segunda-feira, 18 de novembro de 2013

044. MORTE SOBRE O NILO, de John Guillermin

O elenco de peso e a história de Agatha Christie sustentam uma adaptação clássica.
Nota: 9,0


Título Original: Death on the Nile
Direção: John Guillhermin
Elenco: Peter Ustinov, Jane Birkin, Lois Chiles, Bette Davis, Mia Farrow, Jon Finch, Olivia Hussey, I. S. Johar, George Kenndy, Angela Lansbury, Simon MacCorkindale, David Niven, Maggie Smith, Jack Warden, Harry Andrews, Sam Wanamaker, Froçois Guillaume, Barbara Hicks, Celia Imrie e Andrew Manson
Produção: John Brabourne, Richard B. Goodwinm e Norton Knatchbull
Roteiro: Anthony Shaffer e Agatha Christie (romance)
Ano: 1978
Duração: 140 min.
Gênero: Suspense / Thriller

Em pleno Rio Nilo, a bordo do cruzeiro S. S. Karnak, a jovem milionária Linnet Ridgeway é assassinada. Todos no barco possuem algum motivo para querer ver a jovem morte. Porém, o que o assassino não imaginava era que o astuto Detetive Hercule Poirot, qua também está a bordo, pode desvendar todo o mistério com a ajuda de seu amigo, o Coronel Race. Agora, o assassino e o detetive travarão uma batalha épica enquanto o cruzeiro flutua sobre o rio Nilo, e apenas um deles sairá vencedor.
A escritora Agatha Christie ficou conhecida no mundo todo como “Duquesa da Morte”, “Rainha do Crime” e outros títulos referentes a sua maestria como romancista policial. Sendo assim, é impossível traçar uma sinopse realmente decente de qualquer uma de suas histórias sem revelar alguma coisa que deve permanecer em segredo àqueles que ainda não conhecem o começo, o meio e o fim (sempre surpreendente) de determinado trabalho. Portanto, vou me ater a justificar, de forma rápida e concisa os motivos que cada personagem teria para matar Linnet. A jóias da protagonista são cobiçadas pela velha Sra. Van Schuyler, que está acompanhada pela Srta. Bowers, que teve a família falida por um passado relacionado aos Ridgeway. A criada de Linnet, Louise, está chateada com sua patroa pois ela se nega a dar o dote para que Louise se case com um homem que, segundo Linnet, é inadequado. A escritora Salome Otterburne está sendo processada por Linnet e Rosalie, sua filha, deseja proteger a mãe. O administrador americano Andrew Pennington tem fraudado a família Ridgeway há anos. Jacqueline de Bellefort está chateada com Linnet por sua amiga ter roubado-lhe o noivo. Simon Doyle, marido de Linnet, é o maior beneficiado no testamento de Linnet.


O diretor inglês, John Guillermin foi o responsável por filmes bem populares e bem agitados entre o final da década de 50 e o final da década de 80. Dentre eles: “A Maior Aventura de Tarzan” (1959), “Crepúsculo das Águias” (1966), “Inferno na Torre” (1974), “King Kong” (1976) e “Sheena – A Rainha das Selvas” (1984). Apesar de nenhum de seus filmes ser ovacionado pela crítica ou por especialistas, é necessário lembrar que alguns deles foram grandes precursores nas técnicas de efeitos especiais no cinema, e, nesse contexto, é impossível deixar de mencionar “King Kong”, que se tornou uma referência seguida por alguns diretores da era sexo-drogas-rockn’roll do cinema da década de 80. Em “Morte Sobre o Nilo”, não há efeitos, nem grandes cenas de ação, e é isso que torna o longa algo tão singular. Cenas como a que o grupo do cruzeiro visita um monumento onde Linnet sofrera um atentado (alguém jogará uma pedra gigante em direção à moça) são perfeitas justamente por não possuírem som algum além do som dos sapatos ou do vento. No barco, por outro lado, a beleza fica por conta de como o diretor consegue usar muito bem os pequenos espaços que possui.


