sábado, 30 de novembro de 2013

041. UM SALÃO DO BARULHO, de Bille Woodruff

Distrai pela simpatia de Queen Latifah e pela originalidade
Nota: 6,0


Título Original: Beauty Shop
Direção: Bille Woodruff
Elenco: Queen Latifah, Alicia Silverstone, Adie MacDowell, Alfre Woodard, Mena Suvari, Della Reese, Golden Brooks, Bryce Wilson, Laura Hayes, Paige Hurd, Pouco JJ, LisaRaye, Keshia Cavaleiro Pulliam, Sherri Shepherd, Kimora Lee Simmons, Kevin Bacon, Jim Holmes
Produção: aShakim Compere, David Hoberman, Queen Latifah, Robert Teitel e George Tillman Jr.
Roteiro: Elizabeth Hunter, Kate Lanier e Norman Vance Jr.
Ano: 2005
Duração: 105 min.
Gênero: Comédia

Gina Norris é uma mulher decidida e batalhadora que trabalha como cabeleireira no salão de Jorge. O marido de Gina morreu há um tempo e ela, a sogra, a cunhada e a filha vivem juntas. Apesar de poder pagar um bom colégio para a filha e ter uma vida tranquila, Gina é humilhada por Jorge o tempo todo. Certo dia, após um desentendimento, Gina pede demissão do salão e vai constrir a prórpia vida. Nesse contexto, ela compra um salão em um bairro simples, reforma-o e começa a trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro, dando uma reviravolta em sua vida e nas vidas de todos os que a cercam.
Em filmes como esse, esperamos que alguém chegue de forma muito chata e coloque toda a construção dos sonhos da protagonista a perder. É claro que, em um dado momento, Jorge se revoltará com o sucesso de sua ex empregada e irá aprontar alguma, mas isso demora tanto a acontecer e é algo tão rápido e insignificante para o contexto em geral da trama, que nem importa muito. O que quero dizer, é que, mesmo com a presença de clichês, o longa não traz uma briga idiota entre dois donos de salões que farão de tudo para acabar um com o negócio do outro. A reação de Jorge é apenas um ataque histérico a que muitas pessoas do ramo estão expostos. Enfim, o longa deixa o clichesismo de lado na maior parte do tempo e nos apresenta algo interessante por termos uma negra crescendo de forma honesta nos EUA, sem deixar o otimismo e a modéstia de lado. Bille Woodruff, também um negro, dirigiu algumas personalidades do show buzz em alguns clipes, como: Britney Spears, Toni Braxton, Céline Dion e R. Kelly; ainda liderou um dos primeiros longas de Jessica Alba no cinema, “Honey – No Ritmos dos Seus Sonhos” (2003). O filme, como um todo, é simples, afinal, se passa em locais simples com muita gente descontraída em volta. A composição do salão de Jorge se contrapõe a toda a descontração e nostalgia do salão de Gina e a simplicidade e simpatia da protagonista dão um tom mais real ainda à trama. Além das musicais muito características, é interessante ver algumas manias que podemos atribuir a personagens características dos filmes: os negros. Entre eles, os personagens não tem problema em usar alguns termos pejorativos e todos usam gírias que poucas pessoas, a não ser eles, compreendem totalmente; uma das cabeleireiras do salão de Gina, por exemplo, usa roupas com estampas de tigre para lembrar o povo africano, uma radialista, por sua vez, fala abertamente sobre seu relacionamento e usa palavras muito características; o sotaque de todos é outra particularidade e a referência à Oprah Winfrey apenas deixa claro o orgulho de ser negro em um país de brancos.


Já expressei o quanto gosto de Queen Latifah, além de ser uma atriz de talento, a mulher é simpática, muito carismática e nunca deixou suas origens de lado, mesmo tendo se tornando um dos maiores ícones modernos dos EUA. Acho interessante como suas personagens possuem tantas semelhanças e, mesmo assim, Latifah consegue diferenciar cada uma delas de alguma forma única. Aqui, traz a maternidade a sua protagonista e o certo anseio para que tudo o que ela está fazendo de certo e para que nada seja posto a perder. Além de Latifah, o resto do elenco é pouco conhecido logo de cara, com exceção de Alicia Silverstone, vinda diretamente de “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) para interpretar Lynn, a única branca entre todas as cabeleireiras do novo salão de Gina, mesmo não sendo negra, porém, Lynn deseja se encaixar entre as novas colegas de trabalho e, de forma determinada e engraçada, Silverstone vai adquirindo características e costumes dos negros do bairro. Indicada ao Oscar por “Retratos de Uma Realidade” (1983) e vencedora de 1 Globo de Ouro, 3 prêmios do Sindicato dos Atores e 4 Emmys Alfre Woodard é a ótima Sra. Josephine, a mais velha das cabeleireiras, uma mulher supersticiosa e muito engraçada. A naturalidade de Woodard e sua simplicidade são uma das melhores coisas de todo o filme, pois acaba compondo uma personagem perfeita para o contexto do longa. Para viver a filha de Gina, a pequena Paige Hurd intepreta uma menina sonhadora que sente saudades do pai, mas insiste em ser pianista para fazer jus a honra do homem que a trouxe ao mundo e sabe que a mãe deve encontrar um companheiro legal e digno. Para completar o elenco feminino estão Serri Shepherd e Seryl Underwood, ambas duas negras com muito fogo, uma é cabeleireira no salão e outra é a tal radialista. Para compor o elenco masculino temos outro destaque infantil: Pouco JJ, que faz um jovem um pouco abusado que quer ser rapper e tem a mania de dar em cima de todas mas mulheres do bairro; Bryce Wilson, o único cabeleireiro do local, James, um homem sensível que todas pensam ser homossexual; e, por fim, Djimon Hounsou, que interpreta o futuro companheiro de Gina, Joe – vale lembrar que o ator já participou de mais de uma dezena de filmes e séries conhecidas no mundo todo.

