segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

117. (ESPECIAL OSCAR 2013) HITCHOCOCK, de Sacha Gervasi

(CONFIRA OS VENCEDORES DO SINDICATO DOS ATORES)
A história de um dos maiores momentos do maior casal da Sétima Arte: as filmagens de “Psicose”, o grande filme de Alfred Hitchcock e Alma Reville.
Nota: 9,0


Título Original: Hitchcock
Direção: Sacha Gervasi
Elenco: Anthony Hopkins, Helen Mirren, Scarlett Johansson, Tony Collette, Jessica Biel, James D’Darcy, Danny Huston, Michael Stuhlbarg, Michael Wincott
Produção: Alan Barnette, Joe Medjuck, Tom Pollock, Ivan Reitman, Tom Thayer
Gênero: John J. McLaughlin e Stephen Rebello (livro “Alfred Hitchcock ant the Making of Psycho)
Ano: 2012
Duração: 98 min.
Gênero: Biografia / Drama / Comédia

Alfred Joseph Hithcock nasceu em 1899 na capital inglesa, Londres. Seu pai era dono de uma mercearia, e o disciplinava excêntricamente. Aos 24 anos, Hicth – como era conhecido entre os colegas – teve seu primeiro trabalho como co-diretor de um filme em sua terra natal. Durante seus trabalhos para a Famous Players-Lasky Company, o diretor conheceu Alma Reville, grande fã de cinema que já trabalhava na área desde os 16 anos. Ainda com 24 anos, o jovem declarou-se para Alma e eles ficaram noivos – casaram-se dois anos depois. Em 1925, foi dada a Hithcock a chance de dirigir seu primeiro longa “The Ploeasure Garden”, em 1927 estreou com “O Inquilino”, daí por diante, ele entrou para o mundo do suspense no cinema e não saiu mais. Ainda na Inglaterra, seu maior sucesso foi “A Dama Oculta” (1938), sua fase inglesa durou dez anos.

Anthony Hopkins e Alfred Hitchcock

Alma Reville e Helen Mirren

Em 1939, Alfred e Alma mudaram-se para Os EUA, logo de cara, seu primeiro filme “Rebecca, a Mulher Inesquecível” (1940) já foi um sucesso, depois vieram “Suspeita” (1941), “A Sombra de uma Dúvida” (1943), “Festim Diabólico” (1948), “Pacto Sinistro” (1951), “Disque M Para Matar” (1954), “Janela Indiscreta” (1954) e “Ladrão de Casaca” (1955) – os três protagonizados pela maior estrela loira de Hitch, Grace Kelly -, “O Homem que Sabia Demais” (1956), “Um Corpo que Cai” (1958) e “Intriga Internacional” (1959). Seus últimos anos como diretor foram marcados por “Trama Macabra” (1976), “Frenesi” (1972), “Topázio” (1969), “Marnie, Confissões de uma Ladra” (1964), “Os Pássaros” (1963) e, o maior filme da carreira do diretor – e o maior filme de terror/suspense/thriller da história do cinema - “Psicose” (1960).

Janet Leigh e Scarlett Johansson

No início do ano de 1960, qualquer americano que procurasse pelas livrarias do país o livro “Psicose”, de Robert Bloch, não o encontraria. Isso, por que o diretor Alfred Hitchcock havia comprado anonimamente os direitos da obra e comprado todas as cópias disponíveis no mercado para que ninguém soubesse o desfecho de sua nova trama. Hitch contou uma história fajuta para seu próximo filme, fez seu elenco e produção jurar que não falaria sobre a produção com outras pessoas e começou a filmar. Para o elenco principal foram escolhidos Janet Leigh, Anthony Perkins, Vera Milles e John Gavin. Na história, Marion (Leigh), roubava 40 mil dólares de seu patrão e fugia ao encontro de seu amante, mas, no meio do caminho sumia, o amante e a irmã, iam, então a sua procura. O filme, gravado em preto e branco para amenizar as cenas “ensanguentadas”, foi um sucesso de público (faturando mais de 50 milhões de dólares) e de crítica. A cena do chuveiro, na qual Marion é assassinada, tornou-se uma referência, e a trilha sonora de Bernard Herrmann ganhou o mundo. Dalí por diante, Alfred Hitchcock passou a ser conhecido como o maior mestre do suspense que já existiu no cinema. 

Jessica Biel e Vera Miles

James D'Darcy e Anthony Perkins

No filme “Hitchcock”, Alfred Hitchcock está com 60 anos, acaba de lançar seu grande filme “Intriga Internacional”, mas agora está desesperado para ter seu nome vinculado em outra grande produção. Ao ler “Psicose” o diretor resolve que aquele será seu próximo longa. Entretanto, Hitch começa a enfrentar problemas com a distribuidora (Paramout Pictures), que desejava um filme tão grandioso quanto “Intriga” (distribuído pela MGM) e com a censura, que insiste que a cena do chuveiro seja cordada. Como se não bastasse, Alfred enfrenta problemas com sua esposa, Alma, a única pessoa que o ajudava incansavelmente, seu grande amor e a maior parceira que um homem em sua posição poderia ter.


