sexta-feira, 22 de junho de 2012

265. ENTRE DOIS AMORES, de Sydney Pollack

Uma obra de arte que faz jus a Karen Blixen ao escolher Meryl Streep para interpretá-la. Viva a maior atriz da história do cinema!
Nota: 9,6


Título Original: Out of Africa
Direção e Produção: Sydney Pollack
Elenco: Meryl Streep, Robert Redford, Klaus Maria Brandauer, Michael Kitchen, Malick Bowens, Joseph Thiaka, Stephen Kinyanjui
Roteiro: Kurt Luedtke, Karen Blixen (romence), Judith Thurman (livro), Errol Trzebinski (livro)
Ano: 1985
Duração: 161 min.
Gênero: Romance

Karen Blixen nasceu em 1887, dinamarquesa, filha de um militar que cometeu suicídio, foi criada apenas pela mãe ao lado de quatro irmãos. Por volta de 1914 casou-se com o sueco Bror Von Blixen-Finecke e tornou-se baronesa, indo, consequentemente, viver em uma fazenda africana ao sopé do montes Ngong. Karen teve uma vida complicada devido a doenças, amores, filhos perdidos e fracassos na fazenda. Em 1931 voltou à Dinamarca. Sob o pseudômino de Isak Dinesen, escreveu em 1929 “A Vingança da Verdade”, em 1934 “Sete Contos Góticos”, e em 1937 veio seu maior sucesso que inspirou esse filme “A Fazenda Africana”. Sob o pseudômino de Pierra Andrezal publicou durante a Segunda Guerra Mundial “Contos de Inverno” e “as Vingadoras Angélicas”, em 1958 “Anedotas do Destino” e em 1960 “Sombra na Pradaria”. Morreu em 1962 com 77 anos, deixando um legado inestimável para a literatura mundial.


Karen Blixen acaba de perder a chance de se casar com seu amante, ela decide, então, casar-se com o irmão dele, do qual é muito amiga. Ele aceita por precisar do dinheiro dela e ela por querer o título dele. Desde sua chagada na África, onde ele possui uma imensa propriedade, os dois já começam a desentenderem-se e suas vidas não são as mais belas possíveis. Por Bror viajar muito e quase nunca parar em casa, Karen encontra em seu trabalho e, principalmente do aventureiro Dennys, algum motivo para viver.


“Uma Vida em Suspense” (1965), “Esta Mulher é Proibida” (1966), “A Noite das Desesperadas” (1969), “Nosso Amor de Ontem” (1973) e “Tootsie” (1982) são apenas alguns dos títulos mais importantes que introduziram Sydney Pollack no cinema, anteriormente ele trabalhara em séries para televisão. É engraçado como quando fazem pequenas listas de parcerias nos cinemas vemos com recorrência nomes conhecidos como: Martin Scorsese e Robert De Niro, Billy Wilder e Jack Lemmon, Tim Burton e Johnny Depp, Federico Fellini e Marcello Mastroianni, John Ford e John Wayne e Ingmar Bergman e Max Von Sydon, mas nunca vi em tantas listas, nem mesmo nas mais completas, citarem a parceria de sete filmes de Pollock e Robert Redford, uma dupla que sempre é ótima. Enfim, Pollack é sempre um gênio, mesmo quando faz filmes com roteiros pobres. Aqui ele faz aquilo que eu chamo de inimaginável: torna a história totalmente palpável, a cena em que Streep e Redford estão no avião é considerada um dos momentos mais importantes da história do cinema por inovar com tanta qualidade. O filme como um todo é realmente um trabalho genioso feito por alguém magnífico. Vale lembrar a cena em que Streep é quase atacada por uma leoa, era para o animal estar preso, mas Pollack decidiu soltá-lo. O diretor morreu em 2008 com 73 anos, deixando um legado inestimável para o cinema.


Pouco depois de realizar a obra que é a trilha sonora desse filme, considerada a 15ª na lista do American Filme Institute, John Barry teve problemas de saúde pela ingestão de substância tóxica e nunca mais pode trabalhar com tanta dedicação para realizar vários filmes em um curto período de tempo, entretanto jamais decepcionou quando aceitou um trabalho. Foi ele quem criou o tema para uma das personagens mais famosas da história do cinema, 007; também foi o responsável pela aclamada trilha sonora do filme “Leão do Inverno” (1968), com Peter O’Toole, Katherine Hepburn e o ainda novato Anthony Hopkins, considerada sua maior realização. Foi vencedor do Oscar em 4 edições, levando dois por “A História de Elsa” (1966), “O Leão do Inverno”, ”Entre dois Amores” e “Dança com Lobos” (1990). Barry confessou, certa vez, que inspirou-se no sorriso de Meryl Streep para compor o tema do filme. Devo confessar que a emoção de, na tarde de ontem coincidentemente encontrar o disco de vinil dessa trilha, justo um dia antes do aniversário de Meryl, foi uma emoção que somente cinéfilos, fãs e músicos poderão entender. John Barry morreu em 2011, com 77 anos, decorrência de um ataque cardíaco, deixando um legado inestimável para a história da música.


