quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

024. (ESPECIAL OSCAR 2014) PHILOMENA, de Stephen Frears

Tocante, realista, sensível. O filme mais emocionante do ano.
Nota: 9,0



Título Original: Philomena
Direção: Stephen Frears
Elenco: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy Clark, Mare Winningham, Barbara Jefford, Ruth McCabe, Peter Hermann, Sean Mahon, Anna Maxewell Martin, Michelle Fairley, Amy McAllister, Charlie Murphy, Cathy Belton
Produção: Steve Coogan, Tracey Seaward, Gabrielle Tana
Roteiro: Steve Coogan, Jeff Pope e Martin Sixsmith (livro)
Ano: 2013
Duração: 98 min.
Gênero: Drama / Biografia

Philome Lee tinha 18 anos, encantou-se com um homem em uma feira e acabou se entregando a ele. Dessa paixão momentânea, nasceu Anthony. Entretanto, a Irlanda católica da década de 1940 jamais permitiria que uma jovem solteira tivesse seu filho e o criasse sozinha. Sendo assim, Philomenta teve de se conformar em ver seu filho levado para longe aos três anos de idade. O tempo passou e, quando Anthony completaria 50 anos, Philomena contou a filha – que teve em um casamento posteriror – sobre o irmão. Jane Libberton resolveu ajudar a mãe, contatando diversas pessoas e descobrindo sobre o paradeiro e a morte do irmão. Com a ajuda do Martin Sixsmith, Philomena encontrou pessoas que conheceram o filho e que estiveram ao seu lado. Hoje, Philomena está com 80 anos, criou uma entidade que visa facilitar  o encontro entre famílias separadas por adoções forçadas, foi recebida pelo Papa Francisco e afirma que essa história não é apenas sua, é de centenas de outras mães também.

A atriz Judi Dench e a verdadeira Philomena Lee
No filme, Philomena se emociona ao lembrar que seu filho estaria completando 50 anos ao seu lado se não tivesse sido levado à força. Relembra o parto difícil e a crueldade das freiras que não permitiam que visse Anthony com frequência e que sempre se negaram a dar informações sobre a criança. Nesse contexto, Philomena conta à filha toda a verdade. Em uma festa, Jane ouve sobre o desejo de Martin se tornar escritor e conta a história da mãe. Ele, jornalista decadente e passando por vários problemas no trabalho, após relutar um pouco, resolver ajudar Philomena. Juntos, partem em busca de Anthony, indo até o convento onde Philomena deu à luz, atravessando o Oceano Atlântico até os EUA e voltando para casa com a verdade nas mãos e uma história a ser divulgada.

O verdadeiro Martin Sixsmith e o ator Steve Coogan
Philomena, quando jovem, foi obrigada a permanecer no convento onde teve Anthony. Lá, após o parto complicado, ela trabalhou para “pagar” a dívida com as freiras por elas ter “acolhido” ela e seu filho. Claro que, assim como as outras jovens que moravam no convento, Philomena passava por momentos aterradores. As freiras alegavam que tudo aquilo era devido ao fato de elas terem se entregue aos prazeres mundanos da carne. Depois que Anthony foi levado, Philomena sanou sua dívida e foi embora. Anos mais tarde, voltou ao convento pedindo por informações. As freiras inventavam desculpas e chegaram a alegar que um incêndio destruiu todos os documentos que podiam levá-la a qualquer informação. Entretanto, na realidade, foi uma freira que contou tudo à Philomena. Jane colocou a mãe em contato com a mulher, que tinha acesso aos documentos de adoção, e a mesma revelou o que havia acontecido a Anthony, que recebeu o nome de Michael Hess. Mesmo com as atrocidades cometidas pelas freiras, é necessário lembrar que não podemos julgá-las por seus atos. O que elas fizeram foi culpa do sistema, foi culpa de uma Igreja antiquada e mercenária (no filme, chegam a acusá-las de terem vendido as crianças). E Philomena nos lembra da inocência das mulheres durante o longa. Nos Estados Unidos, Philomena foi guiada por Martin – essa informação revelada no filme é verdadeira, foi o jornalista que levou Philomena até lá, mas ela já sabia o que havia acontecido ao filho. Na América, ela conversa com uma mulher com quem o filho trabalhou; com Mary, filha da melhor amiga de Philomena na época do convento, que foi adotada junto com Anthony; e com o companheiro de Anthony, Pete Olsson, com quem Anthony viveu até morrer. Revelar informações como essas, sobre a sexualidade de Anthony, sobre a morte do rapaz ou sobre ele ter sido uma figura importante para o Partido Republicano, chegando a trabalhar diretamente com Ronald Reagan e George Bush (pai).


