Há muito não assistia no cinema uma
lição de vida tão verdadeira.
Nota: 9,2
Título Original: The Secret Life of Bees
Direção: Gina Prince-Bythewood
Elenco: Dakota Fanning, Queen Latifah, Jennifer Hudson, Alicia Keys,
Sophei Okonedo, Paul Bettany, Hilarie Burton, Tristan Wilds
Produção: James Lassiter, Joe
Pichirallo, Lauren Shuler Donner, Will Smith
Roteiro: Gina Prince-Bythewood e Sue
Monk Kidd (romance)
Ano: 2008
Duração: 114 min.
Gênero: Comédia / Drama
Lily é uma jovem que se culpa pela morte
da mãe e tem um pai violento que lhe conta mentiras sobre a mãe. Aos 14 anos, a
menina, motivada por uma dica de que sua mãe viveu na Carolina do Sul, foge com
sua amiga e babá, Rosaleen, para o estado. Na cidade em que chegam, hospedam-se
na casa das irmãs Boatwright: August, June e May. Elas são três negras que
ganham a vida criando abelhas. Uma vez na casa dessas boas senhoritas, Lily
descobrirá segredos que jamais desconfiou acerca de sua mãe e viverá verdadeiras
aventuras na descoberta da vida.
Gina Prince-Bythewood é uma jovem
diretora de televisão e cinema que, sobretudo, prefere abordar os temas
relacionados aos negros. Em “A Vida Secreta das Abelhas”, Gina não propõe um
filme épico que luta contra o racismo no mundo, e sim, nos apresenta um longa
que contextualiza o preconceito da década de 1964 e mostra a vida de três
mulheres que ganham a vida sozinhas, enfrentando os problemas e guardando
segredos. O longa, vem como um filme quase revolucionário: mostra três mulheres
que, unidas, não precisam de homens para levar a vida, mas que admitem se
apaixonar perdidamente por um. Não é o tipo de filme feminista que tenta
mostrar as mulheres como seres humanos além de suas capacidades. Revela, dessa
forma, como mulheres negras podem viver sozinhas, mas como, também, toda mulher
está sujeita a se apaixonar. Lily, sendo assim, adentra o mundo dessas três
mulheres para levar mais alegria à casa das irmãs Boatwright, ao passo que
Rosaleen encontra pessoas que a compreendem, semelhantes a ela em cor e
costumes. Tecnicamente, esse filme é belo e nos traz uma tranquilidade ímpar.
Além disso, a trilha sonora de Mark Isham é dramática e melancólica ao mesmo
tempo em que consegue ser alegre e cheia de esperança. O roteiro do longa é
baseado no romance de Sue Monk Kidd, e é necessário apontar que a adaptação para
o cinema, consegue a proeza de transmitir a mesma beleza sentimental e
espiritual do livro. A relação que August traça entre Lily e sua mãe é algo
belo e puro, poucas vezes tão bem explicado e relatado em um filme no cinema.
Dakota Fanning foi uma das maiores
promessas de sua época, entretanto ouso dizer que é possível contar nos dedos
suas atuações realmente brilhantes. Lily é uma dessas interpretações. Fanning
tem aquele elemento dramático – o timing tão
falado entre os artistas – do começo ao fim. Em alguns momentos, a atriz nos
apresenta uma menina inocente que tem muito a descobrir; em outras cenas, uma
jovem destemida que está disposta a qualquer coisa para descobrir algo sobre
sua mãe; em outros momentos é a pequena grande mulher pronta para receber os
ensinamentos e as verdades sem enrolação. Queen Latifah é uma das atrizes mais
simpáticas de Hollywood. Aqui ela vive August, a irmã mais paciente e
experiente das três, uma mulher inteligente que já sofreu o suficiente para saber
que Lily merece ensinamentos e, mais que qualquer coisa, deseja ajudar a
garota a encontrar o rumo de sua vida. Latifah nos traz mais uma representação
humana e de grande valor solidário. A cantora Alicia Keys surpreende vivendo a
histérica e pessimista June. Keys é o retrato de uma mulher bonita e
inteligente que quer um futuro promissor, mas teme por não saber qual caminho
está trilhando, sendo insegura e não deixando que ninguém se aproxime muito de
seu mundinho. Sophia Okonedo rouba a cena como May, a mais jovem das irmãs, que
tem uma doença mental que a torna limitada em tudo. Porém, mesmo com os limites
que um deficiente possui, ela nos transmite como essa parcela da população pode
ser carinhosa e atenciosa além do imaginável, ou seja, como podem ser mais
humanos que qualquer outra pessoa, e é aí que está a perfeição de sua
interpretação. Jennifer Hudon completa o elenco como a simpática Rosaleen, uma
negra que tem medo e se sente oprimida como a maioria dos americanos negros da
década de 60, mas que encontrará a si mesma convivendo com as irmãs Boatwright.
“A Vida Secreta das Abelhas” nos faz
refletir desde o título do longa até o desfecho do filme, com as revelações que
Lily tanto procurava. Em uma metáfora antológica, August mostra a Lily como os
insetos – no caso, as abelhas – possuem seus segredos, que só são
compartilhados por aqueles que elas permitam adentrar suas colmeias. Nesse
contexto, August também revela a necessidade de se existiram segredos entre as
abelhas para que elas sejam tão perfeitas em viver em uma sociedade quase
perfeita e produzir sua arte de forma tão deliciosa. Assim, August compara as
abelhas aos seres humanos, alertando a Lily de que todos temos nossas
segredos. Nem tudo está tão explicito nesse filme, e é isso que torna ele algo
tão belo e singular. “A Vida Secreta das Abelhas” pode não ser uma obra prima
da Sétima Arte, mas é um filme essencial para todo ser humano que deseja
compreender um pouco do significado da humanidade, da solidariedade e da
compaixão.
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