Meryl Streep estava em seu oitavo ano de carreira no cinema, já possuía invejáveis cinco indicações ao Oscar, das quais venceu duais, cinco indicações ao Globo de Ouro, vencera três, e já recebera a carta da diva Bette Davis dizendo que via Meryl Streep como a próxima primeira dama de Hollywood. Como Karen Blixen ela acaba, de certa forma, sustentando a parte das atuações do filme, não apenas por ser a única que aparece o tempo todo, mas por tratar a escritora com tanta magnitude e respeito, vemos, portanto, a evolução de uma mulher sábia, bela e determinada. Em uma das cenas mais memoráveis do filme, Blixen recebe a permissão de beber algo no Muthaiga Country Club, frequentado apenas por homens, até hoje a escritora foi a única mulher a quem essa honra foi concedida. Robert Redford dá vida ao enigmático Dennys, bonito, charmoso, inteligente e apaixonado por Blixen, ele nos fornece os pontos fortes e mais lembrados do filme, ao lado da protagonista. Klaus Maria Brandauer é o marido de Karen, que aceitou casar com ela apenas como um negócio que beneficiava a ele e a ela, o ator personifica perfeitamente o típico homem que casa por dinheiro: não liga muito para a esposa, sai com dezenas de outras mulheres, volta para a cama da esposa quando se sente acuado por qualquer motivo. Apesar de os três estarem bem vivos, é inegável que Brandauer e Redford nos proporcionaram atuações memoráveis e que Meryl Streep deixará, por sorte em um dia bem distante, um legado inestimável para a história da atuação.


“Entre Dois Amores” não é penas uma adaptação do romance mais famoso de Karen Blixen, é uma obra de arte que nos revela muito sobre cinema e literatura ao mesmo tempo, sobre fotografia e belas paisagens, sobre cultura e modos de ver o mundo. Quando Pollack resolveu fazer esse filme, ele certamente tinha Robert Redford em mente para viver Dennys, se ele também escolheu Meryl Streep, bem, isso eu já não sei, mas que ele acertou, ele acertou. Quando nos reportamos a romances, Karen Blixen foi uma das pessoas mais importantes da literatura mundial dos últimos duzentos anos, retratá-la com tanta dignidade e verdade como esse filme faz é uma homenagem poucas vezes vista, apesar de alguns tristes fatos de sua vida terem sido esquecidos, nada tem o poder de fazer deste filme algo ruim. Bom, aproveitando que é hoje o grande dia do aniversário de Meryl Streep, como fã e futuro cineasta, confesso: se não for pela bela história, esse filme vale a pena pela grandiosa atuação dessa estrela que jamais deixará de brilhar, afinal, como previu Bette Davis, Meryl Streep é a Primeira Dama de Hollywood, e não há quem queira discutir com o magnânimo vulcão chamado Bette Davis.


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266. O ÚLTIMO IMPERADOR, de Bernardo Bertolucci

Ninguém faria melhor que Bertolucci
Nora: 9,0



Título Original: The Last Emperor
Direção: Bernardo Bertolucci
Elenco: John Lone, Joan Chen, Peter O’Toole, Ruocheng Ying, Victor Wong, Dennis Dun, Ric Young, Vivian Wu, Richard Vuu, Tson Tijger, Tão Wu
Produção: Jeremy Thomas, John Daly, Franco Giovale e Joyce Herlihy
Roteiro: Bernardo Bertolucci, Mark Peploe, Enzo Ungari e Henry Pu-yi (autobiografi)
Ano: 1987
Duração: 163 min.
Gênero: Drama / Biografia

Em 1908, o pequeno Pu Yi, então com dois anos de idade, assumiu como novo imperador na China. Durante quatro anos viveu isolado do mundo todo na conhecida Cidade Proibida, habitada por eunucos, mulheres e ele. Com a queda do império após a revolução dirigida por Sun Yat-sem, Pu Yi deixou de ser imperador, mas continuou a morar na Cidade com todas as regalias possíveis. Por algumas vezes ele tentou voltar ao poder, mas falhou em cada uma delas. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do Japão, que o amparava, ele acabou sendo entregue aos comunistas. Morreu em 1967, sem deixar herdeiros.



