segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

151. O TALENTOSO RIPLEY, de Anthony Minghella


O perigo de tentarmos encontrar a nós mesmos está exatamente nessas descobertas a respeito de nossos próprios desejos, medos e anseios.
Nota: 9,5

Título Original: The Talented Mr. Ripley
Direção: Anthony Minghella
Elenco: Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Cate Blanchett, Philip Seymour Hoffman, James Rebhorn, Sergio Rubini, Phiplip Baker Hall, Celia Weston, Fiorello, Stefania Rocca
Produção: William Horberg, Tom Sternberg
Roteiro: Anthony Minghella e Patricia Highsmith (romance)
Ano: 1999
Duração: 139 min.
Gênero: Drama / Thriller / Crime

Quando Tom Ripley se passa por um ex-colega de Dickie Greenleaf e é convidado pelo pai milionário do jovem para tentar trazê-lo de volta para a América – Dickie cansou da vida de riquinho vivendo com os pais e mudou-se para a Europa – o trambiqueiro vê sua chance de conquistar o jovem e permanecer rico por muito tempo. Entretanto, quando Dickie começa a enjoar da presença “grudenta” de Ripley é chegada a hora de escolher entre o certo e o fácil, e Tom se verá em uma rede de mentiras e mortes impossível de se escapar.



Patricia Highsmith se tornou uma escritora famosa por suas histórias de thriller psicológicos, além de grandes obras literárias, ela também escreveu contos, é óbvio que todos no mesmo tom macabro, irônico e repletos do bom humor negro que todo mundo gosta. Para Ripley ela reservou aquele tipo de história sobre a qual não podemos contar muito, afinal, qualquer detalhe poderia estragar quase toda a diversão e a intenção de surpreender o espectador. Após “O Paciente Inglês” (1996), esperava-se que Minghella permanecesse em seu patamar (que é bem alto, por sinal), e foi exatamente isso que aconteceu. Apesar de os dois filmes abordarem temáticas totalmente diferentes, o estilo de Minghella permanece o mesmo: sóbrio, objetivo, com tomadas amplas ou fechadas muito bem feitas e a exploração maravilhosa de cada cenário. Além disso, a fotografia e a edição do filme, bem como seu figurino – que surpreende mais ainda quando vemos a clara mudança de Tom Ripley: do garoto pobre dos EUA, ao amigo do rico Dickie na Europa – são obras a parte. A trilha sonora é do mesmo compositor de “O Paciente Inglês” – que venceu o Oscar em 1997 pelo filme -, Gabriel Yared. Obviamente, isso contribui ainda mais para as semelhanças entre os dois filmes, mas, ainda assim “O Talentoso Ripley” é uma produção original que surpreende a cada cena, mesmo sabendo o enredo todo da trama, cada ação de Ripley é imprevisível e surpreendente.



Para viver o psicopata no cinema foi escolhido Matt Damon, apesar de não gostar do ator em grande parte de seus filmes, aqui ele está fantástico. Dentre as principais características de Ripley, temos sua habilidade em imitar pessoas e assinaturas de forma quase perfeita, entretanto, durante o filme, parece que a personagem acredita em suas próprias mentiras, e Damon é tão fantástico que parece que ora ele está manipulando Ripley, ora a personagem manipula seu intérprete; enfim, realizar um trabalho tão maravilhoso ao interpretar um psicopata (que, para piorar, acredita ser necessário matar esse ou aquele indivíduo) como Damon realiza, é algo digno de ser assistido e admirado. Ao lado do ator está Jude Law como Dickie, em uma de suas melhores interpretações, como um homem mimado que resolveu sumir no mundo para tentar buscar algum sentido na vida, ao menos é nisso que ele acredita, para mim Dickie é um ingrato notório, em suma, Law também está ótimo, o que pode ser verificado em uma das melhores cenas do filme, em que ele e Damon duelam em uma discussão que parece interminável – seu desfecho é ótimo e só prova ainda mais a loucura de Ripley. Gwyneth Paltrow é a namorada de Dickie, uma escritora que, apesar de inteligente, é um tanto chata demais, daquele tipo de riquinha estressante e sem graça, apesar da personagem ser dessa forma, Paltrow é mais uma surpresa ótima. Quem não é surpresa alguma e só confirma seu talento é a dupla formada por Cate Blanchett e Philip Seymour Hofman – os dois não tem nada a ver um com o outro e nem chegam a contracenar juntos, que fique claro -, ela vive Meredith Logue, filha de pessoas ricas, a jovem também tenta fugir da família, mas acaba caindo nas falsidades de Ripley quando ele chega a Europa e diz a ela, para surpreendê-la e conquistá-la mais rapidamente, que ele é Dickie Greenleaf, ela, inocentemente, acredita em tudo o que ele fala, do começo ao fim; Hoffaman é o amigo de Dickie, Freddie Miles, mais um bon vivant que vive sua vida como se não tivesse responsabilidade alguma e acreditando que a é vida feita apenas dessas pequenas emoções, que ele considera emoções inacreditáveis. Por fim, a última vítima de Ripley - um bom homem que se apaixona por ele -, Peter Smith-Kingsley, interpretado por Jack Davenport, mais um presente em um elenco tão bem composto, Peter é inocente, iludido e apaixonado, mas comedido para não deixar transparecer tudo para uma sociedade preconceituosa.

Apesar de Ripley ser o mais louco de todos, deve-se destacar que não há uma personagem que seja nessa história que não tenha vários problemas, e isso, por um simples motivo: todos aqui, sem exceção, são personagens que interpretam personagens criadas por eles para a vida ser algo menos irritante, monótona, sem graça, enfim, para viverem de forma mais emocionante. O problema se concentra na intensidade com qeu isso se faz presente, afinal, é normal inventarmos isso ou aquilo sobre nos mesmos e apenas para nós mesmos para esquecermos um pouco os problemas do mundo, mas viver dessa forma o tempo todo, sabendo que não somos aquilo que queremos que os outros acreditem, é algo desumano. Sendo assim, “O Talentoso Ripley” explora o íntimo do ser humano, encontrando os segredos mais obscuros de cada indivíduo, retirando até a última pedra daquele porão onde todos acabamos escondendo nossos segredos, dúvidas e medos. O problema está no exato momento em que a porta desse esconderijo nada secreto é aberta, pois descobrimos coisas sobre nós mesmos que jamais sabemos que existem, e até aspectos que não desejamos descobrir. E é aí que mora o perigo.



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