É esse último ato, também, que lembra que, não importa o que aconteça, o amor que Jesse e Celine nutriram um pleo outro há 18 anos ainda está dentro deles.


Etha Hawke é um ator sem muitos trabalhos conhecidos pelo público em massa, e até já encarou, além de trabalhos como roteirista, títulos onde é o diretor. Não assisti aos filmes anteriores a esse, portanto, não posso traçar paralelos a respeito das interpretações ou do roteiro, mas posso afirmar, sem dúvida, que Hawke está incrível. Não é preciso muito para ele encorporar Jesse, afinal, o personagem é um homem  comum, um homem normal com todos os defeitos e qualidades que qualquer ser humano possa ter. O próprio ator está casado pela segunda vez e, sem dúvidas, expõe as próprias experiências no filme. O Jesse criado por Hawke, é um homem de bom humor, que faz piada de tudo, mas é um pai amável, um marido fiel e um profissional dedicado. Talvez a maior semelhança entre o personagem e os homens do mundo real seja a forma desligada como Jesse leva toda a discussão: o escritor não leva a sério tudo o que está acontecendo, ele acha que Celine exagera e que trazer tudo à tona naquele momento é algo desnecessário. E se o personagem de Hawke é o retrato do homem que se esquiva dos diálogos para não arrumar problemas, a personagem de Julie Delpy, Celine, é a típica mulher que acredita que todos os mínimos detalhes da vida de um casal devem ser discutidos. Delpy não se importa com a idade que chega, ela ainda é uma mulher bonita e interessante e é assim que trata Celine. Entretanto, com a chegada dos quarenta, a personagem está um pouco paranoica e quer se sentir desejada mais que nunca. Além disso, os hormônios dessa mulher de personalidade forte estão se alterando como em qualquer mulher dessa idade. Por fim, Celine vive um conflito interno com sua vida profissional, e isso faz com que ela compreenda que é impossível uma mãe controlar tudo à sua volta sem deixar nada escapar. E são nos reflexos dessas alterações hormonais e dessa confusão em sua vida profissional que vemos o melhor da atuação de Delpy.


“Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr-do-Sol” e “Antes da Meia-Noite” são filmes que retratam a vida de um casal. Não é um casal específico, a trilogia retrata a vida de qualquer casal do mundo, qualquer casal normal que passe por problemas no relacionamento e que encontre muita felicidade pelo caminho. Jesse e Celine, durante esse longa, revivem algumas coisas do passado ou vivem outras que são reflexos do que foi vivido. São um casal apaixonado que está junto há muito tempo e que já passou por muito na vida. Alguns especialistas acreditam que seja exatamente entre os sete e dez anos de relacionamento continuo que um casal tem suas grandes crises, passando esse período juntos, o relacionamento está garantido por um bom tempo. Em alguns momentos, sabemos que Jesse e Caline estão apenas tapando o sol com a peneira, deixando os problemas de lado ao invés de resolvê-los, mas, na maior parte do roteiro, temos as mais belas demostrações de amor. O amor, claramente, muda com o passar do tempo, e é disso que esse casal está provando. Hawke e Delpy são quem sustentam esse filme, o longa é deles. A direção é ótima e a trilogia é fechada com chave de ouro. O roteiro do longa tem poucas chances no Oscar concorrendo com “Ela”, o melhor roteiro do ano em todos os sentidos, mas são poucos os filmes que retratam a vida de forma tão fiel, trazendo os melhores diálogos em anos e nos fazendo, mais uma vez, acreditar que o amor é possível.

VENCEDORES DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DE LONDRES
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Barkhad Abdi, por Capitão Phillips
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Anos de Escravidao
Melhor Roteiro: Joel e Ethan Coen, por Inside Llewyn Davis: Baladas de um Homem Comum
Melhor Filme Estrangeiro: Azul é a Cor Mais Quente
Melhor Documentário: The Act Of Killing 

VENCEDORES DO PRÊMIO DA ACADEMIA BRITÂNICA DE FILME E TELEVISÃO (BAFTA):
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Barkhad Abdi, por Capitão Phillips
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Filme Estrangeiro: A Grande Beleza
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante
Melhor Documentário: The Act of Killing
Melhor Trilha Sonora: Steven Price, por Gravidade
Melhor Som: Glenn Freemantle, Skip Lievsay, Christopher Benstead, Niv Adiri e Chris Munro, por Gravidade
Melhor Figurino: Catherine Martin, por O Grande Gatsby
Melhor Edição: Dan Hanley e Mike Hill, por Rush, No Limite da Emoção
Melhor Fotografia: Emmanuel Lubezki, por Gravidade
Melhor Maquiagem e Cabelo: Evelyn Noraz, Lori Mccoy-Bell e Katherine Gordon, por Trapaça
Melhores Efeitos Especiais: Gravidade
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