O filme inicia com Pu Yi nas mãos dos comunistas chineses por volta de 1945, ele, então, lembra-se de tudo o que aconteceu em sua vida até o momento, com alguns detalhes aqui, outras faltas deles ali. Sua relação com a mãe é retratada como difícil, afinal ela o deixou na Cidade Proibida aos cuidados de uma espécie de babá. Posteriormente o garoto foi educado pelo escocês Reginald Fleming Johnston, por quem o rapaz, no auge da adolescência, nutriu amizade e confiança extremas. Vemos também como eram seus casamentos e a forma como suas concubinas eram tratadas por ele e pelas esposas. Temos aqui, portanto, uma análise da própria personagem sobre sua vida.



Em 1972 Marlon Brando participou daquele que seria seu filme mais controvérsio, “Último Tango em Paris” lhe rendeu sua sétima indicação ao Oscar e consagrou Bernardo Bertolucci, também indicado ao Oscar pelo longa, como um dos diretores mais originais da época. Não é preciso dizer mais nada sobre a carreira desse diretor, depois de citar esse filme e “O Último Imperador”, ambos são obras primas do cinema que se destacaram pela excelência com a qual o mestre os escreveu e dirigiu. Adaptando a história de vida de Pu Yi, ele consegue nos deixar incrédulos pela forma como as pessoas trataram o imperador após a Segunda Guerra, mas não é apenas nisso que seu ótimo trabalho se centra. Durante o tempo em que passamos com o Pu Yi velho no comunismo chinês, vemos cenas fortes e quase reais, apesar de eu não acreditar que os revoltados eram tão calmos quanto os retratados. Quando nos reportamos para a vida do Imperador na Cidade Proibida, tudo é belo e a derrota parece algo incerto, até o rapaz ser obrigado a fugir de lá. Durante esse processo em que Pu Yi e suas esposas correm de um lugar ao outro para tentar se livrar dos revoltados, vemos muita beleza e dinheiro sendo jogado fora pelo homem que ele está se tornando. Por fim, podemos ver a China do fim da década de 1960 e nos conformarmos com o fim do Último Imperador.



John Lone interpreta Pu Yi adulto, inicialmente o vemos como um “recém-homem” aparentemente feliz vivendo na Cidade Proibida, depois o temos como um fanfarrão praticamente rasgando sua fortuna, vem a passagem de sua vida em que ele corria de um lado para o outro para tentar sobreviver e, por fim, o homem decadente aprisionado e interrogado pelo comunistas. Lone não é nenhum mestre do cinema chinês, mas faz seu trabalho com competência e satisfaz. Joan Chen é a esposa consorte de Pu Yi, Wan Jung, uma mulher que, apesar de ter se apaixonado por seu marido, teme a todos os acontecimentos e se perde em uma vida regada a drogas. Quem aqui faz o filme valer apena, reportando-se às atuações, é Peter O’Toole, nos presenteando com sua belíssima performance como Reginald Johnston, um homem com certa simplicidade que parece desejar auxiliar o Imperador em todos os sentidos, eu sinto um pouco de ambição na personagem.



Sem sombra de dúvidas Pu Yi fez história por ser o último Imperador da China. Esse filme faz jus à sua posição e nos revela uma realidade triste ao mostrar um homem que teve tudo e ficou sem nada, nos revelar alguém que detinha todo um poder nas mãos, mas, por ter apenas dois anos de idade, falhou no momento que deveria usá-lo. Entretanto, “O Último Imperador” faz mais que apenas uma homenagem a Pu Yi, o filme deixa claro todas as dificuldade que esse homem passou, jamais desistindo da vida e lutando a cada momento para sobreviver, seja como Imperador, seja como um reles humano comum.

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

267. AS PONTES DE MADISON, de Clint Eastwood

Um dos maiores romances da década de 1990 no cinema.
Nota: 8,9


Título Original : The Bridges of Madison County
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Meryl Streep, Clint Eastwood, Annie Corley, Victor Slezak, Jim Haynie, Sarah Kathryn Schimitt, Christopher Kroon, Phyllis Lyons
Produção: Clint Eastwood, Kathleen Kennedy, Michel Mauer e Tom Rooker
Roteiro: Richard LaGravenese e Robert James Waller (romance)
Ano: 1995
Duração: 135 min.
Gênero: Romance

Francesca vive em uma fazenda no interior de Iowa com seus filhos e marido. Quando os três vão participar de uma exposição, o fotógrafo Richard chega na cidade para fotografar as famosas e belas Pontes cobertas de Madison. Entretanto a chegada desse homem mexerá com os sentimentos de Francesca e, tanto ela quanto ele, perguntarão a si próprios até onde vale a pena seguir seus ideais e sua rotina, ou se não é melhor entregar-se logo ao amor verdadeiro.