“Um Salão do Barulho” pode parecer apenas mais uma dessas comédias de Sessão da Tarde para assistirmos se não tivermos mais nada o que fazer. O filme não é nenhuma obra prima, mas comédias decentes e com roteiros bem estruturados como essa são tão raras no cinema, que vale a pena assistir a esse longa. Além disso, as atuações são engraçadas e a mensagem de persistência que ele passa deve ser vista como mais um trunfo para deixar o filme bom. Para completar, não há nenhuma tentativa de elevar o negro como superior ao branco, ou exigir que os negros sejam tratados de forma mais digna. Aqui todos estão conformados com sua situações, apenas desejam seguir suas vidas de forma agradável e divertida. Certamente, se Barack Obama tivesse sido eleito presidente dos EUA antes desse filme ser realizado, seu nome seria mencionado aqui, não como um exemplo de superação, e sim de forma engraçada, lembrando que, assim como Oprah Winfrey, ninguém é melhor que ninguém e que não há necessidade alguma de que negros sejam postos a frente de qualquer outro ser humano.




VENCEDORES DO CÍRCULO DE CRÍTICOS DE FILMES DE NOVA YORK
Melhor Filme: Trapaça (American Hustle)
Melhor Diretor: Steve McQueen, por 12 Yers a Slave
Melhor Roteiro: Eric Singer e David O. Russell, por Trapaça
Melhor Ator: Robert Redford, por All is Lost
Melhor Atriz: Cate Blanchett, por Blue Jasmine
Melhor Ator Coadjuvante: Jared Leto, por Dallas Buyers Club
Melhor Atriz Coadjuvante: Jannifer Lawrence, por Trapaça
Melhor Diretor de Fotografia: Bruno Delbonnel, por Inside Llewin Davis
Melhor Filme de Animação: The Wind Rises
Melhor Documentário: Stories We Tell
Melhor Filme Estrangeiro: Blue is the Warmest Color
Melhor Primeiro Filme: Ryan Coogler, por Fruitvale Station
Prêmio Especial: Frederick Wiseman


VENCEDORES DO NATIONAL BOARD OF REWIEW AWARDS
Melhor Filme: Her
Melhor Direção: Spike Jonze, por Her
Melhor Ator: Bruce Dern, por Nebraska
Melhor Atriz: Emma Thompson, por Saving Mr. Banks
Melhor Ator Coadjuvante: Will Forte, por Nebrasca
Melhor Atriz Coadjuvante: Octavia spencer, por Fruitvale Station
Melhor Roteiro Original: Joel e Ethan Coen, por Inside Llewyn Davis
Melhor Roteiro Adaptado: Terence Winter, por O Lobo de Wall Street
Melhor Filme de Animação:
Melhor Estréia na Direção: Ryan Coogler, por Fruitvale Station
Melhor Filme Estrangeiro: The Past
Melhor Documentário: Stories We Tell
Melhor Elenco: Prisoners
Melhor Inovação: Gravidade
Prêmio especial: Colaboração entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio



ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

042. LINHA DE PASSE, de Walter Salles e Daniela Thomas

A realidade brasileira revelada de forma nua e crua em mais um grande filme nacional.
Nota: 9,5


Título Original: Linha de Passe
Direção: Walter Salles e Daniela Thomas
Elenco: Sandra Corveloni, João Baldasserini, Vinícius de Oliveira, Geraldo Rodrigues, Kaique Jesus Santos, Roberto Audi, Denise Weinberg, Ana Luiza Garritano, Sérgio Mastropasqua, Renata Novaes, Mário César Camargo, Gabriela Rabello, Rafael Losso, Almir Barros
Produção: Mauricio Andrade Ramos, Walter Salles, Daniela Thomas, Rebecca Yeldham
Roteiro: George Moura, Daniela Thomas, Bráulio Mantovani
Ano: 2008
Duração: 113 min.
Gênero: Drama

Cleuza é uma empregada doméstica residente do subúrbio de São Paulo que tem quatro filhos e está a espera de mais um. Dênis já tem um filho e ganha a vida se arriscando nas ruas como motoboy para tentar dar um futuro digno para sua família. Dario é um jovem de apenas 18 anos que começa a se preocupar com sua idade pois deseja se tornar um jogador de futebol. Dinho é um rapaz que já aprontou as suas, mas se tornou um garoto religioso e entregou sua vida a Deus. Reginaldo, o mais novo, tem apenas uma preocupação na vida: encontrar seu pai. Juntos, eles formam uma família brasileira que luta por uma vida melhor e pela realização de seus sonhos.


