segunda-feira, 11 de novembro de 2013

055. GANGUES DE NOVA YORK, de Martin Scorsese

Em um de seus maiores filmes, o maior diretor da história do cinema revela as mãos, o sangue e a corrupção que construíram a América e todo o resto do mundo.
Nota: DEZ


Título Original: Gangs Of New York
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo DiCaprio, Daniel Day Lewis, Carmeron Diaz, Jim Broadbent, John c. Reilly, Henry Thomas, Leam Neeson, Brendan Gleeson, Gary Lewis, Stephen Graham, Eddie Marsan, Alec McCowen, David Hemming, Mychael Byrne
Produção: Alberto Grimaldi, Harvey Weisntein, Bob Weinstein,
Roteiro: Jay Cocks, Steven Zaillian, Kenneth Lonergan e Herbert Asbury (romance)
Ano: 2002
Duração: 167 min.
Gênero: Drama / Crima / História

Em 1847, irlandeses e nativos americanos brigavam pela região dos Cinco Pontos em Nova York. Durante a rápida batalha, o líder dos irlandeses, Padre Vallon, é assassinado brutalmente pelo líder dos nativos, Bill “O Açogueiro” Cutting. Após 16 anos, em plena Guerra da Secessão nos Estados Unidos, o filho de Vallon, Amsterdam, infiltra-se na gangue de Bill com o intuito de esperar a hora perfeita para matá-lo em frente a todos os seus seguidores. Entretanto, muito mais que apenas uma vingança está em jogo: a cidade de Nova York passa por mudanças que afetarão a todos seus habitantes.


Martin Scorsese já tem uma marca bem conhecida na sétima arte: seu amor e louvor por sua cidade natal, Nova York. Aqui, o diretor nos revela o passado sujo, nada glamoroso e totalmente desonesto dessa que se tornou a cidade mais importante do mundo. Para começar, temos a revelação de que a cidade era controlada por gangues terríveis que mandavam e desmandavam da forma que achavam melhor – posteriormente, isso seria papel das grandes famílias italianas, mafiosos vistos em longas como “O Poderoso Chefão” e “Os Bons Companheiros”. Além disso, os lados no início da trama dividem-se entre católicos (irlandeses) e protestantes (americanos), denotando como a América foi construída por tantas pessoas diferentes. Após passarem os 16 anos, não mudou muita coisa, todavia, é Bill quem comanda todo o local, sob o comando do político Tweed William ‘Boss’, outro homem sem honra ou dignidade alguma. Durante o longa, conferimos os defeitos do sistema criado na “Nova Inglaterra”, vemos as guerrilhas dentro da própria Nova York que pedem por melhoria no país e clamam pelo fim da Guerra da Secessão que deixou algumas famílias do país desoladas. Ainda podemos refletir um pouco sobre como toda a cidade de Nova York estava confusa, como tudo era uma bagunça ao passo que, enquanto imigrantes chegavam vindos da Itália, por exemplo, os “filhos da América” eram obrigados a pegar em armas e lutar por seu país. Por fim, nada que mude com o sistema corrupto e vigente da época pareça ser bem vindo, deixando com que a lei do mais forte e do mais esperto se sobreponha ao justo e honesto. Curiosamente, vale lembrar que Tweed ‘Boss’, um personagem real da história americana (assim como muitos outros personagens dessa história, incluindo Bill, que foi baseado em personagem real da época), bem como sempre aconteceu com os grandes políticos da história, não suja suas mãos com sangue, deixa isso para seus “milhares de açougueiros”, reservando-se ao direito de utilizar suas mãos apenas para contar seus dólares.