Stephen Frears foi indicado duas vezes ao Oscar como melhor diretor. Uma delas, foi por seu trabalho magnífico no filme “A Rainha” (2006), um dos longas baseados em fatos reais mais inspiradores, emblemáticos e bem produzidos dos últimos anos. Em termos de comparação, é bom lembrar que, além da direção, são os mesmos os responsáveis pela produção de design, pela trilha sonora e pelo figurino em ambas as produções. Sendo assim, e sabendo que ambos são baseados em fatos sobre pessoas muito inglesas (no caso de Philomena, ela se mudou cedo para a Inglaterra), é inevitável que um filme não lembre um pouco o outro. Como Frears fez no filme sobre a monarca, em “Philomena” temos cenas feitas para o filme e outras que foram coletadas em arquivos de mídia e arquivos pessoais. Outras, ainda, foram gravadas como se fossem recordações feitas em família ou coisas do tipo. Outra relação que podemos traçar sobre os dois filmes, é a forma firme como as protagonistas são mostradas pelo diretor. Mesmo assim, Frears ainda consegue humanizá-las em todos os sentidos, escolhendo ângulos e momentos que mostram, com perfeição, os sentimentos das personagens apenas por suas feições. Frears ainda sabe usar os cenários que lhe são dispostos com sabedoria impressionante, aproveitando os ambientes ingleses e irlandeses e os contrapondo com os americanos, explorando os ambientes sossegados sacros e os contrapondo com bares e restaurantes agitados. A adaptação de Coogan e Pope do livro de Sixsmith, “The Lost Child of Philomena Lee”, é algo belíssimo. Não compreendo ao certo o por que da mudança de ser Sixsmith a estar ao lado de Philomena sempre, mas admito que a construção da relação dessas pessoas tão diferentes é o que há de mais incrível no longa. O roteiro, ainda, desenvolve tudo com tanta humanidade e emoção que saber revelações como as que citei no parágrafo acima jamais será um incômodo, pois, como vemos em poucos filmes, o que interessa é a forma como a história se desenvolve, e não como termina.


Judi Dench é uma das grandes damas da Sétima Arte. Ela já foi indicada a 26 prêmios BAFTA, o Oscar inglês, pelo qual foi homenageada em 2001 por sua contribuição como atriz. A Philomena apresentada por Dench é humana, inteligente, educada, simpática, atenciosa e amável. É impossível não se apaixonar por essa mulher que procura por seu filho, e devemos isso mais à interpretação da atriz e ao contexto do filme. Judi não é indiferente demais, nem exagerada demais, sua interpretação está no meio termo, vem na medida certa, oscilando entre cenas emocionante e cenas cômicas. É sua a responsabilidade, também, de retratar como essa velha mulher está cansada de julgar ou ser julgada, mostrando que a fé em Deus é muito mais importante que acreditar ou não no que a Igreja prega. Mesmo tento sofrido com o catolicismo e suas regras loucas, a Philomena de Dench crê em Deus e sabe que somente ele poderá levá-la até seu filho. Ao lado da atriz está Steve Coogan, em uma interpretação simples, mas muito boa. Como Sixsmith, Coogan traz um homem que já teve momentos de glória como jornalista, mas que agora está por baixo. Entretanto, o mais interessante da atução é ver como o personagem se cativa por Philomena e se torna seu amigo, vivendo o drama da irlandesa e tornando a história e a busca dela seu objetivo de vida. Sophie Kennedy Clark deve ser destacada vivendo Philomena jovem, trazendo uma interpretação forte e tocante de uma mãe que perde o filho por um sistema terrível ao qual teve de se expor. Além dela, outro destaque é Barbara Jefford, que vive a Irmã Hildegarge, o destaque se deve à cena em que deixa claro por que foi cruel e manteve Philomena e Anthony afastados todos aqueles anos, mesmo podendo uní-los novamente. Ademais, o elenco é completo por Sean Mahon, o Anthony adulto, Peter Hermann, que vive Pete Olsson, Anna Maxwell como a filha de Philomena e Michelle Fairley, a nada sentimental Sally Mitchell, editora de Sixsmith.