Walter Salles e Daniela Thomas vem de famílias ricas, tiveram excelente edução e conheceram a fama desde jovens. Entretanto, isso não quer dizer que qualquer um dos dois comprometa esse filme, que expõe a realidade de brasileiros pobres e sem oportunidade alguma. Muito pelo contrário, a contextualização proporcionada pelo enredo exige que a dupla apresente ao público um filme real, sem enrolação e que mexa no mais profundo subconsciente de qualquer pessoa. E, satisfatoriamente, afirmo: eles obtêm exito impressionante nessa tarefa. São Paulo é explorada, por eles, de forma singular: mostram a boa vida da patroa de Cleuza, que, apesar de ser trabalhadora, está longe de encontrar as dificuldades da empregada; mostra alguns momentos dos cultos da igreja frequentada por Dinho e a dificuldade de ser um “homem de Deus” em locais mais pobres devido ao preconceito; traz as realidades das ruas de São Paulo quando Dênis dribla os carros e o tempo para trabalhar; revela os problemas e as dificuldades de um jovem pobre em conseguir entrar em um time de futebol para realizar o tão comum sonho de ser um jogador de futebol no país do futebol; e revela algumas curiosidades sobre a busca de um pequeno garoto atrás de seu pai.


Em meio a tudo isso, o roteiro nos mostra a preocupação, o zelo e o orgulho que Cleuza tem de seus filho. Ainda nesse contexto, vemos o respeito e o amor que esse quatro homens (e digo homens, pois na situação em que essa família vive, até mesmo o pequeno Reginaldo já teve de se tornar um homem) nutrem por sua mãe, mesmo com alguns momentos de má criação. Em uma das cenas mais interessantes do longa, Dênis segue dois rapazes que roubaram a bolsa de uma mulher e pega a bolsa do lixo para presentear sua mãe. Apesar de ser algo errado, é bonito ver como um filho deseja fazer a mãe feliz, o que mostra o reconhecimento pelos esforços de Cleuza.


Sandra Corveloni arrebatou a todos no Festival de Cannes de 2008 e levou o prêmio de melhor atriz por seu trabalho como Cleuza. Não há como negar: o trabalho de Sandra merece todos os aplausos e congratulações possíveis, afinal, poucas atrizes interpretam uma mãe com tanta convicção e beleza quanto ela. E ainda não estou falando sobre a interpretação de uma mulher de classe baixa, me refiro apenas à sua atuação como mãe, como uma mulher que se vira como pode para criar os filhos. Sem restrições ou comparações, Cleuza ama seus filhos e quer o melhor para eles, a dureza com a qual Sandra apresenta sua personagem é só para lembrar que ela é mãe e pai (como a própria personagem aponta em uma cena belíssima). Quanto ao lado financeiro, Sandra nos mostra que uma mãe está aí para o que der e vier e que apenas elas são capazes de dar suas vidas pelos filhos, não importa o que tenha de ser feito, não importa os riscos vitais que elas corram.


Dênis é interpretado por João Baldasserini, que nos apresenta um jovem emotivo que espera por algo melhor na vida, que batalha para dar um futuro melhor a sua família. Ainda vemos, graças a atuação de Baldasserini, a dificuldade em um jovem expor seus sentimentos e assumir, definitivamente, a paternidade de seu filho. Por fim, ainda somos expostos aos desejos e aos impulsos que apenas jovens possuem. Vinícius de Oliveira é o jogador Dario, talvez o personagem que mais reflete o jovem brasileiro de classe baixa que sabe que, de todas as maneiras possíveis, a forma mais fácil e palpável de se conseguir dinheiro e fama é se tornar um jogador de futebol, afinal, estamos no país movido por tal esporte. A beleza da atuação de Vinícius está, justo, na forma como ele apresenta um garoto determinado e esforçado. Aliás, o esforço e a determinação são qualidades encontradas em todos os personagens desse longa, em Dinho, interpretado por Geraldo Rodigues, são encontradas pela força de sua fé e de sua vontade de ser um homem devoto e digno de receber o apoio divino. Rodrigues nos apresenta um jovem que, provavelmente, já fez algumas besteiras na vida, mas se acaba por ser como a marca do arrependimento. O jovem Reginaldo é interpretado de forma maestral por Kaique Jesus Santos, que nos mostra um menino que possui um sonho simples: encontrar seu pai biológico. O senho de Reginaldo é algo puro, simples e extremamente natural. Ele representa uma parcela da sociedade da classe baixa brasileira que acaba vivendo sem a presença do pai, seja por motivos naturais ou não.



O quinteto formado por Corveloni-Baldasserini-de’Oliveira-Rodrigues-Santos é um deleite para qualquer cineasta ou para qualquer cinéfilo. Sem exceção, os cinco são extremamente competentes e nos conquistam a cada frame do longa. Com o passar da história, mesmo que agindo de forma errada, torcemos para que os personagens consigam o que querem. Não que em algum momento algum deles represente o anti-herói que Macunaíma representou no Modernismo, por exemplo, longe disso. Eles representam a sociedade que, como vemos em “Cidade de Deus”, foi esquecida e deixada de lado. São o povo, a massa de nosso país. Seres humanos como qualquer um de nós, que lutam para sobreviver e visam um futuro mais digno e decente. Mas que, até atingir tal futuro, não medem esforços para poder colocar o pão em cima da mesa e não deixar que sua família seja dispersada. E talvez, esses deslizes e desafios expostos, todos eles mostrados como acidentes necessários, ou seja, erros impostos e não escolhidos pelos personagens, que fazem com que a família se una de forma calorosa e amável. E é essa união que faz com que nos motivemos e que nos apaixonemos por esses personagens, afinal, eles não são apenas eles, e sim a representação de uma sociedade largada è própria sorte, nossa sociedade.