Algumas pessoas gostam de apontar os defeitos desse filme falando sobre a falta de realidade de algumas batalhas durante a trama, dizer que esse ou aquele ator parece estar no filme para debochar de uma produção tão ridícula e que todo o enredo não possui nexo algum. Defeitos existem nesse filme, mas são poucos comparados com a beleza estética e com a grandiosidade das interpretações de atores muito bem selecionados que passam desapercebidos. Não digo isso apenas por ser um admirador e defensor inquestionável do estilo e do trabalho de Martin Scorsese, digo isso por que acredito que um trabalho tão minucioso como esse deve ser valorizado como merece. Portanto, aponto como o elenco é bom escolhido, aponto como o figurino está belo (principalmente por ser tão característico com os costumes de cada povo), aponto a falta de pudor de Martin ao mostrar Nova York como ela realmente era, sem fazer rodeios ou enrolar o espectador, aponto como o diretor tem a facilidade de alternar cenas de lugares sombrios para lugares claros, de lugares abertos para lugares fechados. Nesse contexto, também sou obrigado a apontar que poucos filmes possuem mais de 160 minutos, como esse, e conseguem fazer com que o assistamos sem monotonia, sem querer que tudo acabe logo. O fim demora a chegar, mas ele vem de forma tão agradável que nos divertimos do começo ao fim (e acredito que um dos maiores trunfos seja trazer personagens reais e eventos reais que acorreram nos EUA). Por fim, aponto a genialidade da trilha sonora composta por Howard Shore, que mistura gêneros e ritmos típicos de todas as culturas que colonizaram os EUA, comprovando, mais uma vez, a miscigenação da América, destaque para a canção do U2 “The Hands That Built America”.


Essa é a primeira parceria entre Leonardo DiCapio e Martin Scorsese, o ator vive Amsterdam, um jovem sedento por vingança que está disposto a tudo para fazer justiça com as próprias mãos. Mesmo que o ator já estivesse perto de completar 30 anos na época em que o longa foi filmado, ele consegue trazer um pouco da infantilidade do personagem por ser jovem, o que se contrasta com a maturidade do rapaz por ter sido criado sozinho no mundo. Daniel Day-Lewis vive Bill Cutting de forma realmente debochada, mas não é que o ator deboche do filme, ele satiriza a forma absurda como funcionava o sistema na época; como de costume, Day-Lewis está excelente no papel, conseguindo a façanha de nos confundir se ele é o vilão da história, ou se apenas está fazendo o que deve ser feito, afinal, é a lei da selva e da guerra: ou você mata, ou você morre. Cameron Diaz é a mocinha da vez (por que nenhum filme pode ser composto apenas por homens), Jenny, uma mulher sedutora que tem como mania roubar os outros; mesmo que eu tenha o costume de não gostar de nenhuma mocinha de qualquer filme americano, essa não é uma garota comum, Diaz dá à personagem um caráter forte de uma mulher que já passou por poucas e boas e não é nenhuma santa. Jim Broadbent, um dos melhores atores ingleses de sua época, é William Tweed, como disse, um homem que não suja suas mãos e a atuação de Broadbent fica ainda mais bela quando vemos a despreocupação dele em relação ao bem estar da população, dando prioridade às eleições em qualquer circunstância.



“Gangues de Nova York”, semelhante a “Taxi Driver”, também de Scorsese, mostra o lado escuro de Nova York, diferentemente de “Taxi”, que aborda os problemas e a escória da cidade no Século XX, “Guangues” traz um panorama de NY quando a cidade ainda estava se formando. Sendo assim, um filme acaba completando o outro – como a maioria dos longas do diretor que retratam a cidade -, pois um fala sobre a criação de todo o sistema governamental e da chegada de diversos povos até a América, e o outro nos mostra como a cidade se tornou suja e nos apresenta a escória que começou a ser formada séculos atrás, por uma marginalização provocada pelos poderosos da época. Mesmo que esse tenha sido o momento de Martin mostrar, da forma mais nua e crua possível, como Nova York não foi criada baseada em pilares democráticos e politicamente corretos, a beleza do filme não se perde, afinal, é mais um momento na carreira desse diretor brilhante em que ele satiriza e critica a forma tosca como o ser humano deixa que outras pessoas o controlem. E mais: mostra como todas as cidades do mundo, sejam pequenas, sejam as mais importantes do planeta, possuem seu passado negro de obscuridade e vermelho de sangue.


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