segunda-feira, 21 de setembro de 2015

COBERTURA 48º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO

Uma das sessões mais esperadas do Festival ocorreu ne noite de sábado (19) e contou com a apresentação dos filmes Quintal, de André Novais Oliveira, Afonso é uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama, e Big Jato, de Claudio Assis.



No ano passado, André Novais Oliveira arrebatou público e crítica com seu Ela Volta Na Quinta, longa híbrido (“meio documentário, meio ficção”) que aborda o cotidiano de seus pais, que protagonizam o filme. Em Quintal, voltamos a ver o cotidiano dos pais do cineasta, mas, dessa vez, eles estão sozinhos em casa e a trama é abordada permeando o fantástico. O vento em velocidade absurda que tira os pés da mãe de André do chão e o buraco negro que se forma do lado de fora da casa representam, de forma cômico e muito agradável, como o cotidiano de pessoas idosas pode ser imprevisível. Os efeitos especiais nos dois casos são bastante realistas. As piadas feitas de forma natural no dia-a-dia tão um ritmo interessante ao filme. A fotografia do longa lembra bastante o gênero de documentário, com planos fixos e poucos cortes em uma mesma cena.


Afonso Brazza foi um cineasta, ator e produtor que realizou seis longas durante uma breve carreira. Seu amor e dedicação pelo cinema são revelados no documentário Afonso é uma Brazza. O curta-metragem se baseia em imagens captadas nos bastidores dos filmes realizados por Afonso e mistura comentários do diretor e de pessoas que trabalhavam com ele, com as filmagens dos longas de Afonso. Além disso, o filme apresenta a vida pessoal do cineasta, falando sobre a esposa que tanto amava, Claudete Joubert, a família, o medo da morte, as dificuldades financeiras, os sonhos ainda não realizados. De forma simples, mas divertida, o filme faz uma homenagem sem grandes momentos para cineasta. Ou melhor, o média faz uma homenagem para um cinema brasileiro difícil de ser realizado, mas que só existe por figuras como Afonso Brazza.


O filme mais aguardado do Festival, Big Jato conta a história de Xico, um adolescente que vive em uma pequena cidade do sertão pernambucano e sonha em ser poeta. Antes de pensar em seguir sua vida sozinho, Xico ajuda o pai, que trabalha em um caminhão que limpa as fossas das casas alheias. O longa é baseado em uma história criada pelo escritor Xico Sá e tem um roteiro diferente dos demais filmes de Claudio Assis, é mais tradicional, com amarras mais nítidas. O mesmo se pode dizer sobre a fotografia, que, apesar de bem feita, não tem muitas novidades e acaba sempre caindo em planos muito clichês. Um dos pontos interessantes é a iluminação natural do sertão nas cenas externas. Apesar de ter uma trilha sonora inteligente e som ambiente bastante característico, a mixagem de som peca e apresenta um trabalho com camadas de som que se misturam e confundem o espectador. Por fim, as interpretações do longa, em sua maioria, são bastante caricatas e um pouco fracas, o próprio Matheus Nachtergaele, excelente nos demais longas de Claudio, não consegue separar os dois personagens que encara em Big Jato (o pai de Xico e seu irmão gêmeo).
Como de costume, antes de a sessão começar, os filmes e suas equipes foram apresentadas. Quando chegou a vez de a equipe do longa Big Jato subir ao palco, entretanto, Claudio Assis foi recebido com vaias. Com palavras como “machista” e “machista não passará”, a voz do cineasta foi sufocada e ele teve que passar o microfone para r Nachtergaele. Em uma segunda tentativa, a voz de Claudio foi novamente abafada e ele não pôde terminar seu discurso. Era a estreia do filme do cineasta. As vaias não foram para o longa, e sim para o diretor. A repressão à voz de Claudio foi uma reação das mulheres de Brasília pelas atitudes que o pernambucano vem apresentando nos últimos anos e teve como faísca comentários feitos por ele frente ao novo longa de Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta?. No Pernambuco, Claudio Assis e Lírio Ferreira passaram dos limites e ofenderam Anna e a protagonista do longa, Regina Casé. No final da sessão de Big Jato em Brasília, o filme acabou sendo ovacionado. Vale ressaltar, entretanto, que quem foi vaiado, foi Claudio, e quem foi aplaudido, foi o conjunto do longa.



Durante a apresentação dos curtas, os espectadores riram muito e se deliciaram com ambas as histórias, contadas com muito humor e naturalidade. Quintal é um filme que resulta de uma história simples, despretensiosa, mas não por isso menos interessante que qualquer outra. Afonso é uma Brazza é um curta também cheio de simplicidade, mas que revela a história de um homem surpreendente. Big Jato, por outro lado, é um filme com uma história modesta, mas que, na tentativa de contá-la de forma original, cai em um número absurdo de clichês. Com roteiro que permeia entre o cômico e o dramático, com algumas metáforas muito bem-vindas, Big Jato é um filme que conta uma história interessante, mas realizada de forma muito superficial e clássica demais, o que não convence. 

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