quinta-feira, 3 de maio de 2012

321. O AVIADOR, de Martin Scorsese



Mais que apenas uma grande produção sobre um grande homem, esse filme se traveste de biografia para falar de cinema.
Nota: 9,8



Título Orginal: The Aviator
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Leonardo Di Caprio, Cate Blanchett, John C. Heily, Alec Baldwin, Alan Alda, Iam Holm, Kate Beckinsale, Gwen Stefani, Jude Law
Produção: Martin Scorsese, Bob Weinstein e Harvey Westein
Roteiro: John Logan
Ano: 2004
Duração: 170 min.
Gênero: Drama / Biografia

Aviador, empresário, cineasta, produtor, engenheiro, Howard Hughes foi tudo isso e representou muito mais para sua geração, era visto como um homem envaidecido por tanta glória e dinheiro que acabou se afogando em suas loucuras para conquistar mais daquilo tudo o que ele já possuía e não precisava. Visto como um filme meio confuso e monótono, foi com esse filme que o mais que perfeito Martin Scorsese me conquistou, sua técnica é perfeita e ele erra pouquíssimas vezes, as quais passam despercebidas em meio a tanta grandiosidade, típicas do homem retratado na trama. No filme vemos as várias faces do homem que se tornou lenda, as construções de seus principais projetos aeromobilísticos, suas ambições como diretor e produtor de cinema, os altos e baixos de seus negócios (que alcançavam o topo e o precipício de forma inacreditável), suas relações com estrelas do cinema como Katharine Kepburn, Ava Gardner e Jean Harlow, e com as suas relações de negócios com homens como Noah Dietrich (seu contador), Juan Trippe (magnata da área aérea) e Ralph Owen Brewster (político republicano e seu adversário).


Scorsese é, indiscutivelmente, um dos maiores mestres da história do cinema e talvez o melhor entre os vivos, pode-se dizer que é o mais merecedor entre todos de ser chamado de “um homem para o cinema”, sua vida parece se resumir, hoje, aos seus filmes feitos, os que estão por vir e, especialmente, por sua dedicação em restaurar filmes antigos, logo ele é merecedor de toda a glória que possuí por simplesmente fazer arte por amor, não para levantar seu ego ou chamar a atenção como uns e outros. Aqui seu papel é o mais importante, como diretor ele eleva cada intérprete a um patamar único, até mesmo os mais insignificantes se tornam satisfatórios, não é nenhuma novidade a mestria com a qual esse homem conduz esse filme, a novidade está mesmo em ele tornar toda essa produção um espetáculo, não por vontade de mostrar que ainda está vivo e é merecedor de crédito, mas por que não há como um filme que fale sobre o controverso Howard Hughes ser ameno e sem toda a pompa e circunstância que o homem sempre esbanjou. As cenas em que ele voa, ou aquelas em que ele aparece tentando fazer seu filme e as em que ele está nas festas mais glamorosas possíveis são impecáveis. Howard Shore é o responsável por uma trilha sonora clássica, bem como em “A Invenção de Hugo Cabret” (2011), ele não pode fazer de forma diferente, afinal em ambos os filmes, elas condizem com seu contexto. A maioria da parte técnica do filme é a mesma que no filme de 2011, e todos fazem seus trabalhos com a mesma grandiosidade que a dupla Scorsese-Shore, dentre eles o roteirista John Logan que nos confunde a cada momento, mas não deixa de esclarecer nada até o final do filme, se é que é possível esclarecer alguma coisa sobre a vida de Hughes.


A personagem central da trama que enriqueceu aos 18 anos devido a herança do pai é vivido pelo ainda aspirante a grande ator Leonardo Di Caprio, há algo em suas interpretações que me chama a atenção, gosto da forma como ele parece se entregar às suas personagens e não entendo o por que de tantos críticos e premiações o ignorarem tanto. Quem realmente me atrai, e jamais se mostrou menos merecedora é a atriz Cate Blanchett, a australiana não é nenhum referencial da beleza hollywoodana, mas faz tudo tão bem que se torna uma mulher linda em vários aspectos, aqui ela é a lendária Katherine Hepburn (provavelmente a lenda, como uma boa americana, se revolveu no túmulo ao se ver interpretada por Blanchett menos de um ano depois de sua morte), mas a atriz é tão completa e lembra tanto Hepburn em seus gestos e formas de falar que por vezes até esquecemos que quem está ali não é a própria Katherine Hepburn. Dentre os outros intérpretes eu destacaria essencialmente apenas três: John C. Reilly, como Noah Dietrich, as cenas em que ele implora para que Hughes interrompa suas loucuras para analisar seus negócios são ótimas; Alec Baldwin, como o insuportável Juan Trippe, sempre tentando levar vantagem com o fato de Hughes ser doente; e Alan Alda, como o também sarcástico Senador Ralph Owen Brewster; mas não posso deixar de citar atrizes como Kate Beckinsale (Ava Gardner) e Gwen Stefani (Jean Harlow) e os atores Jude Law (Errol Flynn), Adam Scott (Jonny Meyer) e Iam Holm (Professor Fitz).


Mais que um filme sobre a vida de Howard Hughes, esse é um filme sobre mais uma estrela do cinema, diretor de “Anjos do Inferno” (1930), que, como tantas outras, deixou-se levar pela vida bela e deliciosa que o dinheiro e a fama trazem aos seres humanos, perdendo todas as chances possíveis de se tornar uma pessoas realmente feliz. Ao contrário dos filmes mais famosos de Scorsese, na sua maioria mais obscuros e com cenas em lugares mais fechados e sombrios, esse é feito em cenários amplos e com cores bem chamativas, mas sem perder a essência do diretor: o filme nos faz refletir profundamente sobre até onde vale a pena ir para se ter aquilo que se deseja, e se não seria muito melhor e mais simples sabermos a hora de parar, a resposta não vem com o desfecho da trama, ou depois de muito se pensar sobre ela, talvez essa resposta nunca chegue, afinal como sabermos o que a vida deseja de nós e o que nós realmente desejamos de nossas vidas?


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