VENCEDORES DO PRÊMIO EUROPEU DE CINEMA:
Melhor Filme: The Great Beauty / La Grande Bellezza
Melhor Filme de Comédia: Love is All You Need / Den Skaldede Frisor
Melhor Diretor: Paolo Sorrentino, por The Great Beauty
Melhor Atriz: Veerle Vaetens, por The Broken Circle Breakdown
Melhor Ator: Toni Servillo, por The Great Beauty
Melhor Roteiro: François Ozon, In the House
Prêmio Carlo Di Palma: Asaf Sudry
Melhor Edição: Cristiano Travaglioli, por The Great Beauty
Melhor Designer de Produção: Sarah Greenwood, por Anna Karenina
Melhor Figurino: Paco Delgado, Blancanieves
Melhor Composição: Ennio Morricone, por The Best Offer
Melhor Designer de Som: Mat Muller e Erik Mishijew, por Paradise: Faith / Paradise: Glaube
Melhor Documentário: The Acr of Killing
Melhor Filme de Animação: The Congress
Melhor Filme Curta-Metragem: Death of a Shadow
Prêmios Especiais: Ada Solomon, Catherine Deneuve e Pedro Almodóvar




VENCEDORES DO PRÊMIO DOS CRÍTICOS DE FILMES DE LOS ANGELES
Melhor Filme (Empate): Gravidade e Her
Melhor Direção: Alfonso Cuarón, por Gravidade
Melhor Atriz (Empate): Cate Blanchett, por Blue Jasmine e Adèle Exarchopoulos, por Blue Is The Warmest Color
Melhor Ator: Bruce Dern, por Nebraska
Melhor Atriz Coadjuvante: Lupita Nyong’o, por 12 Years a Slave
Melhor Ator Coadjuvante (Empate): James Franco, por Spring Brearkers e Jared Leto, por Dallas Buyers Club
Melhor Roteiro: Richard Linklater, Julie Delpy e Ethan Hawle, por Before Midnight
Melhor Documentário: Stories We Tell
Melhor Filme Estrangeiro: Blue is the Warmest Color
Melhor Trilha Sonora: T Bone Burnett, por Inside Llewyn Davis
Melhor Filme de Animação: Ernest & Célestine
Melhor Fotografia: Emanuel Lubezki, por Gravidade
Melhor Edição: Alfonso Cuarón e Mark Sanger, por Gravidade
Melhor Designer de produção: K. K. Barrett, por Her
ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes

043. OS TRÊS MOSQUETEIROS, de Paul W. S. Anderson

A última adaptação do romance de Alexandre Dumas é chata e decepcionante.
Nota: 6,0


Título Original: The Three Musketeer
Direção: Paul W. S. Anderson
Elenco: Mathew Macfayden, Luke Evans, Ray Stevenson, Logan Lerman, Milla Jovovich, Orlando Bloom, Mads Mikkelsen, Christoph Waltz, Freddie Foz, Juno Temple, James Corden, Gabriella Wilde, Ian McKee
Produção: Paul W. S. Anderson, Jeremy Bolt,Robert Kulzer
Roteiro: Alex Litvak, Andrew Davis e Alexandre Dumas (romance)
Ano: 2011
Duração: 110 min.
Gênero: Aventura / Ação

Athos, Portohs e Aramis eram os três mosqueteiros do Rei francês até serem traídos por Lady de Winter e se tornarem um bêbado, um gigolô e um homem a serviço do estado. Entretanto, a chegada do jovem D’Artagnan, filho de um antigo mosqueteiro, fará com que ressurja o espírito aventureiro desses homens. Nesse contexto, quando o destino os colocarem de frente a um velho inimigo, o Duque de Buckingham, eles decidirão pelo bem da França e lutarão.


Paul W. S. Anderson dirigiu alguns filmes conhecidos, como “Mortal Kombat” (1995), “O Soldado do Futuro” (1998), “Resident Evil: O Hóspede Maldito” (2002), “Alien vc. Predador”(2004), “Resident Evil 4: Recomeço” (2010) e “Resident Evil 5: Retibuição” (2012). Em “Os Três Mosqueteiros” o trabalho do diretor acaba sendo ofuscado pela beleza visual proporcionada pela arte de direção de Nigel Churcher, de Hucky Hornberger e de David Scheunemann, que já foram diretores de arte de outros bons filmes que, assim como esse, se destacaram, justamente, pela beleza visual. Além disso, temos a ótima edição de Alexander Berner e Claus Wehlisch, editores, também, do recente “A Viagem” (2012). Ainda no campo técnico, temos a decoração de set que nos reporta à exata França da época de Luis XIII, realizada por Philippe Turlure, responsável por decorações como de “Último Tango em Paris” (1972), “Perdas e Danos” (1992), “Evita” (1996), “O Último Portal” (1999), “O Enigma do Colar” (2001) e “Perfume – A História de um Assassino” (2006). A trilha sonora é composta por Paul Haslinger, e é mais uma coisa interessante e boa entre tantos desastres desse filme. Dentre os roteiristas, destaco Andrew Davis, em atividade desde 1967 e roterista de mais de 80 trabalhos, especialmente para a televisão.