Alma Reville foi uma das mulheres mais importante do cinema, isso, por que, mesmo que seu nome não fosse divulgado como “co-diretora” em nenhum filme (aparecendo apenas nos créditos do roteiro), foi ela o maior suporte para que Alfred não caísse e pudesse apresentar ao mundo seus maiores filmes. Além dela, entretanto, não podemos esquecer as diversas loiras de Alfred Hitchcock: Tippi Hedren (atriz que sofreu com a famosa cena de “Os Pássaros sendo picada por animais de verdade), Kim Novak (substituta de Vera Milles em “Um Corpo que Cai” – fator também discutido em “Hitchcock, afinal, Milles deixou o projeto por estar grávida, o que deixou o diretor desolado), Ingrid Bergman (a durona sueca que abandonou Hitch pelo diretor Roberto Rosselini), Doris Day (que sofria pela frieza e desprezo do diretor), Anne Baxter (que desconfiava não ser o suficiente), Joan Fontaine (protagonista de “Rebecca”, foi a única a vencer o Oscar de Melhor Atriz trabalhando com Alfred), Janet Leigh (que sofreu com a filmagem da cena no chuveiro em “Psicose”), Eva Marie Saint (protagonista da inesquecível cena no Monte Rushmore em “Intriga Internacional”) e, o maior ícone de beleza da história do cinema, a maior musa de Hitch, Grace Kelly (segundo o diretor, Kelly “exalava sexo, mesmo tendo porte de dama”, não é a toa que ficou conhecida como “o vulcão coberto de neve”, essa obsessão de Alfred pela loira é abordada de forma discreta no filme, mas fica bem claro o quanto ele a desejava sexualmente – dizem que ela chegou a fazer sessões de stripteases exclusivas para o diretor). Segundo o próprio gênio “Loiras fazem as melhores vítimas. Elas são como neve virgem, que mostra as sangrentas pegadas”. Além de Alma e dessas loiras, entretanto, ainda havia Edith Head, uma das grandes figurinistas que trabalhou com o diretor, seu nome sequer é falado durante o longa. Não posso deixar de destacar a merecida indicação do longa ao Oscar 2013: Melhor Maquiagem e Penteado para Howard Berger, Peter Montagna e Martin Samuel, apesar de Anthony Hopkins não ter absolutamente nada parecido com o cineasta, a caracterização ficou impecável, Helen Mirren, entretanto, que interpreta a esposa Alma, não teve tanto sucesso, todavia, os penteados de todas as mulheres estão incríveis e deixaram cada uma delas, ao menos um pouco, semelhantes as suas reais personagens. Além disso, a trilha sonora de Danny Elfman é um primor, misturando músicas irônicas, como o humor do diretor, dramáticas, como foram alguns momentos de sua vida real, e de suspense, como os próprios filmes do gênio.


Anthony Hopkins é, irreconhecivelmente, Alfred Hitchcock, e não são apenas as iniciais de seus nomes que são idênticas: Hopkins está inacreditavelmente perfeito no papel, não que duvidasse do ator, inclusive, acreditei, logo de início que seu trabalho seria agraciado com ao menos a indicação ao Oscar, mas tudo o que o ator faz aqui é incrível: a voz está idêntica, a forma como se move e, sobretudo, a postura, os gestos e as manias que vemos no diretor nos “making off” que encontramos nos DVD’s de seus longas. Helen Mirren da vida a outra parte de Hitch, a inseparável Alma, uma mulher forte, destemida que ama tanto o marido a ponto de suportar seu ciúme e suas insinuações, na grande cena de Mirren, ela desabafa mostrando o quanto Alfred precisa dela, um dos maiores momentos do ano em interpretações. Para se ter uma idéia de como o elenco do filme é ótimo, até mesmo Scarlatt Johansson e Jessica Biel estão bem no longa, elas são as irmãs Crane, Marion e Lila que foram interpretadas, em “Psicose”, por Janet Leigh e Vera Milles, apesar de nenhuma ter alguma coisa física parecida com as personagens, ambas nos entregam interpretações singelas que deixam claro a idolatria por Hitch (no caso de Johansson, pois Leigh era a nova queridinha do cineasta) e desprezo (no caso de Milles, que se decepcionou com o diretor por ele tê-la esnobado e passado a desprezá-la também quando teve de deixar um filme por sua gravidez repentina). Se Johansson e Biel não tem nada de suas personagens, sobram semelhanças entre James D’Arcy e Anthony Perkins (o inesquecível Norman Bates), no entanto, sua aparição no filme é tão rara que se torna algo invisível.


O maior problema do longa, portanto, o que pode ter desagradado um pouco os críticos, é a forma como nos apresentam o humor de Hitchcock durante o período pós e durante as gravações de “Psicose”, é como se o homem só fosse capaz de nos trazer cada obra sua quando sua vida pessoal está um inferno e quando sua mente está perturbada a ponto de ter alucinações sobre diversas coisas. Após as filmagens, ele volta ao seu perfeito relacionamento com Alma, chegando a confessar que, de todas as loiras com quem já trabalhou, a mais bela foi sua esposa.  Em seu desfecho arrepiante, “Hitchcock” nos apresenta uma sutileza ímpar, tal qual o próprio diretor, somos tomados pela fúria da ironia e nos sentimos como se estivéssemos há 50 anos, loucos pelo próximo grande filme do maior diretor da história do cinema. Admito, um corvo nunca representou tanto em uma cinebiografia!



VENCEDORES SCREEN ACTORS GUILD AWARDS 2013

FILME:
Melhor Elenco: “Argo”
Melhor Ator: Daniel Day-Lewis – “Lincoln”
Melhor Atriz: Jennifer Lawrence – “O Lado Bom da Vida”
Melhor Ator Coadjuvante: Tommy Lee Jones – “Lincoln”
Melhor Atriz Coadjuvante: Anne Hathaway – “Os Miseráveis”
Comentários: A única surpresa é Jennifer Lawrence, mas uma surpresa extremamente agradável e merecida. Quanto a “Argo”, confesso que já estou cansado de ver as feições de surpresa de Ben Affleck quando seu filme ganha qualquer prêmio, tudo bem, ele não foi indicado ao Oscar por seu trabalho como diretor, mas isso não quer dizer absolutamente nada a respeito de seu filme. Entretanto, vencendo, também o prêmio do Sindicato dos Produtores como melhor filme, se torna o maior concorrente na disputa pelo Oscar na mesma categoria. É engraçado ver "Lincoln" levando dois dos principais prêmios da noite e não recebendo o principal.


TELEVISÃO:
Melhor Elenco Série Drama: “Downton Abbey”
Melhor Ator Série Drama: Bryan Cranston – “Breaking Bad”
Melhor Atriz Série Drama: Claire Danes – “Homeland”
Melhor Elenco Série Comédia: “Modern Family”
Melhor Ator Série Comédia: Alec Baldwin – “30 Rock”
Melhor Atriz Série Comédia: Tina Fey – “30 Rock”
Melhor Ator Telefilme ou Minissérie: Kevin Costner – “Hatfields & McCoy
Melhor Atriz Telefilme ou Minissérie: Julianne Moore – “Game Change”
Comentários: Para mim, Cranston foi uma surpresa, confesso que não conheço a série. Claire Danes era esperada, bem como Baldwin e Fey, afinal, essa foi a última temporada de “30 Rock”. Costner e Moore também não foram surpresas. Mas a maior surpresa da noite, e o que me deixou mais feliz foi a vitória de “Downton Abbey”, que possui o melhor elenco do ano, definitivamente, na melhor série de 2012.
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sábado, 26 de janeiro de 2013

118. A OUTRA, de Justin Chadwick

God Save the Queen!
Nota: 8,5


Título Original: The Other Boleyn Girl
Direção: Justin Chadwick
Elenco: Natalie Portman, Scarlatt Johansson, Eric Bana, Jim Sturgess, Mark Rylance, Kristin Scott Thomas, David Morrissey, Benedict Cumberbatch, Ana Torrent
Produção: Alison Owen, Scott Rudin
Roteiro: Peter Morgan e Philippa Gregory
Ano: 2008
Duração: 115 min.
Gênero: Biografia / Drama

O fim da Guerra das Rosas culminou no fim do reinado de Ricardo III e no casamento entre as famílias Lancaster e York pela união de Henry Tudor (Lancaster por parte de mãe) e Elizabeth York. Desta união nasceu Henry VIII, provavelmente um dos governantes mais importantes e decisivos para a história da Grã-Bretanha. Henry foi casado seis vezes, sua primeira esposa foi consorte de seu irmão (com a morte dele, Henry assumiu ao lado de Catarina de Aragão, com quem teve Maria), por volta de 1533 apaixonou-se por Ana Bolena, separou-se da Igreja Católica Romana – criando a Igreja Anglicana (ou Igreja da Inglaterra) -, divorciou-se de Catarina de Aragão e casou-se com Ana Bolena. Apesar de tudo, Bolena teve apenas uma filha com o rei, foi condena por incesto e morreu três anos depois do casamento. Henry VIII, pelo contrário, casou-se com Joana, que teve o tão esperado filho herdeiro, Eduardo VI. Depois veio o rápido casamento com Ana de Cleves, assim que esta morreu, o rei casou-se com Catarina Howard e, por último, com Catarina Parr, mais uma plebeia.


No filme, acompanhamos não a história de Henry VIII, e sim das irmãs Bolena. Primeiramente, os planos de Thomas Bolena, pai das garotas, era que o rei se apaixonasse por sua filha mais jovem, Maria, entretanto, o destino não obedece aos desejos humanos, e Henry Tudor se encantou com Ana Bolena, a outra garota Bolena, uma mulher mais conquistadora, que se fez de difícil para forçar o rei a pedir o divórcio de Catarina de Aragão, romper com a Igreja Católica, e casar-se com ela. Apesar de tudo o que fez, Ana não conseguiu ter o tão desejado herdeiro homem do rei. Acusada de incesto com o irmão, George, Ana foi condena e morreu em 1536.


