Em um estilo satírico aos filmes amenos
de reflexão da vida na Terra, é uma maravilhosa comédia negra.
Nota: 9,0
Título Original: Carnage
Direção: Roman Polanski
Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz, John C. Reilly,
Elvis Polanski, Eliot Berger
Produção: Saïd Bem Saïd, Javier Méndez,
Jaume Roures, Olivier Berben e Martin Mozkowicz
Roteiro: Roman Polanski, Yasmina Reza
(peça teatral e roteiro), Michael Katims
Ano: 2012
Duração: 80 min.
Gênero: Comédia
Em uma bela tarde, aparentemente de
Outono, Zachary Cowan discute com Ethan Longstreet e bate na face do menino com
uma vara quebrando-lhe os dentes e desfigurando seus lábios. Para tentar
resolver tal atrocidade, Nancy e Alan Cowan vão até a casa de Penelope e
Michael Longstreet para os supostos adultos maduros terem uma conversa e
resolverem esse problema da forma mais civilizada possível. No entanto, veremos
mais que uma tentativa de solucionar essa desventura, pois o filme analisa os
conflitos de pessoas maduras, que precisam encaram os malefícios das
conseqüências de casamento, filhos e trabalho, nos fazendo refletir sobre tudo
isso.
Polanski não é um nome estranho à
qualquer pessoa que goste de cinema ou que esteve bem antenada para as notícias
dos últimos anos e tem boa memória: o célebre diretor foi acusado de ter
molestado uma menor de idade na década de 1970 nos EUA, foi submetido à uma
série de exames mentais, fugiu para Paris (ele, um cidadão franco-polonês),
durante todo o processo a vítima perdoou o diretor, voltou a acusá-lo, outra
atriz entrou com uma ação pelos mesmo motivos da primeira, Polanski ficou preso
em domicílio na Suíça (de onde seria extraditado para os EUA), mas desde o ano
passado ele está em liberdade e, logicamente, voltou a fazer filmes.
Responsável pelos cultuados e conhecidíssimos “Repulsa ao Sexo” (1965), o
clássico thriller “O Bebê de Rosemary” (1968) e, “Chinatown” (1974), além dos
mais novos, como “O Último Portal” (1999), “O Pianista” (2002) e “Oliver Twist
(2005). Com um estilo totalmente próprio de fazer filmes excêntricos, foi
indicado a vários prêmios durante sua carreira, o Oscar só veio em 2002.
Particularmente, gosto de seu estilo e da forma como faz seus filmes, acredito
que não podemos julgar seu trabalho a partir da forma como ele levou a vida, pois
muitos já fizeram bem mais e foram muito menos julgados pela sociedade. Com
“Deus da Carnificina” Polanski trouxe resquícios de todo esse processo que
voltou à tona no ano passado, sendo assim o filme foi bem menos aclamado do que
deveria. Conseguir fazer com que 80 minutos se passem apenas em dois ou três
cômodos de um apartamento de Nova York e no corredor do prédio, e não ser
insuportável só foi possível por diretores da época de ouro de Hollywood;
Polanski não é nenhum gênio, mas obtêm êxito inimaginável: em momento algum o
filme é ruim, e é aí que está a grande sacada desse estilo, quando começa a
poder ficar chato, termina de forma muito original e bem feita. As tomados e
ângulos escolhidos por ele são ótimas e, aliadas às grandes atuações dos
interpretes, chegam a ser perfeitas. A trilha sonora excelente ficou a cargo de
Alexander Desplat, um dos melhores do ramo hoje em dia.
John c. Reilly é um dos atores que mais
simpatizo, ele não é aquele rosto bonito que estamos acostumados, mas é tão
versátil, talentoso e simpático que não tem como não gostar dele, interpretando
Michael Longstreet ele é ótimo como um homem divertido que leva seu casamento
com uma mulher difícil como algo suportável e que pode ser levado cada vez por
mais tempo. Christoph Waltz venceu o Oscar de ator coadjuvante em 2010 com
“Bastardos Inglórios” (2009), desde então não fez nenhum filme que preste, mas
em todos foi o melhor entre os atores, aqui ele é Alan Cowan, um homem que vive
para o trabalho e tem uma aparente vida perfeita com sua bela esposa, Waltz é
irônico, estúpido, sincero e prático: o mais racional e o menos descontrolado
entre os quatro. Jodie Foster é a chatíssima mãe revoltada do menino que apanhou,
Foster acaba decepcionando em uma ou outra cena, mas é igualmente fantástica em
seus momentos de ira e descontrole. A sempre ótima Kate Winslet é, por fim,
Nancy Cowan, uma mulher bem sucedida que já não aquenta mais a situação de seu
casamento há um bom tempo, é dela a cena mais intrigante do filme, depois de
muito reclamar de seu estado vomita no meio da sala dos Longstreet, como já
disse, Winslet é sempre excelente, e aqui não foge a regra.
Uma tentativa de fazer algo parecido com
“Quem tem Medo de Virginia Woolf” (1966), “Deus da Carnificina” é uma excelente
pedida para se rir da desgraça alheia e refletir sobre a vida adulta e seus
problemas. Apesar de ter como centro dois casais em crise e suas discussões e
descobertas, no final nada é justificado, nada pode ser perdoado, tanto os
Cowan quanto os Longstreet são pessoas loucas que precisam urgente de um
psiquiatra que lhes diga como podem levar a vida a dois, ou simplesmente
pedirem divórcio e cada um seguir, separadamente, sua vida. Uma volta fracassada
de Roman Polanski, não por falta de qualidade, mas por preconceito a cerca de
seu passado, aliás, não está nem perto de ser um filme de baixa qualidade, muito
pelo contrário é um dos mais reflexivos do ano, não como os outros que refletem
de forma bela e nítida a vida de pessoas em desgraça, mas por refletir de forma
tão brutal e realista, afinal, a vida é desse forma mesmo: sem a perfeição da
mesmice e da calmaria onde os Deuses resolvem instalar seus temores.
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