Nito Rota, sem dúvida é um dos maiores compositores da historia do cinema, se não for o maior. Era o preferido de Fedreico Fellini e compôs a trilha sonora inesquecível dos dois primeiros longas da Trilogia “O Poderoso Chefão” (1972 – 1974) e de outros inúmeros clássicos da Sétima Arte. Seu trabalho aqui, como citei acima, é mesclar cenas com alto apelo musical e saber que algumas delas serão melhor recebidas sem música alguma, apesar de ser uma trilha sem grandes composições, é perfeita para o filme, trazendo a calma aparente do Rio Nilo quando necessário, e mostrando a ferocidade dos famosos répteis que habitam o local em outros momentos. Faço uma ressalva para uma cena realmente bela do longa: Poirot, obviamente, conversa com todos à bordo para tentar desvendar o caso. No momento em que vai dialogar com a personagem de Bette Davis, a veterana, na época com 70 anos, mais de 100 títulos, 2 Oscars de melhor atriz, outras 8 indicações na categoria, está sentada, sozinha no local mais alto e aparentemente mais agradável e tranquilo da embarcação, ela parece descansar, parece não se importar com tudo o que esta acontecendo a sua volta e se mostra como uma mulher fria, serena e inexpugnável. Mais tarde, quando o detetive reúne todos em uma sala para relevar que descobriu quem é o assassino, Bette é uma verdadeira estrela, literalmente, ela brilha como se fosse um astro e é impossível não notá-la. Davis parece uma faraoa, endeusada pela telona do cinema. Pode ser apenas um devaneio de um grande fã, mas que é algo a se pensar, isso é.


Peter Ustinov, intérprete de Hercule Poirot, venceu 2 Oscars de melhor ator coadjuvante e eternizou o personagem, sobretudo, na televisão. No cinema, foram apenas 3 filmes vivendo o detetive, na televisão foram seis vezes. “Morte Sobre o Nilo” foi seu primeiro trabalho como o personagem. Não li nenhum livro de Agatha Christie, mas acredito que Poirot seja quele tipo de personagem 8 ou 80, ou seja, ou ele é muito sério ou muito irônico, ou ele é muito esperto ou muito idiota, eu outras palavras, ou ele se parece com Holmes ou com Clouseau. Se minha aposta fosse certa, Ustinov é perfeito no papel, pois acredito que Poirot sejá ainda mais sério e mais inteligente que Holmes. Dessa forma, há pouco a falar sobre a interpretação do ator, além de dizer que ele é perfeito nos momentos sérios do longa e melhor anda quando o personagem debocha dos suspeitos. Dentre os demais personagens destaco apenas alguns deles. Lois Chiles é Linnet, apesar de morrer logo no filme, a atriz mostra um pouco de seu talento, o que é o suficinete para não haver críticas negativas sobre ela. A Sra. Van Schuyler é vivida por Bette Davis,  o retrato do perfil que ela mesma montou: séria, carrancuda, antipática, onipotente e uma verdadeira dama. Davis lida bem com o fato de sua personagem ser cleptomaníaca e, apesar de não ter grandes cenas, nunca nos esquecemos que ela está ali (e isso não se deve apenas pelo brilho). Maggie Smith, uma das maiores atrizes vivas, vive a Srta. Bowers e o primeiro nome que me fez querer assistir a esse filme pela primeira vez (nem sabia que e Davis estava no elenco), nos faria esquecer de Van Schuyler se qualquer outra atriz a tivesse interpretado, tamanha a beleza e a inteligência de sua personagem. Uma mulher tão séria quanto a patroa, Smith nos apresenta alguém que se mostra caridosa quando necessária, mas que, a cima de tudo, é uma pessoa sensata e conformada. Angela Lansbury nos presenteia com a interpretação da alcoólatra Salome, apesar de ter poucas cenas, quando aparece acaba sendo um arraso. Não foi a toa que deixei a dupla Simon MacCorkindale e Mia Farrow por último. Não simpatizo com nenhum deles, que interpretam, respectivamente, Simon Doyle e Jacline De Bellefort, em alguns momentos os dois parecem perfeitos no papel, em outros estão exagerados demais, em outros estão apagados demais e, tendo em vista a excelência desse elenco, é quase inadmissível que duas personagens tão importantes como o marido da morta e a melhor amiga traída da morta sejam interpretados de forma tão decepcionante.

Alguns críticos consideram “Morte Sobre o Nilo” uma das melhores adaptações para o cinema das obras de Agatha Christie. O elenco do longa já fala por si só, aliando isso a um diretor conhecido por renovar o cinema, mais um roteirista experiente em filmes do gênero suspense, mais uma trilha sonora perfeita (indispensável para esse tipo de filme), não duvido que os críticos tenham razão. Se o filme é fidedigno à obra é um detalhe do qual não posso falar, mas posso afirmar, sem sombra de dúvida, que o longa é um filme bem feito que cumpre com seu propósito: mostrar, mais uma vez, que ninguém no mundo superará Agatha Christie tão cedo. O longa é prático, matar é algo que se torna comum, a história nos faz participar de tudo o que acontece, os atores e atrizes dão vida a personagens totalmente diferentes, e é essa diversidade que faz com que, em ao menos algum momento, nos encontremos, também, à bordo do S. S. Karnak, chegando a nos sentirmos até um pouco suspeitos.


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