Como diretor, o primeiro filme significativo de Clint Eastwood foi “O Estranho Sem Nome” (1973), mas foi apenas em 1992 que ele se firmou nessa área, com “Os Imperdoáveis” vieram inúmeras indicações e prêmios, além da conquista do respeito e da admiração de todos no meio cinematográfico; “Sobre Meninos e Lobos” (2003) foi seu próximo sucesso após “As Pontes de Madison”; em 2005, com “Menina de Ouro” (2004), vieram seus últimos dois Oscars, os primeiros foram conquistados em 1993; “Cartas de Iwo Jima” (2006) provavelmente foi o maior drama da diretor até hoje; dois anos depois veio o fracassado “A Troca”; no mesmo ano o impecavelmente perfeito “Gran Torino”, melhor performance de Eastwood dirigindo e atuando; recentemente “J. Edgar” (2011) foi esnobado por todos e, apesar dos elogios de crítica e público, foi indicado a pouquíssimos prêmios. Apesar de parecer algo fácil dirigir um romance como “As Pontes de Madison” devo discordar, fazer com que a crítica e público se apaixone por uma história tão simples é algo complicadíssimo. Não é preciso dizer que todas as suas cenas são fantásticas e não há um momento sequer no filme que seja chato.


A carreira de Eastwood como ator, entretanto, iniciou-se na televisão em 1955, dez anos depois foi a vez dele atuar em “Por um Punhado de Dólares” e iniciar sua carreira no cinema, daí para frente vieram quase sessenta títulos como ator, nos quais Eastwood sempre é magnífico. Aqui ele é Richard, divorciado, desimpedido, determinado e consciente de que, por viajar muito, é impossível manter um relacionamento sério e duradouro, mas ao encontrar Francesca demonstra que está disposto a mudar tudo em sua vida apenas para tê-la ao seu lado. Mulheres que traem sempre são odiadas pelo público, provavelmente até mais que os homens adúlteros, a simplicidade e a perfeição da atuação de Meryl Streep, entretanto, nos convencem a nos apaixonarmos por essa mulher que está tão confusa em sua vida. O problema de Francesca é que ela chegou em sua zona de conforto, a monotonia tomou conta de seu tempo e o conforto ao lado do marido e filhos a faz ter medo e receito de tudo o que possa ser diferente. Eastwood e Streep nos entregam um dos casais mais apaixonantes da década de 1990, não apenas por seu amor proibido, mas porque eles são pessoas mais vividas, com muito para contar, que tem reais problemas e entendem alguma coisa sobre o amor.


Quando falei sobre “Simplesmente Complicado” (2009) e todos os filmes de Nancy Meyers, ressaltei o fato de eles, em sua maioria, tratarem de sentimentos de pessoas mais velhas. Acredito que apenas essas pessoas estão aptas a falar um pouco sobre o que é o amor verdadeiro, bem diferente dos jovens até seus vinte e poucos anos, que não sabem diferenciar amor de desejo. “As Pontes de Madison” é um filme sobre os sentimentos e problemas humanos, mas mais que isso, retrata fatos reais que podem acontecer com qualquer um, além do mais, quem não se entregaria aos braços de Clint Eastwood? Um de meus filmes preferidos com Meryl Streep.


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268. BRIDESHEAD REVISITED – DESEJO E PODER, de Julian Jarrold

Bem abaixo do esperado.
Nota: 6,0


Título Original: Brideshead Revisited
Direção: Julian Jarrold
Elenco: Mathew Good, Hayley Atwell, Ben Whishaw, Emma Thompson, Michael Gambon, Ed Stoppard, Anna Madeley, Richard Teverson, Patrick Malahide
Produção: Robert Bernstein, Kevin Loader, Douglas Rae
Roteiro: Andrew Davies, Jeremy Brock e Evelyn Waugh (romance)
Ano: 2008
Duração: 133 min.
Gênero: Drama

Na faculdade o jovem e promissor artista Charles Ryder conhece o bom vivant Sebastian Flyte, filho do Lorde e de Lady Marchmain. Após um tempo de convivência o jovem Lorde leva Charles para sua casa e ele conhece toda a família do rapaz: uma das duas irmãs, Julia, é uma moça atraente e provocante que inicialmente despreza o pintor, a irmã mais nova, Cordelia, é uma menina sem noção que não entende nada da vida, o irmão mais velho, Bridey, é um solteirão que obedece a mãe todo o tempo, já a mãe é uma mulher católica fervorosa que acredita em sua religião e em Deus e apenas nisso. Apesar de nenhum demonstrar preconceito por Charles ser ateu, logo ele verá que em Brideshead ou se está ao lado da toda poderosa Lady Marchmain, e de seus ideais, ou a permanência ao lado de qualquer membro da família tem seus dias contados.