O quarteto que compõe os três mosqueteiros é simplesmente resumido em péssimo. Respectivamente, como Athos, Aramis, Porthos e D’Artagnan, temos: Matthew Macfadyen, Luke Evans, Ray Stevenson e Logan Lerman. Em primeiro lugar não vejo por que falar deles separadamente se a definição é a mesma: não há sincronia entre eles, nenhum consegue nos transmitir a beleza de ser um mosqueteiro, mesmo quando parece que eles arrumaram algo pelo que vale a pena lutar, enfim, não há nada de produtivo que possa ser tirado desses quatro atores. Macfadyen, um ator com o qual simpatizo, está melancólico e submisso demais; Evan é o menos pior dos quatro, mas, ainda sim é um padre, não um mosqueteiro; Stevenson é um brutamontes que não consegue sustentar nem a ele mesmo, o que o torna um perdedor de marca maior, e só piora pelas feições do ator; Lerman é convencido demais e parece que encarna o narcisismo do personagem, perdendo-se em tantas piadas e em tanta bravura. Milla Jovovich, outra pessoa do elenco por quem tenho simpatia, está simplesmente desnecessária como Lady de Winter (personagem belíssima inspirada na prostituta Marion Delorme, possível amante do Cardeal de Richelieu), ela é chata, artificial demais e a atriz não consegue trazer nenhuma identidade à personagem. Orlando Bloom é outra decepção de marca maior, quando eu começo a me acostumar com suas atuações ele nos traz uma interpretação pobre de um dos melhores personagens da trama, tornando o vilão uma piada. A dupla composta pelo Rei e pela Rainha da França, respectivamente interpretados por Freddie Foz e Juno Temple, faz a vez do casal simpático, mas não há seriedade alguma nesse Rei idiota e ele se expõe de forma ridícula, Temple está aceitável, séria e se porta como uma dama.


Para salvar esse longa da  verdadeira catástrofe, um austríaco e um dinamarquês, nesse filme dirigido por um inglês e que conta a história dos mosqueteiros franceses (vividos por ingleses): Christoph Waltz e Mads Mikkelsen são, respectivamente, Richelieu e Rochefort. Confesso que foi Waltz quem me convenceu a ir ao cinema há poucos anos assistir a esse filme, saí de lá me perguntando o que fez esse homem aceitar o papel e, após algum tempo, conclui: o personagem é ótimo e nos traz um grande nome da história. O Cardeal de Richelieu foi o braço direito do Rei Luis XIII durante todo seu governo, destruindo a imagem da mãe e do irmão do monarca para poder ficar ao seu lado. Foi um dos maiores nomes da história na luta pela preservação do absolutismo e da França como potência europeia. Ao lado do Rei lutou em guerras e conquistou territórios e alianças. Dessa forma, volta à minha teoria: só posso acreditar que Christoph Waltz foi caridoso e emprestou sua genialidade a esse filme devido a força de seu personagem. Mads Mikkelsen vive o Conde de Rochefort, outro personagem que possui muita força devido ao destaque dado a ele na história de Alexandre Dumas. A interpretação é firme como imaginamos o personagem, Mikkelsen não parece ser um homem piedoso que terá qualquer misericórdia.



Alexandre Dumas gostaria da história proposta pelo enredo do longa, mas se decepcionaria com os mosqueteiros que nos são apresentados. Se decepcionaria, também, com um Rei fraco demais e uma Lady de Winter (uma das personagens mais características de sua obra) que parece mais uma bonequinha de porcelana que mal pode se mexer de tão dura, com um Duque de Buckingham deplorável (o dito homem mais poderoso da Inglaterra jamais se pareceria com ele). O longa possui beleza visual e sonora, como apontei, tem como trunfos as ótimas atuações de Waltz e Mikkelsen, mas isso tudo não é o suficiente para ofuscar os defeitos e as enaltações desnecessárias. Com o passar do tempo, o filme fica exagerado até em seu roteiro, alucinado demais e sem graça ou proveito algum a não ser pelo enredo interessante. Não cometam o mesmo erro que eu, se tiverem vontade de conferir o longa por Waltz e Mikkelsen, aconselho: façam uma dobradinha Tarantino com “Bastardo Inglórios” (2009) e “Django” (2012), pelos quais o austríaco venceu dois Oscars, e aproveitem o final de ano para conferir a nova série sobre o serial killer mais adorado do cinema, “Hannibal” (2012), onde o assassino é interpretado com maestria pelo dinamarquês.


ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

044. MORTE SOBRE O NILO, de John Guillermin

O elenco de peso e a história de Agatha Christie sustentam uma adaptação clássica.
Nota: 9,0


Título Original: Death on the Nile
Direção: John Guillhermin
Elenco: Peter Ustinov, Jane Birkin, Lois Chiles, Bette Davis, Mia Farrow, Jon Finch, Olivia Hussey, I. S. Johar, George Kenndy, Angela Lansbury, Simon MacCorkindale, David Niven, Maggie Smith, Jack Warden, Harry Andrews, Sam Wanamaker, Froçois Guillaume, Barbara Hicks, Celia Imrie e Andrew Manson
Produção: John Brabourne, Richard B. Goodwinm e Norton Knatchbull
Roteiro: Anthony Shaffer e Agatha Christie (romance)
Ano: 1978
Duração: 140 min.
Gênero: Suspense / Thriller

Em pleno Rio Nilo, a bordo do cruzeiro S. S. Karnak, a jovem milionária Linnet Ridgeway é assassinada. Todos no barco possuem algum motivo para querer ver a jovem morte. Porém, o que o assassino não imaginava era que o astuto Detetive Hercule Poirot, qua também está a bordo, pode desvendar todo o mistério com a ajuda de seu amigo, o Coronel Race. Agora, o assassino e o detetive travarão uma batalha épica enquanto o cruzeiro flutua sobre o rio Nilo, e apenas um deles sairá vencedor.
A escritora Agatha Christie ficou conhecida no mundo todo como “Duquesa da Morte”, “Rainha do Crime” e outros títulos referentes a sua maestria como romancista policial. Sendo assim, é impossível traçar uma sinopse realmente decente de qualquer uma de suas histórias sem revelar alguma coisa que deve permanecer em segredo àqueles que ainda não conhecem o começo, o meio e o fim (sempre surpreendente) de determinado trabalho. Portanto, vou me ater a justificar, de forma rápida e concisa os motivos que cada personagem teria para matar Linnet. A jóias da protagonista são cobiçadas pela velha Sra. Van Schuyler, que está acompanhada pela Srta. Bowers, que teve a família falida por um passado relacionado aos Ridgeway. A criada de Linnet, Louise, está chateada com sua patroa pois ela se nega a dar o dote para que Louise se case com um homem que, segundo Linnet, é inadequado. A escritora Salome Otterburne está sendo processada por Linnet e Rosalie, sua filha, deseja proteger a mãe. O administrador americano Andrew Pennington tem fraudado a família Ridgeway há anos. Jacqueline de Bellefort está chateada com Linnet por sua amiga ter roubado-lhe o noivo. Simon Doyle, marido de Linnet, é o maior beneficiado no testamento de Linnet.


O diretor inglês, John Guillermin foi o responsável por filmes bem populares e bem agitados entre o final da década de 50 e o final da década de 80. Dentre eles: “A Maior Aventura de Tarzan” (1959), “Crepúsculo das Águias” (1966), “Inferno na Torre” (1974), “King Kong” (1976) e “Sheena – A Rainha das Selvas” (1984). Apesar de nenhum de seus filmes ser ovacionado pela crítica ou por especialistas, é necessário lembrar que alguns deles foram grandes precursores nas técnicas de efeitos especiais no cinema, e, nesse contexto, é impossível deixar de mencionar “King Kong”, que se tornou uma referência seguida por alguns diretores da era sexo-drogas-rockn’roll do cinema da década de 80. Em “Morte Sobre o Nilo”, não há efeitos, nem grandes cenas de ação, e é isso que torna o longa algo tão singular. Cenas como a que o grupo do cruzeiro visita um monumento onde Linnet sofrera um atentado (alguém jogará uma pedra gigante em direção à moça) são perfeitas justamente por não possuírem som algum além do som dos sapatos ou do vento. No barco, por outro lado, a beleza fica por conta de como o diretor consegue usar muito bem os pequenos espaços que possui.


Nito Rota, sem dúvida é um dos maiores compositores da historia do cinema, se não for o maior. Era o preferido de Fedreico Fellini e compôs a trilha sonora inesquecível dos dois primeiros longas da Trilogia “O Poderoso Chefão” (1972 – 1974) e de outros inúmeros clássicos da Sétima Arte. Seu trabalho aqui, como citei acima, é mesclar cenas com alto apelo musical e saber que algumas delas serão melhor recebidas sem música alguma, apesar de ser uma trilha sem grandes composições, é perfeita para o filme, trazendo a calma aparente do Rio Nilo quando necessário, e mostrando a ferocidade dos famosos répteis que habitam o local em outros momentos. Faço uma ressalva para uma cena realmente bela do longa: Poirot, obviamente, conversa com todos à bordo para tentar desvendar o caso. No momento em que vai dialogar com a personagem de Bette Davis, a veterana, na época com 70 anos, mais de 100 títulos, 2 Oscars de melhor atriz, outras 8 indicações na categoria, está sentada, sozinha no local mais alto e aparentemente mais agradável e tranquilo da embarcação, ela parece descansar, parece não se importar com tudo o que esta acontecendo a sua volta e se mostra como uma mulher fria, serena e inexpugnável. Mais tarde, quando o detetive reúne todos em uma sala para relevar que descobriu quem é o assassino, Bette é uma verdadeira estrela, literalmente, ela brilha como se fosse um astro e é impossível não notá-la. Davis parece uma faraoa, endeusada pela telona do cinema. Pode ser apenas um devaneio de um grande fã, mas que é algo a se pensar, isso é.


