Na noite de sexta-feira (18), a Mostra Competitiva de Filmes em curta, média ou longa metragem apresentou três filmes bastante distintos: Cidade Nova, de Diego Hoefel, Copyleft, de Rodrigo Carneiro, e Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba.
Um jovem volta à região de sua cidade
natal no interior do Ceará. A cidade, agora, está embaixo d’água, apenas com parte
dos postes para fora da água. Ao lado do local, uma nova cidade foi erguida e é
onde o rapaz terá de enfrentar passado, presente e futuro. Cidade Nova tem uma fotografia espetacular que ganha o espectador
logo no primeiro plano do filme, onde o protagonista e outro jovem observam a
“cidade velha”, agora submersa. O diálogo carregado de nostalgia e humor negro
deixa o espectador bastante curioso com o restante do filme. Apesar de a
fotografia e a mixagem de som permanecerem ótimas, o enredo envolve pouco o espectador
à medida que não há tempo para desenvolver o personagem e suas relações, e o
que sobra é um homem perdido, sem rumo. A história e os questionamentos do
jovem poderiam ser melhor desenvolvidos.
Com uma proposta corajosa e bastante
ousada, Copyleft conta a história de
um jovem homossexual que tem medo de ser quem é e acaba tentando a “cura” em um
gel para a masculinidade. Outro filme com
fotografia interessante, que prioriza os tons pasteis e planos fixos, e com
mixagem de som de qualidade, o filme ainda conta com animações curiosas e uma
montagem que mistura a história de Pedro, o protagonista, com divagações
interessantes sobre a homofobia e suas consequências. A interpretação do
protagonista, por vezes é bastante exagerada e, mesmo que seja intencional para
chamar mais a atenção para a causa, incomoda. Apesar do fato de que falar sobre
a homofobia e suas consequências seja uma urgência, o filme exagera um pouco e,
em alguns momentos, cai no erro de defender, sobretudo, homens homossexuais,
travestis e mulheres transexuais e esquece de incluir as mulheres homossexuais
ou homens transexuais no discurso.
Para
a Minha Amada Morta
conta a história de um homem, pai de um garotinho, que fica viúvo da mulher que
amava. Assistindo a algumas fitas VHS que a esposa guardava no escritório onde
trabalhava, descobre que ela mantinha um caso extraconjugal com outro homem.
Desesperado, ele decide ir atrás do amante e de sua família. O enredo do longa
da noite não é algo muito novo para nenhum espectador ligado, especialmente, em
filmes americanos do gênero. A forma como Aly Muritiba conta esta história,
entretanto, é incrível. Com uma fotografia que lembra bastante as séries
americanas que estão em alta no momento e que são um novo conceito apropriado pela
televisão brasileira e pelo cinema mundial, o filme conta com planos longos (alguns
com vários minutos de duração) com grande carga dramática, onde os atores
revelam todo seu potencial sem que os cortes quebrem a grandiosidade de suas
interpretações e da direção de Muritiba.
Além da imagem proporcionada pela câmera, pelos
atores e pela mise èn scene conduzida por Aly Muritiba ser excelente, o filme possui
qualidade sonora impecável. Segundo o próprio diretor, o design de som foi
realizado por um amigo músico que está com ele desde seu primeiro filme. A
edição e a mixagem de som também não fogem dessa qualidade técnica que pode ser
conferida na grande maioria dos trabalhos do cineasta. Tudo isso, aliado a uma
trilha sonora impactante e que não se sobressai em momento algum, cria uma
tensão e uma expectativa sobre cada cena e sobre as cenas que virão após
aquela. E, sem dúvida, o elenco, protagonizado por Fernando Alves Pinto (uma das melhores atuações do ano no cinema), Mayana
Neiva e Lourinelson Vladmir, contribui com suas interpretações realistas e que
também se mantem em um nível sempre muito equilibrado. Com tamanha qualidade
técnica, o que será revela no desfecho do longa, sem dúvidas, é o grande trunfo
para prender o espectador, mas não é o único.
Diferente das noites anteriores do
Festival, onde os filmes selecionados tinham histórias inteligentes que tinham
crianças como pontos de vistas (na quarta-feira) e filmes que incomodavam o espectador
de diferentes formas (na quinta-feira), os filmes apresentados no terceiro dia
da Mostra Competitiva de filmes do Festival possuem em comum uma fotografia
exuberante e uma qualidade sonora inquestionáveis. Cada um deles aborda temas
muito diferentes, apesar de os três terem homens confusos e cheios de
questionamentos sobre a vida como centro das histórias. Com reações diversas do
público e bastante expressivas, especialmente em relação aos dois últimos
filmes, a quarta noite do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro mostrou que
o evento ainda tem muito o que surpreender.
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