Desde 1983 Julian Jarrold dirigiu séries e filmes para televisão, em 2007 resolveu realizar a cinebiografia de Jane Austen no fraquíssimo “Amor e Inocência” com Anne Hathaway, James McAvoy, Julie Walters, James Cromwell e Maggie Smith, com esse elenco ótimo o problema acabou se centrando mesmo na direção e no roteiro que não fazem jus nenhum a grande escritora inglesa. O fato é que em “Brideshead” seu trabalho não é diferente, apesar de uma boa história e locações maravilhosas, ele não consegue extrair nem o mínimo da essência da sociedade inglesa da época, que, convenhamos, é um prato cheio para um bom diretor e um bom roteirista. O problema é que nem o diretor nem os roteiristas são grandes coisas, dessa forma, a história se perde e apenas nos mostra uma mãe orgulhosa e controladora, seus filhos idiotas e sem opinião e o rapaz que entra e sai da convivência com a família diversas vezes, bem como o diretor, eles vieram de séries de televisão, mas devo destacar o maravilhoso trabalho feito por Jeremy Brock em “O Último Rei da Escócia” (2006).


O que acaba sustentando o filme são mesmo as atuações. Matthew Good é Charles, um homem que sabe bem o que quer de sua vida profissional, mas se vê em apuros quanto aos problemas pessoais a partir do momento em que começa a relacionar-se com a família Flyte e todas as obsessividades acerca da matriarca da mesma. Goode iniciou sua carreira em 2002 em filmes para televisão, apenas em 2005, com o filme de Woody Allen “Ponto Final – Match Point”, que ele se lançou no cinema, depois vieram “O Segredo de Beethoven” (2006) e “Direito de Amar” (2009), com Colin Firth. A também oriunda da televisão, Hayley Atwell, trabalhou na adaptação do romance de Jane Austen “Mansfield Park” (2007), no filme com Colin Farrell e Ewan McGragor, “O Sonho de Cassandra” (2007), a cinebiografia de Georgiana Spencer “A Duquesa” (2008) e recentemente a adaptação dos quadrinhos “Capitão América: O Primeiro Vingador” (2011), ela interpreta Julia Flyte, uma garota que sabe o que quer, mas que no fundo é tão controlada pela mãe quanto qualquer outra pessoa que mora na casa. Bem Whishaw, o Jean-Baptist da boa adaptação do romance “Perfume – A História de um Assassino” (2006), é o jovem Sebastian Flyte, outro rapaz perturbado pela mãe, que se afundou na bebida e na vida boa para esquecer dos problemas da vida advindos da família.


Esse filme é bem abaixo da média, e não faz nada além de uma crítica tímida a respeito de crenças exageradas, especialmente do catolicismo. As atuações são medianas, a trilha sonora segue o mesmo nível. Enfim, um filme que não merece ser visto por muitos motivos, mas que é interessante se pensarmos naqueles filmes que analisam a sociedade inglesa do início do século passado, apesar de estar no fim da lista dos melhores do gênero.


terça-feira, 19 de junho de 2012

269. AS HORAS, de Stephen Daldry

Uma obra do cinema moderno.
Nota: 9,2


Título Original: The Hours
Direção: Stephen Daldry
Elenco: Meryl Streep, Nicole Kidman, Julianne Moore, Ed Harris, John C. Reilly, Stephen Dillane, Toni Collette, Claire Danes, Jeff Daniels, Miranda Richardson, Allison Janney
Produção: Robert Fox, Scott Rudin
Roteiro: David Hare e Michael Cunningham (romance)
Ano: 2002
Duração: 114 min.
Gênero: Drama

Três histórias desenrolam-se durante a trama, em três períodos diferentes, com três mulheres diferentes, com um livro em comum, “Mrs. Dalloway”. Na década de 1920 a escritora Virgínia Woolf enfrenta problemas de depressão enquanto escreve o livro; no final da década de 1940 Laura Brown, lê o livro de Woolf e enfrenta dificuldades de entender sua própria vida e seu casamento, ela está grávida, possui uma bela família, mas não tem certeza se deseja continuar vivendo; nos dias atuais Clarissa Vaughn vive parte da história contada no livro e simultaneamente prepara uma festa para o amigo Richard que será homenageado por sua contribuição à literatura.