Peter Ustinov, intérprete de Hercule Poirot, venceu 2 Oscars de melhor ator coadjuvante e eternizou o personagem, sobretudo, na televisão. No cinema, foram apenas 3 filmes vivendo o detetive, na televisão foram seis vezes. “Morte Sobre o Nilo” foi seu primeiro trabalho como o personagem. Não li nenhum livro de Agatha Christie, mas acredito que Poirot seja quele tipo de personagem 8 ou 80, ou seja, ou ele é muito sério ou muito irônico, ou ele é muito esperto ou muito idiota, eu outras palavras, ou ele se parece com Holmes ou com Clouseau. Se minha aposta fosse certa, Ustinov é perfeito no papel, pois acredito que Poirot sejá ainda mais sério e mais inteligente que Holmes. Dessa forma, há pouco a falar sobre a interpretação do ator, além de dizer que ele é perfeito nos momentos sérios do longa e melhor anda quando o personagem debocha dos suspeitos. Dentre os demais personagens destaco apenas alguns deles. Lois Chiles é Linnet, apesar de morrer logo no filme, a atriz mostra um pouco de seu talento, o que é o suficinete para não haver críticas negativas sobre ela. A Sra. Van Schuyler é vivida por Bette Davis,  o retrato do perfil que ela mesma montou: séria, carrancuda, antipática, onipotente e uma verdadeira dama. Davis lida bem com o fato de sua personagem ser cleptomaníaca e, apesar de não ter grandes cenas, nunca nos esquecemos que ela está ali (e isso não se deve apenas pelo brilho). Maggie Smith, uma das maiores atrizes vivas, vive a Srta. Bowers e o primeiro nome que me fez querer assistir a esse filme pela primeira vez (nem sabia que e Davis estava no elenco), nos faria esquecer de Van Schuyler se qualquer outra atriz a tivesse interpretado, tamanha a beleza e a inteligência de sua personagem. Uma mulher tão séria quanto a patroa, Smith nos apresenta alguém que se mostra caridosa quando necessária, mas que, a cima de tudo, é uma pessoa sensata e conformada. Angela Lansbury nos presenteia com a interpretação da alcoólatra Salome, apesar de ter poucas cenas, quando aparece acaba sendo um arraso. Não foi a toa que deixei a dupla Simon MacCorkindale e Mia Farrow por último. Não simpatizo com nenhum deles, que interpretam, respectivamente, Simon Doyle e Jacline De Bellefort, em alguns momentos os dois parecem perfeitos no papel, em outros estão exagerados demais, em outros estão apagados demais e, tendo em vista a excelência desse elenco, é quase inadmissível que duas personagens tão importantes como o marido da morta e a melhor amiga traída da morta sejam interpretados de forma tão decepcionante.

Alguns críticos consideram “Morte Sobre o Nilo” uma das melhores adaptações para o cinema das obras de Agatha Christie. O elenco do longa já fala por si só, aliando isso a um diretor conhecido por renovar o cinema, mais um roteirista experiente em filmes do gênero suspense, mais uma trilha sonora perfeita (indispensável para esse tipo de filme), não duvido que os críticos tenham razão. Se o filme é fidedigno à obra é um detalhe do qual não posso falar, mas posso afirmar, sem sombra de dúvida, que o longa é um filme bem feito que cumpre com seu propósito: mostrar, mais uma vez, que ninguém no mundo superará Agatha Christie tão cedo. O longa é prático, matar é algo que se torna comum, a história nos faz participar de tudo o que acontece, os atores e atrizes dão vida a personagens totalmente diferentes, e é essa diversidade que faz com que, em ao menos algum momento, nos encontremos, também, à bordo do S. S. Karnak, chegando a nos sentirmos até um pouco suspeitos.


ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes

045. UMA LINDA MULHER, de Garry Marshall

Uma forma simples, bela, inteligente e agradável de quebrar tabus sem ofender à nenhuma geração.
Nota: 9,0


Título Original: Pretty Woman
Direção: Garry Marshall
Elenco: Julia Roberts, Richard Gere, Ralph Bellamy, Jason Alexander, Laura San Giacomo, Alex Hyde-White, Amy Yesbeck, Elinor Donahue
Produção: Aron Milchan, Steven Reuther
Roteiro: J. F. Lawton
Ano: 1990
Duração: 119 min.
Gênero: Comédia / Romance

Durante o dia, milhões de pessoas passam pela Calçada da Fama em Hollywood fotografando as estrelas de pessoas famosas. Durante a noite, essas estrelas e esses nomes servem para apenas um propósito: delimitar o espaço de atendimento das prostitutas. Vivian Ward é uma dessas prostitutas que trabalha na Calçada da Fama. Edward Lewis, por sua vez, é um empresário rico que está de passagem por Los Angeles e precisa de companhia. Agora, Vivian e Edward irão unir o útil ao agradável.


O sonho de qualquer mulher, não importa a classe social ou o tipo de emprego que tenha, é, em algum momento da vida, ser arrebatada por um belo homem que se proponha a fazer tudo por ela, ou, ao menos, sustentá-la. E se esse “príncipe encantado” vier montado em um porshe ao invés de um cavalo e estiver hospedado na suíte do hotel mais caro de um grande cidade ao invés de possuir castelos, melhor ainda. É isso o que acontece com Vivian, e mais, ele está disposto a gastar horrores de dinheiro com ela para que ela se torne uma dama. O problema é que esse príncipe propõe um negócio, não um plano de vida: toda essa mordomia, facilidade e esse sexo com um homem bonito durará apenas alguns dias e, depois, Vivian voltará a ser apenas mais uma profissional do sexo andando de um lado ao outro da Sunset Boulevard. Esse filme poderia ser um drama terrível sobre a pobre prostituta que vê sua chance de ser uma rica mulher ir por água abaixo ou um filme imbecil sobre uma prostituta que ve sua chance de dar um golpe ir por água a baixo, isso, se não fosse dirigido pelo ótimo Garry Marshall. O diretor, indicado a 4 Emmy’s, foi o responsável não apenas por popularizar Julia Roberts como um síbolo feminino de beleza para mulheres e de desejo para homens, e sim, por trazer de volta as comédias românticas que, como “Uma Linda Mulher”, “Noiva em Fuga” (1999), “Idas e Vindas do Amor” (2010) e “Noite de Ano Novo” (2011), celebram o amor de forma bela, misturando o real com o fantasioso, a verdade com a idealização e nos servindo como modelo para termos a certeza de que românticos ainda não foram extintos.


