Uma forma simples, bela, inteligente e
agradável de quebrar tabus sem ofender à nenhuma geração.
Nota: 9,0
Título Original: Pretty Woman
Direção: Garry Marshall
Elenco: Julia Roberts, Richard Gere,
Ralph Bellamy, Jason Alexander, Laura San Giacomo, Alex Hyde-White, Amy
Yesbeck, Elinor Donahue
Produção: Aron Milchan, Steven Reuther
Roteiro: J. F. Lawton
Ano: 1990
Duração: 119 min.
Gênero: Comédia / Romance
Durante o dia, milhões de pessoas passam
pela Calçada da Fama em Hollywood fotografando as estrelas de pessoas famosas.
Durante a noite, essas estrelas e esses nomes servem para apenas um propósito:
delimitar o espaço de atendimento das prostitutas. Vivian Ward é uma dessas
prostitutas que trabalha na Calçada da Fama. Edward Lewis, por sua vez, é um
empresário rico que está de passagem por Los Angeles e precisa de companhia.
Agora, Vivian e Edward irão unir o útil ao agradável.
O sonho de qualquer mulher, não importa
a classe social ou o tipo de emprego que tenha, é, em algum momento da vida,
ser arrebatada por um belo homem que se proponha a fazer tudo por ela, ou, ao
menos, sustentá-la. E se esse “príncipe encantado” vier montado em um porshe ao
invés de um cavalo e estiver hospedado na suíte do hotel mais caro de um grande
cidade ao invés de possuir castelos, melhor ainda. É isso o que acontece com
Vivian, e mais, ele está disposto a gastar horrores de dinheiro com ela para
que ela se torne uma dama. O problema é que esse príncipe propõe um negócio,
não um plano de vida: toda essa mordomia, facilidade e esse sexo com um homem
bonito durará apenas alguns dias e, depois, Vivian voltará a ser apenas mais
uma profissional do sexo andando de um lado ao outro da Sunset Boulevard. Esse
filme poderia ser um drama terrível sobre a pobre prostituta que vê sua chance
de ser uma rica mulher ir por água abaixo ou um filme imbecil sobre uma
prostituta que ve sua chance de dar um golpe ir por água a baixo, isso, se não
fosse dirigido pelo ótimo Garry Marshall. O diretor, indicado a 4 Emmy’s, foi o
responsável não apenas por popularizar Julia Roberts como um síbolo feminino
de beleza para mulheres e de desejo para homens, e sim, por trazer de volta as
comédias românticas que, como “Uma Linda Mulher”, “Noiva em Fuga” (1999), “Idas
e Vindas do Amor” (2010) e “Noite de Ano Novo” (2011), celebram o amor de forma
bela, misturando o real com o fantasioso, a verdade com a idealização e nos
servindo como modelo para termos a certeza de que românticos ainda não foram
extintos.
Foi com “Uma Linda Mulher” que Richard
Gere e Julia Roberts se tornaram símbolos sexuais sem apelação alguma, ou seja,
eles passaram a ser desejados e admirados, mas nunca representando vulgaridade.
Roberts ainda não tinha uma carreira consolidada, havia realizado poucos filmes
e era um iniciante no auge de seus 23 anos. Não era o ideal de beleza que temos
hoje, mas já era uma atriz muito competente que não deixou a peteca cair em
nenhum momento do longa, provando sua qualidade como atriz e se tornando a mais
linda mulher do mundo por sua simpatia, seu carinho e seu talento. Como Vivian,
ela eternizou a beleza dos anos 90 e nos trouxe uma personagem que batalha na
vida para atingir seus sonhos. Além disso, Roberts nos presenteia com uma
mulher simples, sincera, honesta e de um coração enorme, que prova que os
valores espirituais sempre serão mais importantes que os valores materiais.
Richard Gere, por outro lado, já era conhecido e tinha uma carreira
consolidada. Já era um homem que chamava a atenção, mas interpretar o rico
Edward Lewis lhe trouxe o apelo sentimental com o qual o personagem trata uma
prostituta e lhe garantiu o posto de homem mais desejado da década de 90. Além
disso, Gere tem uma interpretação belíssima de um homem sem preconceitos, que
não trata Vivian de forma diferente pelo fato de ela ser uma profissional do
sexo.
De tempos em tempos, o cinema aparece
com novidades impressionantes que desafiam os padrões sociais e culturais do
mundo todo. “Bonequinha de Luxo” (1961) trouxe Audrey Hepburn no papel de uma
prostituta e George Peppard como praticamente um gigolô, porém, em momento
algum os personagens são tratados diretamente como tais: Hepburn volta para
casa apenas ao amanhecer, Peppard se despede de uma “amiga” recebendo dinheiro
dela. Em 1976, progredimos com esse tema e Martin Scorsese, em seu brilhante
“Taxi Driver”, chegou a mostrar uma jovem prostituta levando um cliente para
seu quarto. No início da década de 80, o próprio Richard Gere nos mostrou o
lado masculino da coisa em “Gigolô Americano” (poucas vezes a prostituição
masculina seria mostrada de forma tão reveladora). Em 1990, “Uma Linda Mulher”
rompeu com todos os padrões possíveis e revelou uma prostituta que não via sua
vida como depressiva, que fazia isso por não ter outra opção, mas também por
saber como era mais fácil agir dessa forma a tentar outros trabalhos
considerados mais dignos pela sociedade. Cinco anos depois, a prostituição masculina voltou a ser tema com “O Diário de um Adolescente”, protagonizado por
Leonardo DiCaprio, mostrava um jovem viciado que tinha que se prostituir para
comprar drogas. “Moulin Rouge! – Amor em Vermelho” (2001), devido a toda sua teatralidade e sua beleza estética, deixa a prostituição subentendida em um
contexto relacionado a uma casa de shows. Por fim, com nacionalidade brasileira,
o longa “Bruna Surfistinha” (2011), trouxe Deborah Secco na adaptação da vida
da garota de programa Raquel Pacheco sem pudores ou vergonhas.
Nesse contexto, “Uma Linda Mulher” foi
um divisor de águas, não apenas por se tratar sobre o tema da prostituição, que
passou a ser mais abordado e menos preconceituoso no cinema após esse filme, e
sim, como um modelo de quebra de tabus. Qual o problema em ser uma prostituta?
Qual o problema em ser homossexual? Qual o problema em ter vários relacionamentos?
Qual o problema de se falar sobre sexo? Qual o real problema de gostar de fazer
sexo? Qual o problema de pessoas velhas se apaixonarem e quererem viver esse
amor? Qual o problema de pessoas de idades muito diferentes se apaixonarem? Em
suma, qual o problema de um ser humano querer viver sua vida sem ser julgado? E
quem somos nós para julgar os desejos ou moldes alheios? O que menos importa
nesse filme é se é um longa com qualidade técnica ou não (até por que, a
qualidade técnica de 1990 está longe de ser comparada a do tempo em que
vivemos hoje), o que interessa é que Vivian e Edward nos mostram que o mais belo da vida é deixar de se
importar com os outros, viver sua vida sem se importar com o que os outros pensam
e sem cuidar da vida alheia. Esse casal improvável mostra, de forma simples,
bela e romântica que mais vale viver um amor, seja qual for, a chorar por sua
perda no futuro.
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