Stephen Daldry realizou poucos filmes como diretor, dentre eles os ótimos “Billy Elliot” (2000), sobre um menino que possuí talento inconfundível para o balé, mas que terá de enfrentar todo o preconceito acerca de sua escolha; “O Leitor” (2008), com a vencedora do Oscar Kate Winslet e Ralph Fiennes, sobre escolhas, medos, mitos, vergonhas, amor e experiências da vida; e mais recentemente o bom “Tão Forte e Tão Perto” (2011), indicado ao Oscar, conta com Tom Hanks e Sandra Bullock no elenco e debate acerca de buscas e decisões que podem ou não nos levar a descobertas. Nesses três filmes e em “As Horas” não posso avaliar o trabalho do diretor como menos que excelente, ele aborda cada tema de seus filmes com muita naturalidade e vai fundo na essência de cada um para nos trazer emoção e compreensão para com as personagens. “As Horas” é, sem dúvida, seu melhor filme, aqui ele nos apresenta três histórias distintas, em três tempos distintos, com costumes e valores totalmente remodelados pela sociedade com o tempo. Daldry é, portanto, inimaginável e impecável em seu trabalho. O compositor da trilha sonora, merecidamente indicada ao Oscar, é Philip Glass, ele nos presenteia com músicas que conseguem ser o mais melodramáticas possíveis, adequando-as perfeitamente à trama.


Virginia Wollf e Nicole Kidman em sua
            caracterização linda como a personagem.
Essencialmente temos apenas três atuações que fazem desse filme uma obra: Nicole Kidman como Virginia Woolf, Julianne Moore como Laura Brown e a homenageada da semana, Meryl Streep como Clarissa Vaughan. Kidman está totalmente transformada para esse filme que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz, ela é triste, depressiva, desleixada, arrogante e uma mulher cheia de dúvidas e medos quanto à sua vida, apesar de simpatizar com a atriz, aliás, esse trio é muito simpático, devo admitir que ela nunca atuou muito bem, e talvez seja por isso que o que ela faz aqui é tão belo, por ser inesperado e fantástico. Moore é uma das atrizes que mais gosto, ela faz a vez de uma mulher da década de 1940 que tanta manter as aparências de uma esposa e mãe feliz, que nunca tem problemas e que está sempre de bem com a vida, mas no fundo está com sérios problemas, tanto pela leitura do livro, quanto por não saber ao certo o que quer da vida. Streep tem em mãos a personagem mais moderna e, talvez a menos complexa das três, e é isso que faz sua atuação tão magnífica, mesmo Clarissa, aparentemente, ser menos complicada que as outras duas personagens, a atriz nos trás uma mulher que sofre e relembra o passado com felicidade, mas que não tem bem certeza se fez o certo com sua vida. Os homens que acompanham essas mulheres são os maridos das duas primeiras, respectivamente, Stephen Dillane e John C. Heilly, e o grande amigo e amante do passado de Clarissa, um homem que já está farto da vida, com AIDS e que deseja morrer o quanto antes, Ed Harris nos impressiona com uma das melhores interpretações masculinas do ano.



“As Horas” vem para nos mostrar exatamente como nossa vida é feita de tempo, como cada segundo é precioso para determinarmos o futuro de nossas vidas e a felicidade acerca dele. Com atuações brilhantes, direção impecável, um roteiro que poderia ser chato e previsível, mas que é maravilhoso, e uma trilha sonora calma, mas que nos deixa agitados por seu alto teor de melancolia, ele é uma obra do cinema moderno, por, sem mais delongas, ser tão sincero e nos apresentar a vida como ela realmente é: difícil e cheia de problemas, dúvidas e medos, mas que pode ser realmente vivida caso possamos encontrar a nós mesmos sozinhos, sem ajuda de qualquer outro ser humano.

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270. DIREITO DE AMAR, de Tom Ford

A reafirmação de que os homossexuais devem ser tratados como seres humanos, mas sem defender seus direitos, apenas mostrando o quão normais eles são.
Nota: 8,0


Título Original: A Single Man
Direção: Tom Ford
Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Good, Ginnifer Goodwin, Teddy Sears, Jon Kortajarena, Paulette Lamori
Produção:
Roteiro: Tom Ford, David Scearce e Christopher Isherwood (romance)
Ano: 2009
Duração: 99 min.
Gênero: Drama

George e Jim viveram juntos durante mais de dez anos, quando Jim sofre um acidente de carro e morre, tudo na vida de George perde o sentido e, constantemente, ele pensa em se matar. Após oito meses da tragédia, um aluno de George, Kenny, começa a ter comportamentos diferenciado em relação ao seu professor, George ainda precisa conviver com o fato de que um antigo relacionamento amoroso que ele considera sua melhor e única amiga, Charley, ainda o ama desesperadamente.


