sexta-feira, 18 de setembro de 2015

COBERTURA 48º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

Na tarde de quinta-feira (17), iniciou a Mostra Panorama Brasil, que contará com a apresentação de 5 longas-metragem dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e do Distrito Federal. O primeiro filme foi Mais do Que eu Possa me Reconhecer, de Allan Ribeiro.



Solidão ou liberdade? Qual palavra define mais a vida de Darel Valença Lins, gravurista, pintor, desenhista, ilustrador e professor que mora sozinho em uma grande casa no Rio de Janeiro? Mais do que eu possa me reconhecer oferece uma proposta artística rara onde insere o protagonista documentado no processo artístico para mostrar sua vida e seu trabalho. Não coisas que lhe aconteceram há anos, como sua vinda do Recife para  Rio, sua família, suas viagens, suas conquistas. Apresenta-se o Darel de hoje, o homem de mais de 80 anos, vivendo na liberdade de se estar sozinho.
Como em Um Homem com uma Câmera, Darel recebe o instrumento de produção audiovisual e se entrega a realizar imagens de seu dia-a-dia. Claro que o artista já está acostumado a lidar com uma câmera, pois a utiliza para a realização de inúmeros vídeos arte há anos, mas parece ser a primeira vez que a utiliza como um espelho: enquanto Allan Ribeiro e sua equipe o filmam, Darel filme Allan e sua equipe. As imagens captadas por Darel são livres. Nelas, protagonizam objetos usados em seu cotidiano, móveis, obras de arte e seu gato de estimação. As imagens, entretanto, são imprevisíveis. Como é de direito a um homem com mais de 80 anos, Darel está livre para filmar como bem entende.


Mas, como já foi apontado, o longa não é feito apenas de imagens captadas por Darel. É uma união de imagens feitas pelo artista e pelo cineasta Allan Ribeiro. A iluminação, tanto nos vídeos de Darel quanto nos de Allan, é a natural da casa onde Darel reside. O som direto permite que qualquer coisa seja ouvida, seja o que Darel ou Allan falam, seja o barulho que vem da rua. Como complemento, em determinados momentos, músicas, em sua maioria eruditas, são inseridas na imagem para ilustrar a vida de Darel. É desse estilo de música que o protagonista gosta. Durante as conversas com o artista, planos longos com monólogos sem interrupção. Mais uma vez, Darel está livre. Para valorizar a arte de Darel, Allan apresenta as pinturas e detalhes delas, como que tentando encontrar os sentimentos e inspirações que levaram o protagonista a realiza-las.
Nesses monólogos, o protagonista revela um pouco de suas intimidades e, sobretudo, seus pensamentos sobre a vida e sobre a arte. As reflexões típicas sobre a vida são expressadas de forma natural e sem certeza alguma. Apesar de seus 84 anos, Darel parece questionar tudo à sua volta, como um menino de 8. Além disso, o artista vende seu peixe. Apresenta seu trabalho na pintura e no audiovisual. Debate sobre as formas de se produzir arte e a forma de expressar o que se sente. Revela quais suas intenções em fazer isso ou aquilo (e também revela que as vezes não faz ideia do que está fazendo). Por fim, vive-se o cotidiano de Darel: o café da manhã e outras refeições, a hora do banho, a chegada do carteiro, a ligação pelo telefone para resolver um problema com uma empresa, a hora de alimentar o gato, o momento de inspiração. Tudo apresentado em uma montagem paralela e com músicas clássicas ao fundo.


E de forma sublime, Allan leva seu documentado, seu protagonista para a rua. Ali, longe do conforto do lar, do lado de fora da redoma de vidro que a casa da gente representa para cada um. Darel está em um mundo novo. As luzes e formas da cidade, a gente que anda de um lado para o outro (em carros, bicicletas, ônibus, motocicletas, ou apé) são tão livres ali fora quanto Darel é em sua casa, em seu mundo. Além de mudar o ambiente, Allan Ribeiro muda, também, a música, revelando um remix muito popular da década passada. Não há dúvidas: ali não é o lugar de Darel. Toda a agitação, a correria, a competitividade já não fazem mais parte da vida do homem que viajou o mundo, desbravou obras clássicas e se propôs a viver sozinho.
Allan Ribeiro e Darel Valença Lins se encontram nesse documentário tocante e muito bem realizado. As poucas conversas que escapam entre uma cena e outra, onde diretor e ator trocam ideias, mostram o quanto ambos estavam envolvidos no projeto. Allan, revela um filme experimental muito natural. Revela que para se fazer cinema é preciso uma ideia, uma equipe disposta e personagem bem pensado. Com muito humor (mesmo em relação às tragédias humanas) Darel, com seus mais de 80 anos, lembra que ao mesmo tempo em que precisamos ouvir os mais velhos, não podemos esquecer que mesmo eles têm muito a descobrir, a refletir e a reconhecer. Sobre o mundo. Sobre os outros. Sobre eles mesmos.


ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Poderá gostar também de: