Big Jato, de Claudio Assis, vence melhor filme do ano. Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, é o mais premiado da noite, incluindo melhor direção. Dentre os curtas e médias, Quintal, de André Novais foi o destaque e Nathália Tereza vence melhor direção na categoria. Confira todos os vencedores e comentários sobre o 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
O
48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ofereceu, entre os dias 15 e 22
de setembro, inúmeras
atividades ao público que trabalha com cinema e audiovisual ou se interessa
pela área. Na noite do primeiro dia do evento, aconteceu a estreia do filme Um Filme de Cinema, novo documentário em
longa-metragem de Walter Carvalho. Na manhã do dia seguinte, o cineasta
participou de um debate sobre o filme e a tarde de uma master classe sobre
fotografia. Mais duas master classes aconteceram durante o evento: uma com Marcos
Bernstein sobre roteiro, e outra com Marcelo Torres sobre direção de produção. As
mostras de filmes do ano foram: Festivalzinho (mostra de filmes de
curta-metragem com temática infantil em parceria com a Mostra Cinema Infantil
de Florianópolis), Mostra Brasília (com filmes feitos no Distrito Federal),
Mostra Panorama Brasil (com cinco filmes em longa metragem selecionados dentre
os que não foram escolhidos para a competitiva), Mostra Continente Compartilhado
(filmes produzidos pelo Brasil e outros países) e Mostra Competitiva (filmes em
curta, média e longa-metragem de todo o Brasil).
Os filmes apresentados na Mostra Panorama Brasil já mostram
como o Festival dá preferência aos filmes feitos na macrorregião sul
brasileira: dois cariocas, dois paulistas e um do Distrito Federal. Foram eles:
Mais do que eu Possa Me Reconhecer,
de Allan Ribeiro, Através, de André
Michiles, Diogo Martins e Fábio Bardella, Olhar
de Nise, de Jorge Oliveira e Pedro Zoca, 5 Vezes Chico – O Velho e Sua Gente, de Gustavo Spolidoro, Ana
Rieper, Camilo Cavalcanti, Eduardo Goldenstein e Eduardo Nunes, e Asco, de Ale Paschoalini. Dentre os
cinco, vale ressaltar que ao menos dois deles (Mais do que eu Possa Me Reconhecer e 5 Vezes Chico) mereciam ter ocupado um lugar na Mostra Competitiva
de longa nos lugares de Santoro: O Homem e
Sua Música e Prova de Coragem.
Na Mostra Competitiva, a situação geográfica é semelhante.
Não há nenhum representante da região Norte do país e apenas três da região
Nordeste (sendo um deles, uma coprodução do Distrito Federal). Os demais filmes
são distribuídos entre os estados que compõe a macrorregião Sul: quatro são de
São Paulo, um do Rio de Janeiro, dois de Minas Gerais, três do Distrito
Federal, um do Mato Grosso do Sul, dois do Paraná e um do Rio Grande do Sul. Os
longas do festival foram: A Família
Dionti, de Alan Minas (RJ), Fome,
de Cristiano Burlan (SP), Para Minha
Amada Morta, de Aly Muritiba (PR), Big
Jato, de Claudio Assis (PE), Santoro:
O Homem e Sua Música, de John Howard Szerman (DF), e Prova de Coragem, de Roberto Gervitz (RS). Dos seis filmes,
entretanto, apenas dois mereceram realmente estarem no festival: A Família Dionti, com uma proposta
fantástica deliciosa, e Para Minha Amada
Morta, um drama pesado, realista e sem apelações dramáticas. Os demais
filmes possuem problemas estéticos, de narrativa e de interpretação muito
grandes e estão bem a baixo da média.