Tom Ford é um diretor um tanto quanto excêntrico, ele é bem conhecido no mundo todo por ser um renomado estilista gay que já teve diversos aspectos de sua vida privada revelados. Em sociedade com o empresário Domenico De Sole, Ford comanda as marcas Gucci, a qual revitalizou há quase duas décadas, a Yves Saint Laurent, comprada após a morte de seu criador, a Balenciga e a Alexander McQueen, que também lhe foi entregue após a morte do estilista. Ford namora com o jornalista Richard Buckely, ex editor da Vogue, Ford também é conhecido por seu temperamento, por sua naturalidade e pela excentricidade em mostrar modelos completamente ou quase completamente nus em suas coleções. É claro que o esperado de “Direito de Amar” com Tom Ford na direção era um filme quase pornô que revelasse as intimidades mais escrotas dos homossexuais, intimidades essas que os heterossexuais também possuem, mas que não existe a menor necessidade de serem representadas em um filme. O fato é que Ford surpreende com um filme cheio de detalhes e bom gosto, apesar de alguns momentos ridículos e desnecessários, a maior parte do filme é super-bem-vinda e bem feita. Apesar de não gostar muito daquele efeito em câmera lenta – o chamado slow motion – utilizado precariamente em uma cena, essa acaba passando despercebido em meio ao restante do filme, que nos releva ser qualitativo.


Colin Firth iniciou sua carreira na década de 1980 com filmes e seriados para televisão, no cinema é um ator extremamente versátil e talentoso, atuando em diversos gêneros de filmes, como: em 1996 que teve seu primeiro papel de destaque em “O Paciente Inglês”, drama com Ralph Fiennes e Juliette Binoche e vencedor do Oscar de melhor filme; no ano seguinte viveu Lorde Wessex no também vencedor do Oscar de melhor filme, “Shakespeare Apaixonado”; “O Diário de Bridget Jones” (2001), comédia onde ele vive uma espécie de Mr. Darcy do romance de Jane Auten, “Orgulho e Preconceito”, mas mais moderno; a adaptação do romance de Tracy Chevalier “Moça com Brinco de Pérola” (2003); no mesmo ano veio a simpática comédia romântica “Simplesmente Amor”; o drama com Jim Broadbent “Quando Você viu Seu Pai pela Úmtima Vez” (2007); o musical “Mamma Mia! – O Filme” (2008) com Meryl Streep e músicas do ABBA; o filme sobre sociedade inglesa “Bons costumes” (2008); a fracassada adaptação do romance de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray” (2009); e mais recentemente o filme que lhe rendeu o Oscar de melhor ator, “O Discurso do Rei” (2010), onde interpreta o monarca britânico George VI e o thriller “O Espião que Sabia Demais” (2011). Como George em “Direito de Amar” ele nos presenteia com um homem que já não sabe mais o que fazer da vida, que se sente sozinho quase que o tempo todo e que enfrenta seu próprio eu em uma batalha aparentemente interminável. Julianne Moore é o tempero final para a excelência nas atuações desse filme, apesar de aparecer significativamente apenas em uma cena, ela demonstra uma mulher orgulhosa que não aceita derrotas, mas que enfrenta um problema grave na vida: a solidão advinda da falta dos filhos e um de amor verdadeiro.


Abordando um assunto que todos nós algum dia sentiremos, a solidão, “Direito de Amar” não é o que o título sugere, não é uma reflexão sobre que todos possuímos direitos iguais independentemente de nossa sexualidade. Esse filme vai além disso, vai o mais profundo possível na alma humana para dizer que qualquer ser humano está propenso a sofrer com a perda de quem se ama, que qualquer um de nós encarará problemas na vida e que devemos fazê-lo da forma mais digna possível. Uma leva de filmes que está chegando lentamente na indústria cinematográfica apresenta os homossexuais como seres humanos normais, que amam, desejam, brigam, sentem falta, querem ter uma família, enfim, que são como todos os outros, o que esse filme faz é reafirmar esse gênero que não defende as opções sexuais, e sim as respeita.


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271. O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo Del Toro

Puro, criativo, sincero e belíssimo!
Nota: 9,3


Título Original: El Laberinto Del Fauno
Direção e Roteiro: Guillermo Del Toro
Elenco: Ivana Baquero, Sergi López, Maribel Verdú, Doug Jones, Ariadna Gil, Ález Ângulo, Manolo Solo, César Vea, Roger Casamajor, Ivan Massagué
Produção: Álvaro Augustin, Alfonso Cuarón, Bertha Navarro, Frida Torresblanco, Guillermo Del Toro
Ano: 2006
Duração: 118 min.
Gênero: Drama / Fantasia

Há muito tempo atrás uma jovem princesa que vivia no subterrâneo fugiu de sua família e seu povo e foi à procura do sol e dos seres humanos, sua alma ficou vagando desde então e nunca mais voltou. Ofelia, uma menininha de mais ou menos dez anos, vai morar com a mãe e o padrasto em um acampamento que tenta exterminar, literalmente, o que restou dos rebeldes após a Guerra Civil da Espanha, que começou em 1936 e terminou em 1939. Lá a garota conhece e logo odeia o novo marido da mãe, que espera um bebê, mas também encontra um Labirinto que a levará a descobri que é a reencarnação da princesa que fugiu do subterrâneo. Agora Ofelia deverá enfrentar alguns desafios para poder voltar para sua verdadeira casa e ser uma criança feliz.