Justin Chadwick é um simpático diretor de televisão que arriscou um pouco realizando esse filme, no entanto, o que mais chama a atenção aqui é o roteiro de Peter Morgan – o mesmo de “O Último Rei da Escócia” (2006), “A Rainha” (2006), “Frost/Nixon” (2008) e “Maldito Futebol Clube” (2009), todos baseados em fatos reais de governantes ou personagens importantes para alguns lugares do mundo -, apesar de chamar a atenção o fato de ele mostrar Henry VIII como um completo imbecil e dar atenção demais a Ana Bolena como se ela tivesse tomado todas as decisões a respeito do governo do marido, as apelações – como o incesto, que nunca foi confirmado, historicamente falando -, há alguma coisa incrível na forma como a história é contada. Em contra ponto ao exagero, os melhores momentos do filme são pautados na realidade da época: Bolena está louca para ter o tal filho homem, pois se ela não o fizer, sabe que será substituída por outra (bem como aconteceu com sua antecessora); o escândalo que ela faz ao ver que perdeu mais um filho e pedir ao irmão para que eles “forniquem” para que ela engravide; a decisão do rei em matar sua esposa; as tentativas de rompimento com a Igreja Católica; a preocupação dor rei em deixar um herdeiro legítimo que pudesse assumir o trono.


Natalie Portman, depois do sucesso em “Cisne Negro” (2010), passou a ser vista por todos com diferentes olhos, mesmo em seus filmes anteriores ao que lhe rendeu o Oscar de melhor atriz. Aqui ela é a inescrupulosa Ana Bolena, uma mulher capaz de tudo para chegar ao poder e permanecer lá, o desespero de Portman se torna algo tão real que chega a ser inacreditável, não que sua atuação seja um exemplo, em alguns momentos ela parece muito over (exagerada), mas, na maior parte do filme ela se mostra uma mulher descontrolada e despreparada. Scarlett Johansson nos apresenta uma ou outra atuação, de tempos em tempos, que é digna de nota, como Maria Bolena ela nos proporciona uma atuação um pouco apagada, mas mostra mesmo como a garota era totalmente inocente e só desejava ser feliz com o marido que tivesse. Eric Bana é Henry Tudor, apesar de ser um bom ator, a interpretação do rei pelo roteirista do filme é a de um homem submisso às mulheres (algo que Henry não era, ele podia até fazer a vontade de suas mulheres, mas jamais deixou que soubessem dessa sua característica), apesar do  personagem ser um idiota, Bana se sai bem.


Como diz o próprio título original do filme (traduzido livremente como “A Outra Garota Bolena”) era para Maria Bolena ter ficado com o rei, mas, como disse, ele comete a besteira de cair nas garras de Ana Bolena. E é bem isso o que a produção deseja mostrar: o quanto Ana Bolena se saiu bem, enquanto pode, mas que, na realidade da época, era fácil um rei ter o que queria. Apesar das intenções do filme de contar a vida de Ana, o que o desfecho nos propõe a acreditar é que Ana Bolena não deixou nenhum legado realizado por ela muito importante para a humanidade – atribuo o rompimento com a Igreja Católica uma decisão do rei e de mais ninguém -, afinal, ela estava muito ocupada tentando permanecer no poder e tendo um filho do rei, todavia, a filha que Ana Bolena deixou para a Inglaterra foi ninguém mais, ninguém menos, que Elizabeth I – A Rainha Virgem, sendo assim, de alguma coisa valeu essa tal separação com a Igreja Católica Romana. God Save de Queen!


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119. (ESPECIAL OSCAR 2013) OS MISERÁVEIS, de Tom Hopper


Um retrato fantástico de uma sociedade preconceituosa que ganharia muito mais se deixasse a intolerância de lado. Seu único defeito: exageradamente longo para um musical.
Nota: 9,5


Título Original: Les Misérables
Direção: Tom Hooper
Elenco: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Boham Carter, Eddie Redmaine, Aaron Tveit, Samantha Barks
Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh
Roteiro: William Nicholson, James Fenton, Alain Boublil (história), Jean-Mark Natek, Herbet Kretzmer (músicas), Victor Hugo (romance) e Claude-Michael Schönberg
Ano: 2012
Duração: 157 min.
Gênero: Musical / Drama

Jean Valjean, após 19 anos, é um criminoso recém liberto que será obrigado a passar a vida apresentando-se uma vez por ano para a justiça francesa. Seu hediondo crime? Roubar um pão para o seu sobrinho que estava quase morrendo. Após ser acolhido e beneficiado por um bom padre, Jean decide mudar sua vida. Anos depois ele acaba conhecendo Fantine, uma bela mulher que trabalha duro para ajudar sua filhinha que mora com o pai e a madrasta. Por motivos que apenas o destino compreende, Fantine morre, mas Jean se vê obrigado a encontrar Cosette, a filha, e criá-la como sua. Para isso, eles fogem a vida toda da polícia. Nove anos depois, porém, os rebeldes se revelam contra o governo autoritário da França e a vida de todos os envolvidos mudará para sempre.