Foi com “Uma Linda Mulher” que Richard Gere e Julia Roberts se tornaram símbolos sexuais sem apelação alguma, ou seja, eles passaram a ser desejados e admirados, mas nunca representando vulgaridade. Roberts ainda não tinha uma carreira consolidada, havia realizado poucos filmes e era um iniciante no auge de seus 23 anos. Não era o ideal de beleza que temos hoje, mas já era uma atriz muito competente que não deixou a peteca cair em nenhum momento do longa, provando sua qualidade como atriz e se tornando a mais linda mulher do mundo por sua simpatia, seu carinho e seu talento. Como Vivian, ela eternizou a beleza dos anos 90 e nos trouxe uma personagem que batalha na vida para atingir seus sonhos. Além disso, Roberts nos presenteia com uma mulher simples, sincera, honesta e de um coração enorme, que prova que os valores espirituais sempre serão mais importantes que os valores materiais. Richard Gere, por outro lado, já era conhecido e tinha uma carreira consolidada. Já era um homem que chamava a atenção, mas interpretar o rico Edward Lewis lhe trouxe o apelo sentimental com o qual o personagem trata uma prostituta e lhe garantiu o posto de homem mais desejado da década de 90. Além disso, Gere tem uma interpretação belíssima de um homem sem preconceitos, que não trata Vivian de forma diferente pelo fato de ela ser uma profissional do sexo.


De tempos em tempos, o cinema aparece com novidades impressionantes que desafiam os padrões sociais e culturais do mundo todo. “Bonequinha de Luxo” (1961) trouxe Audrey Hepburn no papel de uma prostituta e George Peppard como praticamente um gigolô, porém, em momento algum os personagens são tratados diretamente como tais: Hepburn volta para casa apenas ao amanhecer, Peppard se despede de uma “amiga” recebendo dinheiro dela. Em 1976, progredimos com esse tema e Martin Scorsese, em seu brilhante “Taxi Driver”, chegou a mostrar uma jovem prostituta levando um cliente para seu quarto. No início da década de 80, o próprio Richard Gere nos mostrou o lado masculino da coisa em “Gigolô Americano” (poucas vezes a prostituição masculina seria mostrada de forma tão reveladora). Em 1990, “Uma Linda Mulher” rompeu com todos os padrões possíveis e revelou uma prostituta que não via sua vida como depressiva, que fazia isso por não ter outra opção, mas também por saber como era mais fácil agir dessa forma a tentar outros trabalhos considerados mais dignos pela sociedade. Cinco anos depois, a prostituição masculina voltou a ser tema com “O Diário de um Adolescente”, protagonizado por Leonardo DiCaprio, mostrava um jovem viciado que tinha que se prostituir para comprar drogas. “Moulin Rouge! – Amor em Vermelho” (2001), devido a toda sua teatralidade e sua beleza estética, deixa a prostituição subentendida em um contexto relacionado a uma casa de shows. Por fim, com nacionalidade brasileira, o longa “Bruna Surfistinha” (2011), trouxe Deborah Secco na adaptação da vida da garota de programa Raquel Pacheco sem pudores ou vergonhas.



Nesse contexto, “Uma Linda Mulher” foi um divisor de águas, não apenas por se tratar sobre o tema da prostituição, que passou a ser mais abordado e menos preconceituoso no cinema após esse filme, e sim, como um modelo de quebra de tabus. Qual o problema em ser uma prostituta? Qual o problema em ser homossexual? Qual o problema em ter vários relacionamentos? Qual o problema de se falar sobre sexo? Qual o real problema de gostar de fazer sexo? Qual o problema de pessoas velhas se apaixonarem e quererem viver esse amor? Qual o problema de pessoas de idades muito diferentes se apaixonarem? Em suma, qual o problema de um ser humano querer viver sua vida sem ser julgado? E quem somos nós para julgar os desejos ou moldes alheios? O que menos importa nesse filme é se é um longa com qualidade técnica ou não (até por que, a qualidade técnica de 1990 está longe de ser comparada a do tempo em que vivemos hoje), o que interessa é que Vivian e Edward nos mostram  que o mais belo da vida é deixar de se importar com os outros, viver sua vida sem se importar com o que os outros pensam e sem cuidar da vida alheia. Esse casal improvável mostra, de forma simples, bela e romântica que mais vale viver um amor, seja qual for, a chorar por sua perda no futuro.


ACESSE NOSSA PÁGINA NO YOUTUBE:
 http://www.youtube.com/user/projeto399filmes


Poderá gostar também de: