A beleza visual e caras e bocas de
Bette Davis são o ponto alto do longa.
Nota: 8,5
Título Original: The Virgin Queen
Direção: Henry Koster
Elenco: Bette Davis, Richard Todd, Joan
Collins, Jay Robinson, Herbert Marshall, Dan O’Herlihy, Robert Douglas, Romney
Brent, Leslie Parrish
Produção: Charles Brackett
Roteiro: Harry Brown e Mindret Lord
Ano: 1955
Duração: 92 min.
Gênero: Biografia / Drama
Elizabeth I reinou entre 1558 até 1603.
Tal período ficou conhecido como a Era do Ouro da Inglaterra. Durante esses 45
anos, a Rainha Virgem promoveu o cercamento de terras, o aumento das áreas
urbanas, estimulou as atividades corsárias (pirataria), incentivou a produção
de tecido e o êxodo rural, entregou terras à burguesia e à classe média e
venceu a Guerra da Invencível Armada contra a Espanha. Sir Walter Raleigh, por
sua vez, foi um homem simples que conquistou a monarca a ponto de ser seu
protegido e estando ao lado da Rainha durante alguns anos como chefe de sua
guarda pessoal. Alguns dizem que Elizabeth era apaixonada por Raileigh, outros
que eram apenas amigos.
No filme, Elizabeth I está perto dos 55
anos de idade (quando ocorreu a Guerra da Invencível Armada), a idade ainda lhe
trazia pretendentes, que desejavam, acima de tudo, o poder, mas também trouxe o
firmamento de toda sua realeza. Aqui, Elizabeth alterna momentos simpáticos e
graciosos com momentos de ira – especialmente quando fala sobre assuntos de
estado. A relação da Rainha com Raileigh inicia logo no começo do longa,
estendendo-se durante a trama, passando pelo romance dele com uma das amas da
Rainha e terminando com sua viagem para a Nova Inglaterra com a autorização de
Elizabeth.
Henry Koster foi um diretor alemão que
se radicou nos EUA e, entre 1936 e 1966, dirigiu 40 filmes para a Universal e
para a MGM. Koster dirigiu algumas das maiores estrelas da era de Ouro de
Hollywood, como: Marlon Brando, Bette Davis, Ava Gardner, James Stewart,
Richard Burton, Celeste Holm e Betty Grable. O diretor foi indicado ao Oscar
apenas uma vez, ao Sindicato dos Diretores da América 3 vezes e ganhou uma estrela
na calçada da fama em 1960. Dentre os roteiristas, vale destacar Harry Brown,
que escreveu, também, os roteiros de “Um Lugar ao Sol” (1951), “Iwo Jima – O
Portal da Glória (1949) e “Onze Homens e Um Segredo” (1960). Em “A Rainha
Tirana”, o real e o fictício se unem formando um filme interessante que não se
perde em nenhuma enrolação, começa, diz o que tem para dizer, mostra a vida de
uma das maiores monarcas da história da humanidade – e, provavelmente, a mulher
que mais teve sua vida abordada no cinema – e termina, sem perder tempo falando
disso ou daquilo. Entretanto, acho que, ao menos lembrar da Guerra da
Invencível Armada era necessário para não deixar Elizabeth apenas como uma
mulher entrando na velhice, e sim como a grande monarca que foi, comandando seu
país sozinha, sem ninguém para controlá-la. Todavia, nem mesmo isso faz o filme
perder sua grandiosidade, isso, por que, filmes como esse não eram comuns na
década de 50 e, mesmo que a preocupação em realizar grandes produções – com
grandes cenários e uma beleza visual perto do impecável – estivesse na moda,
esse longa tem efeitos ótimos e uma fotografia excelente. A composição dos
cenários internos, na sua maioria dentro do castelo oficial da realeza em
Londres, é muito bonita e é mais um trunfo para a produção.
Bette Davis é, simplesmente, uma das
maiores atrizes da história do cinema. Como admirador incondicional de Meryl
Streep, chego a dizer que estão lado a lado como as melhores atrizes que o
cinema possuiu. Fazendo uma pequena referência ao próprio escrito do DVD do
filme, temos aqui, sem dúvida alguma, a “rainha das telas interpretando a
rainha da Inglaterra”. Davis ficou conhecida por todo seu talento, mas também
por sua dureza em levar a vida, principalmente a profissional, não há como não
ver semelhanças entre essas duas Elizabeth’s, ambas mulheres além de seus tempos,
que nunca deixaram que homem nenhum as fizessem se curvar e tomaram as rédeas
de suas vidas desde o começo. Como disse, a personagem alterna momentos
descontraídos de bondade com momentos mais carrancudos, e Davis faz isso com
perfeição, sem deixar esquecer que a monarca está ficando velha e, por isso, já
não pode mais fazer tantas coisas quanto antes. Richard Todd é Sir Walter
Raileigh, um homem decidido que acaba, como todos os outros se curvando a
Elizabeth (o que me faz lembrar uma das cenas mais sacadas do longa “A Rainha”
[2006], onde, distraído com a Rainha Elizabeth II na televisão, o primeiro
ministro Tony Blair nem dá atenção a sua esposa quando ela diz que sabia que aconteceria
com ele também, assim como aconteceu com todos os outros: ele se apaixonaria
pela monarca), respeitando-a e amando-a como sua rainha. Todd está longe de ser
apenas um rosto bonito nesse filme, consegue ser, ao mesmo tempo, um homem
determinado em conseguir seus navios para ir para a América e um homem submisso
que acaba fazendo todas as vontades da Rainha, e é aí que está a beleza da
atuação de Todd: ele é um homem comum, um homem como qualquer outro, que quer
ser o senhor de seu destino, mas quantos homens resistiriam a uma Rainha de
verdade? Para completar o elenco, e o triângulo amoroso formado diante dessa
trama, está Joan Collins, uma das mulheres de beleza mais presente do cinema,
apesar de aparecer pouco, as cenas de Collins são de uma delicadeza e uma
sensualidade ímpar, contrastando com toda a seriedade da corte inglesa.
Em 1997, Cate Blanchett encarou viver a
Rainha Elizabeth I em um filme que falava sobre a chegada da monarca ao trono e
o problemas que enfrentou em seus primeiros anos de reinado. Dez anos depois,
Blanchett voltou ao cinema para viver a mesma rainha no longa “Elizabeth – A
Era do Ouro”, filme que narra o mesmo período narrado em “A Rainha Tirana”. As
diferenças dos filmes começam pelas atuações: Bette Davis e Blanchett tem
intepretações muito diferentes uma da outra, mas ambas levam a carga de viver
uma mulher tão poderosa e importante com tranquilidade, mesmo que Davis pareça
menos utópica e mais série que Blanchett, os momentos de fúria no filme de 2007
são bem mais construídos. Clive Owen vive Walter Raileigh no filme de 2007, e a
atuação de Todd nem se compara a de Owen, Todd é menos glamuroso e interpreta
com mais simplicidade, sem ter nenhum momento de grandiosidade extrema e chata,
deixando tais momentos apenas para a verdadeira estrela do longa. Para
substituir Joan Collins no papel de Beth/Bess Throckmorton, foi escolhida Abbie
Cornish, tão bela quanto Collins, mas, da mesma forma como em 1955, a
personagem aparece pouco, portanto, tem pouco a fazer e dizer. Vale a pena
lembrar que o nome original desse filme, traduzido livremente, seria “A Rinha
Virgem”, e não “A Rainha Tirana”, até por que, Elizabeth nunca foi uma mulher
tirana, apenas fez o que devia ter feito e por ser uma mulher foi criticada por
algumas atitudes. Quanto a castidade da monarca, bem, ninguém provou o
contrário até hoje.
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