O filme é um musical que se passa na França pós Revolução Francesa, época em que o país se tornou um lugar terrível para se morar, afinal, toda a forma de governo era incerta e deixava a população a mercê da fome, do desemprego, das doenças, da sujeira e da falta de organização social e, assim sendo, a miséria corroia todo o país como um tumor em um homem. E é bem isso que Victor Hugo, autor da maravilhosa obra literária na qual o longa foi baseado, deseja criticar: não havia maneira de deixar que tudo o que seus olhos franceses viam permanecesse como estava. Na história temos representações perfeitas de todos os tipo de pessoas que habitavam o país – destacando-se os pobres -, são elas: Jean Valjean, o ex-presidiário que foi preso por 19 anos por roubar pão para o sobrinho (uma crítica clara de como não havia nada do mais básico para a população, pergunto-me, será que nem brioches mais eram distribuídos ao povo?); Inspetor Javert, o retrato da polícia falha que se importava com pequenos casos ao invés de olhar para todos os grandes problemas em volta; Fantine, uma jovem que teve de deixar a filha com o pai – um malandro da pior espécie – e ainda é obrigada a enviar todo o pouco dinheiro que ganha para o canalha “sustentar” a menina; Cosette, a parte inocente e sem culpa da história, mal tratada pelo pai e pela madrasta que a tratam como uma empregada, mas vê sua vida melhorar ao ser acolhida por Valjean; Thénardier, o pai de Cosette, um canastrão proprietário de uma estalagem, ele e a esposa, Madame Thénardier, roubam seus clientes a torto e direito, no entanto, não são punidos por ninguém; Marius, o jovem de origem rica que deseja a igualdade entre as classes; Enjolras, jovem de origem humilde que se junta a Marius por uma França melhor e mais justa; o avô de Marius e seus amigos e conhecidos ricos, pessoas favorecidas por nascimento ou sorte, pouco vistas no filme, mas as mais criticadas. O filme, como disse, é um musical, mas não um musical simples, daqueles em que há diálogo e músicas, mas onde os diálogos são transformados em música. Confesso que esse gênero “musical sem falas” não me conquista com qualquer enredo ou rima barata, nesse contexto, qual foi minha surpresa ao ver um filme equilibrado onde a música é o que mais importa para deixá-lo interessante. O único problema fica a cargo da duração, apesar de um ótimo musical, filmes do gênero que tem mais de duas horas são um risco tremendo.


O longa é indicado em oito categorias no Oscar: melhor filme, apesar de poucas chances, é um dos cinco favoritos na disputa; melhor ator, para Hugh Jackaman, mesmo que atuação seja tocante e tenha cantado – o que a Academia adora -, o prêmio já é de Daniel Day-Lewis por “Lincoln” (2012); melhor atriz coadjuvante para Anne Hathaway, ela dançou, fez a vez da prostituta que não queria tal emprego, cortou os cabelos no próprio filme, cantou chorando e morreu como uma literal miserável, tudo o que a academia quer; melhor direção de arte, o filme é escuro em alguns momentos e tem a luz perfeita em outros, seu maior concorrente é “As Aventuras de Pi”; melhor figurino, apesar de ser muito bonito e diferenciado, o favorito é “Anna Karenina”, um filme mais de época e com roupas mais extravagantes; melhor maquiagem, acredito que o prêmio esteja entre “Hitchcock” e “O Hobbit”, sem chances para “Os Miseráveis”, que roubou o lugar de “Lincoln” na categoria; melhor mixagem de som, seria o prêmio mais merecido, pois as músicas não foram dubladas, estão, portanto, em seu áudio original, algo muito difícil para qualquer filme; melhor canção, para “Suddenly” de Hebert Kretzman, Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil, interpretada por Hugh Jackman, seu único concorrente de peso é “Skyfall”, a música que Adele compôs para o novo 007. Ainda é indicado em nove categorias no BAFTA, o Oscar inglês, onde deve se firmar como favorito; também é indicado em quatro categorias do Sindicato dos Atores; e venceu três Globos de Ouro: melhor filme comédia ou musical, melhor ator em comédia ou musica (Jackman) e melhor atriz coadjuvante (Hathaway).


Hugh Jackman vive Valjean, obviamente, em teoria a voz do protagonista de um musical deveria ser a mais perfeita possível, é um fato que Jackman não possui a voz mais perfeita do elenco masculino, em teoria, mas para o filme sua voz, rouca e triste caiu como uma luva para o personagem, além disso, nos momentos iniciais, Jackman aparece como um homem com medo e apavorado, depois, quando Jean começa a criar Cosette e até sua morte, ele se torna um homem bom, gentil e feliz. Russell Crowe, a melhor voz masculina do elenco, é o Inspetor Javert, um homem misterioso que parece esconder inúmeros segredos acerca de sua vida passada, ainda sim, parece que ela não foi fácil, pois é rancoroso e as feições do ator denotam a criação de um personagem com poucos sentimentos, ainda sim, não devemos esquecer que, durante a trama, o inspetor apenas está realizando seu trabalho. Anne Hathayway é Fantine, com disse, ela canta chorando, dança, sofre, corta os cabelos, vive longe da filha, se sacrifica por amor e acaba morrendo como mais uma das tantas miseráveis, apesar de aparecer pouco, confesso que poucas vezes assisti a uma interpretação tão bela de uma música como a sua principal canção no longa, e a maior canção da história: "I Dreamed a Dream". Amanda Seyfried e Isabelle Allen são Cosette adulta e criança, respectivamente, o pouco que Allen canta é quase inacreditável, e parece que a pequena de dez anos já compreende tudo o que se passa na vida da personagem, Seyfried, por sua vez, acaba sendo menos tocante, pois suas cenas são mais felizes, mas, ainda sim, sua voz continua linda e sua atuação também é ótima. Sacha Baron Cohen e Helena Boham Carter são os reais vilões da história, os Thénardier, sempre digo – e quando digo que faço isso sempre, é porque faço isso sempre – que os vilões atingem seu auge quando nos apaixonamos por eles, ou os compreendemos por completo, ou os odiamos a ponto de sentirmos asco deles, esse dois estão na terceira categoria, são rancorosos, perversos e só pensam em seu bem e no de mais ninguém, portanto, perfeitos vilões.


