Uma das sessões mais esperadas do Festival ocorreu ne noite de sábado (19) e contou com a apresentação dos filmes Quintal, de André Novais Oliveira, Afonso é uma Brazza, de Naji Sidki e James Gama, e Big Jato, de Claudio Assis.
No ano passado, André Novais Oliveira
arrebatou público e crítica com seu Ela
Volta Na Quinta, longa híbrido (“meio documentário, meio ficção”) que
aborda o cotidiano de seus pais, que protagonizam o filme. Em Quintal, voltamos a ver o cotidiano dos pais
do cineasta, mas, dessa vez, eles estão sozinhos em casa e a trama é abordada permeando
o fantástico. O vento em velocidade absurda que tira os pés da mãe de André do
chão e o buraco negro que se forma do lado de fora da casa representam, de
forma cômico e muito agradável, como o cotidiano de pessoas idosas pode ser imprevisível.
Os efeitos especiais nos dois casos são bastante realistas. As piadas feitas de
forma natural no dia-a-dia tão um ritmo interessante ao filme. A fotografia do
longa lembra bastante o gênero de documentário, com planos fixos e poucos
cortes em uma mesma cena.
Afonso Brazza foi um cineasta, ator e produtor
que realizou seis longas durante uma breve carreira. Seu amor e dedicação pelo
cinema são revelados no documentário Afonso
é uma Brazza. O curta-metragem se baseia em imagens captadas nos bastidores
dos filmes realizados por Afonso e mistura comentários do diretor e de pessoas
que trabalhavam com ele, com as filmagens dos longas de Afonso. Além disso, o filme
apresenta a vida pessoal do cineasta, falando sobre a esposa que tanto amava,
Claudete Joubert, a família, o medo da morte, as dificuldades financeiras, os
sonhos ainda não realizados. De forma simples, mas divertida, o filme faz uma
homenagem sem grandes momentos para cineasta. Ou melhor, o média faz uma
homenagem para um cinema brasileiro difícil de ser realizado, mas que só existe
por figuras como Afonso Brazza.
O filme mais aguardado do Festival, Big Jato conta a história de Xico, um
adolescente que vive em uma pequena cidade do sertão pernambucano e sonha em
ser poeta. Antes de pensar em seguir sua vida sozinho, Xico ajuda o pai, que
trabalha em um caminhão que limpa as fossas das casas alheias. O longa é
baseado em uma história criada pelo escritor Xico Sá e tem um roteiro diferente
dos demais filmes de Claudio Assis, é mais tradicional, com amarras mais nítidas.
O mesmo se pode dizer sobre a fotografia, que, apesar de bem feita, não tem
muitas novidades e acaba sempre caindo em planos muito clichês. Um dos pontos
interessantes é a iluminação natural do sertão nas cenas externas. Apesar de
ter uma trilha sonora inteligente e som ambiente bastante característico, a
mixagem de som peca e apresenta um trabalho com camadas de som que se misturam e
confundem o espectador. Por fim, as interpretações do longa, em sua maioria,
são bastante caricatas e um pouco fracas, o próprio Matheus Nachtergaele,
excelente nos demais longas de Claudio, não consegue separar os dois personagens
que encara em Big Jato (o pai de Xico e seu irmão gêmeo).
Como de costume, antes de a sessão
começar, os filmes e suas equipes foram apresentadas. Quando chegou a vez de a
equipe do longa Big Jato subir ao palco,
entretanto, Claudio Assis foi recebido com vaias. Com palavras como “machista”
e “machista não passará”, a voz do cineasta foi sufocada e ele teve que passar
o microfone para r Nachtergaele. Em uma segunda tentativa, a voz de Claudio foi
novamente abafada e ele não pôde terminar seu discurso. Era a estreia do filme
do cineasta. As vaias não foram para o longa, e sim para o diretor. A repressão
à voz de Claudio foi uma reação das mulheres de Brasília pelas atitudes que o pernambucano
vem apresentando nos últimos anos e teve como faísca comentários feitos por ele
frente ao novo longa de Anna Muylaert, Que
Horas Ela Volta?. No Pernambuco, Claudio Assis e Lírio Ferreira passaram
dos limites e ofenderam Anna e a protagonista do longa, Regina Casé. No final
da sessão de Big Jato em Brasília, o
filme acabou sendo ovacionado. Vale ressaltar, entretanto, que quem foi vaiado,
foi Claudio, e quem foi aplaudido, foi o conjunto do longa.
Durante a apresentação dos curtas, os espectadores
riram muito e se deliciaram com ambas as histórias, contadas com muito humor e
naturalidade. Quintal é um filme que resulta
de uma história simples, despretensiosa, mas não por isso menos interessante
que qualquer outra. Afonso é uma Brazza
é um curta também cheio de simplicidade, mas que revela a história de um homem
surpreendente. Big Jato, por outro
lado, é um filme com uma história modesta, mas que, na tentativa de contá-la de
forma original, cai em um número absurdo de clichês. Com roteiro que permeia
entre o cômico e o dramático, com algumas metáforas muito bem-vindas, Big Jato é um filme que conta uma
história interessante, mas realizada de forma muito superficial e clássica
demais, o que não convence.
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