Na premiação dos longas do festival, destacaram-se dois
filmes: Big Jato e Para Minha Amada Morta, que dividiram 11 dos 12 prêmios concedidos
pelo festival. O outro prêmio, de melhor som, foi dado ao longa Fome, mais interessante, seria entregar logo
o prêmio a Para Minha Amada Morta, que tem sonorização muito superior aos
demais, ou ao filme A Família Dionti,
para dividir um pouco os Candangos. Dentre os prêmios recebidos por Big Jato, os únicos realmente merecidos
foram o de melhor trilha sonora e melhor atriz, para Marcélia Cartaxo, que
rouba todas as cenas em que aparece. Apesar de ter uma história interessante, o
roteiro do filme exagera em alguns momentos e, novamente, A Família Dionti merecia ter levado. Apesar de ser um dos melhores
atores de sua geração, Matheus Nachetergaele tem um desempenho fraco e bastante
superficial no filme. Fernando Alves Pinto, também de Para Minha Amada Morta, teve um dos desempenhos mais incríveis dos
últimos dois anos na telona e merecia ter saído com o prêmio. A impressão que
fica é que o júri refletiu e decidiu que já que Claudio Assis, figurinha já
carimbada no festival, não levaria o prêmio de melhor direção, melhor
consolá-lo com o de melhor filme. Aly Muritiba, de Para Minha Amada Morta, entretanto, triunfou com o prêmio de melhor
direção em seu primeiro longa-metragem. Dentre os prêmios conquistados por este
filme, todos são muito merecidos. O longa paranaense é um daqueles filmes raros,
com qualidade indiscutível, em anos bastante complicados para o cinema nacional.
Voltando aos números absurdos sobre os filmes do festival e
seus estados, chegamos aos curta e média-metragens desta edição. Três deles, do
estado de São Paulo: Command Action,
de João Paulo Miranda Maria, À Parte do
Inferno, de Raul Arthuso, e O Sinaleiro,
de Daniel Augusto. De Minas Gerais, foram três curtas: Rapsódia para o Homem Negro, de Gabriel Martins, Copyleft, de Rodrigo Carneiro, Quintal, de André Novais Oliveira. Nos
demais estados, um curta: Paraná: Tarantula,
de Aly Muritiba. Ceará/DF: Cidade Nova,
de Diego Hoefel. DF: Afonso é uma Brazza,
de Naji Sidki e James Gama. Mato Grosso do Sul: A Outra Margem, de Nathália Tereza. Ceará: História de uma Pena, de Lonardo Mouramateus. Rio Grande do Sul: O Corpo, de Lucas Cassales. Mais uma
vez, fica claro como os estados do sul do país são favoritos.
Na premiação, Quintal
se destacou merecidamente como melhor filme, melhor atriz e melhor roteiro.
Dentre os outros filmes, também mereciam ter sido escolhidos como melhor curta
ou media, filmes como: Rapsódia para o
Homem Negro, Tarântula, O Sinaleiro e A Outra Margem. Dentre as atrizes, merece desta que Rejane Faria,
representando a força da mulher e da cultura afro em Rapsódia para o Homem Negro. A escolha de melhor ator para o
brasiliense João Campos, por Cidade Nova,
não tem nada de imparcial. Fernando Teixeira, de O Sinaleiro (que também poderia levar, com facilidade, a melhor
montagem), e Breno Benetti, de A Outra Margem,
por exemplo, tiveram desempenhos melhores. Não há dúvidas, entretanto que A Outra Margem merecia o prêmio de
melhor fotografia, e à À Parte do Inferno, o prêmio de melhor som. Além dos merecidos
prêmios dados ao curta Quintal, o filme
Tarântula também foi um dos acertos da noite ou receber o de melhor direção de
arte.
Mas o melhor de toda a premiação foi, sem dúvidas, ver Nathalia
Tereza levar o prêmio de melhor direção em curta-metragem. Agradável por ela
tratar um agroboy como um homem apaixonado e entregue, que é uma figura sempre
associada a uma postura machista e misógina, e que só se importa em contar quantas
mulheres leva para a cama. Agradável por que, como Nathália mesma apontou, é um
momento ótimo para vencer o prêmio, já que o festival foi forçado a ouvir a foz
feminina que não cessou em vaiar Claudio Assis (que voltou a ser ouvida na
premiação quando ele foi buscar o Candango de melhor roteiro e de melhor filme).
Importante, também, por que A Outra
Margem e apenas mais dois filmes da 48ª edição do festival foram dirigidos
por mulheres. Não é, sem dúvidas, uma coincidência que Big Jato tenha levado o prêmio mais importante da noite.
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