Guillermo del Toro, é um mexicano que trabalha em departamentos como direção, produção, roteiro, atuação, maquiagem, arte e edição. Aqui ele dirige, roteiriza e produz, e consegue realizar tudo de forma fantástica e muito criativa, a história é extremamente original e nos faz sonhar com os mais inimagináveis acontecimentos, mas também nos proporciona a realidade do final da Guerra Civil Espanhola, a direção é impecável ao nos presentear com cenas tão coloridas e bem compostas, algumas podem até ser escuras, mas nunca dificultam o entendimento, sua forma de passar de uma cena para a outra deixa o filme ainda mais fantasioso e belo. Como diretor, del Toro tem em seu currículo “A Espinha do Diabo” (2001), “Blade II – O Caçador de Vampiros” (2002), “Hellboy” (2004) e “Hellboy II – O Exército Dourado”, como roteirista os únicos a destacar são os filmes mais esperados de 2012 e 2013: “O Hobbit: Uma Jornada Inesperada” e “The Hobbit: There And Back Again” (algo como “O Hobbit: Lá e de Volta Outra Vez”). O espanhol Javier Navarrette é o compositor desse filme, com trabalhos sobretudo em seu país de origem destacou-se mesmo apenas com “O Labirinto do Fauno”, pelo qual recebeu uma merecidíssima indicação ao Oscar, sua trilha é penetrante e, bem como a direção de Guillermo del Toro, nos faz sentir como se fizéssemos parte desse mundo mágico que é a vida de Ofelia toda vez que ela encontra o Fauno.


Apesar de Ivana Baquero não ter feito nada após esse filme, ela não decepciona em momento algum durante a trama, com apenas doze anos encarar uma personagem tão rica e complexa não é trabalho para qualquer um, realmente não sei se ela tinha noção do grande feito de sua interpretação ou se o diretor preferiu iludir a atriz para ela acreditar que estava em um filme da Disney, o fato é que deu certo. Sergi López é um ator com uma carreira bem mais vasta, ele vive o monstruoso Capitão Vidal, padrasto de Ofelia, um homem sem coração que apenas deseja seu filho ao seu lado para poder perpetuar seu nome, Vidal vê todo e qualquer rebelde como uma prega, e como toda praga, a única solução é exterminá-los. Apesar de jovem, Maribel Verdú tem uma carreira com mais de setenta títulos, maioria espanhóis e muito para televisão, como a empregada Mercedes, que ajuda os rebeldes, ela é simples e bondosa, mas também sabe ser forte e destemida quando necessário. Por fim temos o excelente Doug Jones, só para se ter uma idéia de seus filmes, apenas para o próximo ano ele estará em dez produções, também atuou em diversos filmes e séries para televisão, no cinema participou de “Batman – O Retorno” (1992), “MIB – Homens de Preto II” (2002), “Adaptação” (2002), “Hellboy”, “Doom – Porta Para o Inferno” (2005), “The Cabinet of Dr. Caligari” (2005), “A Dama na Água” (2006) e “Hellboy – O Exército Dourado”, nesse último ele interpreta o inconfundível Abe Sapien, na mesma tecnologia que o faz dar vida ao enigmático, carismático e amedrontador Fauno, e ele consegue ser tudo isso não apenas por sua aparência, que ora dá medo, ora conforta, mas por suas atitudes e gestualidades, é dele também uma das cenas mais antológicas do cinema moderno, ele vive o Pale Man, aquele homem branco horrível com olhos nas mãos.


Com uma mescla de sonhos infantis e a dura e triste realidade da vida adulta, que vem acompanhada pela guerra e relacionamentos mais sérios e complicados, esse filme nos propõe refletir sobre se às vezes o melhor caminho não seria sonhar e deixar que esses sonhos nos levem, mas existem momentos que acabamos por nos perguntar se não estamos vivendo em um sonho de tão bela e perfeita que nossa vida se torna, e é aí que o filme nos pega de jeito e mostra sua mágica. Se tudo o que Ofelia vê a sua volta é fruto de sua imaginação? Descubra por si próprio, entrando nesse mundo totalmente mágico e misterioso, para o qual a entrada é o próprio Labirinto do Fauno, já a saída, bem, essa descoberta também será sua tarefa.


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