A idealização de um típico anti-herói
brasileira, que rouba dos ricos e engana o governo.
Nota: 8,0
Título Original: VIPs
Direção: Toniko Melo
Elenco: Wagner Moura, Juliano Cazarré,
Emiliano Ruschel, Arieta, Correia, Jorge D’Elia, Norival Rizzo, Roger Gobeth,
Gisele Fróes, Amaury Jr. e João Francisco Tottene
Produção: Bel Berlinck, Fernando
Meirelles, Paulo Morelli
Roteiro: Thiago Dottori, Bráulio
Mantovani e Mariana Caltabiano (biografia)
Ano: 2010
Duração: 95 min.
Gênero: Biografia / Comédia
Marcelo Nascimento da Rocha passou-se
por policial de elite, campeão de jiu-jítsu, produtor de televisão, repórter da
MTV, guitarrista do grupo Engenheiros do Hawaii, olheiro da seleção e líder do
PCC. Em sua vida real foi piloto do narcotráfico, vendeu motos do exército,
vagas em uma faculdade de direito e impressoras apreendidas pela polícia. Seu
golpe mais famoso foi passar-se pelo filho do dono da Gol Linhas Aéreas, foi
assim que foi pego pela polícia e, hoje, está preso pagando por seus crimes.
Segundo o próprio Marcelo, o alicerce de seus golpes sempre foi a ganância dos
outros, ele ainda afirma que seus crimes nunca foram tão hediondos quanto se
fala, afinal, nunca tirou de quem não tinha, apenas de quem tinha muito e
merecia uma lição.
Marcelo e Amaury Jr. na famosa entrevista concedida ao apresentador em dezembro de 2001, na foto de baixo, a reprodução da cena no filme, com Wagner Moura e o próprio Amaury Jr. |
No filme vemos uma breve narrativa do
que foi a vida de Marcelo. Rapidamente passamos por sua adolescência meio
conturbada pela falta do pai e a ausência da mãe que precisava trabalhar para
sustentá-los. Depois sua fuga de casa, o que acabou levando o rapaz, ainda
muito jovem, para o Paraguai, onde vira contrabandista. Ele acaba voltando para
casa cheio de dinheiro e, rapidamente resolve dar seu maior golpe.
Toniko Melo foi diretor da minissérie
“Som e Fúria”, a história de um grupo de teatro que está preparando a peça
“Hamlet” de William Shakespeare, o elenco contava com Felipe Camargo, Andrea
Beltrão, Pedro Paulo Rangel, Dan Stulbach, Cecília Homem de Mello, Chris Couto,
Paulo Betti, Maria Flor, Daniel de Oliveira e Antônio Fragoso. Logo após o
sucesso na televisão, a minissérie virou filme, dirigido pelo próprio Melo. Seu
trabalho em “VIPs” nos trás uma breve história do protagonista, e talvez seja
aí que esteja o problema do filme, a trama é muito breve e nos revela pouco do
homem que ficou conhecido como o maior salafrário da história do Brasil, para
se ter uma ideia ele teve mais de 15 nomes e nós não vemos nem meia dúzia
durante toda a trama. O roteiro fica a cargo de Thiago Dottori, em seu primeiro
trabalho para o cinema, e do indicado ao Oscar Bráulio Manovani, responsável
por filmes como “Cidade de Deus” (2002), “Ônibus 147” (2002), “O Ano em que
Meus Pais Saíram de Férias” (2006), “Tropa de Elite” (2007), “Última Parada
147” e “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” (2010).
Apesar da superficialidade do roteiro em
abordar pouco sobre a vida da personagem, temos Wagner Moura como protaganista,
e isso conta alguma coisa a favor para o filme. O baiano iniciou sua carreira
em 1999, participou de “Carandiru” (2003), “O Homem do Ano” (2003) e da minissérie
“JK” (2006), mas foi o ano de 2007 que consagrou o ator: seu trabalho em “Tropa
de Elite” lhe rendeu excelentes críticas, “Ó Paí, Ó” fez uma bela homenagem à
sua terra natal, e a novela “Paraíso Tropical”, onde deu vida ao inesquecível
vilão Olavo, lhe rendeu fãs no país todo. O Marcelo criado pelo ator é
totalmente original, afinal ele não se encontrou com o verdadeiro por questões
pessoais, portanto, tudo o que vemos aqui é muito original, Moura não nos
proporciona uma atuação baseada na personagem real, ele cria sua personagem do
zero e a desenvolve durante a trama, e o faz como somente o Capitão Nascimento
poderia. Ainda no elenco temos a ótima Arieta Correia, como a rica pirada
Sandra, o bom Juliano Cazarré como o homem que inicia Marcelo no narcotráfico e
Roger Gobeth como o ator Renato Jacques, um idiota que acredita em todas as
mentiras de Marcelo quando ele se passa pelo herdeiro da Gol. A mãe de Marcelo
é interpretada pela ótima Gisele Fróes.
Apesar de discordar das desculpas do
verdadeiro Marcelo, que diz ter feito tudo o que fez com as pessoas que fez
porque elas mereciam, o filme é uma forte crítica a sociedade consumista que
deseja ao menos parecer estar no poder. A personagem principal criada por
Moura, e digo a criada pelo ator porque basta lermos entrevistas do verdadeiro
Marcelo para mudarmos de opinião, é o típico anti-herói brasileiro que todos
querem ver se dar bem, ele é carismático e só planeja seus golpes contra
pessoas muito ricas ou contra um governo fajuto. Desde o início do filme, em
uma cena ótima em que Moura imita um colega de classe, podemos ter idéia do
perfil da personagem. Apesar de não abordar nem a metade de todos os crimes
cometidos pelo protagonista, o filme é engraçado e bem sucedido em seu
propósito de mostrar que se dá mal quem faz coisas erradas, mas que essas
pessoas nunca aprenderão a lição.
O vigarista em foto tirada no presídio em março de 2011 |
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