segunda-feira, 14 de maio de 2012

307. DEUS DA CARNIFICINA, de Roman Polanski

Em um estilo satírico aos filmes amenos de reflexão da vida na Terra, é uma maravilhosa comédia negra.
Nota: 9,0


Título Original: Carnage
Direção: Roman Polanski
Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz, John C. Reilly, Elvis Polanski, Eliot Berger
Produção: Saïd Bem Saïd, Javier Méndez, Jaume Roures, Olivier Berben e Martin Mozkowicz
Roteiro: Roman Polanski, Yasmina Reza (peça teatral e roteiro), Michael Katims
Ano: 2012
Duração: 80 min.
Gênero: Comédia

Em uma bela tarde, aparentemente de Outono, Zachary Cowan discute com Ethan Longstreet e bate na face do menino com uma vara quebrando-lhe os dentes e desfigurando seus lábios. Para tentar resolver tal atrocidade, Nancy e Alan Cowan vão até a casa de Penelope e Michael Longstreet para os supostos adultos maduros terem uma conversa e resolverem esse problema da forma mais civilizada possível. No entanto, veremos mais que uma tentativa de solucionar essa desventura, pois o filme analisa os conflitos de pessoas maduras, que precisam encaram os malefícios das conseqüências de casamento, filhos e trabalho, nos fazendo refletir sobre tudo isso.


Polanski não é um nome estranho à qualquer pessoa que goste de cinema ou que esteve bem antenada para as notícias dos últimos anos e tem boa memória: o célebre diretor foi acusado de ter molestado uma menor de idade na década de 1970 nos EUA, foi submetido à uma série de exames mentais, fugiu para Paris (ele, um cidadão franco-polonês), durante todo o processo a vítima perdoou o diretor, voltou a acusá-lo, outra atriz entrou com uma ação pelos mesmo motivos da primeira, Polanski ficou preso em domicílio na Suíça (de onde seria extraditado para os EUA), mas desde o ano passado ele está em liberdade e, logicamente, voltou a fazer filmes. Responsável pelos cultuados e conhecidíssimos “Repulsa ao Sexo” (1965), o clássico thriller “O Bebê de Rosemary” (1968) e, “Chinatown” (1974), além dos mais novos, como “O Último Portal” (1999), “O Pianista” (2002) e “Oliver Twist (2005). Com um estilo totalmente próprio de fazer filmes excêntricos, foi indicado a vários prêmios durante sua carreira, o Oscar só veio em 2002. Particularmente, gosto de seu estilo e da forma como faz seus filmes, acredito que não podemos julgar seu trabalho a partir da forma como ele levou a vida, pois muitos já fizeram bem mais e foram muito menos julgados pela sociedade. Com “Deus da Carnificina” Polanski trouxe resquícios de todo esse processo que voltou à tona no ano passado, sendo assim o filme foi bem menos aclamado do que deveria. Conseguir fazer com que 80 minutos se passem apenas em dois ou três cômodos de um apartamento de Nova York e no corredor do prédio, e não ser insuportável só foi possível por diretores da época de ouro de Hollywood; Polanski não é nenhum gênio, mas obtêm êxito inimaginável: em momento algum o filme é ruim, e é aí que está a grande sacada desse estilo, quando começa a poder ficar chato, termina de forma muito original e bem feita. As tomados e ângulos escolhidos por ele são ótimas e, aliadas às grandes atuações dos interpretes, chegam a ser perfeitas. A trilha sonora excelente ficou a cargo de Alexander Desplat, um dos melhores do ramo hoje em dia.


John c. Reilly é um dos atores que mais simpatizo, ele não é aquele rosto bonito que estamos acostumados, mas é tão versátil, talentoso e simpático que não tem como não gostar dele, interpretando Michael Longstreet ele é ótimo como um homem divertido que leva seu casamento com uma mulher difícil como algo suportável e que pode ser levado cada vez por mais tempo. Christoph Waltz venceu o Oscar de ator coadjuvante em 2010 com “Bastardos Inglórios” (2009), desde então não fez nenhum filme que preste, mas em todos foi o melhor entre os atores, aqui ele é Alan Cowan, um homem que vive para o trabalho e tem uma aparente vida perfeita com sua bela esposa, Waltz é irônico, estúpido, sincero e prático: o mais racional e o menos descontrolado entre os quatro. Jodie Foster é a chatíssima mãe revoltada do menino que apanhou, Foster acaba decepcionando em uma ou outra cena, mas é igualmente fantástica em seus momentos de ira e descontrole. A sempre ótima Kate Winslet é, por fim, Nancy Cowan, uma mulher bem sucedida que já não aquenta mais a situação de seu casamento há um bom tempo, é dela a cena mais intrigante do filme, depois de muito reclamar de seu estado vomita no meio da sala dos Longstreet, como já disse, Winslet é sempre excelente, e aqui não foge a regra.


Uma tentativa de fazer algo parecido com “Quem tem Medo de Virginia Woolf” (1966), “Deus da Carnificina” é uma excelente pedida para se rir da desgraça alheia e refletir sobre a vida adulta e seus problemas. Apesar de ter como centro dois casais em crise e suas discussões e descobertas, no final nada é justificado, nada pode ser perdoado, tanto os Cowan quanto os Longstreet são pessoas loucas que precisam urgente de um psiquiatra que lhes diga como podem levar a vida a dois, ou simplesmente pedirem divórcio e cada um seguir, separadamente, sua vida. Uma volta fracassada de Roman Polanski, não por falta de qualidade, mas por preconceito a cerca de seu passado, aliás, não está nem perto de ser um filme de baixa qualidade, muito pelo contrário é um dos mais reflexivos do ano, não como os outros que refletem de forma bela e nítida a vida de pessoas em desgraça, mas por refletir de forma tão brutal e realista, afinal, a vida é desse forma mesmo: sem a perfeição da mesmice e da calmaria onde os Deuses resolvem instalar seus temores.


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