Toda a arte do filme e sua criação em si é uma obra tão bela a arriscada que é triste não ver Tom Hooper indicado ao Oscar por sua direção brilhante – lembrando que ele venceu a premiação na mesma categoria, além de melhor filme, com “O Discurso do Rei (2010) -, ainda mais lembrando de sua indicação no Sindicato dos Diretores, entretanto, tal fato não faz com que “Os Miseráveis” se torne digno de pena ou não mereça ser visto, muito pelo contrário, o filme é de uma beleza única, tanto o é que se torna impossível achar muitos defeitos, que não o fato de ser demasiadamente longo. Apesar de parecer uma adaptação da Broadway que apenas deseja ganhar dinheiro, “Os Miseráveis” vai muito além disso, ele retoma tudo o que a obra literária desejou repassar ao mundo. No final das contas, esse filme nada mais é que uma apelação positiva sobre como devemos aceitar as diferenças, pois, não importa se somos homens ou mulheres, pretos ou brancos, heterossexuais ou homossexuais, pobres ou ricos, americanos ou europeus, feios ou belos, somos todos iguais, viemos todos de lugares semelhantes, iremos todos para o mesmo lugar, afinal, mesmo com todas as evoluções e utópicas transformações ocorridas durante a história de nossa humanidade, somos todos eternos incorrigíveis miseráveis, aos resta, apenas, lutar, sonhar, esperar e amar.




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120. HANNIBAL, de Ridley Scott


A volta de Hannibal Lecter só prova uma coisa: enquanto houver seres humanos para servirem de alimento, o maior canibal do cinema permanecerá forte e vivo.
Nota: 9,2


Título Original: Hannibal
Direção: Ridley Scott
Elenco: Anthony Hopkins, Julianne Moore, Gary Oldman, Ray Liotta, Frankie Faison, Giancarlo Giannini, Francesca Neri, Zelijko Ivanek, Hazelle Goodman, David Andrews, Francis Guinan
Produção: Dino De Laurentiis, Martha De Laurentiis, Ridley Scott
Roteiro: David Mamet, Steven Zaillian e Thomas Harris (romance)
Ano: 2001
Duração: 131 min.
Gênero: Drama / Thriller

Aviso: antes de ler qualquer comentário sobre esse filme, acho bom esclarecer as ordens em que os longas sobre Hannibal Lecter foram lançados e a ordem cronológica:
Em ordem de lançamento: “O Silêncio dos Inocentes” (1991), “Hannibal” (2001), “Dragão Vermelho” (2004) e “Hannibal – A Origem do Mal” (2007).
Em ordem cronológica: “Hannibal – A Origem do Mal”, “Dragão Vermelho”, “O Silêncio dos Inocentes” e “Hannibal”.

Enquanto Manson Verger, uma das vítimas do Dr. Hannibal Lecter – Verger se apaixonou por Lecter, sádico, como somente o canibal pode ser, Hannibal drogou Verger, que cortou seu próprio rosto, desfigurando-se -, Clarice Starling, a agente do FBI que esteve com Hannibal antes de sua fuga, volta a procurar o criminoso. Entretanto, lidar com Hannibal Lecter não é uma tarefa fácil e o que era um jogo entre um homem vingativo e a polícia, se tornar mais uma manipulação do serial killer mais adorado do cinema.


Ridley Scott tem alguns bons títulos no cinema, alguns fracassos e algumas grandes produções, dentre elas “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979), “Thelma e Louise” (1991), “Gladiador” (2000), “Falcão Negro em Perigo” (2001), “Cruzada” (2005), “O Gângster” (2007), Robin Hood” (2010) e “Prometheus” (2012). Após o sucesso estrondoso e inacreditável de “O Silêncio dos Inocentes” (1991), a primeira história de Hannibal Lacter adaptada para o cinema, onde o assassino ajuda Clarice Starling a encontrar outro serial killer para que possa cometer uma fuga digna de cinema – o filme é um dos únicos que venceu as cinco categorias mais importantes do Oscar: filme, direção, ator, atriz e roteiro adaptado –, era de se esperar que uma sequência entrasse ou para a lista das sequências dispensáveis, ou para as memoráveis. Apesar de o filme ser ótimo, temos a primeira opção. Isso se deve, principalmente, pela substituição da atriz que interpreta a agente Starling, acrescente a isso, o roteiro é mais fraco e não há toda aquela tensão proposta pelo primeiro longa. Em contra ponto, a trilha sonora de Hans Zimmer é tão incrível – se não melhor – quanto a de Howard Shore (responsável por “O Silêncio dos Inocentes”), a edição e mixagem de som são perfeitas e a montagem das cenas é incrível, repleta de metáforas e referências a própria história.