As indicações ao Oscar são merecidas e em categorias importantes. A primeira, e a maior surpresa entre todos, é como melhor filme. Acho que foi mais a emoção e a influência de Hervey Weinstein que trouxeram essa indicação ao filme, mas é bom ver que os membros da academia se curvaram a um filmes simples, bonito, inteligente e emocionante como esse. Apesar de tudo, o filme não tem chances de levar a estatueta, que mostra-se cada vez mais dividida entre “Gravidade” e “12 Anos de Escravidão”. Judi Dench, merecidamente, está indicada como melhor atriz. Indicada pela segunda vez ao lado de Meryl Streep, ao que tudo indica, sairá perdendo para Cate Blanchett, com quem contracenou no maravilhoso “Notas Sobre um Escândalo” (2006). É lamentável, ver uma atriz como Dench ter tão poucas indicações ao Oscar (são apenas sete em toda a carreira), mas é louvável assistir a cada um de seus filmes e conferir sempre atuações ótimas. Dench não sairá como vencedora, até por que, a interpretação de Blanchett é a melhor do ano, mas isso não signifca, em nenhuma hipótese, que sua atuação não seja uma das melhores de 2013. O trabalho de Coogan e Pope é indicado como melhor roteiro adaptado. Apesar de o prêmio estar entre “12 Anos de Escravidão” e “Capitão Phillips”, é um fato que “Philomena” tem um roteiro maravilhoso, que se sustenta do começo ao fim sem se tornar chato, a melancolia e o humor (o melhor do humor inglês) se misturam e estão sempre em quatidade precisa e suficiente. Como Billy Ray e “Capitão Phillips”, Coogan e Pope não perdem a linha em nenhum momento e proporcionam o segundo melhor roteiro adaptado do ano (perdendo apenas para a história de “Phillips”). Por fim, a trilha sonora de Alexandre Desplat é indicada como melhor trilha sonora original. Apesar de ser um trabalho belíssimo que completa o filme com perfeição, não será dessa vez que o compositor será consagrado pela academia. Mas afirmo: se não fosse pelo trabalho impecável de Steven Price em “Gravidade”, “Philomena” seria melhor trilha sonora do ano.



Apesar de ser um grande filme, lamento dizer que “Philomena” terá de se contentar apenas com as indicações ao Oscar. Recebido pelo público e pela crítica de braços abertos, o filme cativa e emociona, não sentir pena da protagonista é impossével, não julgar a Igreja Católica no princípio é burrice. Todavia, deixar de entender as mensagens do filme é algo mais estúpido ainda. Como já disse, muitos dos filmes da temporada de premiações de 2013 não trazem mensagens, apenas estão aí para trazer o melhor da sétima arte. “Philomena” é um filme que ganha pontos por uma direção forte, um roteiro tocante, interpretações realistas, uma trilha sonora perfeita para o longa e uma fotografia ótima, mas se torna um dos melhores filmes do ano por outros motivos. “Philomena” trás o melhor do ser humano: gentileza, humor, sensibilidade, humanidade e persistência. Além disso, expõe a realidade sem medo, traz em questão as adoções forçadas que ocorreram até a década de 1960 na Irlanda e alertam para esse absurdo. E se mais pessoas se motivaram pela força e persistência de Philomena, então toda essa produção já terá valido a pena.
VENCEDORES DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DE VANCOUVER
Melhor Filme: 12 Anos de Escravidão
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Oscar Isaac, por Inside Llewyn Davis
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Filme Estrangeiro: A Caça
Melhor Documentário: The Act of Killing
VENCEDORES DO PRÊMIO DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILME DO OKLAHOMA
Melhor Filme: Ela
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Ator: Chiwetel Ejiofor, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Clube de Compras Dallas
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Roteiro Adaptado: Spike Jonze, por Ela
Melhor Roteiro Original: John Riley, por 12 Anos de Escravidão
Melhor Filme Estrangeiro: A Caça
Melhor Filme de Animação: Frozen: Uma Aventura Congelante

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