Na tarde de quinta-feira (17), iniciou a Mostra Panorama Brasil, que contará com a apresentação de 5 longas-metragem dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e do Distrito Federal. O primeiro filme foi Mais do Que eu Possa me Reconhecer, de Allan Ribeiro.
Solidão ou liberdade? Qual palavra define
mais a vida de Darel Valença Lins, gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e
professor que mora sozinho em uma grande casa no Rio de Janeiro? Mais do que eu possa me reconhecer
oferece uma proposta artística rara onde insere o protagonista documentado no processo
artístico para mostrar sua vida e seu trabalho. Não coisas que lhe aconteceram
há anos, como sua vinda do Recife para
Rio, sua família, suas viagens, suas conquistas. Apresenta-se o Darel de
hoje, o homem de mais de 80 anos, vivendo na liberdade de se estar sozinho.
Como em Um Homem com uma Câmera, Darel recebe o instrumento de produção
audiovisual e se entrega a realizar imagens de seu dia-a-dia. Claro que o
artista já está acostumado a lidar com uma câmera, pois a utiliza para a
realização de inúmeros vídeos arte há anos, mas parece ser a primeira vez que a
utiliza como um espelho: enquanto Allan Ribeiro e sua equipe o filmam, Darel
filme Allan e sua equipe. As imagens captadas por Darel são livres. Nelas, protagonizam
objetos usados em seu cotidiano, móveis, obras de arte e seu gato de estimação.
As imagens, entretanto, são imprevisíveis. Como é de direito a um homem com
mais de 80 anos, Darel está livre para filmar como bem entende.
Mas, como já foi apontado, o longa não é
feito apenas de imagens captadas por Darel. É uma união de imagens feitas pelo
artista e pelo cineasta Allan Ribeiro. A iluminação, tanto nos vídeos de Darel
quanto nos de Allan, é a natural da casa onde Darel reside. O som direto permite
que qualquer coisa seja ouvida, seja o que Darel ou Allan falam, seja o barulho
que vem da rua. Como complemento, em determinados momentos, músicas, em sua
maioria eruditas, são inseridas na imagem para ilustrar a vida de Darel. É
desse estilo de música que o protagonista gosta. Durante as conversas com o
artista, planos longos com monólogos sem interrupção. Mais uma vez, Darel está
livre. Para valorizar a arte de Darel, Allan apresenta as pinturas e detalhes
delas, como que tentando encontrar os sentimentos e inspirações que levaram o protagonista
a realiza-las.
Nesses monólogos, o protagonista revela um
pouco de suas intimidades e, sobretudo, seus pensamentos sobre a vida e sobre a
arte. As reflexões típicas sobre a vida são expressadas de forma natural e sem
certeza alguma. Apesar de seus 84 anos, Darel parece questionar tudo à sua
volta, como um menino de 8. Além disso, o artista vende seu peixe. Apresenta
seu trabalho na pintura e no audiovisual. Debate sobre as formas de se produzir
arte e a forma de expressar o que se sente. Revela quais suas intenções em
fazer isso ou aquilo (e também revela que as vezes não faz ideia do que está
fazendo). Por fim, vive-se o cotidiano de Darel: o café da manhã e outras refeições,
a hora do banho, a chegada do carteiro, a ligação pelo telefone para resolver
um problema com uma empresa, a hora de alimentar o gato, o momento de inspiração.
Tudo apresentado em uma montagem paralela e com músicas clássicas ao fundo.
E de forma sublime, Allan leva seu
documentado, seu protagonista para a rua. Ali, longe do conforto do lar, do
lado de fora da redoma de vidro que a casa da gente representa para cada um.
Darel está em um mundo novo. As luzes e formas da cidade, a gente que anda de um
lado para o outro (em carros, bicicletas, ônibus, motocicletas, ou apé) são tão
livres ali fora quanto Darel é em sua casa, em seu mundo. Além de mudar o
ambiente, Allan Ribeiro muda, também, a música, revelando um remix muito popular
da década passada. Não há dúvidas: ali não é o lugar de Darel. Toda a agitação,
a correria, a competitividade já não fazem mais parte da vida do homem que
viajou o mundo, desbravou obras clássicas e se propôs a viver sozinho.
Allan Ribeiro e Darel Valença Lins se
encontram nesse documentário tocante e muito bem realizado. As poucas conversas
que escapam entre uma cena e outra, onde diretor e ator trocam ideias, mostram
o quanto ambos estavam envolvidos no projeto. Allan, revela um filme experimental
muito natural. Revela que para se fazer cinema é preciso uma ideia, uma equipe
disposta e personagem bem pensado. Com muito humor (mesmo em relação às
tragédias humanas) Darel, com seus mais de 80 anos, lembra que ao mesmo tempo
em que precisamos ouvir os mais velhos, não podemos esquecer que mesmo eles têm
muito a descobrir, a refletir e a reconhecer. Sobre o mundo. Sobre os outros.
Sobre eles mesmos.
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