Anthony Hopkins volta a dar vida ao personagem mais enigmático e incrível do cinema e da literatura contemporâneos. Assim como no primeiro filme, vemos uma interpretação sem defeito algum, a única diferença é que o próprio personagem está ficando mais velho, todavia, sua sede e apetite por carne humana não diminuiu, bem como sua loucura, seu caráter, seu bom gosto, sua indiferença as suas vítimas, sua determinação, sua astúcia, e, sobretudo, sua invisibilidade. Não há, simplesmente, como não fazer comparações rápidas de Julianne Moore (Starling desse filme) com Jodie Foster (Starling de “O Silêncio dos Inocentes”), Moore nos apresenta uma personagem mais madura, com menos medo de tudo a sua volta, no entanto, sua Starling é menos natural, um pouco mais artificial e clichê que a de Foster, mesmo assim, não há como negar: é difícil decidir qual das duas encarou melhor Starling, bem como é praticamente impossível saber se teria sido melhor Foster continuar ou Moore ter assumido desde o primeiro longa. Sempre que assinto a um filme com Gary Oldman sem saber que ele está no filme me surpreendo quando descubro qual era sua personagem, por algum motivo deixei passar seu nome durante a abertura, e por outro motivo mais estúpido, não recordava que ele estava na produção, mas mereço um desconto por não o ter reconhecido logo de cara: ele vive Manson Verger, o homem louco totalmente desfigurado. O fato é que o personagem já era louco antes de conhecer Hannibal – ele estuprava crianças, o que já é o suficiente para ser odiado -, sendo assim, resta a Oldman tornar esse homem ainda mais detestável e repugnante, não por sua aparência, mas por seus atos e pela forma como age perante todos, além disso, não há intenção de humanizar Verger em momento algum. Por fim, temos a excelente atuação de Giancarlo Giannini, de “007 – Cassino Royale” (2006) e “007 – Quantum of Solace” (2008), que interpreta o Inspetor Rinaldo Pazzi, um homem que descobre o paradeiro de Lecter, mas que prefere ficar com o segredo para si e entregar o criminoso para Verger, que está oferecendo três milhões de dólares pelo assassino; o medo, a desconfiança e o desespero de Pazzi são notados a cada olhar de Giannini.


Não existe outro ator que pudesse viver o Doutor Hannibal Lecter com tanta classe e sobriedade quanto Anthony Hopkins, isso, porque apenas o ator poderia imortalizar uma personagem tão complexa, e mais, somente ele poderia interpretar com tanta veracidade um homem que perturbaria qualquer profissional da sétima arte. Apesar de um problema aqui e outro ali, o fato de termos a volta de Hannibal e o time de atores que compõe esse elenco, faz do longa mais um filme memorável, não somente sobre mais um serial killer digno de filmes a seu respeito, e sim, do maior, melhor e mais inteligente serial killer produzido pelas indústrias do entretenimento e da cultura, juntas. O melhor de tudo fica a cargo do desfecho, que nos dá apenas uma certeza, mas a melhor certeza de todas: nada mudará para Hannibal Lecter enquanto ele puder saciar sua gula pela carne humana. 


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121. O SILÊNCIO DOS INOCENTES, de Jonathan Demme


O maior filme de suspense/thriller psicológico/terror de todos os tempos. Uma verdadeira obra da Sétima Arte.
Nota: DEZ


Título Original: The Silence of the Lambs
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Jodie Foster, Anthony Hopins, Anthony Heald, Frankie Faison, Stuart Rudin, Diane Baker, Roger Corman,
Produção: Ron Bozman, Edward Saxon, Keneth Utt
Roteiro: Ted Tally e Thomas Harris (romance)
Ano: 1991
Duração: 118 min.
Gênero: Drama / Thriller

Aviso: antes de ler qualquer comentário sobre esse filme, acho bom esclarecer as ordens em que os longas sobre Hannibal Lecter foram lançados e a ordem cronológica:
Em ordem de lançamento: “O Silêncio dos Inocentes” (1991), “Hannibal” (2001), “Dragão Vermelho” (2004) e “Hannibal – A Origem do Mal” (2007).
Em ordem cronológica: “Hannibal – A Origem do Mal”, “Dragão Vermelho”, “O Silêncio dos Inocentes” e “Hannibal”.
A ordem respeitada no blog será a cronológica.


Clarice Starling está quase se formando na academia do FBI, formada em psicologia, é destinada para conversar com o assassino em série Hannibal Lecter para tentar arrancar dele alguma informação relevante sobre o caso “Buffalo Bill” – Lecter não possui nada com o caso, mas sua inteligência e perspicácia mostram que ele é o único que pode ajudar o FBI. “Buffalo Bill, por sua vez,  é um assassino em série que mata mulheres e tira pedaços de suas peles, como se não bastasse o alto número de suas vítimas, ele sequestra a filha de uma senadora. Agora, o estado está disposto a negociar com Lecter para ter sua ajuda no caso, entretanto, o canibal enxerga ai a oportunidade de voltar a sua vida normal.



Esse foi o primeiro filme a ser lançado sobre o assassino Hannibal Lecter, causou tanto frisson no mundo todo que logo foi aceito pelo público, pela crítica – vencendo prêmios importantes como dos críticos de Boston, de Chicago, do Kansas e de Nova York – e pelos próprios colegas – venceu os Sindicatos dos Produtores, Diretores e Roteiristas; além disso, é um dos únicos filmes - ao lado de “Um Estranho no Ninho” (1975) e “Aconteceu Naquela Noite” (1934) – da história do cinema a vencer os cinco principais prêmios do Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor ator (Anthony Hopkins) e melhor atriz (Jodie Foster). A febre pelo longa foi tanta que a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América o considera culturalmente, historicamente e esteticamente importante para a humanidade. Também não é para menos, não há um momento do filme em que o roteiro se perca, bem como, não há uma cena que não seja totalmente detalhista e bem pensada, tanto Jonathan Demme – conhecido por “Filadélfia” (1993) e “Sob o Domínio do Mal” (2004) – quanto sua equipe técnica estão incríveis. Tak Fujimoto, o diretor de fotografia de “Terra de Ninguém” (1973), faz cada cena ampla (aquelas realizadas em exteriores) ficarem magníficas, assim como transforma o esconderijo de Buffalo Bill em uma casa escura, mas com a iluminação necessária para não nos perdermos, acrescente a isso, tudo envolvendo uma tal cena em que dois homens são assassinados e um deles é preso, suspenso, em uma cela, é inacreditavelmente belo. Craig McKay, o editor da clássica série televisiva “Holocausto” (1978), é o responsável por uma montagem cheia de detalhes que não deixa nada ficar em branco, ou seja, sem nenhum furo entre uma cena ou outra. Por fim, e, talvez, o mais importante para essa produção, Howard Shore, compositor da trilogia “O Senhor dos Anéis”, traz a trilha mais inimaginável e perfeita para cada cena do filme. Curiosamente, os três homens citados a cima participaram, ao lado de Demme, do longa “Filadélfia”. Na imagem a seguir está uma análise sobre o pôster oficial do filme: na mariposa vemos uma caveira, caveira essa, composta por sete corpos de mulheres nuas (no detalhe), essa pintura (da caveira feita de mulheres) é uma obra de Salvador Dalí (1904 – 1989), alguns acreditam que ela simboliza as sete mulheres vítimas de “Buffalo Bill”, é bom lembrar que o número sete é, também, um número místico, rodeado de histórias e lendas. Dalí não pintou a obra com o  intuito de que ela fosse parar no pôster do filme.



Aqui, Anthony Hopkins vivia, pela primeira vez, o assassino em série Hannibal Lecter, é nesse filme, também, que começamos a perceber o quanto o canibal é louco e como suas manias são atenuantes durante cada uma das tramas. Em uma cena protagonizada por Jodie Foster ela comenta o fato de Lecter não poder ser grosseiro com ela e não querer fazer mal a ela, nesse momento vemos a contradição do assassino e, mais, vemos a forma psicótica com a qual ele criou seu próprio mundo de ilusões, desejos e acontecimentos, como qualquer outro homem perturbado pelos fatos de seu passado. Jodie Foster é Clarice Starling, uma jovem que ainda é estagiária no FBI, sendo assim, é sua primeira vez interrogando alguém como Hannibal e seu primeiro grande caso, o medo e pavor da personagem destacados pelas feições da atriz se contrapõe em relação a inteligência e coragem da mesma, pois, mesmo temendo ao que irá encontrar na casa de “Buffalo Bill” ou das coisas que lhe acontecerão caso seja manipulada pela mente fértil de Lecter, Starling permanece forte, sem deixar a peteca cair em nenhum momento. Apesar de o elenco ser ótimo e ser muito forte, o único que se destaca, ao lado do brilhantismo de Hopkins e Foster, é Ted Lavine, que vive “Buffalo Bill”, seu personagem é um homem com dúvidas quanto a sua sexualidade, mas que insiste em bater na tecla de ser um travesti, entretanto, falar ou afirmar qualquer coisa a respeito de “Bill” é algo muito difícil, pois sua personalidade e suas atitudes são essências para o suspense do filme, dessa forma, me calo dizendo que sua interpretação é excelente.


O interessante nos filmes de Hannibal Lecter é que sabemos quem são os criminosos ou o que as personagens querem, não há necessidade de apelar para esconder o assassino, afinal, é nesse fato de o espectador saber quem são os culpados que torna esse filme tão bom: queremos saber o que acontecerá com eles, pois, de uma forma ou outra, nos afeiçoamos ao pior tipo de gente que há na terra. Nesse contexto, não saber o próximo passo de Hannibal é algo sensacional, pois, mesmo tento a certeza de que ele permanecerá vivo e conseguirá fugir – isso é, para os que já leram algo sobre o quarto filme da série ( “Hannibal” ) -, não sabemos como ele fará isso ou aquilo, não sabemos, ainda, quais serão os próximos passos tomados pela agente Starling que, mais que tudo na vida, está disposta a vencer seus medos para prender o assassino procurado pelo FBI. Não há como não analisar, ao menos um pouco, o título do longa, em tradução livre “The Silence of the Lambs” seria “O Silêncio dos Cordeiros”, cordeiros esses, seres totalmente inocentes (inclusive pelos arquivos da Bíblia Cristã) que assolam os sonhos de Starling por alguns problemas em sua infância. Mesmo que o título em português não siga a tradução correta, o título em inglês é uma metáfora, pois as jovens mortas no filme são todas inocentes, bem como a agente Starling e, até mesmo, Hannibal. Ou será que Lecter também está por trás desse mistério? Questões como quem é realmente inocente ou culpado acabam sendo feitas durante o longa. Mas quem, no mundo todo, é totalmente culpado de algo? Quem, na face da terra, é tão bom e puro para permanecer em silêncio e se tornar um completo inocente?



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